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THE CROWD
Londres. Tudo foi resolvido em duas semanas. A escola mudou o destino do intercâmbio. O doador da primeira passagem foi um fenômeno: na impossibilidade de trocar, comprou outra. E um gás na vaquinha garantiu a diferença de dinheiro, já que a moeda não era mais dólar, e sim libra. Fiquei três meses na Wimbledon English School. Aprendi muito inglês, a escola era maravilhosa. Tive a oportunidade de conhecer o complexo de Wimbledon, de viajar para Paris. Foi maravilhoso! De Belém Novo para o mundo!
Passei no exame de proficiência. Na volta da viagem, recebi a notícia de que tinham me aceitado numa universidade do Kansas. Moraria no campus, tudo organizado. Estava tão confiante, nas nuvens! Mas, em janeiro de 2016, meu visto foi negado novamente. Que desespero! Nem olharam meus documentos! Acabou meu mundo, minha vida. Foi muito difícil. Depois de um tempo, consegui entender que aquele não era o momento e que aquela oportunidade não era ‘tudo’. Não era para ser.
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Continuei minha faculdade de Educação Física na Sogipa – havia começado no ano anterior, fazendo três cadeiras –, era estagiária do WimBelemDon e recebi do Marcelo, no Amigo Secreto do projeto, uma carta escrita à mão: convocação para ser juíza de linha nas Olimpíadas de 2016! Foi indescritível estar nos jogos, fazer parte de um momento histórico para o esporte, para o Brasil. A questão da arbitragem ficou mais presente. Comecei a participar de mais torneios, ir para o Rio Open.
Como estagiária, sempre fui participativa e tive voz ativa no projeto. Entendia que o WimBelemDon era meu também. Em 2018, fui contratada como educadora. Tive uma grande ajuda da Mari, psicopedagoga, que me mostrou a importância de dar carinho e de falar sério com as crianças. Em 2019, me formei e fui contratada como professora.
Em 2020, veio a reviravolta. Fui convidada novamente para ir para os EUA. Dessa vez o governo americano selecionou 12 profissionais que trabalham com meninas no esporte para um intercâmbio, e eu fui uma
But my visa was denied. I was devastated. Then they changed plans quickly: I would go to London. Everything was sorted in two weeks. The school changed the destination for the course. The person who donated the first air ticket was phenomenal: seeing that it was impossible to exchange the flights, they just bought another ticket. A bigger push for the crowdfunder addressed the difference in the exchange rate, since the currency was no longer the US dollar, but pound sterling. For three months, I attended the Wimbledon English School. I learned English fast, the school was wonderful. I also had the chance to visit the Wimbledon tennis complex and travel to Paris. It was amazing! From Belém Novo to the world!
I passed the English proficiency exams. When I came back, I got the news that I had been offered a place to study at a Kansas university. I would live on campus, everything was arranged. I was feeling really confident, on cloud nine! But in January 2016, my visa was denied again. I despaired! They didn’t even look at my documents! My world, my life were over. It was incredibly hard. After some time, I understood that this was not my moment and that one opportunity wasn’t everything! It was just not meant to be.
I continued studying Physical Education at SOGIPA [Society of Gymnastics of Porto Alegre] – I had started the year before, taking three modules. I was an intern at WimBelemDon and at the project’s Secret Santa, I received from Marcelo a handwritten letter: an invitation to be a line umpire in the 2016 Olympics! Being at the games was extraordinary, being part of a historical moment for sport, for Brazil. Officiating became more present in my life. I began to participate in more tournaments, I went to the Rio Open.
As an intern, I was always proactive in the project. I understood WimBelemDon was mine too. In 2018, I das escolhidas. Em maio de 2020 era para eu ter viajado, mas o novo empecilho foi a pandemia. O intercâmbio foi adiado. Como eu já havia passado por duas decepções e dessa vez não era algo só comigo, não foi tão sofrido.
Em 2022 a oportunidade surgiu novamente. Na terceira ida ao consulado, o medo de uma nova frustração estava presente, mas, dessa vez, o resultado foi diferente. No dia 18 de agosto meu visto foi aprovado e a viagem para os EUA agendada: de 16 até 25 de setembro estive no Colorado, em um intercâmbio voltado para o esporte. Nunca desisti, em nenhum momento disse que não queria mais ir, mas eu segui a vida, trabalhei muito, estudei e estou muito feliz. Viver essa experiência é maravilhoso e todo o meu aprendizado será aplicado com as crianças do WimBelemDon.
Sobre ser referência para as crianças, é muito louco. Acho que as coisas foram acontecendo. Andei pelo caminho certo, comecei a ser vis- was hired as an educator. I had a lot of help from Mari, the psychopedagogue, who showed me the importance of being affectionate and having serious conversations with the children. In 2019, I graduated and was hired as a teacher. In 2020 came the turnaround. I was invited again to go to the USA. This time the US government selected 12 professionals who work with girls in sports for an exchange program, and I was one of the chosen ones. In May 2020 I was supposed to travel, but the new obstacle was the pandemic. The exchange was postponed. As I had already been through two disappointments and this time it was not just me, it was not so painful.
In 2022 the opportunity arose again. On the third visit to the consulate, the fear of another frustration was there, but this time the result was different. On August 18 my visa was approved and the trip to the USA scheduled:
THE CROWD GRATITUDE Gratidao
ta como exemplo. Tive muito a influência da minha mãe, que participava ativamente do projeto. Porque não são apenas as crianças as beneficiadas com todo esse trabalho, mas as famílias.
HOJE VEJO QUE MEU SONHO SE TORNOU REALIDADE: A VIDA QUE ESTOU CONSTRUINDO, A POSSIBILIDADE DE ESTAR NO PROJETO. O desenvolvimento do WimBelemDon também: um sonho maior, e real. O projeto é uma referência: de sempre buscar o melhor, crescer, evoluir, formar cidadãos. E disseminar essas ideias que hoje, inclusive, influenciam outras ONGs.”
Rafael Bernardes
“Entrei no WimBelemDon com 10 anos, na metade de 2003. Tenho uma memória bem viva desse início. Eu queria muito participar, me encaixava em todos os requisitos, menos na idade. Pouco tempo depois, quando o pessoal foi à escola por conta da abertura de uma nova turma e entrou na minha sala, levantei o braço imediatamente. Fiquei muito, muito feliz!
Não tinha noção da grandiosidade que seria o projeto nem de todas as mudanças que ele poderia provocar. Queria praticar esporte, queria a novidade. Nunca tinha visto tênis na vida. E teria a oportunidade de praticar sem precisar pagar. Disse que não faltaria nunca, que seria o melhor aluno. Eu sou muito competitivo. Cumpri a promessa até certo ponto – a adolescência é um problema.
Tive o sonho de ser tenista. O professor Peninha me chamava de Nadal. Quem é Nadal?, eu perguntava. Fiquei encantado. Mas, com o tempo, comecei a ver que não precisaria ser profissional para ser feliz. Poderia estudar, ter um bom emprego, me formar e ser o que quisesse. Em 2004, fiz uma história em quadrinhos sobre um menino muito novo que estava envolvido em coisa errada e, por meio do tênis, poderia ter from September 16 to 25 I was in Colorado on an exchange program focused on sports. I never gave up, at no point did I say I didn’t want to go anymore, but I followed life, worked hard, studied, and am very happy. Living this experience is wonderful and all my learning will be applied with the children of WimBelemDon. Regarding being a role model for the kids, it’s insane. I think things just happened. I chose the right path, I began to be viewed as an example. I was influenced by my mum, who actively participated in the project. Because it’s not just the children that benefit from all this work, the families do too.
NOW I SEE THAT MY DREAM CAME TRUE: THE LIFE I’M BUILDING, THE POSSIBILITY OF BEING PART OF THE PROJECT. The growth of WimBelemDon as well: a bigger dream, and a real one. The project serves as an inspiration to always try your best, to grow, evolve, become a proactive citizen. And to promote these ideas that now even influence other NGOs”.
Rafael Bernardes
“I joined WimBelemDon when I was 10, halfway through 2003. I have a very vivid memory of that beginning. I really wanted to take part, I fit all the criteria, apart from the age. Shortly after, when the team visited my school to talk about a new class opening and came into my classroom, I immediately put my hand up. I was very, very happy! I had no idea of how big the project would become, nor all the changes it could affect. I wanted to practise sport, I wanted to have a new experience. I had never watched tennis in my life. And now I would have the chance to play without having to pay. I promised I would never miss a day, I would be the best pupil. I’m very competitive. I kept my promise to an extent – adolescence can be a problem. I dreamed about being a tennis player. Coach Peninha called me Nadal. Who is this Nadal?, I asked. I was astonished. But with time, I realised uma nova chance na vida. Eu já sabia da essência do WimBelemDon. No colégio, eu me esforçava por causa do projeto. Nunca ficava em recuperação. Eles incentivavam muito o bom rendimento. As aulas de leitura me ajudavam, me motivavam. A gente nunca teve muito dinheiro, mas minha família fez uma vaquinha e comprou um livro do Harry Potter. Eu adorava!
De repente, mudei meu comportamento de uma forma meio assustadora. Era rebelde, dava muito trabalho. Não queria nada com nada. Eu era o primeiro a chegar ao projeto, ajudava seu Nelson na quadra – eu adorava ajudar, cuidar do projeto –, mas ao mesmo tempo incomodava muito, era repreendido, tinha problemas de convivência. Evoluí no projeto,
I didn’t need to be a professional tennis player to be happy. I could study, I could get a good job, go to university and be whatever I wanted to be. In 2004, I drew a comic about a young boy who was involved with some bad stuff and, through tennis, he could have a second chance in life. I already had the essence of WimBelemDon in me.
At school, I worked hard because of the project. I never had to do resits. They always encouraged good attainment. The reading lessons helped and motivated me. We never had a lot of money, but my family organised a whip-round and bought me a Harry Potter book. I loved it!