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o PaPel dos Profissionais frenTe à educação
O PAPEL DOS PROFISSIONAIS FRENTE À EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA): um olhar sobre os gestores ambientais
Jessica Barbosa de Souza Kesia Ramos Rozario
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Resumo
No período atual, onde as transformações e os excessos cometidos pela busca do desenvolvimento são latentes, urge a necessidade da reflexão sobre a importância da Educação Ambiental na atuação profissional. Nesse sentido, o presente estudo objetivou identificar como a EA contribui para o exercício da formação e função profissional mais sustentável e com senso crítico, sobretudo, dos gestores ambientais. Para isso, foi utilizado como método para coleta de dados a pesquisa bibliográfica através do levantamento de referenciais teóricos sobre Educação Ambiental e Gestão Ambiental, além da proposta de questionário que será aplicado. Nessa perspectiva, o profissional de diversas áreas tem responsabilidade em contribuir como agentes transformadores, para uma mudança de paradigmas; principalmente, os gestores ambientais.
Palavras–chave: educação ambiental, gestão ambiental, meio ambiente e profissional.
Introdução
A Educação Ambiental (EA) é frequentemente vista como um melhor posicionamento na mudança da percepção ambiental que muitas vezes encontra-se alienada de fatores preponderantes que colocam em xeque o relacionamento benéfico do ser humano com o meio ambiente. Segundo a Lei nº 9795/99, a qual dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, entende que a EA está intrínseca nos processos pelos quais o indivíduo e a sociedade constrói seus valores, conhecimentos e habilidades concernentes à conservação do meio ambiente saudável, que é um direito constitucional pertencente ao povo. De forma geral, nesse processo está incluída a forma de desenvolvimento a ser seguida, assim como a relação de trabalho e profissionais formados e atuantes no contexto atual. Assim, a Educação Ambiental na formação profissional dos indivíduos deve ser encarada como um fator importante para o entendimento da concepção desenvolvimentista que a sociedade persegue. Apesar das diversas conferências, programas, diretrizes e políticas voltadas para a Educação Ambiental realizadas nas últimas décadas (BARRETO; VILAÇA, 2018), ainda é um fator que, na prática, seria relevante ser mais analisado. Portanto, se buscou reunir dados/informações com o propósito de responder ao seguinte problema de pesquisa: Os profissionais utilizam/ implementam ações de EA no(s) exercício(s) de sua função? Isso posto, a pesquisa tem por objetivo identificar como a EA contribui para o exercício da formação e função profissional mais sustentável e com senso crítico dos profissionais, principalmente, os gestores ambientais. Com as intempéries e demandas do mundo contemporâneo, principalmente voltadas ao mercado de trabalho, é exigido cada vez mais profissionais que venham estar preparados para implementar/exercer ações que contribuam de maneira positiva para o meio ambiente natural, social e laborativo. Para o desenvolvimento do artigo serão utilizadas a pesquisa bibliográfica e a aplicação de questionário. A pesquisa bibliográfica baseia-se em publicações científicas na área de Educação Ambiental e Gestão Ambiental. O questionário será aplicado com a delimitação de profissionais (atuantes ou não) da área de gestão ambiental.
O artigo irá ser estruturado em três capítulos, apresentando-se no primeiro a evolução e definições acerca da Educação Ambiental. No segundo capítulo, será abordada a importância da EA e o seu contexto na sociedade contemporânea. O terceiro capítulo caracteriza EA no exercício da formação/ função profissional em relação aos profissionais da área ambiental. No final, também será apresentado o modelo de questionário que será aplicado posteriormente.
Metodologia
De acordo com Prodanov e Freitas (2013), pesquisa é o ponto inicial para elucidar dúvidas e obscuridades em determinados assuntos que necessitam de respostas e explicações plausíveis, e assim solucionar problemas. Para isso, mediante a utilização de procedimentos científicos, há diferentes tipos de pesquisa que proporcionam a coleta de dados daquilo que é alvo de investigação. Visto isso, a forma de abordagem adotada foi qualitativa, uma vez que “com as pesquisas definidas como estudos de campo, estudos de caso, pesquisa-ação ou pesquisa participante [...] os procedimentos analíticos são principalmente de natureza qualitativa” (GIL, 2008, p. 175). Pelo o uso de uma revisão de literatura com base em fichamento de livros, será utilizada a abordagem qualitativa para tratamento dos dados e, portanto, ter base para realizar a interpretação acerca das fontes bibliográficas exploradas. Sendo assim, que a partir de uma hipótese possa se chegar a uma base de solução viável para o problema. Segundo Pronadov e Freitas (2013) pesquisas de caráter exploratório tem como finalidade proporcionar maiores informações sobre o assunto que irá ser tratado, possibilitando sua definição e delineamento, além da fixação dos objetivos, a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o tema. Portanto, em razão aos fins didáticos, foi eleita uma pesquisa exploratória de natureza básica. Além disso, será descritiva à medida que o levantamento de dados também se dará por meio de questionário. Prodanov e Freitas (2013) enfatizam que a pesquisa descritiva tem por objetivo retratar as características de determinada população ou fenômeno. 117
Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado resumos através de fichamentos tendo como embasamento artigos coletados em sites (Google Acadêmico e Scielo) do período de publicação entre 2008 a 2018. Com o aporte desse material é possível levantar as informações mais relevantes sobre o tema e servirá como fonte de dados para a revisão de literatura. Foram procurados artigos com temas voltados para a educação ambiental no contexto dos profissionais da área de meio ambiente e do mercado de trabalho. Assim, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: educação ambiental, gestão ambiental, meio ambiente e profissional.
Breve histórico da educação ambiental
No artigo 1º da Lei nº 9795/99 o conceito de educação ambiental é assim definido: Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Lei 9795/1999). A educação ambiental surge como um meio de extrema importância na busca pelo desenvolvimento sustentável, seu papel é despertar a consciência ecológica da população sobre os impactos ambientais devido à ação humana. Sua concepção dá-se devido aos episódios ambientais que corroboraram a relação homem x natureza. É diante desse cenário que as manifestações sociais afirmam a necessidade de implementações tendendo a uma relação estreita com o meio ambiente. Tal fator se evidencia nas próximas décadas com inúmeros debates e discussões permeando por momentos sociais e históricos, com diferentes integrantes de linguagens distintas, todavia, com os mesmos objetivos: a constituição da Educação Ambiental. Exemplo disso é que: A primeira grande catástrofe ambiental sintoma da inadequação do estilo de vida do ser humano - viria acontecer em Londres provocaria a morte de 1.600 pessoas desencadeando o processo de sensibilização sobre a qualidade ambiental na Inglaterra, e culminando com a provocação da Lei de Ar Puro pelo Parlamento, em 1956. Esse fato desencadeou uma série de discussões em outros países, catalisando o surgimento do ambientalismo nos Estados Unidos a partir de 1960 (DIAS, 2004, p. 77).
Reigota (2009) traz à tona a relação da educação ambiental com as conferências mundiais e aos movimentos visando à preservação ambiental. Manifestações sociais cujo objetivo era debater as preocupações e a proteção do meio ambiente. Com base nesses episódios verificou-se maior engajamento nas questões ambientais como as reivindicações objetivando o bem-estar comum da sociedade conjunto ao equilíbrio do meio ambiente. Neste mesmo período - 1962 - a autora Rachel Carson destaca-se com a publicação do livro “Primavera Silenciosa”, onde o mesmo retrata ao mundo os efeitos tóxicos do uso do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), um pesticida sintético agressivo que causa um efeito negativo ao meio ambiente e o envenenamento aos seres humanos devido a constante manipulação. Em decorrência dessa realidade, surgem encontros que fundamentam a educação ambiental como, por exemplo, Conferência de Estocolmo (1972)1, Carta de Belgrado2, Conferência de Tbilisi3, Rio 924, Protocolo de Kyoto5, dentre outros encontros que evidenciam a preocupação com o meio ambiente e salientam a busca contínua por uma relação consciente. Também é reconhecida a importância das iniciativas das Nações Unidas em difundir paradigmas, implementar ações para enfrentar inúmeras problemáticas socioambientais, na proporção de salientar a sustentabilidade baseando-se na Educação.
1 Na Conferência de Estocolmo em, 1972 a temática da educação ambiental é inserida na agenda internacional com o objetivo de alertar sobre os problemas da degradação ambiental. 2 Visando elucidar uma estrutura global para a EA, foi estabelecida a Carta de Belgrado, um documento que trata as questões ambientais num evento promovido pela Unesco, encontro este, que ficou conhecido como Encontro de Belgrado. 3 A Conferência de Tbilisi tem sua importância pois fundamenta os princípios e estratégias para EA, medidas estas que são empregadas em todo o globo até os dias de hoje. 4 Rio-Eco 92, Evento sediado no Rio de Janeiro cujo objetivo era reafirmar o compromisso com a EA mencionando tópicos já abordados anteriormente como o desmatamento, efeito estufa, dentre outros. Neste evento estavam presentes cerca de 3000 participantes discutindo os problemas ambientais e empenhando buscas por soluções inovadoras visando o desenvolvimento sustentável. 5 Protocolo de Kyoto é um tratado internacional assinado por inúmeros países no ano de 1997, na cidade de Kyoto, no Japão. Seu escopo aborda marcações já mencionados anteriormente e destaca o aumento do efeito estuda e do aquecimento global.
Sendo alvo de diversas discussões e pesquisas, a problemática ambiental vem ganhando notoriedade à medida que os rápidos avanços e necessidades humanas tomam um espaço maior na sociedade contemporânea, estando envolvidas no processo as esferas política, econômica, social, ecológica e científica. Pelegrini e Vlach (2011) indicam que diversos autores identificam que a crise ambiental tem raízes que vão além do fator ecológico, visto que os desequilíbrios econômicos do capitalismo especulativo global, do sistema político falsamente representativo, o neoliberalismo e a desigualdade social também tem sua parcela de contribuição negativa para o cenário ambiental. Somado a isso, na atualidade, a sociedade do consumo impera e o fator econômico dita regras, pois: [...] a ideologia produtivista que se instalou no ocidente desde o século XIX, resultante da difusão do modelo de desenvolvimento mecanoprodutivista [...] impele o aumento crescente da produção e do consumo. A contradição entre crescimento do consumo (condição de permanência do modelo econômico) e a preservação ambiental manifesta-se claramente neste processo, já que ele corresponde, de fato, à intensificação dos processos de produção destrutiva (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 189). Apesar do conceito de desenvolvimento sustentável proporcionar uma esperança de alternativa viável para a possível solução do problema, compatibilizando o crescimento econômico e tecnológico com a conservação ambiental, a crise ultrapassa a questão ecológica ou material, porque “a sociedade pós-industrial [...] confronta-se com uma crise de valores, do estilo de pensamento, dos imaginários sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que sustentaram a modernidade” (JACOBI; TRISTÃO; FRANCO, 2009, p. 65). Com efeito, a problemática ambiental emerge de uma crise construída ao longo dos últimos séculos, manifestando e refletindo hoje, de forma adaptada, as crises da modernidade que podem ser notadas na sociedade: no pensamento dos indivíduos, nas condutas sociais autodestrutivas, na degradação da natureza e na qualidade de vida das pessoas (JACOBI; TRISTÃO; FRANCO, 2009; PELEGRINI; VLACH, 2011). Assim posto, é necessária uma revisão dos paradigmas que alicerçaram a sociedade atual para que os resultados adversos sejam transponíveis. Jacobi, Tristão e Franco (2009, p. 66) enfatizam que:
[...] a ideia de sustentabilidade implica a necessidade de definir uma limitação, quanto às possibilidades de um crescimento desordenado, e implementar um conjunto de iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos, por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado mútuo, o que reforça um sentimento de coresponsabilização e de constituição de valores éticos.
Para isso, a Educação Ambiental exerce função primordial, pois é uma ferramenta no processo de conscientização que propõe o diálogo de saberes, a formação de um pensamento crítico e comprometido com a realidade de propor perspectivas para o futuro, pautada em análises complexas das relações antrópicas e processos naturais (PELEGRINI; VLACH, 2011). Uma vez que inegavelmente: A preocupação com um modelo de desenvolvimento sustentável leva o Estado e a sociedade a buscarem caminhos para sua viabilidade. A educação ambiental é vista como um desses caminhos, já que estimula a tomada de consciência e a apreensão de algumas práticas necessárias à consolidação de qualquer ação voltada para o equilíbrio entre o crescimento econômico e a manutenção de um ambiente sustentável, reunindo práticas que venham a garantir a qualidade e a preservação da vida na Terra (ABRANTES; MIRANDA; VASCONCELLOS, 2014, p. 429). Portanto, a Educação Ambiental é precisa na situação contemporânea, pois se requer um mínimo de consenso e análise que conte com um aporte transdisciplinar, proporcionando informação, entendimento, e sensibilidade da importância do meio ambiente para tomada de decisões com maior equilíbrio.
Ea No Exercício da Formação e Função Profissional: o papel dos gestores ambientais
A Educação Ambiental é uma ferramenta multidisciplinar, propagando ações de conscientização, encorajando o público-alvo a preocupar-se com os problemas associados ao meio ambiente. Desta forma, abrange o âmbito escolar, a população em geral, de área de influência direta ou não, e até mesmo profissionais que buscam qualificação. Acrescenta-se, ainda que, a demanda pela gestão ambiental surge devido à preocupação com o meio ambiente e as necessidades de atender aos acordos e legislação vigentes. Tornando-se um mercado convidativo para profissionais que buscam adentrar neste cenário. 121
A Gestão Ambiental é um sistema de administração que enfatiza a sustentabilidade visando o uso de metodologias e práticas, de modo a garantir que as atividades econômicas gerem o mínimo impacto ambiental. Abrange profissionais de diversas áreas como Administração, Biologia, Engenharias, entre outros. Conforme cita D’avignon (1995, p. 26), gestão ambiental é a “parte da função gerencial que trata, determina e implementa a política de meio ambiente estabelecida para empresa”. Sendo assim, a necessidade de implantar um sistema de gestão ambiental visa reavaliar as possíveis consequências negativas dos processos de produção e a conscientização dos colaboradores que atuam nas atividades envolvidas. O profissional gestor ambiental assume diversas funções em uma organização. Dentre inúmeras atribuições podemos destacar a elaboração de programas de regularização ambiental, medidas de controle de poluentes, suporte em auditorias de conformidade, assessorias e consultorias ambientais, dentre outras. É importante ressaltar que a educação ambiental deverá estar presente na formação deste profissional, visto que, o mesmo atuará comedindo ações que viabilizem a preservação da biodiversidade, podendo confrontar adversidades contrapondo os princípios éticos e sua responsabilidade ambiental. Haja vista a relevância da qualificação profissional e instrução para enfrentar diversas circunstâncias.
Conclusão
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma breve análise da importância da Educação Ambiental no contexto do exercício profissional, uma vez que na sociedade vigente, onde impera a conduta do consumismo exacerbado, desenvolvimento industrial e tecnológico, é posto à prova medidas conscientes de como utilizar os recursos ambientais. Nesse contexto, os profissionais de diversas áreas têm responsabilidade em contribuir como agentes transformadores para uma mudança de paradigmas; sobretudo, os gestores ambientais.
Referências Bibliográficas
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