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THE IDOLS

eles têm mais opções. E isso é interessante: abrir esse leque a seguir no mercado formal de trabalho.

Voltei ao projeto depois de dois anos, para um evento. Muitas crianças se lembravam de mim e eu delas! A transformação de muitos deles, já adolescentes, contando sobre a vida, impressionou: ‘Agora estou indo menos no projeto, mas me dedicando aos estudos, porque quero passar no vestibular. Sou mentor de outras crianças; conto a minha história para quem está começando’. Aquele jovem estava, de certa forma, passando o bastão.

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As crianças são inseridas nas atividades de uma forma muito especial. Mesmo no Ué?! SOPA!, um evento mais elaborado e maior, eles estão lá para conhecer as pessoas, explicar o projeto, ajudar nas vendas. Eu não tenho muito convívio com elas porque estou longe, mas sinto todo o carinho. No Ué?! SOPA! de 2019, era meu aniversário e passei a noite no evento. Dá pra ter uma ideia do quanto eu sou apaixonado pelo projeto. As crianças foram até lá, levaram um bolo, cantaram parabéns... foi muito legal! O convite para ser embaixador me deixou um pouco confuso, eu confesso. Como eu poderia (desempenhar esse papel), fazendo tão pouco? Precisaria fazer muito mais do que eu faço. Eu não estou muito presente, faço uma ponte aqui, outra ali, apresento pessoas... O Marcelo me falou: ‘Você não imagina o que tudo isso significa. Isso é muito!’. Então eu aceitei. Com humildade, com menos medo e com muito orgulho, porque é muito bonito saber que você pode fazer parte da história de um projeto que está transformando tantas vidas. Saber que aquilo que você construiu pode ajudar outras pessoas a construir alguma coisa também. Usar a sua voz e participar, mesmo a distância, faz a diferença, e também te transforma. Entendo que a transformação é dos dois lados: assim como eles estão contribuindo para transformar a vidas daquelas crianças, esse convite também ajudou a transformar a minha vida.” his mum from another chore, as if the project was a day care centre that would afford him mum the chance to go to work. Then he began bringing his mum to WimBelemDon, to take part in several activities, because it made him feel so good that he wanted her to feel good too.

I think that this welcoming character is a result of the environment created there. This energy spreads from child to child. It’s impregnated within the values that are taught. The symbolism created around it [the mandala of values] ends up taking a central role in the children’s lives. It becomes a mantra and it regulates the frequency of the place. When you arrive at WimBelemDon, you can feel this different vibe. You feel instantly welcome.

I wanted to interact with the children! I put on a pair of gaucho trousers and I grabbed a mate gourd and I pretended to play tennis with them. I have the ability to bring humour to everything that I do and I was just suddenly hit by the inspiration to tell a story like that. We shot a simple video, edited on the mobile phone itself, which ended up being great fun! Some of the children were really interested in my job, some others expressly told me they would like to become chefs, and the older ones helped out in the kitchen at ChocólatrasSolidários. But at the time, their main focus was helping the project. A different profession [Lucas is the first ambassador from outside the tennis world] shows that they have more options. And this is really interesting: opening up these possibilities to the job market. I went back to the project after two years, for an event. Many of the children remembered me and I remembered them! The transformation of a lot of them, now teenagers, telling me about their lives, was impressive. ‘Now I go to the

“I UNDERSTAND THAT TRANSFORMATION HAPPENS BOTH WAYS. THIS INVITATION ALSO TRANSFORMED MY LIFE” project less often because I’m focusing on my studies, I want to go to university. I mentor other kids, I tell my story to those that are just starting out’. That young man was passing the baton. The children are involved in the activities in a really special way. Even at the ‘Ué?! SOPA!’, a larger, more complex event, they are there to meet people, talk about the project, help out with the sales. I don’t spend a lot of time with them because I live far away, but I have a lot of love for them. The 2019 ‘Ué?! SOPA!’ coincided with my birthday and I spent the night at the event. You can have an idea of how in love I am with this project. The children brought a cake, sang Happy Birthday… it was really lovely! The invitation to become an ambassador confused me slightly, I’ll admit. How could I (perform this role), having done so little? I’d need to do a lot more. I’m not present a lot of the time, I’ll make a bridge here, another one over there, I’ll introduce people. Marcelo said, ‘you have no idea how much all of this means. This is a lot!’. Then I accepted it. Humbly, with less fear and a lot of pride, because it’s really nice to know that you can be part of the story of a project that has transformed so many lives. Knowing that what you’ve built can help other people build something too. Using your voice and participating actively, even from a distance, can make a big difference and can also be a transformative experience for you. I understand that transformation happens both ways: just as the project contributes to transform those children’s lives, this invitation also helped to transform my life..

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“Lembro de uma vez que havia quatro bolos pequenos para 100 crianças. Eu cortava fatias tão finas... Elas pediam para repetir e não tinha mais para dar”

(Lidia Rohde, voluntária)

“I remember this time when there were four small cakes for 100 children. I cut really thin slices. They asked for more and there was no more to give them”

(Lídia Rhode, volunteer) uitas pessoas deixaram sua marca no WimBelemDon e tiveram também suas vidas marcadas pelo projeto. Ajudaram, de alguma forma, ao longo desses 20 anos, a construir uma linda história. E a enriquecem ainda mais com os depoimentos que deram para este livro.

Lidia Rhode

“Foi na quadra de tênis do União que soube da existência de um trabalho legal na Zona Sul que unia duas coisas que eu gostava: tênis e crianças. Eu sempre quis fazer um trabalho voluntário, mas achava a Zona Sul muito distante. Foi numa exposição fotográfica, em 2008, onde estavam fazendo a divulgação do WimBelemDon, que vi o brilho no olhar daquelas pessoas e tive a certeza de que eu queria trabalhar lá. Então fui conhecer o projeto. ‘Meu Deus! É aqui que eu quero ficar’, pensei.

Comecei como auxiliar do professor de tênis Guido. Brincava com as crianças, fazia aquecimento, ajudava em quadra, preparava e distribuía o lanche, recolhia doações de amigos, de anônimos, e às vezes era motorista e levava as crianças aos torneios.

Uma das coisas que mais me tocaram, no início, foi a falta de recursos. Acreditei que, por ser algo ligado ao tênis, considerado um esporte elitista, haveria muita gente querendo ajudar, muitas doações. Mas era um projeto carente de tudo. Não tinha dinheiro. As crianças tinham fome. Lembro de uma vez que havia quatro bolos pequenos para 100 crianças. Eu cortava fatias tão finas... Elas pediam para repetir e não tinha mais para dar. Eu pensava nos meus filhos, na fartura que a gente tinha em casa. Era muito triste. O pessoal se esforçava muito para ter o any people made their mark at WimBelemDon and also had their lives impacted by the project. In one way or another, they helped to build a beautiful story throughout these 20 years. And they made it even richer with the statements they have given for this book.

Lidia Rhode

“It was in the União club tennis court that I heard about this cool project in the Southside that combined two things I liked: tennis and children. I had always wanted to volunteer, but thought the Southside was too far away. It was at a photographic exhibition in 2008, when they were promoting WimBelemDon, that I saw the spark in those people’s eyes and felt certain I wanted to work there. Then I paid a visit to the project, and thought, “My God, this is where I want to be!”.

I began by assisting Guido, the tennis coach. I played with the children, led the warm up, helped them in the court, prepared and distributed the snacks, collected donations from friends and anonymous donors, and sometimes I also drove the children to tournaments.

One of the things that moved me the most at the start was the lack of resources. I thought that, because it was something connected with tennis, considered an elite sport, there would be lots of people willing to help, many donations. But the truth is, the project lacked everything. They didn’t have enough money. The children were hungry. I remember this time when there were four small cakes for 100 children. I cut really thin slices. The kids asked for more and there was no more to give

LIDIA ROHDE, A ICA, COMEÇOU NO PROJETO COMO AUXILIAR DO PROFESSOR DE TÊNIS EM 2008

LÍDIA RHODE, AKA ICA, STARTED WORKING IN THE PROJECT AS THE TENNIS COACH ASSISTANT IN 2008

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LIDIA CONTRIBUIU EM DIFERENTES ATIVIDADES DO PROJETO. SEU FILHO MAIS NOVO, MATHEUS, FESTEJOU OS 14 ANOS COM OS AMIGOS DE WIMBELEMDON

LÍDIA HAS HELPED OUT WITH A WIDE RANGE OF ACTIVITIES. HER YOUNGEST SON, MATHEUS, CELEBRATED HIS 14TH BIRTHDAY WITH HIS WIMBELEMDON FRIENDS

(Lidia Rohde, voluntária)

“The most important message to pass on to the children is that we are there because we care about them. I believe this is done well in the project in several ways and the kids know and feel it”

(Lídia Rhode, volunteer) básico e fez mágica para conseguir manter o projeto vivo e as crianças acolhidas e participativas, mesmo naquelas condições.

Tenho histórias marcantes vividas no WimBelemDon. O envolvimento do meu filho caçula é uma delas. Tímido, na primeira vez em que esteve no projeto foi tão bem recebido pelas crianças que ficou encantado e quis voltar sempre. Tanto que começou a convidar os amigos para ir junto e ver como as crianças eram legais. Ele me falava que, mesmo sem material ou tênis (o sapato mesmo, ele percebeu que algumas delas não tinham), a alegria delas era ‘fantástica’, e entendia que não precisava de muita coisa para ser feliz. Ele pediu para comemorar o aniversário de 14 anos no projeto. Levamos bolo, docinhos e refrigerantes e ELE APROVEITOU CADA MINUTO COM OS AMIGOS do WimBelemDon.

Por mais que eu procurasse não me envolver com os problemas das crianças, muitas coisas me deixavam muito triste. Como em uma vez em que um dos meninos se machucou, tivemos que levá-lo ao Hospital de Pronto Socorro e fomos ao abrigo residencial pegar os documentos dele. Percebi a indiferença. Nenhum carinho, nenhum abraço, nenhuma pergunta sobre o que houve. É uma realidade brutal, que a gente não vive no dia a dia, nas nossas casas, com as nossas famílias. Mexe demais. Numa ocasião, num dia muito frio, um menino chegou de tênis e bermuda, sem meias – ele disse que não tinha meias. Nenhuma. Eu e o professor saímos para comprar. E quando as crianças pediam para ser adotadas? Era muito difícil olhar pra elas e dizer que eu não podia. Miséria, tristeza, carência. É um soco no estômago. Muitas crianças sofreram tanto abandono e descaso, que é difícil sair dessa situação sem trauma. Durante muito tempo, fiquei muito chateada em ver como o mundo é injusto, como tem crianças que sofrem e como há pessoas tão indiferentes.

Por outro lado, basta um olhar, um carinho, que elas se sentem queridas. De repente, abrem os braços e demonstram seu afeto. Tive tanto retorno nesse sentido! De palavras, de cartinhas, de abraços, de them. I thought about my own children, about how plentiful our life was at home. It was so sad. The organisers put a lot of effort into getting the basics and worked their magic to keep the project alive, making the children feel welcome and participate actively even under those circumstances. I have several memorable stories from my time at WimBelemDon. Getting my youngest son involved is one of them. A shy kid, the first time he visited the project, he was so well received by the other children that he was delighted and kept going back. He began inviting his friends to come along too and see how cool the other kids were. He told me that, even though they didn’t have resources or shoes (he realised many of them didn’t have trainers), their joy was ‘fantastic’, and he understood he didn’t need a lot to be happy. He asked to celebrate his 14th birthday at the project. We took cake, sweets, soft drinks and HE ENJOYED EVERY MINUTE WITH HIS WIMBELEMDON FRIENDS. As much as I tried not to get involved with the children’s personal problems, there were many things that would make me sad. Like the time when one of the boys got hurt, we had to take him to A&E and we went to the residential shelter for his documents. I noticed the indifference. No love, no hugs, not even a question about what had happened. It is a brutal reality that we don’t experience on a daily basis in our homes with our families. It has a huge impact. On another occasion, on a very cold day, one of the boys arrived wearing trainers and shorts, no socks. He said he didn’t have any socks. None. The coach and I went out to buy some. And when the kids asked to be adopted? It was the hardest thing to look at them and tell them I couldn’t.

Poverty, sadness, need. It’s a punch in the gut. Many children had suffered so much with abandonment and neglect that it’s nearly impossible to come out of this situation without trauma. For a really long time, I was upset about

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