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O rádio “invade” a tv
Aprimeira vez em que os rio-pretenses se viram na televisão foi ali pelo final dos anos 1960, em transmissões experimentais a partir do auditório da rádio Independência, na sobreloja da Galeria Bassitt – um tempo em que o empresário Júlio Cosi acalentava o sonho de implantar o seu canal de TV na cidade. Por alguns dias, foram transmitidos programas ao vivo, uma espécie de mesa-redonda sobre futebol, com a participação dos locutores de rádio entrevistando jogadores e dirigentes esportivos. Quando nasceu a TV Rio Preto Canal 8 – concedida em 1971 pelo governo militar a um empresário do triângulo mineiro chamado Edson Garcia Nunes –, a cidade pulou para dentro do vídeo, protagonizando uma ousada tentativa de programação independente, que entrava no ar à tarde e se estendia até o fim da noite. Entre enlatados como o filme Quo Vadis? – um épico de 1951 com quase três horas de duração, com as atrizes Sophia Loren e Elizabeth Taylor em pequenas pontas – e episódios de O Agente da Uncle – série televisiva com as aventu-
ras de um herói espião do tipo 007 –, desfilavam pela telinha em preto e branco pessoas que os telespectadores podiam ver pelas ruas, entre elas o jornalista Amaury Jr., primeira pessoa focalizada pelas câmeras do Canal 8 no comando de um programa de variedades nas noites de sábado. O primeiro grande sucesso da TV rio-pretense nasceu quando o radialista Antonio Carlos Bottas levou para o vídeo um notabilizado personagem que havia criado anos antes para apresentar programas sertanejos no rádio, o “Véio Tatau”, cujo jeitão de caipira matuto já havia conquistado os ouvintes e era candidato certo a conquistar também os telespectadores. E conquistou, mas nem tanto, porque os parcos recursos para maquiagem e caracterização acabaram por roubar a magia que o personagem despertava na imaginação das pessoas. O importante é que, seja como for, Bottas e o “Véio Tatau” plantaram a semente de um dos mais longevos programas da história da televisão brasileira, A Porteira do Oito, mais tarde comandado pelos também radialistas Silveira Coelho e Jaborã, até hoje apresentado nas manhãs de domingo. Antes de ser vendida em 1974 para o apresentador Sílvio Santos e depois transferida para a Rede Record, a TV Rio Preto passou pelas mãos do político e empresário Warley Agudo Romão (então prefeito de Catanduva) e, em sua louca aventura de programação independente, reuniu nomes como o produtor Homero Salles, a apresentadora Ana Maria Braga, o jornalista Saulo Gomes – conhecido pelas reportagens sensacionalistas que apresentou durante anos na TV Tupi – e o apresentador Silveira Lima, famoso desde os tempos da rádio Nacional de São Paulo, que repetia a mesma frase sempre que se despedia do público, ao encerrar os seus programas ao vivo: — Saio daqui quase envergonhado pelo pouco que lhes dei, mas imensamente agradecido por tudo que vocês me deram em troca do nada que eu mereço! Era bem assim, sem pôr nem tirar!
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