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Inovações e pioneirismo

Revelado lá atrás, no concurso de calouros da Tenda do Adib, programa que Adib Muanis comandava na rádio Difusora em 1959, Pedro Lopes comemorou 60 anos de carreira no rádio. Atuou de forma amadora sempre que lhe davam a oportunidade de falar ao microfone, até ser contratado pela Independência em caráter experimental para cumprir o sugestivo horário das dez da noite às duas da madrugada. A história de Pedro, como a de tantos profissionais de rádio que acabaram se tornando talentos e vozes reconhecidos pelo público, deve ter sido marcada por um início de dificuldades e de incorrigível persistência. Porém, ao longo do tempo, ele se converteu em um inovador de formatos, especialmente quando criou o grande êxito de sua carreira, o programa Nova Dimensão, nos anos 1970, na rádio Anchieta, então recém-inaugurada pela igreja católica. O Nova Dimensão, que ainda hoje é levado pelo seu criador às emissoras por onde passa, era uma espécie de Fantástico do rádio. As notícias, todo o conteúdo informativo, eram

focadas em novidades, inovações e lançamentos, quase um exercício futurista que o apresentador cuidava de pesquisar nas revistas e nos jornais de uma época que ainda andava distante das facilidades da internet. A grande novidade introduzida por Pedro Lopes em sua atração transmitida entre o fim das madrugadas e o começo das manhãs era a informação na hora certa em um programa gravado no dia anterior. Como não existiam os recursos tecnológicos que hoje fazem disso uma tarefa corriqueira, o Nova Dimensão dos anos 1970 recorria a expedientes artesanais. Uma fita de rolo, daquelas enormes, era colocada em um gravador à parte, com a voz do Pedro repetindo as variações da hora de minuto em minuto: seis e quinze... seis e dezesseis... seis e dezessete... A tarefa de reproduzir o minuto certo cabia ao operador de som do horário, que também operava um segundo gravador com a voz do Pedro lendo notícias e anunciando as músicas programadas pelo discotecário Didi Brasil. Para os ouvintes da época, Pedro era um madrugador, mas a verdade é que ele nunca foi à emissora no horário do programa. O Nova Dimensão e Pedro Lopes fizeram e ainda fazem história no rádio rio-pretense. Juntos, cruzaram as fronteiras do tempo, frequentando desde as épocas de parcos recursos técnicos até a modernidade tecnológica, a qual tentaram sistematicamente antecipar em seu modo de fazer rádio. Pedro Lopes é remanescente de um período em que os locutores lidavam o tempo todo com o desafio do improviso e da espontaneidade. Como no dia da inauguração da rádio Independência, em 7 de setembro de 1962, quando ele próprio, então um jovem a quem ainda faltava tarimba, foi escalado para permanecer no estúdio apenas para situações de emergência, enquanto a equipe externa respondia pela cobertura da visita que o então presidente da República, João Goulart, fazia a Rio Preto. De repente, a porta da cabine se abriu para que entrasse ninguém menos que o presidente, levado ali de surpresa pelo ex-deputado Maurício Goulart, diretor da emissora e amigo de Jango.

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O jovem locutor sentiu o chão fugir-lhe aos pés quando foi incumbido de fazer a apresentação da autoridade presente. — Com vocês, o presidente João Goooooouuuuulart! — Assim mesmo, no tom da apresentação de um cantor de boleros.

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