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A cultura da sustentabilidade no âmbito escolar Andreia Jerônimo Viana e Dayenne Dutton Doresti de Assumpção
from TEIA DE SABERES NAS QUESTÕES AMBIENTAIS: da educação científica e filosófica à educação ambiental
A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR
Andreia Jerônimo Viana Dayenne Dutton Doresti de Assumpção
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INTRODUÇÃO
A população mundial obtém recursos do meio ambiente para suprir suas necessidades, muitas dessas matérias-primas são limitadas e não renováveis. Com o surgimento dos problemas ambientais ao longo dos anos, a sustentabilidade ganhou mais atenção da sociedade. O conceito de sustentabilidade de Carlowitz (1713), em termos gerais, está pautado no desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, impactando minimamente às gerações futuras. Na contemporaneidade, muito se discute a importância da sustentabilidade está relacionada as práticas cotidianas de uma unidade escolar, por ser um espaço de estímulo ao conhecimento e pela necessidade da mudança de mentalidade e práticas envolvendo a relação ser humano e meio ambiente. Segundo Gadotti (2005), “o desenvolvimento sustentável, visto de uma forma crítica, tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação”. O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um elemento que visa atender as necessidades da comunidade local de forma democrática, por isso precisa de uma gestão participativa juntamente com os atores escolares - professores, funcionários, discentes e seus responsáveis legais – para sua elaboração. OPPP é uma ferramenta norteadora das atividades realizadas no âmbito escolar, facilitando as ações e adequando a aplicação da sustentabilidade através da educação ambiental, e é através dele que se torna palpável a eco alfabetização. Para a implantação de uma escola sustentável é imprescindível a aplicabilidade de um currículo escolar direcionado à cultura sustentável.
Sendo a educação ambiental o foco para a reflexão, por ser entendida como toda ação educativa que corrobora para o desenvolvimento de um cidadão com conduta consciente em relação ao meio ambiente. O trabalho objetiva demonstrar a possível sustentabilidade escolar quando alinha-se currículo, PPP e gestão escolar. O estudo se caracteriza como descritivo exploratório, do ponto de vista metodológico. A pesquisa foi feita através de levantamento bibliográfico por meio de consulta a artigos científicos, dissertações e teses disponíveis eletronicamente em sítios de periódicos, além de portais governamentais e não governamentais. Para mapear os termos possíveis para representar o tema de pesquisa e passar para a elaboração das estratégias de buscas que foram empregadas no campo assunto Escola Sustentável. As palavras-chave utilizadas foram: Escola Sustentável, educação ambiental, Sustentabilidade.
O currículo e a educação ambiental
Segundo o manual das escolas sustentáveis do Ministério da Educação, a transição para uma escola sustentável é promovida a partir de três dimensões inter-relacionadas: Currículo, gestão e espaço físico. O currículo escolar deve ter base nos princípios e objetivos do projeto político pedagógico (PPP) do sistema de ensino. Nesse sentido, para que a transição ocorra, o PPP deverá conter premissas da sustentabilidade socioambiental que dará base para que o professor desenvolva a temática em suas aulas e assim formar cidadãos mais consciente sobre o mundo que está inserido e caso necessário, transformá-lo. Para isso acontecer, Silva e Taveira (2012) afirmam que a escola sustentável deve ensinar também valores éticos, morais, culturais, sociais e econômicos por meio de processos educacionais, para que os alunos repensem seus atos em relação com meio ambiente. Tal conceito se associa com os incisos I e IV do artigo 5º da Política Nacional da Educação Ambiental (PNMA) (Lei nº 9.795/1999), que define como objetivos da Educação Ambiental (E.A.).
I- O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
IV - O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania.
Não é à toa que a PNEA (1999) diz que E.A. deve ser desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas de forma integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, de maneira interdisciplinar, pois reconhece a sua importância para a prática cidadã em resolver os problemas socioambientais. E é por esse motivo que a E.A também foi inserida como tema transversal e integral nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997) e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), sendo este o atual documento que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos do Brasil devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Vale se atentar que a abordagem da E.A. na temática resíduos sólidos, deve estar focada na mudança de hábitos para a redução do consumo ou até mesmo para o reaproveitamento de bens acima da reciclagem, uma vez que esta não modifica a cultura do consumismo, levando a crer que está tudo bem adquirir cada vez mais recursos naturais em forma de bens e produtos (que muitas vezes não são necessários) conquanto se recicle (Layrargues, 2016). Por isso, Nadal, Lopes e Fernandes (2010) afirmam que a promoção de concursos que premiam quem “recicla mais” é um erro, pois pode surtir o efeito contrário e promover o consumo desnecessário afim de ganhar tal prêmio. Visto isso, a educação ambiental mostra-se uma ferramenta legal, no âmbito da lei, que deve estar nos currículos de todas as disciplinas e alinhada ao PPP para que a escola possa alcançar a sustentabilidade, pois ela se propõem a facilitar os meios de interpretação da interdependência natureza-homem no espaço e tempo, afim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos ambientes naturais para satisfazer as necessidades da humanidade. (DIAS, 2004 p. 210).
Gestão escolar sustentável
Para Nadal, Lopes e Fernandes (2010), ser sustentável significa apostar em formas de desenvolvimento que não prejudique a natureza e satisfaça a demanda das atuais e futuras gerações. Para implementar e manter essa postura,
a escola e a sua gestão devem igualar o seu discurso à prática, dando exemplo de redução no desperdício de luz, água, papel, alimentos, materiais de limpeza e outros insumos que ela precise para o seu funcionamento. Pois nada adianta debater com os seus alunos as fontes de energia renovável se a mesma mantém as luzes acesas em ambientes iluminados por fonte natural. Então, para a transição de um espaço sustentável, a gestão escolar deve conhecer a pegada ecológica da escola, precisa identificar os aspectos e os impactos ambientais que ela gera para então propor um plano de ação que vise a diminuição dessa pegada. A política de compras alimentícias por exemplo, deve priorizar os produtores locais, especialmente se estiverem vinculados à economia popular e solidária, na perspectiva do desenvolvimento local sustentável e da diminuição da pegada ecológica com o transporte de alimentos por longas distâncias (BRASIL, 2012). Tratando de gestão escolar, a mesma deve utilizar de sua autonomia prevista na Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB - nº 9.394/1996) para promover a participação de todos - professores, auxiliares de limpeza, porteiro, inspetor, responsáveis e vizinhos - no sentido de fomentar a sustentabilidade não só no interior da escola, mas no seu entorno também. A escola e sua comunidade devem estar dialogadas no desenvolvimento de projetos de forma geral não só em datas comemorativas como a semana do meio ambiente ou dia da água, mas sim de forma contínua durante todo o ano.
O espaço físico: Dificuldades e soluções
Projetos arquitetônicos dos espaços físicos da escola devem ser adaptados às condições locais, observando por exemplo a incidência do sol para usufruir da iluminação natural, porém sem impactar demais a sensação térmica local, a utilização de painéis solares, a construções de telhados verdes e conforto acústico são recursos que atendem as premissas da sustentabilidade (BRASIL, 2013), contudo, nem todos os estabelecimentos de ensino detém verbas ou possuem estrutura física para estas mudanças estruturais. Nesse cenário, cabe a comunidade escolar transformar o espaço físico em sustentável através de pequenas mudanças como: criação de espaço verdes (hortas e jardins), reaproveitar o resíduo orgânico para utilizá-lo na composteira construída no próprio espaço, manter sempre as luzes apagadas – preferencialmente utilizando sensores de presença, torneiras desligadas quando
estas não tiverem sendo utilizadas, fazer o descarte adequado dos materiais (com o foco antes na redução e na reutilização), elaborar e fixar cartazes no seu interior afim de lembrar à todos os objetivos da escola e torná-lo contínuo.
Considerações
A gestão escolar alinha os planejamentos e as estratégias com as necessidades da instituição e da comunidade ao redor, têm que perceber que as boas práticas da gestão ambiental são necessárias para a otimização dos recursos e diminuição dos desperdicíos, conscientizando e capacitando funcionários para execução de tarefas relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Os temas transversais estimulam a reflexão e o debate de uma questão que se apresenta moderna e ao mesmo tempo tão pouco explorada na escola. Certamente sua inclusão no currículo representa um desafio à escola, mas é um pontapé inicial para os desenvolvimentos econômico, social, ambiental e cultural. Na mobilização para a implantação de uma escola sustentável, não se faz necessário uma grande reestruturação arquitetônica, pequenas mudanças estruturais e organizacionais contribuem. Promover estratégia inteligente para manter um desenvolvimento que utilize os recursos naturais de forma equilibrada. Além de utilizar a educação ambiental de forma lúdica e crítica para transformar e ressignificar a cultura escolar, com isso contribuir para a formação de uma sociedade mais consciente. Com o surgimento dos problemas ambientais ao longo dos anos, a sustentabilidade ganhou mais atenção da sociedade, levando essa temática para o âmbito escolar. O presente trabalho aborda a gestão escolar integrada a sustentabilidade, apontando as principais estratégias para promover a alfabetização socioambiental. O tema proposto destaca-se por possuir uma perspectiva de capacitação interdisciplinar, para que ocorra o processo de ensino aprendizagem, alinhado com as temáticas da sustentabilidade estabelecidas no PPP. Para a implantação de uma escola sustentável é imprescindível a aplicabilidade de um currículo escolar direcionado à cultura sustentável. Mais do que informações e conceitos, a escola tem se dispor a trabalhar não somente com ações teóricas, mas práticas também. Os temas transversais estimulam a reflexão e o debate de uma questão que se apresenta moderna e ao mesmo tempo tão pouco explorada na escola. Certamente sua inclusão no currículo representa um
desafio à escola, mas é um pontapé inicial para os desenvolvimentos econômico, social, ambiental e cultural. Utilizando a educação ambiental de forma lúdica e crítica para transformar e ressignificar a cultura escolar, com isso contribuir para a formação de uma sociedade mais consciente.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segunda versão revista. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2016. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis: educando-nos para pensar e agir em tempos de mudanças socioambientais globais; elaboração de texto: Tereza Moreira. Brasília: A Secretaria, 2012. 46 p. Brasil. Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6.938. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 agosto de 1981. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm Gadotti, Moacir. Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade. Revista Lusófona de Educação, 2005. p. 19. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/rle/n6/ n6a02.pdf SILVA, Carmen Lúcia Gomes da; Tavieira, Flavia Giangiulio. Por que fazer escolas sustentáveis? Revista campo do saber. v. 2. n. 2. Jul/dez de 2016. p. 69-79. NADAL, Paula; LOPES, Noêmia; FERNANDES Rogério. Estruturas e ações para uma escola sustentável. Nova escola. Maio de 2010. Disponível em: https://novaescola. org.br/conteudo/1598/estruturas-e-acoes-para-uma-escola-sustentavel
O ouro do Milho
e não o dos Templos,
o sangue da Cana
e não dos Engenhos,
o pranto do Vinho
no sangue dos Negros,
o Pão da Partilha
dos Pobres Libertos.
Dom Pedro Casaldáliga