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O que rolou no rádio
s dois Robertos. A professora universitária e jorna-
Olista Vera Rezende, na sua dissertação de mestrado Independência 1290 AM, a Rádio Eclética da Cidade (2005), explica: “Vários comunicadores fizeram sucesso na Independência AM, e aqui citaremos dois deles, ambos chamados Roberto. O primeiro, Roberto Souza, era o lendário dono da noite rio-pretense, discotecário e apresentador do mais antigo programa musical da cidade; já o outro, Roberto Toledo, manteve uma ligação tão duradoura com a rádio que sua voz personifica a própria emissora.” Sociedade. Colunas sociais em Rio Preto arrebentam em índice de leitura, e por isso os jornais locais insistem na sua produção, visto que dá boa leitura e bom retorno financeiro.
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Duas colunas fortes na cidade atualmente são as de Cida Caran, um símbolo da comunicação social, Waldner Lui, elegante e culto no estilo Tavares de Miranda, e a de Roberto Toledo, que é versátil, mais moderna, porta-voz da comunidade, com
pitadas políticas e reflexões filosóficas. Para tornar leve e crítica sua página, Toledo criou os personagens Lady X (igual ao rádio), Véio Ranzinza e Vovó Naná, cada qual com seu matiz de utilidade, de broncas e de reflexão. Humor em coluna social é uma grande sacada, é uma mistura do glamour com a notícia e o riso, enquanto algumas tiradas filosóficas atuam no desenvolvimento pessoal do leitor. Outro dia trouxe esta: “Preciso de inimigos novos, porque os antigos já estão gostando de mim!”. De pai para filho. O radialista e jornalista Amílcar Prado (1927-1989), autor da coluna esportiva Papo de Jacaré no jornal impresso e comentarista esportivo de mão cheia na PRB-8, depois na Difusora, na Piratininga e na Independência, passou para o filho Manoel Prado o interesse pelo trabalho em rádio. Manezinho Prado é divulgador artístico e de duplas musicais desde 2001 e discotecário há mais tempo ainda. Na FM Diário, de Mirassol (SP), emissora do Grupo Diário de Comunicação, ele mandava ao ar uma seleção de músicas de alto interesse do público, o que imprimiu um formato refinado e cultural à emissora. Viva o acordeón! O acordeonista português Antônio Santos Filho (1923-2006) foi aquela figura discreta de músico que acompanhou com talento e qualidade os programas de auditório das rádios PRB-8, Cultura, Difusora e Independência. Além disso, era compositor e técnico de acordeão, dominando todos os conhecimentos relacionados a esse instrumento. Acompanhou os programas dos radialistas Adib Muanis e Silveira Coelho. Ao seu lado também atuaram profissionais de prestígio musical, como Mário Longhi e Florindo Mani, mais tarde dono da loja A Joia Musical, na Galeria Bassitt. Folia na rua. O Carnaval de rua acontecia na rua Bernardino de Campos, no centro da cidade, com um desfile garboso das escolas de samba, carros alegóricos, o rei Momo e a Rainha. O povo descia dos bairros a pé, para não perder nada. Era a grande diversão dos anos 1960, 1970. Espetacular!, segundo o público. E o cortejo folião passava justamente em frente à rádio Independência, quando então era interrompido para que Adib Muanis, com microfone em punho, subisse no carro para
Acervo Francisco Riva
Amílcar Prado foi comentarista esportivo na PRB-8, Difusora e Independência
entrevistar as majestades do samba. Na praça Rui Barbosa, era montado um tablado para o povo pular Carnaval, rodeado de carrinhos de alimentação. Primeiro endereço. A primeira sede da PRB-8 foi construída só depois de a concessão ser aprovada, em um grande terreno do bairro Boa Vista: ficava na rua Siqueira Campos, entre as ruas Liberdade (hoje Raul de Carvalho) e São Paulo (atual Fritz Jacobs). Ela ocupava meio quarteirão e ficava lotada nas campanhas de Natal. A inauguração aconteceu no dia 6 de dezembro de 1935, com o nome Rádio Rio Preto PRB-8. Cidadania jovem. Muitos políticos dos anos 1950, 1960 e 1970 usaram o nome e o espaço da PRB-8. O presidente da emissora por 30 anos foi o prefeito Philadelpho Gouvêa Netto (1952 e 1960), que governou Rio Preto duas vezes. Também aproveitavam o microfone para apresentar suas obras Alberto Andaló (1956-1959), que ia ao ar todo domingo às 18 horas, e Wilson Romano Calil (1973-1977), que defendeu a cidade no programa Silvio Santos, foi radialista e levou a juventude a participar de programas radiofônicos com debates e comentários, estimulando a criação da cidadania e da ética. As mais pedidas. Nos anos 1930, década de criação da PRB-8, as músicas mais pedidas eram O nego no samba; O Ébrio; Quando te Vi; Para Você Gostar de Mim; Adios Muchachos; Rancho Fundo; Saudades de Matão; e Tico-Tico no Fubá. Os cantores mais solicitados eram: Carmem Miranda; Vicente Celestino; Francisco Alves; Carlos Gardel; Carlos Galhardo; Orlando Silva; Isaurinha Garcia; e Dóris Monteiro. As mais pedidas II. Já nos anos 1940, os hits de sucesso eram Asa Branca; Maria Bethânia; A Saudade Mata a Gente; Peguei um Ita no Norte; Chiquita Bacana; Cinco Letras que Choram; Na Baixa do Sapateiro; Pirata da Perna de Pau; La vie en Rose; e Besame Mucho. Os cantores mais pedidos eram Ataulfo Alves; Silvio Caldas; Marlene; Emilinha; Vicente Celestino; Aracy de Almeida; entre outros. Policial. O programa Hora Fantástica, criado por Adib Muanis para a Independência, foi talvez o maior e mais em-
polgante no estilo policial no horário das 16 horas. Depois de Adib, foi apresentado por Antônio Carlos Bottas, Garcia Neto, Rubens Celso Cri e Clenira Sarkis, tendo como repórteres coadjuvantes Eládio Baida, Paulo Serra Martins, Cecilia Motta (Demian) e Lucas Gomes. Assuntos policiais eram a temática do horário, mas se estendiam a queixas políticas, irregularidades administrativas de órgãos públicos, problemas do dia e tudo o que o povo quisesse trazer e solucionar, apresentados com a voz firme do locutor e um fundo de som típico de basfond, tiros e música adequada. Crônica do dia. “No almoço, Petrônio de Ávila apresentava a Crônica do dia, quase sempre ao estro de Dinorath do Valle. Era o cotidiano a debulhar-se em lirismo. Hora Fantástica, por sua vez, evocava os desesperos da vida. Custa apagar da memória a locução elegante de Adib Muanis, o combativo Rubens Celso (Cri), as meiguices de Eládio Baida, Paulo Serra Martins, Clenira Sarkis e Garcia Neto, e a sentimental Cecília Motta (Demian), que chorava em entrevistas”. (Romildo Sant’Anna, escritor, Diário da Região, 2009) Quem foi. Nomes do rádio sempre lembrados: padre Landell de Moura, que em 1893, portanto dois anos antes de Marconi, fez a primeira transmissão de fala por ondas eletromagnéticas, sem fio, mas esse episódio só é reconhecido pelos brasileiros; o cientista Marconi (Guglielmo), que fez os primeiros testes em 1895 e patenteou a descoberta em 1896, passando para a história como o inventor do rádio; e Roquete Pinto, considerado o pai do rádio brasileiro, idealizador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil (embora a Rádio Clube de Pernambuco seja a pioneira). No início, não havia publicidade para sustentar o funcionamento da emissora, o que só aconteceu por volta de 1927. Eram geralmente em formato rádio clube, com associados seletos que ajudavam financeiramente e ainda emprestavam suas coleções de discos (raros e caros) para avivar a programação musical. Rádio Nacional. Em 1936, um grande avanço radiofônico: o surgimento da Rádio Nacional PRK-30, no Rio de
Acervo Pessoal/Roberto Toledo
Jornalistas Rubens Celso Cri e Clenira Sarkis, que foi uma das apresentadoras do programa Hora Fantástica, na Independência
Janeiro, que era ouvida até nos confins de Rio Preto, Mirassol e Cosmorama (SP). Foi um marco na história do rádio, com programas de auditório lotados, comédias e radionovelas de muito bom gosto. Humoristas, artistas, músicos, atores e atrizes de teatro eram os mais gabaritados e faziam programas que cativavam o público. Audiência. Entre o final dos anos 1930 e 1950, a Nacional era uma das líderes de audiência do rádio brasileiro, exportando sua programação para outras cidades do País. Comparecer ao seu auditório equivalia a um bom programa de teatro, tal a qualidade da programação. Já em 1938, nasceu a Rádio Globo, que se tornaria a emissora AM mais popular do Brasil. Os Villa. Pai e filho que fizeram sucesso nas ondas esportivas do rádio foram Edward Villa e Edwelington Villa. O pai Villa arrumou emprego em uma fábrica em Mirassol aos 17 anos. Aos domingos, era cobrador do time do Mirassol e anunciava resultados dos jogos pelo serviço de som. Daí para ocupar um microfone como repórter e depois como comentarista foi um pulo. Foi contratado pela Independência, na qual ficou até a venda da emissora. Trabalhou ainda nas rádios CBN, Líder e Band FM. Os Villa II. Aos 9 anos, o filho já era office boy da Difusora de Mirassol, enquanto o Villa pai era gerente. Foi uma passagem natural para o microfone, e Ed assumiu com garra aos 15 anos a vida de repórter de campo, virando depois locutor. Trabalhou na Difusora de Mirassol, na Centro América e na Independência. Esportes. “Hitler Fett se confunde com a história do rádio esportivo de Rio Preto. Junto com Mário Luiz, Edward Villa e Nelson Antônio, forma um quarteto no rádio, sem pose, sem arrogância, sem empáfia, mas com muita simplicidade e humildade, já há 43 anos.” (Paulo Serra Martins, Nas Ondas da B-8 – A história do rádio em Rio Preto). Paulinho se esqueceu de citar a sabedoria dos quatro, levada ao ar para deleite do ouvinte. Encerrada a transmissão do jogo, eles se reuniam no estúdio e analisavam ao vivo o torneio que haviam acabado de transmitir. Com voz pausada e argumentos lógicos,
eles ainda proporcionavam para o ouvinte meia hora ou 40 minutos do jogo transmitido. Aquele instante de assemelhava a uma reunião de sábios discutindo o torneio com lógica e coerência. Ficou na memória. Mulheres. O rádio rio-pretense também teve mulheres ao longo da sua evolução. Poucas, mas teve. A primeira figura feminina foi Albertina Batista, que fazia desde funções de secretária da PRB-8 até novelas, locução comercial, rádio-escuta, atendimento do público e, inclusive, trabalhos de contrarregra. Nas novelas, fazia, ao fundo, sons de bares, água despejada em um copo, vidro quebrado, barulho de chuva e outras necessidades de ruído. Com ela trabalharam Laura Nice, Águeda Salles e Dalva Brandt. Mulheres II. Nas décadas de 1980 e 1990, locutoras de FM deram encanto nas manhãs e tardes depois do programa Bem-te-vi, do comunicador sertanejo Santo Beluci. Eram as radialistas Gisele Sayeg, hoje afastada do rádio em função do casamento com o ex-ministro Aluyzio Nunes Ferreira Filho; e Jocelen Ramires, militante do PCB, tendo passado seis meses na Rússia para conhecer o sistema. Ambas tinham uma voz belíssima.