Edição de Setembro de 2021

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44 VIVACIDADE | SETEMBRO 2021

AUTÁRQUICAS 2021

Rafael Corte Real: “O IMI é o segundo mais elevado do distrito”

Texto: Miguel Almeida Fotos: Gabriela Monroy

Quem é o Rafael Corte Real? Faz sentido dizer, em primeiro lugar, que sou nascido e criado Rio Tinto, Gondomar. Tenho 29 anos, sou licenciado em direito comercial pela universidade católica do Porto. Sou advogado desde 2018, com escritório próprio no centro de Rio Tinto. Sou alguém que viveu sempre aqui mas que foi fazendo vida noutros sítios. Eu estudei grande parte do tempo no Porto e isso também me permitiu perceber a perceção que existia sobre Gondomar de fora e ver outras realidades. Tenho algumas curiosidades no meu percurso: quando me dizem que é improvável alguém com 29 anos ser candidato a uma das melhores câmaras do país, eu costumo dizer que o meu percurso é todo ele improvável ou pelo menos com curiosidades. Por exemplo, eu estudei seis anos no ensino público e seis anos no ensino privado; no secundário, fiz um curso de desporto, quando era magro e jogava ténis e queria seguir esse caminho mas depois, à última da hora, tive uma professora de português que dizia que eu pensava muito bem, que escrevia muito bem e devia de pensar noutras coisas e acabei por ir para Direito. Portanto, o meu percurso é um percurso diversificado, tive bandas de rock, fundei um clube de futsal amador, fiz coisas muito diferentes ao longo do tempo. Eu acho que são 29 anos muito vividos, não quero com isto fazer-me muito mais velho do que sou, até porque a juventude e o carácter geracional da nossa candidatura é muito interessante e tem sido muito bem recebido. Sempre com residência aqui em Rio Tinto, a minha família é toda daqui à exceção da minha avó paterna, todo o resto da minha família é de Gondomar. Tivemos sempre negócios em Gondomar: uns correram melhores outros piores nos diferentes ramos da família. Neste seu percurso, como é que surgiu o

bichinho da política? Surge exatamente no 12.º ano, em que eu começo a ter outros interesses e em que decido ir para Direito. Esse é um ano importante para mim, pois foi um ano de transição e começo a olhar para a política e a querer participar desde cedo. Eu recordo que estive vários anos na JSD, no PSD do Porto – porque, na altura, era onde estudava – e ainda sou do tempo da SOP, embora tenha sido presidente do núcleo eleitoral. Recordo-me desse tempo, eu tinha 17 anos, quando fui a um evento do partido. Portanto, já era liberal em toda a linha, antes de haver o novo partido. Logo, estive no PSD a tentar fazer isso e depois percebi que a ala Liberal do PSD, nunca seria maioritária e quando vi a Iniciativa Liberal ao lado a fazer algo em que me revia completamente e acreditava totalmente decidi vir e larguei tudo. Esta história é interessante, pois eu vou para a Iniciativa Liberal e desligo do PSD uma semana antes das europeias de 2019, onde a Iniciativa Liberal não tinha ido a votos. Na altura, tinha dois mandatos a decorrer na JSD e larguei porque de facto acreditava, com pura convicção, e vim para cá porque quis ajudar. E disse-o na altura, não quis estar à espera para ver se a Iniciativa Liberal conseguia deputados, se garantia que não íamos eleger ninguém em 10 anos, mas passados dois meses estava a celebrar a eleição do João nas eleições legislativas. Queria participar no projeto e tem corrido lindamente. Posso dizer que tenho 12 anos de vida política ativa, embora tive um período de afastamento, e nunca tive tanto gozo como estes dois últimos dois anos na Iniciativa Liberal. É verdade que estou na comissão executiva do partido, na direção nacional, sou candidato autarca, mas não é só por isso, tudo o que esteve à volta desta caminhada e que valeu muito a pena. Como é que vê neste momento o concelho de Gondomar?

Nós quando temos que fazer o exercício de definir as prioridades políticas do nosso programa, nós decidimos fazer um diagnóstico ao concelho e perceber o que é que não estava a correr tão bem. Até ficamos surpreendidos, sobretudo agora na campanha, mas ainda antes disso, porque tínhamos a ideia que o partido socialista e o Marco Martins eram intocáveis e têm muito mais anticorpos do que nós pensávamos. É menos popular do que nós pensávamos. E começamos a perceber que realmente havia algumas coisas que não funcionavam e definimos as nossas prioridades políticas nesse sentido. Desde logo a questão da competividade e do desenvolvimento económico: tinha que estar na linha da frente do nosso programa porque este é o concelho, como já tivemos oportunidade de falar anteriormente, mais pobre dos concelhos limítrofes do Porto e do Grande Porto. Portanto, num concelho com estas caraterísticas – que ostenta este rótulo que não orgulha ninguém – tinha que ser prioridade e nós começamos a definir um conjunto de propostas e a olhar para bons exemplos. Nós temos procurado fazer, não temos a ambição de trazer tudo de novo. Esta parte da economia e desenvolvimento económico são prova disso. Por exemplo, queremos mudar o paradigma de passividade que a câmara tem tido relativamente ao investimento, parece que espera que caia do céu e adoto uma postura que nós chamamos de “postura ativa de investimento”, ter a câmara municipal a servir como intermediária entre aquilo que são os interesses e necessidades das empresas e do que Gondomar tem para nos oferecer, nós não estamos a falar em abstrato. Nós estamos a olhar para o que foi feito no Porto, em Braga, Vila Nova de Famalicão e noutros concelhos com muito sucesso, que conseguiram trazer para os seus municípios investimento, criação de emprego qualificado e é assim que se fixa gerações, que se aumenta os salários e se cria melhores condições de vida. Estamos focados nisso, como também em baixar os impostos, porque naquele diagnóstico feito também percebemos que a câmara municipal de Gondomar não devolve um cêntimo da taxa de participação, IRS… Se lhe fosse pedida uma análise dos últimos quatro anos do Município de Gondomar, o que é que diria? Eu diria que tem sido, assim a olho, um mandato centrado em algumas grandes obras, em alguns grandes projetos que é a imagem de marca deste executivo, descorando outras coisas. Nós não conseguimos compreender como é que se projeta uma rede de parques urbanos, orçamentada em pelo menos 25 milhões de euros. Mas agora há mais dois ou três: o Monte Crasto, Baguim do Monte e Medas, penso eu, que certamente será um investimento superior a 25 milhões de euros. E depois há casos como o do bairro do Mineiro, em S. Pedro da Cova, onde há uma praga de baratas há dois anos por resolver. Quando vou à urbanização das Areias e vejo o estado degradante daquelas habitações, pergunto-me: isto é o partido socialista? Eles dizem que são socialistas, imagina se não fossem! É curioso que se diz muitas vezes que a Iniciativa Liberal é o partido do estado mínimo, é o partido que não tem sensibilidade social, mas quando nos acusam disso nós dizemos o contrário. Em Gondomar é um bom exemplo: nós queremos que o investimento público seja pensado, seja estruturado desta forma, direcionando primeiro o dinheiro para onde ele é mais preciso, como investir na reabilitação da habitação social e só depois pensar em enterrar não sei quanto milhões na avenida Dr. Mário Soares ou numa rede de parque

urbanos. A grande pecha deste Município é a Habitação? Eu acho que sim, é um dos grandes falhanços deste município. Eu acho que o presidente Marco Martins devia de estar mais preocupado, em vez de querer cumprir o seu sonho de um central-parque por freguesia. Nós não somos contra os parques urbanos, agora temos prioridades e certamente a habitação social está à frente da jardinagem. Se for eleito a 26 de setembro quais são as suas duas primeiras medidas que irá tomar, caso ganhe as eleições? Depois peço-lhe, de uma forma mais estruturada, como seria a governação pela Iniciativa Liberal? Podemos fazer esse exercício, mas deixe-me dizer abertamente com toda a honestidade: nós temos consciência ao que vamos, nós temos consciência que a Iniciativa Liberal é a primeira vez que se apresenta em eleições autárquicas, nós temos consciência que as diferenças ao nível do orçamento são abissais. Não temos condições, ainda, e creio que no futuro vamos ter, para disputar a vitória na câmara. O que nós queremos é eleger um primeiro vereador liberal, eleger vários membros da assembleia municipal das assembleias municipais. Esse é o grande objetivo da candidatura: é ter uma entrada com força da Iniciativa Liberal no concelho e acreditamos nisso. Mas entrando na vertente programática, nós mesmo na oposição podemos fazer parte desse trabalho. Não estaremos a gerir o concelho mas estaremos a contribuir para a sua gestão e certamente enquanto vereador na Câmara Municipal de Gondomar faria um trabalho de levar as ideias do nosso programa para a câmara municipal e o próprio exercício da construção do programa tem sido uma lógica de trazer os princípios que têm orientado a Iniciativa Liberal a nível nacional, para a realidade autárquica. Por exemplo, os impostos municipais: claro que têm de ser uma questão aqui tratada pela Iniciativa Liberal quando, como dizia há pouco, não há um cêntimo que seja devolvido na taxa de participação do IRS. A câmara fica com os 5% que é consignado. Quando o IMI, nas freguesias urbanas, é o segundo mais elevado do distrito. Eu quero acreditar que a câmara municipal repensando o seu plano de investimento, a grande obra pública, tenha a capacidade para devolver esses 5% de IRS e que as pessoas possam com as suas escolhas estimular a economia. Baixar o IMI é uma das coisas que faremos, com toda a certeza, se entrar como vereador na câmara municipal. Agora há outras questões programáticas, outras prioridades que nós temos. A questão das águas, todos falam nela por algum motivo. O presidente Marco Martins anunciou recentemente um acordo que afinal é um princípio de acordo com iniciação em janeiro de 2022. É sempre para a frente. Teve oito anos para resolver este problema: sabemos que houve uma negociação em 2014, dessa renegociação feita pelo executivo, a própria reguladora das águas tem dito que é em complementos contratuais. Mas só agora aparece aí, em vésperas de eleições, que consegue baixar em 16%: vamos ver, ao certo, o que é que isso representa na fatura a partir de 2022. Temos de estar céticos perante isto. Mais: durante os dois mandatos, o presidente Marco Martins não teve influência política para trazer o metro para Gondomar. É em parte uma questão de peso político, falta de capacidade política de colocar Gondomar no centro das questões da mobilidade, na área metropolitana do Porto.


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