Como entender a Bíblia - 11ª ed | Antônio Renato Gusso

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REVISÃO:

João Henrique R. Muller

DIAGRAMAÇÃO:

Manoel Menezes

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Jennyfer Calado Barcelos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

Gusso, Antônio Renato

G982c Como entender a Bíblia: orientações práticas para a correta interpretação das escrituras sagradas / Antônio Renato Gusso –

11.ed. – Curitiba, PR: A.D. Santos, 2023

14 x 21 cm

Inclui bibliografia ISBN 85-7459-027-4

1. Bíblia – Hermenêutica I. Título.

CDD 220.601

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

11ª edição: Março / 2023

A. D. SANTOS EDITORA

Al. Júlia da Costa, 215 80410-070

Curitiba – Paraná – Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br

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CNPJ 19.893.722/0001-40

DEDICATÓRIA

A nosso Deus Todo-poderoso que, por meio de homens inspirados pelo Espírito Santo, nos legou a Bíblia Sagrada, objeto principal do interesse desta pequena obra que aqui apresento.

A todos os membros da minha querida Igreja, irmãos amados, para os quais, primeiramente, foi preparado este estudo com a intenção de capacitá-los, ainda mais, para uma boa interpretação bíblica.

A todos aqueles que foram, são ou serão meus alunos. Pessoas maravilhosas que gastam as suas vidas na nobre tarefa de desenvolver a capacidade própria de compreensão das mensagens das Escrituras.

Aos pregadores e irmãos em Cristo, em geral, que amam a Bíblia e zelam pela pureza de seus ensinos.

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DEUS FALA

Dia após dia recebemos os seus ensinos, pois é de seu gosto conosco falar.

Eu sou testemunha e te digo: desde menino, sua Palavra pode te acompanhar.

Uns o ouvem na brisa, outros na tempestade, ainda outros no calmo aconchego do lar.

Saiba, porém, que é na Palavra que ele mais fala, mostrando Jesus sempre a te amar.

Dê atenção às palavras da Bíblia, siga seus retos conselhos, seja muito feliz.

Estude suas mensagens, medite diuturnamente, se torne um eterno aprendiz. Uma coisa garanto, ela tem tesouros escondidos, bem mais lindos do que uma flor de liz.

Sem mais demora, portanto, siga o script certo, como um bom ator, ou perfeita atriz.

Deus fala. Ouça com muita atenção!

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APRESENTAÇÃO

Foi com satisfação que recebi o convite para apresentar otrabalho do Pastor e professor Renato Gusso.

Satisfação, porque as maiores aberrações que se têm verificado no ensino e na pregação da Bíblia devem-se, em grande parte, ao desconhecimento de regras elementares e de cuidados básicos em relação à leitura e interpretação das Escrituras Sagradas.

Com a preocupação do Pastor e a experiência do professor, Renato Gusso consegue apresentar, em termos simples e sem os tecnicismos de compêndios especializados em Hermenêutica Bíblica, noções básicas que muito ajudarão, igualmente, ao pregador e ao professor da Bíblia, pastor ou “leigo” e com certeza lhes abrirão o apetite para textos mais alentados, nesse campo da teologia.

Espero que os leitores muito aproveitem da leitura e do estudo do opúsculo que tem em suas mãos, inclusive fazendo os exercícios que o autor, com boa didática, está sugerindo em alguns dos capítulos.

Boa leitura, pois, e muito proveito, lembrados da atitude bereana que deve caracterizar todo bom estudante do Livro de Deus.

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Pastor Irland Pereira de Azevedo
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9 SUMÁRIO Dedicatória 3 Deus fala 5 Apresentação 7 1. Introdução 11 2. Pedir constantemente a orientação divina 15 3. Abordar todas as passagens com humildade 21 4. Observar o texto com muita atenção 27 5. Observar o contexto com muito cuidado 33 6. Descobrir o pano de fundo da passagem 43 7. Identificar os tipos de literatura 49 8. Não interpretar passagens figuradas como literais e vice-versa 59 9. Descobrir os diversos significados de uma palavra 65 10. Buscar o significado para o receptor original 73 11. Tirar ideias do texto e não buscar textos para as ideias 79 12. Lembrar que a Bíblia é livro de religião e não de ciências 85
10 13. Não valorizar em demasia as divisões oferecidas pelas versões bíblicas 91 14. Interpretar textos difíceis à luz de textos fáceis 99 15. Conclusão 105 Referências Bibliográficas 107 Apêndice – Índice Remissivo 109

1.INTRODUÇÃO

É um princípio defendido por nós, evangélicos, o direito de todas as pessoas interpretarem por si mesmas o significado do conteúdo da Bíblia Sagrada. Isto, apesar de trazer consigo alguns riscos, é uma atitude sadia, dando a cada um a oportunidade de descobrir qual é a verdade de Deus para oseu povo, sem o perigo de ser influenciado nessa descoberta por pessoas mal intencionadas, que procuram impor o seu próprio ponto de vista, com a intenção de prender seus seguidores sob esse ou aquele ensino humano, apresentado com roupagem aparentemente divina.

Essa liberdade, contudo, não nos dá o direito de interpretá-la da maneira que quisermos ou que mais nos agrade. Como não queremos ver a Bíblia sendo usada para este ou aquele interesse, nós também não podemos usá-la conforme os nossos interesses. Havemos de ter, constantemente, em nosso pensamento, ao nos aproximarmos do Livro de Deus para interpretá-lo, a verdade clara de que se trata de algo mais do que simples literatura antiga; ele é, para nós, a Mensagem de Deus entregue ao seu povo.

Como mensagem ou Palavra de Deus, deve ser respeitada e ouvida, ou lida, com temor, atenção, cuidado e muita reverência, pois ao descobrirmos o seu real significado, nela encontramos a vontade de Deus para as nossas vidas.

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A importância da boa interpretação não pode ser exagerada: dela depende o fazermos ou não aquilo que Deus espera de nós. Não é difícil de se concluir que, ao interpretarmos de forma errada, a nossa mensagem, mesmo baseada na Bíblia, não é a Palavra de Deus, mas sim, nossa opinião, equivocada, a respeito de alguma porção da Palavra de Deus.

A responsabilidade cresce ainda mais quando percebemos a nossa missão profética no mundo atual. Está sobre nós o encargo de anunciar aos outros a mensagem de Deus que nos foi revelada, e a mensagem não é outra senão aquela que está de acordo com a Bíblia. Ao ensinarmos o conteúdo da Bíblia estamos agindo, de fato, como se fossemos profetas do Deus verdadeiro e estaremos falando, com certeza, em nome dele se entregarmos fielmente a sua mensagem. Por outro lado, se falarmos em nome de Deus aquilo que Ele não disse, talvez até sem pensar, estaremos agindo como falsos profetas. Estaremos anunciando aquilo que Ele não anunciou: a nossa própria palavra e não a de Deus.

O Dr. Carson, escritor e professor de Novo Testamento, está com toda a razão quando diz não haver grande importância o fato de alguém errar na interpretação de Shakespeare ou na recitação de algum poema, pois isso não trará consequências eternas. Mas, por outro lado, que não se pode aceitar com a mesma facilidade os erros na interpretação da Bíblia. Estamos trabalhando, neste caso, com matéria divina e temos a obrigação de nos esforçarmos ao máximo, tanto para entender como para ensinar estes conceitos.1

1 CARSON, D. A. A exegese e suas falácias: perigos na interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1992, pp. 13, 14.

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a Bíblia

Sejamos zelosos. Não podemos interpretar a Bíblia de forma irresponsável. Ela contém material muito sério, não pode ser tratada com leviandade. Estejamos atentos para descobrir o real significado da mensagem bíblica para que não venhamos a ouvir, nós mesmos, a seguinte repreensão ouvida por alguns profetas contemporâneos de Jeremias: “Eis que eu sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam a sua própria palavra, e afirmam: Ele disse.” (Jr 23.31). A seguir serão apresentadas, de forma simples, algumas sugestões de atitudes que considero básicas para se obter uma boa interpretação bíblica. Não pretendo, de forma alguma, neste pequeno trabalho, ditar normas inflexíveis, mas, sim, oferecer algumas ferramentas de fácil manuseio, as quais poderão ser utilizadas pela grande maioria dos cristãos interessados na busca dos significados reais dos textos bíblicos. Para facilitar o estudo, sempre que necessário, as passagens bíblicas estarão impressas no texto do trabalho. A versão utilizada, em todas as citações, será a Nova Almeida Atualizada, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil em 2017.

1. Introdução 13
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2. PEDIR CONSTANTEMENTE A ORIENTAÇÃO DIVINA

Podemos observar que, nos dias atuais, as opiniões se dividem em relação à dificuldade existente ou não, para que pessoas comuns, isto é, sem treinamento teológico especializado, possam chegar a um aceitável entendimento da Bíblia. Notam-se pelo menos três correntes de pensamento em relação a isso. Uma defende que a Bíblia só pode ser interpretada por estudiosos de sua problemática linguística, histórica e textual; ou seja, somente por peritos na questão.

Outra opinião, radicalmente oposta, aceita que todas as pessoas estão automaticamente, sem preparo anterior, prontas para discernir toda e qualquer passagem bíblica. E outra, ainda, possivelmente mais sensata, observa que existem textos dificílimos, os quais, até o momento, ninguém, nem mesmo os especialistas, conseguiram explicar de forma satisfatória; outros que podem ser entendidos, tendo-se alguns conhecimentos básicos das questões fundamentais que as envolvem e, ainda, outros claríssimos, que podem ser entendidos por qualquer criança.

Uma vez que existem textos difíceis, é só começar a ler a Bíblia para perceber isso. Não é má ideia lançar mão de todos os recursos, possíveis e disponíveis, que possam oferecer alguma ajuda na tarefa da interpretação. Inclusive, é muito bom ouvir a opinião de outros, mais experientes no

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assunto, a respeito de determinadas passagens, como foi o caso do etíope em relação a Filipe, como pode ser observado em Atos 8.26-40.

O etíope estava lendo uma passagem muito difícil de se compreender do Antigo Testamento, que ele não teria condições de interpretar corretamente sem a ajuda de alguém que conhecesse, além do texto em si, aquele de quem o texto falava de forma profética.

Veja como aconteceu o fato:

26 Um anjo do Senhor disse a Filipe: — Levante-se e vá para o Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto.

27 Filipe se levantou e foi. Havia um etíope, eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todo o seu tesouro. Ele tinha vindo adorar em Jerusalém

28 e estava regressando ao seu país. E, assentado na sua carruagem, vinha lendo o profeta Isaías.

29 Então o Espírito disse a Filipe: — Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a.

30 Correndo para lá, Filipe ouviu que o homem estava lendo o profeta Isaías. Então perguntou: — O senhor entende o que está lendo?

31 Ele respondeu: — Como poderei entender, se ninguém me explicar? E convidou Filipe a subir e sentar-se ao seu lado.

16 Como Entender
a Bíblia

32 Ora, a passagem da Escritura que ele estava lendo era esta: “Foi levado como ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo diante do seu tosquiador, ele não abriu a boca.

33 Na sua humilhação, lhe negaram justiça; quem poderá falar da sua descendência? Porque a vida dele é tirada da terra.”

34 Então o eunuco disse a Filipe: — Peço que você me explique a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de outra pessoa?

35 Então Filipe explicou. E, começando com esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a mensagem de Jesus.

36 Seguindo pelo caminho, chegaram a certo lugar onde havia água. Então o eunuco disse: — Eis aqui água. O que impede que eu seja batizado?

37 [Filipe respondeu: — É lícito, se você crê de todo o coração. Então ele disse: — Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.]

38 Então mandou parar a carruagem, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco.

39 Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não o viu mais; e este foi seguindo o seu caminho, cheio de alegria.

40 Mas Filipe foi visto outra vez em Azoto; e, seguindo viagem, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesareia.

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2. Pedir constantemente a orientação divina

Perceba que o etíope, no versículo 31, declara a sua incapacidade de entender o texto sem ajuda, faltava-lhe algumas informações, e pede auxílio a Filipe. Na continuação do texto nota-se que ele chegou a uma compreensão e, a partir dela, tomou a decisão de ser batizado (v.36).

Fico imaginando quais teriam sido os pensamentos do etíope enquanto lia aquela passagem tão difícil. Não temos como confirmar isto, mas tenho a impressão de que ele estava enfrentando uma situação que muitas vezes eu mesmo já enfrentei, olhando para o texto, querendo saber qual é o significado e não tendo condições para tal. Quem sabe se naquela hora ele não elevou os seus pensamentos ao Senhor, em oração, e pediu a interpretação daquela porção da Palavra de Deus. Nunca saberemos se isso ocorreu assim ou não, mas sabemos que Deus estava interessado em esclarecer o significado daquele texto ao etíope, e foi Deus mesmo quem, de forma milagrosa, através de um anjo (v.26) e do Espírito Santo (v.29), providenciou o encontro entre aqueles homens para que houvesse a compreensão desejada por Ele. E note-se que Deus usou pessoas humanas para ajudar outros a compreenderem Sua Palavra.

Deus não teria deixado a sua Palavra aos homens se, porventura, desejasse escondê-la da humanidade. Isto não teria nenhuma lógica. Deus nos deu a sua Palavra, a Bíblia, para que conheçamos os seus planos para as nossas vidas. Desta forma, ninguém mais apropriado para explicar o significado da Palavra de Deus do que o próprio Deus.

18 Como Entender a Bíblia

Sendo assim, é inconcebível que o cristão venha a procurar entender a Bíblia sem pedir a orientação divina em todas as vezes que tentar interpretá-la. Devemos nos aproximar de Sua Palavra em oração, pedindo discernimento, para que possamos ler nela exatamente aquilo que ela nos diz.

Para explicar o sentido de algum escrito, ninguém melhor do que o próprio autor desse escrito. Para esclarecer a Palavra de Deus, ninguém melhor do que o próprio Deus. Isto deve estar na mente do intérprete o qual fará bem se permanecer em oração antes, durante e depois do estudo de qualquer passagem. Se for da vontade de Deus dar-lhe o privilégio de entendê-la, Ele providenciará uma maneira para isto. Inclusive poderá providenciar pessoas mais capazes e experientes para ajudá-lo nesta tarefa.

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2. Pedir constantemente a orientação divina
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3. ABORDAR TODAS AS PASSAGENS COM HUMILDADE

Humildade, ainda que não esteja em moda na atualidade, se é que já esteve algum dia, é apresentada na Bíblia como uma virtude, a qual deve ser cultivada para o nosso próprio bem.

O conselho bíblico é claro: seja humilde, porque “a humildade precede a honra” (Pv 15.33b), da mesma forma que “o espírito orgulhoso precede a queda” (Pv.16.18b).

Esses conselhos práticos devem ser utilizados em todas as áreas de nossa vida, e, mesmo na hora de interpretarmos a Bíblia, assim devemos agir. Posso perceber no decorrer dos anos que a humildade é companheira inseparável daqueles que conseguem entender melhor as Escrituras Sagradas. Provavelmente eles são humildes porque têm entendido a verdade bíblica, mas, também, têm entendido melhor porque são humildes.

Esta atitude de humildade é muito importante para a boa interpretação, não pode ser menosprezada. Lund viu nela tanta importância que a destacou, em seu livro sobre hermenêutica, como sendo o requisito principal para o interprete, o qual deve agir como um discípulo humilde,

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buscando a luz do Espírito de Deus para a compreensão dos textos bíblicos.2

Notamos muitas vezes que passagens bem familiares da Bíblia são interpretadas de forma errada, simplesmente porque o intérprete está acostumado com elas. Talvez até as conheça de cor, só que não percebeu o significado verdadeiro. Trata-as com descuido, na ilusão de que já as conhece muito bem, pensando que não precisa se esforçar para aprender mais nada a respeito delas.

Não é bom para o intérprete agir assim. Ao pensar que já sabe tudo, de forma arrogante, acaba por não enxergar as verdades ainda não descortinadas para a sua mente.

Ao tratar com a Palavra de Deus, seja humilde, esteja consciente de que dificilmente alguém atinge um completo conhecimento de qualquer texto bíblico. Sempre pode haver mais alguma coisa que Deus deseja mostrar através dele, e você só aprenderá quando concluir que existe a possibilidade de desconhecer alguma parte. Em suma, só aprendemos quando sabemos que não sabemos.

Um bom exemplo de como passagens bíblicas bem conhecidas, são abordadas sem a devida humildade é o texto de Mateus 6.25-34. Leia, a seguir, o que a Bíblia está dizendo:

25 — Por isso, digo a vocês: não se preocupem com a sua vida, quanto ao que irão comer ou beber; nem com o corpo, quanto ao que irão vestir. Não é a vida

2 LUND, E. Hermenêutica – Regras de interpretação das Sagradas Escrituras. Deerfield, Flórida: Vida, 1995, p. 67.

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mais do que o alimento, e não é o corpo mais do que as roupas?

26 Observem as aves do céu, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, as sustenta.Será que vocês não valem muito mais do que as aves?

27 Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?

28 — E por que se preocupam com o que vão vestir? Observem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.

29 Eu, porém, afirmo a vocês que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.

30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não fará muito mais por vocês, homens de pequena fé?

31 Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que comeremos?”, “Que beberemos?” ou “Com que nos vestiremos?”

32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de todas elas.

33 Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas.

34 — Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.

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3. Abordar todas as passagens com humildade

Existe um cântico que foi muito utilizado em nossas igrejas, baseado nesta passagem. Ele diz o seguinte:

Buscai primeiro o reino de Deus e toda a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas, aleelu aleluia.

Aparentemente este cântico é cópia de parte do texto acima citado. Porém, ele tem uma diferença fundamental. O texto bíblico não contém a frase “e todas as coisas vos serão acrescentadas” mas, sim, “e todas estas coisas”. Ou seja, Jesus não está prometendo tudo para seus seguidores, todas as riquezas, ou mesmo todas as coisas que desejamos ou até mesmo que necessitamos. Afinal, você deve conhecer algum bom cristão que tem buscado o reino e a justiça de Deus mas que ainda não tem, por exemplo, casa própria para morar, ou tem dificuldades para obter algo que deseja e até mesmo necessita para desenvolver melhor o seu trabalho. Jesus está prometendo aos seus seguidores as condições básicas de sobrevivência. De fato aquilo que é essencial para o ser humano.

Lendo o texto todo, desde o versículo 25 até o 34, percebemos que a conversa é em torno do que comer, beber e vestir, nada mais do que isto, e Jesus está dizendo que seus discípulos não devem ficar ansiosos por estas coisas. Devem é buscar em primeiro lugar, o seu reino e também a justiça, confiantes que todas estas coisas: comida, bebida e vestuário serão acrescentadas.

24 Como Entender a Bíblia

Um outro exemplo claro do que perdemos ao abordarmos uma passagem sem a devida humildade de nossa parte, pensando que a conhecemos suficientemente, é o texto de Apocalipse 3.20, o famoso apelo de final de sermão para que o incrédulo abra seu coração para Jesus. Nele está escrito: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.

Muitas pessoas, membros de nossas igrejas, ao lerem este texto, acostumados com o seu mau uso durante os apelos para a conversão dos incrédulos, imediatamente o aplicam a alguma pessoa não conhecedora do Evangelho. Bastaria, porém, um olhar humilde para toda a passagem, desde o versículo 14 até o 21, para perceber a incoerência de tal interpretação, para notar que, nela, Jesus está se dirigindo a membros de uma igreja e não a pecadores que desconhecem a sua pessoa. Leia o texto:

14 — Ao anjo da igreja em Laodiceia escreva: “Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira,o princípio da criação de Deus.

15 Conheço as obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você fosse frio ou quente!

16 Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.

17 Você diz: ‘Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada.’ Mas você não sabe que é infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.

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3. Abordar todas as passagens com humildade

18 Aconselho que você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico. Compre vestes brancas para se vestir, a fim de que a vergonha de sua nudez não fique evidente, e colírio para ungir os olhos, a fim de que você possa ver.

19 Eu repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se.

20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

21 Ao vencedor, darei o direito de sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono.

22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Como é possível notar facilmente, se lermos a passagem toda, a mensagem é para crentes e não para incrédulos, como normalmente tem sido entendida em muitos de nossos púlpitos. Se isto não for levado em consideração, além de ensinarmos coisas erradas, perdemos a possibilidade de ouvir a voz de Deus a respeito do problema aqui abordado.

Por esses e outros exemplos, que poderiam ter sido citados, nota-se a necessidade de abordar toda e qualquer passagem bíblica com humildade, querendo aprender, ciente que ainda pode haver algo desconhecido, para então se chegar à mensagem de Deus dirigida a nós.

26 Como Entender a Bíblia

4. OBSERVAR O TEXTO COM MUITA ATENÇÃO

A falta de atenção é um dos principais fatores que levam à má interpretação bíblica no meio do povo de Deus. Os membros das igrejas, em muitos casos, fazem uma leitura rápida do texto e tiram conclusões mais apressadas ainda, baseados não naquilo que está escrito, mas sim naquilo que eles acham estar escrito. O resultado só pode ser altamente negativo, para o próprio intérprete e para aqueles que por ventura venham a ouvi-lo sem a devida crítica, tão necessária para se evitarem erros.

Se cremos, como professamos, ser a Bíblia a Palavra de Deus, nossa única norma de fé e conduta, temos que dar a ela toda a nossa atenção. Temos que procurar ouvir cada pormenor da forma mais clara possível, buscando sempre o significado exato para a época em que foi escrita e, ainda, para os nossos dias.

Esta observação atenciosa envolve muito mais do que alguém sentar-se em frente ao texto e passar horas estático a contemplá-lo. Além de exigir a leitura correta do texto que está sendo analisado, e isto várias vezes e em várias versões, se possível também na língua original do escrito, é preciso esclarecer cada uma das palavras e termos difíceis ou desconhecidos que possam surgir.

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Quem quer saber exatamente o que a Bíblia está dizendo, não pode contentar-se com apenas uma versão da mesma, e em hipótese alguma pode deixar de consultar um bom dicionário ao encontrar alguma palavra difícil ou desconhecida, além de mapas e outros auxílios, para a boa compreensão.

O texto deve ser observado de todos os ângulos, buscando-se as palavras-chave, aquelas que mostram a base central do assunto, e o significado da passagem como um todo.

Para que se perceba a importância de uma observação atenta, detalhada e de vários ângulos, de alguma coisa, aqui é proposto um pequeno exercício, o qual foi inspirado no filme Sociedade dos Poetas Mortos. O leitor deve escolher um dos ambientes da sua própria casa. Quem sabe o tão conhecido quarto de dormir, ou a sala, ou a cozinha, um dos lugares mais conhecidos. Depois de escolhido, deve relembrar tudo aquilo que normalmente tem observado nesse lugar tão familiar e passar, por escrito em uma folha de papel o resultado da observação normal do dia a dia. Em seguida deve observar de outros ângulos, diferentes dos quais geralmente tem observado. Por exemplo: se o ambiente tem sido observado, geralmente, estando o observador em pé, agora deve ser observado de outra posição, como deitado, sentado, ou, ainda, do alto de uma mesa, escada ou cadeira. Feito isso, o observador ficará impressionado com a nova visão que terá do seu “tão conhecido” ambiente. Certamente, muitas coisas novas, então desapercebidas, se mostrarão de forma surpreendente. Tudo já estava lá, quem sabe há anos, mas estavam fora do seu ângulo normal de observação.

28 Como Entender a Bíblia

É claro que aqui não está sendo sugerida a mudança de uma posição física durante a leitura da Bíblia (pensar assim seria interpretar mal o que foi escrito acima), está sendo demonstrada a necessidade de se abordar o texto de todas as formas possíveis e imagináveis, com toda a atenção. Isto fará com que realidades ocultas, do ponto de vista costumeiro de observação, passem a revelar-se naturalmente. Cada intérprete deve ter a liberdade para buscar e encontrar os ângulos de observação ideais, pois eles não são fixos e podem variar de texto para texto. Contudo, aqui será apresentado um possível exemplo, utilizado pelo autor desta obra, baseado na própria Bíblia.

Sugerimos, inicialmente, que o leitor faça uma leitura corrida dos três últimos capítulos do livro de Zacarias e procure descrever em uma frase curta o seu conteúdo, a interpretação do texto, do ponto de vista do ângulo observado. Não se preocupe com a dificuldade. Esse texto tem dado muita dor de cabeça a grandes estudiosos do assunto. Só estamos fazendo um exercício.

Em seguida, depois da observação feita a partir do ângulo sugerido, faça outra leitura mais cuidadosa. Mas, agora, com lápis cera ou canetas coloridas, vá marcando, com as mesmas cores, as expressões que se repetem no texto. Esta é uma leitura feita de outro ângulo.

Ao término dessa leitura poderá ser observado que a expressão “naquele dia” foi escrita 17 vezes pelo autor, de acordo com a versão que estamos utilizando, além de uma vez aparecer a expressão “dia do Senhor” (14.1). Isto pode

29
4. Observar o texto com muita atenção

estar mostrando que o assunto básico desses três capítulos, tão difíceis, não é outro senão os acontecimentos daquele dia. O que vem a ser isso já é outro assunto e dificuldade, mas, chegando-se a essa conclusão, ainda que parcial, estamos no caminho certo para a interpretação correta e final.

Como não é possível ter certeza de que o leitor foi até o texto de Zacarias como pedido para este exercício, será apresentado a seguir, como exemplo, ao menos os nove primeiros versículos do capítulo 12.

O texto é o seguinte:

1 Sentença pronunciada pelo Senhor a respeito de Israel. O Senhor , que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do ser humano dentro dele, diz:

2 — Eis que eu farei de Jerusalém um cálice de atordoamento para todos os povos vizinhos e também para Judá, durante o sítio contra Jerusalém.

3 NAQUELE DIA, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos. Todos os que tentarem erguê-la ficarão gravemente feridos. E todas as nações da terra se ajuntarão contra ela.

4 NAQUELE DIA, diz o Senhor , farei com que todos os cavalos fiquem espantados e os seus cavaleiros fiquem loucos. Manterei os meus olhos abertos sobre a casa de Judá e farei com que todos os cavalos dos povos fiquem cegos.

30 Como Entender
a Bíblia

5 Então os chefes de Judá pensarão assim: “Os moradores de Jerusalém têm a força do Senhor dos Exércitos, seu Deus.”

6 NAQUELE DIA, porei os chefes de Judá como um braseiro aceso debaixo da lenha e como uma tocha acesa entre os feixes de trigo. Eles destruirão à direita e à esquerda todos os povos ao redor, e Jerusalém será habitada outra vez no seu lugar, na própria Jerusalém.

7 O Senhor salvará primeiramente as tendas de Judá, para que a glória da casa de Davi e a glória dos moradores de Jerusalém não sejam exaltadas acima de Judá.

8 NAQUELE DIA, o Senhor protegerá os moradores de Jerusalém. O mais fraco dentre eles, NAQUELE DIA, será como Davi, e a casa de Davi será como Deus, como o Anjo do Senhor diante deles.

9 NAQUELE DIA, procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém.

Terminando esse ponto, nunca é demais alertar para o fato de que não basta ler o texto. Isto tem que ser feito com muita atenção e de todos os ângulos possíveis, na esperança de não deixar que se perca nem um dos preciosos ensinos e, menos ainda, que venham a ser deturpados pela má interpretação, o que pode ser considerado ainda pior, pois com ela se acaba dizendo que Deus disse aquilo que Ele jamais disse.

31
4. Observar o texto com muita atenção
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