Adventist World Portuguese - April 2019

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T E M P L O S F U N C I O N A I S /// G E N T E Q U E F A Z A D I F E R E N Ç A /// O C U S T O D A M I S S Ã O /// P Á S C O A I N C L U S I V A

Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50

ABRIL 2019

SINTONIA COM DEUS NO CORAÇÃO DO EVANGELHO EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA

A VISÃO ADVENTISTA SOBRE JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ


O ABC DA JUSTIFICAÇÃO CONHEÇA O REAL SIGNIFICADO DA MORTE DE CRISTO E DA JUSTIÇA QUE VEM PELA FÉ MARCOS DE BENEDICTO

A sociedade quer cada vez mais justiça. Porém, paradoxalmente, o mundo se torna cada vez mais injusto. O pior é que, no sentido mais profundo, não há nenhum justo (Rm 3:10). Todos foram pegos na “lava-jato” de Deus, inclusive você. Como resolver a questão? Antes de as sociedades pensarem em códigos de justiça, o Senhor já Se preocupava com o assunto. Neste mês em que a morte de Cristo é celebrada, pautamos o tema da justificação pela fé para que você conheça as nuances desse conceito tão fundamental e que tem sido objeto de tanto debate. Vou destacar três aspectos que o ajudarão a entender melhor o ABC da justificação: 1. Do começo ao fim, justificação é 100% obra de Deus. Qualquer tentativa humana de autojustificação é uma fraude, ou, mais que isso, a usurpação do papel de Deus. Nenhum símbolo revela tão claramente a origem divina da justificação quanto a morte do cordeiro. Desde o primeiro ser humano, passando pela primeira Páscoa, até a cruz, o cordeiro sempre morreu para que as pessoas vivessem. Na cruz, o processo se “inverteu”, porque o ­símbolo encontrou a realidade: no exato momento em que Jesus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1:29), bradou “Está consumado!” (19:30), a terra tremeu, o cutelo caiu da mão trêmula do sacerdote e o cordeiro do sacrifício no templo escapou (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 757). Portanto, justificação pela fé é o gracioso

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ É A AÇÃO DE DEUS PARA DECLARAR SANTO O PECADOR, INOCENTE O CULPADO E JUSTO O INJUSTO QUE CRÊ

ato judicial pelo qual Deus, com base na morte substitutiva de Cristo, declara santo o pecador, inocente o culpado e justo o injusto que crê (Rm 4:5-6). Se o pecador morre pela falta de fé, o justo vive pela fé. Simples assim! 2. Justificação é um ato exterior que transforma o interior. Conceito forense, a justificação vem de fora, mas fornece a base legal para que Deus atue dentro de nós. O termo justificação não é sinônimo de santificação, mas também não é antônimo. As duas coisas estão interligadas. Justificação se refere a status; santificação, ao estado. Ambas vêm de Cristo, assim como a luz e o calor vêm do sol. Na perspectiva bíblica, você é justificado e vive pela fé que age por amor, já que o amor que age pela fé (fidelidade) levou o Filho de Deus a ser condenado e morrer por você. A justificação é o evangelho personificado por Jesus, apropriado pela fé e dinamizado pelo Espírito Santo. Você não é justo porque faz coisas boas, mas faz coisas boas porque foi justificado. 3. A justificação nasce de um gesto da graça, mas não é menos do que um ato cósmico de julgamento. No grande litígio (rib em hebraico; ver Sl 82; Is 3:13-17; Mq 6:1-8) do Universo, Deus é julgado pela Sua forma de julgar e justificado pela Sua maneira de justificar (Rm 3:26). O grande conflito é também um conflito jurídico. Isso equivale a dizer que a justificação é uma teodiceia. Deus julga para restaurar a ordem cósmica. A justificação é uma espécie de veredito escatológico antecipado. Embora Paulo tenha usado várias metáforas para explicar como Deus nos salva, o evangelho é o poder (dynamis) divino para a salvação da humanidade (Rm 1:16-17) porque, pela morte de Cristo, Deus adquiriu o direito de declarar justo o pecador e definir o que permanece e o que desaparece pela eternidade afora. E isso não é uma ficção jurídica. Enfim, justificação é a alteração legal no arquivo que registra o passado, o presente e o futuro da sua vida. Por isso, aceite esse dom imerecido e louve o Justificador. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Foto: Adobe Stock

EDITORIAL


Abr. 2019

No 1344

Abril 2019

Ano 114

www.revistaadventista.com.br

Pu­bli­ca­ção Men­sal – ISSN 1981-1462 Órgão Ge­ral da Igre­ja Ad­ven­tis­ta do Sé­ti­mo Dia no Bra­sil “Aqui está a pa­ciên­cia dos san­tos: Aqui es­tão os que guar­dam os man­da­men­tos de Deus e a fé de Je­sus.” Apocalipse 14:12

SUMÁRIO

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Do calvário ao santuário

Influência positiva

Não importa o custo

Entenda o alcance da morte de Cristo na cruz

Histórias de adventistas que fazem a diferença ao redor do mundo

Eles deixaram tudo para servir no Irã

Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott

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Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul)

Os vulneráveis

Oração em espanhol

Uma bênção para o faraó

A experiência marcante de um estudante missionário em Porto Rico

A intenção de Deus era incluir o estrangeiro na celebração da Páscoa judaica

E­di­tor: Marcos De Benedicto E­di­to­res As­so­cia­dos: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva e Stanley Arco Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Ilustração da Capa: Adobe Stock

Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 4

Tradutora: Sonete Costa

Nossa responsabilidade em relação aos mais frágeis

Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson

CA­SA PU­BLI­C A­DO­R A BRA­SI­LEI­R A Edi­to­ra da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ro­do­via Es­ta­dual SP 127 – km 106 Cai­xa Pos­tal 34; CEP 18270-970 – Ta­tuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900

35 BEM-ESTAR

42 EVANGELISMO

4 CANAL ABERTO

36 BOA PERGUNTA

5 BÚSSOLA

43 LITERATURA Os meios mudam,

37 NOVA GERAÇÃO

O ABC da justificação

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

A opinião de quem lê Crises são oportunidades

Diretor-Ge­ral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia

6 ENTREVISTA

Re­da­tor-Che­fe: Marcos De Benedicto

A arquitetura também prega

Ge­ren­te de Produção: Reisner Martins

8 PAINEL

Ge­ren­te de Ven­das: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza

Datas, números, fatos, gente, internacional

Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. E­xem­plar avul­so: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50 Nú­me­ros atra­sa­dos: Pre­ço da úl­ti­ma edi­ção.

5840/39726

Testemunho público Morte na fogueira Mel e sandálias

38 PRIMEIROS PASSOS O bilhete da floricultura

39 PERSPECTIVA

Ecologicamente correto

26 DEVOCIONAL

40 IGREJA

28 VISÃO GLOBAL

41 COMUNICAÇÃO

Dívida impagável Poder absoluto

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 147.500

2 EDITORIAL

34 DOM PROFÉTICO O Senhor ressurgiu

Explosão numérica Integrar para servir

Conhecer de perto

mas a mensagem não

46 INSTITUCIONAL Adoração é missão 47 MEMÓRIA

Dormiram no Senhor

48 EM FAMÍLIA

O valor da amizade

49 ESTANTE

Medicina dourada

50 ENFIM

Casamento tradicional

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CANAL ABERTO OS NOVOS CRÍTICOS

A matéria de capa de março é de extrema relevância para nosso tempo, porque nos apresenta os atuais desafios internos da igreja. Isso nos faz refletir a respeito da condição doutrinária e espiritual dos membros. Precisamos voltar a ser conhecidos como "o povo da Bíblia".

SUGESTÃO DE PAUTAS

Fiquei curiosa para saber mais detalhes sobre a pesquisa do Instituto Barna a respeito dos jovens cristãos norte-americanos que acham errado testemunhar sobre sua fé. Creio que a edição trouxe excelentes matérias. Ficam aqui duas sugestões de pauta: (1) O hábito de assistir séries. Seria isso saudável para os cristãos? Qual é o papel dos pais nisso? (2) As implicações de se fazer tatuagem, um comportamento que tem se tornado mais comum no meio cristão.

Kevin Vinicius Felix Oliveira / Benevides (PA)

A NOVA DISSIDÊNCIA

Oportuno e corajoso o artigo de capa de março. Nessa matéria bem fundamentada, nosso querido periódico cumpre o papel de porta-voz e defensor do adventismo. É impossível permanecer passivo diante dos ataques de mentira e criticismo dos dissidentes de hoje. Atualmente, as mídias sociais, que podem ser usadas como uma bênção para a edificação espiritual e proclamação evangelística, têm sido utilizadas também por gente que se alinha com o espírito crítico e dissidente de Satanás. Aprecio muito esta declaração de Ellen G. White: “Acusar e criticar aqueles que Deus está usando é ­acusar e criticar o Senhor que os enviou” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 466). Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)

PASTOR CAMPOLONGO

Tive contato com o pastor Alcides Campolongo em dois grandes momentos de minha vida ministerial. Um deles foi no IPAE, em Petrópolis (RJ), por ocasião de um encontro nacional de pastores, na década de 1970. Ali, ele marcou presença como eficientíssimo líder dos pastores da então União SulBrasileira, com sede em São Paulo (SP). Outro momento importante foi numa série de evangelismo na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), em meados dos anos 1970. O pastor Campolongo teve parte no resultado final de 80 pessoas batizadas. Fica para mim 4

a imagem do homem simpático e consagrado a Deus, apresentador do programa de TV Fé para Hoje e que tinha o coração no evangelismo público. Samuel Kettle / Sumaré (SP)

GRAÇA E VERDADE

O artigo do pastor Erton Köhler na edição de março foi sensacional. Pecisamos ser cristãos bíblicos. O verdadeiro equilíbrio é encontrado em Cristo, que nunca omitiu um til da verdade, sendo Ele mesmo a expressão máxima da graça. Deus abençoe esta maravilhosa revista! Gérson Viny / Teresópolis (RJ)

LIBRAS

A revista errou na página 9 da edição de março ao informar que Libras é uma “linguagem” em vez de “língua”. Esse mesmo equívoco ocorreu em matérias anteriores. A Igreja Adventista tem um ministério oficial dos surdos que poderia ser consultado nesses e em outros casos. Aproveito para sugerir que o periódico paute algo sobre o atendimento aos membros com necessidades específicas. Esse é um tema que está em alta no país e sobre o qual precisamos lançar um novo olhar. É necessário lidar com as barreiras arquitetônicas e atitudinais que ainda temos em nossos espaços institucionais. Dessa maneira, seremos uma igreja mais inclusiva. Eliana Burgarelli / Via e-mail

Flaviane Miranda Monteiro Queiroz / Pato Branco (PR)

ÍCONE EDITORIAL

Fiquei sabendo por meio da Revista Adventista de fevereiro sobre a morte do maior arauto da verdade que conheci. Os textos do pastor Rubens Lessa influenciaram meus sermões, orações e até minha maneira de pensar. Tenho em casa um grande arquivo com suas matérias. Os escritos dele ainda continuarão a falar por muito tempo. Se seremos colunas no santuário do Senhor, gostaria de ser uma ao lado do pastor Lessa. Maicon Nunes / Rio de Janeiro (RJ)

O WHATSAPP E A MISSÃO

Parabenizo o pastor Rafael Rossi pelo texto na revista de fevereiro. Sou leitor assíduo do periódico e gosto da sua variedade de temas. Já ministrei vários estudos bíblicos pelo WhatsApp e os resultados foram vidas transformadas. Usemos essa ferramenta em favor da pregação do evangelho! Vainer de Wernek / Paulínia (SP)

Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.

Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.

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BÚSSOLA

CRISES SÃO OPORTUNIDADES QUANDO DEUS TRANSFORMA PROBLEMAS EM SOLUÇÕES ERTON KÖHLER

enho o hábito de colecionar frases especiais, que usam poucas palavras para apresentar grandes verdades. Algumas das mais marcantes falam da nossa maneira de lidar com as crises. Gosto daquelas que têm uma visão positiva, como uma afirmação de Ellen G. White de que “as mais difíceis experiências na vida do cristão talvez sejam as mais abençoadas” (Nossa Alta Vocação, p. 322). O poeta romano Horácio observou que “a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”. O historiador Eugen Weber também lembra que “tempos ruins para se viver são bons para se aprender”. Charles Colson, peça importante no caso Watergate, que acabou preso e, então, converteu-se ao cristianismo, concluiu: “Aquilo que o mundo vê como adversidade, Deus vê como oportunidade para abençoar”. Já A. W. Tozer, autor cristão, ressaltou que “Deus nunca usa alguém grandemente até que Ele o teste profundamente”. Para o pastor e evangelista Mark Finley, “nossos grandes desafios precedem nossos maiores milagres”.

Foto: Adobe Stock

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MUITAS VEZES, O QUE PARECE DERROTA PODE RESULTAR NA MAIOR VITÓRIA A vida de Daniel e seus amigos é uma grande confirmação de todos esses conceitos. Para eles, cada crise foi uma oportunidade de vitórias maiores. Quando foram levados ao exílio, eram apenas um grupo de condenados à escravidão. Acabaram no palácio real, assumiram sua fidelidade e decidiram firmemente não se tornar impuros com as comidas do palácio real (Dn 1:8, NVI). Foi uma decisão arriscada e com alto potencial de crise. Mas Deus aproveitou a oportunidade para colocá-los em altas posições “para que em meio de uma nação de idólatras pudessem

representar o Seu caráter” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 487). Na planície de Dura, quando obrigados a adorar a estátua de Nabucodonosor, decidiram novamente permanecer fiéis. Foram ameaçados, ridicularizados, e terminaram dentro de uma fornalha superaquecida. Foi uma crise sem precedentes, mas o que parecia derrota terminou em vitória (Dn 3:30). Mais tarde, Belsazar ocupou o trono de seu avô. Certo dia, realizou o famoso banquete que celebrava a orgia e a idolatria. Naquele momento, “o Hóspede não convidado fez sentir Sua presença” (Profetas e Reis, p. 524) e escreveu na parede o decreto de condenação do rei e seu reino. No meio da situação desesperadora, a rainha-mãe se lembrou de Daniel. Novamente, a crise se transformou em oportunidade. Daniel deu a explicação correta, foi exaltado pelo rei e passou “a ser o terceiro no governo” (Dn 5:29). Instantes depois, o reino e o rei caíram, mas Daniel permaneceu em pé. A última e mais marcante das histórias aconteceu nos dias de Dario, dentro da cova dos leões. A inveja dos colegas, o engano do rei e uma vida de oração levaram Daniel à condenação. Então, sim, o idoso profeta parecia envolvido numa crise que o levaria à destruição. Deus “permitiu que anjos maus e homens ímpios chegassem a realizar seu propósito; mas isso foi para que pudesse tornar o livramento do Seu servo mais marcante e mais completa a derrota dos inimigos da verdade e da justiça” (Profetas e Reis, p. 543-544). Mais uma vez, Deus transformou a crise em oportunidade (Dn 6:28). Deus continua transformando crises em oportunidades. Para isso, precisamos aprender a fugir da lamentação e a ver “em cada dificuldade” “um chamado à oração” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 667). ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

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ENTREVISTA

MÁRCIO TONETTI

Ricardo Rossi

Uma das atividades preferidas de Ricardo Rossi na infância era montar os bloquinhos de lego que ganhava dos pais. Por isso, desde os 11 anos ele já dizia que queria ser arquiteto. Hoje, com mais de 25 de profissão, o paulistano que nasceu e cresceu a poucos metros da Avenida Paulista é considerado uma referência no mundo da arquitetura, assinando projetos bastante conceituados no Brasil e no exterior. Em janeiro, por exemplo, a revista Casa Vogue deu destaque ao projeto arquitetônico que ele desenvolveu para uma escola adventista em Ulan Bator, capital da Mongólia. Nesta entrevista, o arquiteto e urbanista, que é membro da Igreja do Unasp, campus São Paulo, e se dedica a compartilhar a fé especialmente através da distribuição de literatura para clientes e outras pessoas com quem tem contato em grandes eventos de MAIS DO QUE UMA QUESTÃO ESTÉTICA, UM BOM PROJETO arquitetura e decoração, fala sobre as tendênARQUITETÔNICO PODE CONTRIBUIR PARA TORNAR NOSSAS IGREJAS cias desse universo e dá dicas de como tornar MAIS ATRATIVAS E EFICAZES NA TRANSMISSÃO DA MENSAGEM nossos templos mais relevantes.

A ARQUITETURA TAMBÉM PREGA

Como as mudanças sociais e os desafios urbanos se refletiram nas tendências da arquitetura? Com a revolução tecnológica, os projetos arquitetônicos passaram a valorizar a automação. A nova forma de as pessoas consumirem conteúdo também causou impacto. A preferência pelo digital fez com que as bibliotecas fossem, aos poucos, se tornando elementos meramente decorativos nas casas modernas. Por sua vez, a necessidade de um mundo mais sustentável tem demandado projetos que causem menor impacto ao planeta. Assim, a escolha dos materiais, o uso de energias limpas e a reutilização da água, só para citar alguns aspectos, ganharam importância na construção civil. 6

Era isso que você tinha em mente quando projetou a sede do Espaço Alpha, comunidade adventista de um bairro nobre de Manaus? A preocupação nesse caso foi criar uma estrutura que mostrasse que a Igreja Adventista é diferente. Ao chegar no templo, a pessoa vai se deparar primeiramente com uma série de serviços: livraria, restaurante, day spa, escola de artes, espaço para a prática de exercícios e circuito que possibilita ter uma experiência sensorial com os oito remédios naturais. Esses pontos de contato têm uma finalidade evangelística, buscando criar afinidade e levar a pessoa a querer conhecer mais sobre os adventistas. As igrejas menores oferecem espaço limitado para um projeto ousado assim, mas podem pensar no que está ao seu alcance.

De que maneiras o design de uma igreja pode “pregar”? Um projeto arquitetônico bem pensado ajuda a preparar as pessoas para receber a mensagem. Um ambiente organizado, belo e funcional proporciona conforto visual, físico, emocional e espiritual. Além disso, creio que o design moderno de um templo diz muito sobre a atualidade da nossa mensagem. Também existe relação entre arquitetura e adoração? O tipo de iluminação, a temperatura do ambiente, as cores, tudo isso pode influenciar positiva ou negativamente na adoração. Uma evidência de que uma coisa está ligada a outra é o fato de que o próprio Deus, o Arquiteto do Universo, “assinou” o projeto do templo israelita e Se preocupou com cada detalhe. O que é essencial no projeto arquitetônico de qualquer templo adventista? Os projetos arquitetônicos das nossas igrejas devem ter um padrão mínimo de acabamento e estética. Isso é fundamental para que, ao se depararem com qualquer templo adventista, as pessoas vejam organização e respeito a Deus. ] Para ver alguns de seus projetos, acesse: ricardorossiarquitetura

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Foto: Carlos Mancini

As transformações culturais e as mudanças na paisagem religiosa também parecem ter levado algumas igrejas a repensar o estilo dos templos. Sem dúvida. O mundo mudou bastante e as pessoas estão cada vez mais secularizadas e exigentes. Tem sido um desafio atraí-las para a igreja. Por isso, a arquitetura de um templo importa muito hoje em dia. Novas formas têm sido pensadas para minimizar as barreiras.


adventistas.org

adventistasbrasil

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PAINEL F AT O S

CARTA INÉDITA

Durante muitos anos, os arquivos do Pacific Union College, nos Estados Unidos, guardaram uma carta sem assinatura, datada de 9 de maio de 1882, sem saber ao certo quem era seu autor. No entanto, recentemente pesquisadores descobriram que o documento tem um valor histórico maior do que se pensava por ter sido escrito pela pioneira Ellen G. White. Na correspondência endereçada ao missionário adventista John Orr Corliss, ela fala sobre as críticas que estava recebendo numa época em que se discutia se seus “testemunhos” poderiam ser corrigidos e revisados.

TRANSPLANTES DE FÍGADO

O Hospital Adventista Silvestre (HAS) está entre os três hospitais que mais realizam transplantes de fígado no país. Em oito anos, a unidade realizou 600 procedimentos desse tipo, marca alcançada por poucas instituições de saúde no mundo.

SELOS ADVENTISTAS Em janeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou uma série de selos postais alusivos aos 60 anos do primeiro clube de desbravadores do Brasil e ao 5o Campori SulAmericano. Agora, eles farão parte do acervo do Museu dos Correios. A proposta é que, nos próximos anos, sejam lançados outros selos comemorativos relacionados a ministérios e projetos da igreja. 8

A situação dramática no país vizinho tem atingido a igreja especialmente na região da fronteira com o Brasil. No fim de fevereiro, Zoraida Rodríguez, membro de uma comunidade adventista na região de La Gran Sabana, foi morta durante um confronto entre militares e membros de uma comunidade próxima de onde ela morava. Esse talvez seja o período mais difícil enfrentado pela igreja ao longo de 109 anos de adventismo na Venezuela. Mas, felizmente, a crise tem tornado a igreja mais unida, fervorosa e benevolente, segundo o pastor Orlando Ramirez, secretário executivo de uma das sedes administrativas da denominação no país. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Fotos: Hospital Adventista Silvestre / Adobe Stock

CRISE NA VENEZUELA


D ATA

O L H A R D I G I TA L

30 E 31 DE MAIO E 1O E 2 DE JUNHO

Cerca de 800 pessoas são esperadas no 4o Compassion Brasil, evento da área de missão urbana promovido pela Associação Paulista Leste. A programação será realizada no Colégio Adventista de Vila Matilde em duas etapas: a primeira, nos dias 30 e 31 de maio, exclusiva para pastores, e a segunda, nos dias 1o e 2 de junho, aberta para o público em geral. Para se inscrever, acesse: adv7.in/TI.

DOCUMENTÁRIO SOBRE PATERNIDADE

Resultado de uma parceria entre vários centros de mídia adventistas, o média-metragem Fathers mostra a realidade da convivência de pais e filhos em diferentes países. Além do documentário de 45 minutos, o projeto inclui um livro com artigos sobre a perspectiva bíblica da paternidade, conselhos práticos sobre educação e experiências pessoais. Ambos foram lançados no encontro mundial de comunicação e tecnologia, realizado no fim de fevereiro na Jordânia, e em breve devem ganhar versões para o português.

Embora a internet tenha criado oportunidades, dado voz a grupos marginalizados e facilitado nossa vida diária, também engendrou oportunidades para fraudadores, deu voz aos que propagam o ódio e facilitou a prática de todos os tipos de crimes.

Tim Berners-Lee, o “pai” da web, ao refletir sobre o 30o aniversário da internet em artigo publicado no site do El País

TIRE SUAS DÚVIDAS Quem deseja saber mais a respeito da nova lei que garante o direito à prestação alternativa para estudantes de todos os níveis do ensino pode visitar a página da internet criada pela sede adventista sulamericana. Além de explicar em quais casos será aplicada a legislação, sancionada em janeiro, o endereço permite baixar declarações e requerimentos necessários para garantir a aplicação dos direitos previstos na Lei 13.796, que entrou em vigor no dia 5 de março. Acesse: adv.st/leisabado.

STREAMING DOS CULTOS Imagens: divulgação

52% dos internautas

brasileiros não conseguem ficar um dia sem o smartphone, de acordo com uma pesquisa realizada em junho de 2018 pelo Ibope Inteligência com 2 mil pessoas de todas as regiões do Brasil. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Se sua igreja deseja transmitir programações pelo Facebook e o YouTube, mas não sabe que tipos de equipamentos de captação de áudio e vídeo têm o melhor custo-benefício, uma opção é visitar o site Churchfront.com, mantido por Jake Gosselin, americano que se dedica a oferecer dicas de como a igreja pode usar as novas tecnologias. Em um de seus posts, ele mostra como grandes e pequenas congregações podem fazer transmissões ao vivo pela internet. Acesse: adv7.in/TN. 9


GENTE

VÍTIMA DO MASSACRE A matança em escolas deixou de ser uma realidade apenas de países como os Estados Unidos. No dia 13 de março, o Brasil presenciou mais uma tragédia (a sexta de grandes proporções registrada em menos de duas décadas), depois que dois ex-alunos entraram numa escola estadual em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, e tiraram a vida de dois funcionários e cinco estudantes, além de ferir outros 11. Uma das vítimas do massacre foi o adolescente Samuel Melquíades Silva de Oliveira, de 16 anos. Ele era membro da Igreja Adventista Central de Suzano e, juntamente com o pai, desenvolvia um ministério ilustrando semanalmente os temas da Lição da Escola Sabatina.

NOMEAÇÃO Joan Sabaté, professor da Universidade de Loma Linda, foi um dos 20 cientistas escolhidos pelo governo norteamericano para compor o comitê que irá definir diretrizes dietéticas para a população no período de 2020 a 2025. A lista foi divulgada pela Secretaria de Agricultura dos Estados Unidos em fevereiro.

BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)

BODAS DE OURO (50 ANOS)

De Arlindo Bruns e Ilda Peggau Bruns, comemorada em família. Membro da Igreja Central de Joinville (SC), o casal tem três filhas e dois netos. 10

De Olávio Dias e Gorintina G. Dias, em cerimônia realizada na cidade de Tubarão (SC). Eles têm um casal de filhos e três netos.

MORRE DESMOND FORD Poucos debates teológicos travados no meio adventista tiveram tanta repercussão quanto os que aconteceram em Glacer View, no Colorado (EUA), no fim da década de 1970 e início dos anos 1980. Foi ali que Desmond Ford sustentou publicamente sua tese contrária à visão tradicional adventista sobre a doutrina do santuário. Suas ideias exerceram grande impacto na igreja, levando muitos pastores a deixar o ministério. Apesar de nunca ter deixado oficialmente de ser membro da igreja, Ford foi irredutível em sua interpretação e dedicou o restante de sua vida a um ministério independente. A postura dele levou a igreja a um importante aprofundamento teológico que se ­reflete ainda em nossos dias. O influente ­teólogo australiano, que admitia não saber tudo, “exceto em questões de teologia”, morreu no dia 11 de março, aos 90 anos, em Queensland, na Austrália, onde viveu seus últimos anos. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Fotos: Lionel Celano / Adventist Review / Good News Unlimited

De Wilson Rossi e Clarisse Linhares Rossi, na Igreja Adventista do Unasp, campus São Paulo, em cerimônia realizada pelos pastores Neumoel Stina e Assad Bechara, além de Enio Borba, sobrinho do casal. De família tradicional adventista, o doutor Wilson sempre foi um grande defensor dos interesses da igreja. Por sua grande influência na esfera pública, teve a oportunidade de apresentar a mensagem adventista a diversas autoridades e personalidades. Wilson e Clarisse, filha do pioneiro pastor João Linhares, o sexto pastor ordenado no Brasil, sendo também um dos fundadores do programa A Voz da Profecia no Brasil, ­casaram-se em Washington D.C. em 31 de agosto de 1958. O casal tem três filhos (Elbert Wilson, Ricardo Augusto e Carlos Eduardo) e cinco netos.


INTERNACIONAL

1.603.952

membros tinha a Divisão Sul-Asiática em dezembro de 2017. Esse território administrativo abrange a Índia, Nepal, Butão e as ilhas Maldivas.

LEGADO PARA A MEDICINA Pioneiro no uso da protonterapia nos Estados Unidos, método que utiliza feixes de prótons para combater o câncer, o médico James M. Slater morreu no dia 28 de dezembro aos 89 anos. Ele foi o fundador do centro de tratamento com prótons da Universidade de Saúde de Loma Linda, o primeiro desse tipo implantado no país.

29%

NOVA IDENTIDADE VISUAL Depois de estudar a imagem que as pessoas têm da ADRA, a liderança da agência humanitária da igreja apresentou seu novo plano de comunicação durante um encontro de representantes de seus 131 escritórios no fim de fevereiro. Além de ressaltar o papel da entidade no desenvolvimento de projetos de longo prazo, na resposta a emergências e na promoção dos direitos humanos, o novo logo e slogan reforçarão sua natureza confessional.

As organizações religiosas são muito importantes para a sociedade, pois são uma das principais plataformas para a organização do

Foto: Loma Linda University

indivíduo e fornecem a bússola moral para nossas sociedades.

dos adventistas frequentam a igreja mais de uma vez na semana, segundo indicou uma pesquisa realizada pela denominação em nível global em 2017.

105 mil dólares

Esse foi o valor arrecadado pela Maranatha Volunteers International através de uma campanha on-line que buscou levantar recursos para a perfuração de poços em comunidades que sofrem com a falta de água potável no Quênia.

Lazarous Kapambwe, representante permanente da Zâmbia na ONU, durante o 5o Simpósio Anual sobre o Papel das Organizações Religiosas em Assuntos Internacionais, realizado no fim de janeiro na sede da ONU, em Nova York (EUA)

Colaboradores: Becky St. Clair, Carmen Moraga, Felipe Lemos, Frank Campbell, James Ponder, Kimi Roux-James, Márcio Tonetti, Mateus Teixeira, Vanessa Moraes e Wendel Lima

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

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CAPA

DO CALVÁRIO AO ENTENDA AS IMPLICAÇÕES DA OBRA EXPIATÓRIA DE CRISTO NO PASSADO, PRESENTE E FUTURO VINÍCIUS MENDES

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Ilustração: Adobe Stock

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e você entende o tema da justificação pela fé, faz parte do seleto grupo de menos de 1% que compreende “por si mesmo a verdade bíblica sobre este assunto, tão necessário ao nosso bemestar presente e eterno” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 360). Essa citação de Ellen G. White contém o elemento da hipérbole, mas é inegável que muita gente tem dificuldade de assimilar a profundidade e a simplicidade envolvidas na doutrina da justificação pela fé. A falta de compreensão desse tema entre nós reflete uma dificuldade histórica no cristianismo. Ao longo dos séculos, abordagens diversas e até opostas têm coexistido no universo cristão. O que dizer da forma como protestantes e católicos encaram o assunto? No próprio protestantismo, há diferentes entendimentos de como alguém pode ser justificado. O adventismo tem uma visão particular ou está alinhado à tradição protestante? Há na denominação mais de uma forma de enxergar essa doutrina? Diante de tanta diversidade, é fundamental entender o que a Bíblia tem a dizer e procurar estar sempre no centro do evangelho.


MOVIMENTO PENDULAR A história do cristianismo revela que o assunto da salvação tem sido abordado de modo pendular e dialético. Em alguns períodos, a ênfase recaiu sobre um suposto papel determinista de Deus. Em outros, o foco esteve na obediência humana meritória. Entre esses polos, houve também espaço para uma noção equilibrada sobre a justificação pela fé. No 1º século da era cristã, por exemplo, predominou a visão apostólica sobre a salvação (Rm 1–7; Gl 1–4; Ef 2; Tg 2:14-26). No Novo Testamento, a justificação e a santificação são apresentadas como faces da mesma moeda, resultantes da graça e experimentadas pela fé (Ef 2:8-10). Contudo, esse cenário ideal não durou muito. No 2º século, o pêndulo se movimentou para uma visão mais legalista. Preeminentes pais da igreja acabaram pesando a mão no papel da obediência e, em certo sentido, atribuíram mérito às boas obras (ver Tratado de Teologia, CPB, 2011, p. 338). A partir daí, o palco da história eclesiástica apresenta a intensificação da movimentação pendular sobre o tema da justificação. Se de um lado Agostinho (354-430), Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) defenderam o pecado original (herança da culpa de Adão), o antinomismo (rejeição à lei) e a predestinação, de outro expoentes como Pelágio (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274) e Jacó Armínio (1560-1609) puxaram o pêndulo para a ênfase nas boas obras, na resposta humana à graça divina e no livre-arbítrio. Esse embate encontrou seu ponto mais alto no contexto da Reforma Protestante. A partir da influência de Tomás de Aquino, prevaleceu no catolicismo medieval a ideia de que a salvação é monopólio da igreja, a justificação é um processo de ritos sacramentais e as obras humanas são meritórias. Em termos teológicos, foi contra isso que os reformadores se insurgiram. Eles moveram a autoridade que estava na igreja para as Escrituras e defenderam que a justificação é exclusivamente pela graça mediante a fé. O resgate dessa verdade bíblica foi uma grande bênção. Porém, na Reforma Protestante o papel divino acabou sendo hiper-enfatizado, e a santificação foi relegada ao segundo “SER JUSTO PELA plano. Herdeiros da teologia de Agostinho, Lutero e Calvino ensiFÉ SIGNIFICA, NO naram o determinismo divino na salvação, o que significa que o PLENO SENTIDO, ser humano não tem liberdade de escolher seu destino, muito QUE RECEBEMOS DE menos de operar sua salvação DEUS TANTO O NOSSO com temor e tremor (Fp 2:12). No livro Nascido Escravo, TÍTULO PARA O CÉU Lutero equiparou o livre-arbítrio à justificação pelas obras e ao (JUSTIFICAÇÃO) pecado, porque, segundo ele, a COMO NOSSA escolha humana “se opõe à fé e não redunda na glória de Deus” APTIDÃO PARA ELE (Fiel, 2007, p. 26, 27). Calvino foi na mesma direção. Porém, (SANTIFICAÇÃO)” sem liberdade de escolha, o ser IVAN BLAZEN, TEÓLOGO hu ma no não passa de u ma R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

espécie de marionete nas mãos de Deus, que faz tudo e não deixa o menor espaço para a manifestação da vontade de Suas criaturas. Na sequência histórica, o pêndulo não deixou de se movimentar e se aproximou do centro. Em reação às ideias calvinistas, Jacó Armínio enfatizou o livre-arbítrio e defendeu uma noção sinergista da salvação, em que Deus e o homem têm um papel a desempenhar. Nessa visão, Deus manifesta Sua graça em Cristo e a oferece a todos os que creem. Essa oferta, contudo, pode ser rejeitada e, uma vez aceita, pode ser negada. Em Armínio, a parte humana não é meritória, mas corresponde ao exercício da vontade e ao esforço em praticar o que Deus pede. Isso está em direta oposição ao calvinismo, que, em reação, convocou o Sínodo de Dort (1618 e 1619) e estabeleceu seus conhecidos cinco pontos. Na esteira do pensamento arminiano, surgiu o ministério de John Wesley (1703-1791) e a denominação fundada por ele, o metodismo. Wesley ensinava que a morte de Cristo foi um sacrifício penal e substitutivo e que o novo nascimento, que ocorre na justificação, é a base da santificação. Em grande medida, o pensamento de Ellen White sobre salvação está alinhado com o de ­Wesley. A pioneira adventista foi membro da Igreja Metodista até 1843. Sob a influência de White, e a partir de uma acurada pesquisa bíblica feita pelos pioneiros, o adventismo se estabeleceu como denominação situando-se no debate sobre a justificação pela fé com uma visão próxima à desenvolvida por Armínio. A denominação ensina que a salvação ocorre como fruto da graça de Deus e é recebida livremente mediante a fé, que é a parte humana no processo. Proveniente de Deus, a fé operante é uma demonstração viva da aceitação do sacrifício expiatório de Jesus. Além disso, os adventistas entendem que, por ocasião do juízo investigativo, Deus aplica os méritos de Cristo em favor de Seu povo, examina e evidencia a permanência de Seus filhos na fé que abraçaram. VISÃO ADVENTISTA Essa compreensão adventista está fundamentada na Bíblia e é compatível com o integrado sistema doutrinário da denominação. O santuário e o juízo investigativo atuam como eixo central de nossa teologia. Segundo Ellen White, o “santuário [...] revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si” (O Grande Conflito, p. 423). Em Sua obra sumo-sacerdotal, Jesus aplica os méritos de Seu sacrifício expiatório na vida dos crentes com o objetivo de prepará-los para Seu segundo advento (ver Questões Sobre Doutrina, 13


CPB, 2008, p. 260). Esse entendimento permite a compreensão de que, no santuário, Deus continua ativo em Sua obra expiatória. A cruz não é o ponto final dos esforços salvíficos de Deus. O Calvário legitimou o ministério sumo-sacerdotal de Jesus em favor dos que creem em Sua morte substitutiva (Ap 5). A doutrina do santuário aponta para o futuro. Ao concluir Seu trabalho no lugar santíssimo do Céu, Cristo voltará para buscar Seus filhos. Isso significa que o entendimento adventista sobre o tema da salvação está diretamente associado à esperança da breve volta de Jesus. O sacrifício expiatório de Cristo é o fundamento de nossa salvação, e o santuário é o lugar em que ela é aplicada a nós. Por causa da cruz, somos absolvidos; no santuário, somos santificados, perdoados e preparados para a volta de Jesus. Cristo nos salva e transforma. Nele, e em Seu santuário, salvação e senhorio convivem harmonicamente, o sangue expiatório aplaca os reclamos da eterna lei de Deus, a graça e a verdade se encontram, a justiça e a paz se beijam (Sl 85:10). Na compreensão adventista, perdão e transformação de vida fazem parte da justificação pela fé. Nessa linha, Ivan Blazen afirma: “Como Salvador, Cristo oferece à humanidade o dom da salvação; e, como Senhor, pede que andemos em novidade de vida (Rm 6:4) [...]. Os adventistas incluíram ambos os elementos sob a ‘justificação pela fé’. [...] Ser justo pela fé significa, no pleno sentido que recebemos de Deus, tanto o nosso título para o Céu (justificação) como nossa aptidão para ele (santificação)” (Tratado de Teologia, CPB, 2011, p. 345). Isso está em harmonia com o ensino de Ellen White. Ela via a justiça de Deus sendo manifestada na vida do crente com duas faces: “É imputada a justiça pela qual somos justificados; aquela pela qual somos santificados é comunicada. A primeira é nosso título para o Céu; a segunda, nossa adaptação para ele” (Mensagens aos Jovens, 1996, p. 35). Diferentemente do entendimento protestante, os adventistas não enxergam a justificação como um evento isolado, mas integrado ao processo amplo da salvação. De modo geral, os evangélicos creem que a justificação seja algo externo ao ser humano e representa somente uma mudança de status, em que o indivíduo apenas passa de perdido para salvo sem que se inicie, ao mesmo tempo, a transformação do caráter. 14

FOSSILIZAÇÃO E PROTESTANTIZAÇÃO O ensino adventista sobre a justificação pela fé é bíblico e, por isso, localiza o debate no equilíbrio, no coração do evangelho. Contudo, não estamos imunes às oscilações do pêndulo sobre esse tema. Defensores de um adventismo fossilizado restringem o pecado somente aos atos e minimizam ou mesmo negam a influência de nossa natureza pecaminosa. Assim, ligam-se ao extremismo de Pelágio. Ideias como póslapsarianismo, teoria da última geração e perfeccionismo rebaixam o valor da graça de Deus e concentram toda a atenção no ser humano e nas obras, que se tornam meritórias. Nesse contexto, a religião se limita apenas a comportamento: comida, vestuário e coisas do tipo. O outro extremo é igualmente perigoso. Embora o adventismo emoldure a doutrina da justificação pela fé no contexto do santuário e do juízo investigativo, muitos têm aderido à compreensão protestante. Nos termos de Fernando Canale: “Um progressivo esquecimento da teologia adventista tem motivado algumas mentes inquiridoras a encontrar sua autocompreensão no mundo da teologia protestante” (Journal of the Adventist Theological Society, v. 15, 2004, p. 6). Canale cunhou a expressão “protestantização da mente adventista”. Segundo o autor, ela traduz o processo de assimilação da doutrina da justificação pela fé, assim como é entendida pelos protestantes, a elevação desse ensino ao papel de eixo central do sistema teológico e o enfraquecimento do viés escatológico da denominação (ver Ciência, Evolução e Teologia, Unaspress, 2014, p. 89). Em busca de relevância e de uma visão mais adocicada sobre salvação, muitos têm enfatizado os pressupostos protestantes da doutrina da justificação pela fé e colocado de lado nossos ensinos específicos, como a doutrina do santuário, o juízo investigativo e as três mensagens angélicas. Setores emergentes do adventismo de viés liberal e progressista têm alargado as fronteiras de sua influência, ajudando a produzir R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Ilustração: Thiago Lobo

Os adventistas, por sua vez, compreendem que o ato da justificação dá início ao novo nascimento, que é o ponto de partida da santificação. Por isso, Mario Veloso escreveu que a justificação pela fé “não é um simples ato forense”, até porque “a reconciliação implica necessariamente uma transformação das relações existentes entre o homem inimigo e Deus”, e isso começa no ato da justificação (O Homem, Pessoa Vivente, IAE, 1984, p. 188).


gerações cada vez mais desconectadas com a identidade do movimento, desconhecedoras de nossos pressupostos teológicos e descomprometidas com o estilo de vida denominacional. Infelizmente, a igreja não ficou imune às influências negativas da pós-modernidade e é possível que o processo de “protestantização da mente adventista”, identificado por Canale, seja sinônimo ou irmão gêmeo da “pós-modernização da mente adventista”. Nesse fenômeno, a Bíblia passa a ser interpretada majoritariamente pela cultura, predomina a religião existencialista do aqui e agora, a missão se resume à assistência social, o pentecostalismo rapta o louvor e a adoração, os métodos são mais importantes que o conteúdo, santidade se torna legalismo e fé é confundida com sentimentalismo. RELAÇÃO ENTRE FÉ E OBRAS Em grande medida, a dificuldade de muitos em entender o tema da justificação nos moldes bíblico-adventistas está associada à falta de entendimento do conceito de fé. Na mentalidade popular, essa palavra expressa um sentimento religioso e/ou uma crença doutrinária. Porém, não é assim que as Escrituras a apresentam. No Antigo Testamento, o termo fé é a tradução do hebraico ’emunah, presente na emblemática passagem “o justo viverá pela fé” (Hc 2:4). Na maior parte das ocorrências dessa expressão, encontramos o sentido de fidelidade, firmeza, confiança e responsabilidade. Em outras palavras, no Antigo Testamento, fé não é um conceito abstrato, mas relaciona-se com uma decisão e com atitudes que a expressem. O verbo crer é a tradução do hebraico ’aman, que compartilha a mesma raiz de ’emunah. De modo semelhante, esse verbo expressa a atitude concreta de se firmar em algo e de agir com base em uma convicção profunda. Na Bíblia Hebraica, crer nunca é apenas uma ideia ou um sentimento. É mais do que isso; é ação fundamentada em razão e emoção. Logo, fé é algo integral e envolve a mente, o coração e o corpo. Por isso, a única reação aceitável à graça de Deus é: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6:5). Crer em Deus é amá-Lo, confiar Nele e agir com base em Suas promessas. No Novo Testamento, o termo fé é a tradução da palavra grega pistis, que ocorre também no texto bíblico com o sentido de fidelidade e compromisso (Rm 3:3; Gl 5:22; 1Tm 5:12). Em toda a Bíblia, os conceitos de fé e fidelidade andam de mãos dadas, sendo faces da mesma moeda. O apóstolo Paulo reforça essa ideia ao usar de modo intercambiável fé e obediência: “Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm efeito algum, mas sim a fé que atua pelo amor” (Gl 5:6, NVI, itálico acrescentado); “A circuncisão não significa nada, e a incircuncisão também nada é; o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus” (1Co 7:19, NVI, itálico acrescentado). Nessas duas passagens semelhantes, o apóstolo faz equivaler o sentido de fé ao O CRISTO QUE FOI da obediência à lei de Deus. Além CRAVADO NA CRUZ disso, na primeira passagem o autor bíblico ensina que a fé que NOS DÁ PODER PARA salva “atua pelo amor”, ou seja, a fé não é uma ideia nem um senCRUCIFICAR O PECADO timento apenas, mas uma ação pautada em forte convicção. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Em Hebreus 11, o capítulo áureo da fé, encontramos sua definição mais conhecida. O conceito é expresso no verso 1 e demonstrado a partir do verso 4. O que significa algo que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”? O apóstolo exemplifica essa ideia com uma lista de atitudes de célebres personagens bíblicos. Abel ofereceu um sacrifício superior a Caim; Abraão obedeceu à voz Deus, saindo de sua terra, e ofertou seu filho no altar; Moisés recusou ser chamado filho da filha de faraó e abandonou o Egito; os israelitas atravessaram o Mar Vermelho, etc. Em Hebreus 11, fica claro que fé e obras sempre andam de mãos dadas. Esse ensino está em harmonia com o do apóstolo Tiago (2:18). Ellen White vai na mesma direção: “A fé que é para salvação não é uma fé casual, não é o mero assentimento do intelecto, é a crença arraigada no coração”; “não é uma fé morta, mas sim que opera por amor, e o leva [o cristão] a contemplar a formosura de Cristo, e a tornar-se semelhante ao caráter divino” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 391-392, itálico acrescentado). Lutero via, e muitos ainda veem, contradição entre Paulo e Tiago, mas os adventistas ensinam que os dois apóstolos “estão de acordo no tocante à justificação pela fé. Enquanto Paulo destaca a falácia de se buscar a justificação pelas obras, Tiago salienta o perigo de se pretender a justificação sem as obras correspondentes. Nem as obras nem a fé morta podem conduzir à justificação. Ela pode ser obtida unicamente mediante genuína fé, aquela que opera por amor (Gl 5:6) e purifica a alma” (Nisto Cremos, CPB, 2009, p. 153). O DECÁLOGO E AS PROMESSAS Muitos não entendem o evangelho porque não compreendem o decálogo. No pensamento protestante, a lei está em oposição à graça e, por isso, Jesus a teria abolido na cruz. Esse antinomismo não encontra, de nenhum modo, fundamento nas Escrituras. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o decálogo foi pronunciado por Deus no contexto de uma aliança graciosa. Os requisitos humanos desse concerto são ouvir a voz de Deus e guardar a aliança divina (Êx 19:5, 6). Nesse pacto, a parte de Deus é oferecer, para quem não merece, a bênção extraordinária de ser um “reino de sacerdotes e nação santa”. Isso é graça. A parte humana é simplesmente ouvir e guardar a aliança. Isso é fé. Esses dois verbos sinônimos e cognatos (shâma‘ e shâmar) são usados no Antigo Testamento tanto para ouvir quanto para obedecer. A audição da Palavra de Deus deve resultar em algo prático: obediência. Quando pediu que Israel ouvisse e 15


DICOTOMIA ENTRE FÉ guardasse os termos da aliança, E OBRAS, SALVAÇÃO E Deus chamou o povo para que exercesse fé em Suas promessas. Paulo SANTIFICAÇÃO, explicou que “a fé é pelo ouvir, GRAÇA E JUÍZO e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10:17, ARC). E quais são os termos da aliança que o povo deveria ouvir? Os dez pronunciamentos graciosos de Deus para a humanidade registrados em Êxodo 20. No decálogo, os aspectos relacionados ao passado, presente e futuro da salvação estão combinados. Deus Se apresenta como Aquele que havia tirado o povo do cativeiro (v. 2). Ao usar o verbo “tirei” no pretérito perfeito, Ele convida Seus filhos a olhar para trás e relembrar Seu amor e poder envolvidos na salvação. Na sequência, Ele projeta os olhos de Seu povo para a frente. Com isso em mente, é importante saber que “o decálogo não está redigido no imperativo, mas no futuro do indicativo”, explica Roberto Badenas (Mas Alla de la Ley, Safeliz, 2000, p. 75). O imperativo é o modo verbal das ordens e do autoritarismo. O futuro do indicativo é o tempo em que são pronunciadas as bênçãos e as promessas. Segundo Badenas, o “futuro é o tempo da esperança. Mesmo que [o decálogo] estipule o que Deus pede hoje, sua forma no futuro anuncia o que Ele promete para o amanhã. Sua própria redação convida a confiar no poder da graça” (p. 76). A lei de Deus não está em oposição ao evangelho, mas expressa a graça divina. Afinal, não existe separação nem antagonismo entre lei e graça nas Escrituras. Os dez mandamentos são dez promessas divinas. Quem as acolhe com fé vê progressivamente esse ideal se realizar na vida. O mesmo Deus que nos tirou com mão forte do Egito está em ação para tirar o Egito de nós. O Cristo que foi cravado na cruz nos dá poder para crucificar o pecado. O decálogo está incrustado no coração do evangelho. A lei foi esculpida na pedra por Jesus no Sinai e é impressa em nosso coração pelo Espírito Santo hoje (ver Patriarcas e Profetas, p. 366; Jr 31:33; Ez 36:25-27). EVANGELHO ETERNO, LEI E JUÍZO Em Apocalipse 14:6, 7, no contexto da primeira mensagem angélica, encontramos uma explicação detalhada sobre o evangelho eterno, 16

VINÍCIUS MENDES, mestre em Ciências Sociais, é pastor e editor de livros na CPB

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Ilustração: Adobe Stock

NÃO EXISTE

que é sinônimo de justificação pela fé (ver ­Evangelismo, p. 190). Decompondo a imutável mensagem da graça de Deus para a humanidade, o texto faz referência a cinco aspectos. Primeiro, ele diz: “Temei a Deus”. O temor do Senhor nas Escrituras sempre está associado à lei (Dt 8:6; 13:4; Sl 19:9-11; 111:10). Em segundo lugar, afirma: “dai-Lhe glória”. O decálogo é a explicação mais completa de como devemos glorificar e adorar a Deus. Os primeiros quatro mandamentos falam da exclusividade da adoração, da proibição de se fazer imagens de escultura, da pronúncia reverente ao nome de Deus e do dia especial para glorificá-Lo. Em terceiro lugar, menciona “a hora do juízo”. No juízo pré-advento, Deus credita e comunica Sua justiça sobre Seu povo, avalia e evidencia sua permanência na fé. Em quarto lugar, faz referência ao mandamento do sábado. A expressão “o céu, e a terra, e o mar” é uma citação direta de Êxodo 20:11, parte do decálogo que apresenta a justificativa para a guarda do sábado. Por fim, o texto menciona “fontes das águas”. Na primeira passagem de Gênesis em que essa expressão ocorre (7:11), vemos as fontes se rompendo para destruir o mundo, que havia rejeitado a advertência sobre o dilúvio. Mas Noé e sua família entraram na arca. Na segunda (8:2), as fontes do abismo se fecham, e, na sequência, Noé e os seus saem da arca para repovoar o mundo. A referência a “fontes das águas” remete a destruição, mas também a recomeço. A graça de Deus se manifesta em advertir sobre a condenação, prover o meio de salvação e em lembrar que Ele fará novas todas as coisas (Ap 21:5). No centro do evangelho eterno estão a imutável lei de Deus e Seu juízo gracioso. Não existe dicotomia entre fé e obras, salvação e santificação, graça e juízo. A justificação pela fé é “verdadeiramente a mensagem do terceiro anjo” (Evangelismo, p. 190). Portanto, é nosso dever entendê-la, ­vivê-la e pregá-la. Mesmo em meio às oscilações históricas e aos desequilíbrios em que ela foi envolvida, precisamos, pelo poder do Espírito Santo, permanecer no coração do evangelho. No centro dessa mensagem está o Cristo ressuscitado. Por Sua morte, Ele é nosso Sacerdote e Rei no santuário celestial. Em Sua obra presente, Ele purifica nossa vida com o perdão e nos governa com santidade. Tudo isso para nos preparar para o encontro com Ele em Sua breve volta. ]


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Conheça alguns adventistas de várias partes do mundo que têm feito a diferença. Eles testemunham em cortes, parlamentos e entre os menos favorecidos

PELA FÉ, NÃO PELA VISÃO CONHEÇA O PRIMEIRO SENADOR CEGO DA JAMAICA SA N DR A BLACK M ER

A POSTURA DE DAVID MARAGA, PRESIDENTE DA SUPREMA CORTE DO QUÊNIA M A R C O S PA S E G G I

D

avid Maraga, adventista e chefe de justiça, se tornou presidente da Suprema Corte do Quênia em outubro de 2016. Porém, mesmo antes de assumir, ele passou a ser o centro das atenções. Naquele ano, durante suas audiências de confirmação, Maraga declarou à Comissão de Serviço Judicial que, se fosse eleito, ele não atenderia casos no sábado. “Prefiro conversar com meus colegas no tribunal e fazer os ajustes para me dispensar da audiência caso ela se estenda até o sábado,” adiantou. Maraga teve a oportunidade de colocar suas convicções em prática após a contestação das eleições nacionais do Quênia, em 8 de agosto de 2017. A primeira audiência do caso foi agendada para as horas do sábado 26 de agosto. No entanto, a seu pedido, a audiência foi transferida para as 19 horas. Desde então, os analistas políticos do Quênia destacaram a reputação de Maraga como pessoa íntegra, o que atribuem ao fato de ele ser um adventista devoto. ] MARCOS PASEGGI é jornalista da Adventist World

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SANDRA BLACKMER é editora-assistente da Adventist World

Fotos: Hope Channel Kenya / Floyd E. Morris

CONVICÇÕES FIRMES

F

loyd Emerson Morris, de 49 anos, tinha poucas expectativas de sucesso ao perder a visão ainda jovem, vítima de glaucoma, quando deixou a escola no ensino médio para trabalhar em uma granja. No entanto, apesar de sua deficiência visual e inúmeros desafios associados a ela, mais tarde Morris graduou-se em Comunicação Social, cursou o mestrado em Filosofia de Governo e, em 2017, recebeu o título de doutor em Filosofia pela Universidade das Índias Ocidentais. Porém, sua conquista mais notável foi sua eleição para presidente do Senado da Jamaica em maio de 2013. Ele foi o primeiro deficiente visual a assumir o cargo, no qual permaneceu até fevereiro de 2016. Morris é conhecido por defender as pessoas com deficiência, e promove ativamente a votação de leis e programas que beneficiam essa comunidade. Ele escreveu sua autobiografia intitulada By Faith, Not by Sight (Pela Fé, Não pela Visão), lançada em 2017. Embora condecorado por suas realizações, inclusive pelos líderes da Igreja Adventista na assembleia mundial da denominação em 2015, Morris credita sua história de superação a Deus e à sua família. “Creio que Deus tem um plano especial para minha vida, e tenho permitido que Ele me guie. Posso ver os benefícios dessa fé Nele.” Ele é casado com Shelly-Ann Gayle desde 2011 e membro da Igreja Andrews Memorial, em Kingston, Jamaica. ]


VOZ RESPEITADA O CAPELÃO DO SENADO NORTEAMERICANO MINISTRA DIARIAMENTE PARA POLÍTICOS HÁ 15 ANOS S T E P H E N C H AV E Z

O PARTIDO QUE DEFENDE OS ANIMAIS MARIANNE THIEME, PARLAMENTAR NA HOLANDA, TEM MOSTRADO FIRMEZA DIANTE DA IMPOPULARIDADE DA SUA CAUSA SA N DR A BLACK M ER

Fotos: Marianne Thieme / Johnny Bivera (U.S. Navy)

M

arianne Thieme, líder do Partido Pró-Animais no Parlamento da Holanda (partyfortheanimals.nl) e membro da Câmara dos Deputados do país, permaneceu firme contra a onda do ridículo quando, em 2002, ela e outros ativistas fundaram um partido com uma pauta inovadora e impopular. No entanto, nas eleições de 2006, eles receberam cerca de 180 mil votos (1,8%) e duas vagas no parlamento holandês. Uma década depois, conquistaram 335 mil votos (3,2%) e cinco vagas entre os deputados. No mundo, já foram fundados 18 partidos semelhantes. Hoje os oponentes não riem mais tanto deles. Thieme, que sempre defendeu a causa dos animais, tornouse vegetariana aos 23 anos após assistir a um documentário. Na época, ela estudava Direito na Universidade Erasmus, em Roterdã. Depois da formatura, seu primeiro emprego foi numa empresa de

intermediação de terras e gestão de resíduos. Posteriormente ela trabalhou para uma fundação holandesa que defendia o bem-estar animal e se opunha à agricultura em larga escala. Thieme já produziu dois videodocumentários sobre o impacto ambiental do consumo da carne. C r iada na Ig reja Católica, Thieme descobriu a fé adventista quando estudava sobre vegetarianismo e leu os livros de Ellen G. White. Ela disse ter ficado impressionada com a mensagem de compaixão e o apelo apaixonado pelo vegetarianismo encontrado nos escritos da pioneira (ver A Ciência do Bom Viver, p. 314). Thieme é casada com Jaap Korteweg, também adventista e proprietário da Vegetarian Butcher, indústria que produz alimentos substitutos para a carne. ] SANDRA BLACKMER é editora-assistente da Adventist World

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

Almirante Vern Clark (à dir.), chefe de operações navais, congratula o contraalmirante Barry C. Black (à esq.) pelo recebimento da Medalha de Serviços Relevantes da Marinha

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arry C. Black raramente está nas manchetes. Mas todos os dias ele se encontra com os que estão em destaque na imprensa. Ele é o capelão do Senado dos Estados Unidos desde 7 de julho de 2003. Nessa função, diariamente Black faz a oração no início das atividades 19


UM MUNDO MELHOR IMAGINE UMA SOCIEDADE EM QUE TODOS TÊM TUDO DE QUE NECESSITAM S T E P H E N C H AV E Z

da casa legislativa. Ele é o primeiro afroamericano e o primeiro adventista a ­ocupar essa posição. Black supervisiona a assistência espiritual para os senadores, suas famílias e seus funcionários, um total de 6 mil pessoas. Ele também coordena grupos de estudos da Bíblia e preside o desjejum de oração semanal do Senado. Em 2017, ele foi o orador do Desjejum Nacional de Oração, evento anual que reúne o presidente e a elite política americana. Antes de ser nomeado para sua função atual, Black serviu como capelão na Marinha dos Estados Unidos, chegando à patente de almirante. Ele era o chefe da capelania da Marinha quando se aposentou. Black nasceu em Baltimore, Maryland, numa família com oito filhos. Sua mãe foi uma das suas principais influenciadoras, pois se esforçou para garantir que toda sua família frequentasse escolas cristãs, do ensino fundamental à pós-graduação. Por falta de recursos, ela e os filhos foram despejados de casa algumas vezes. Conhecido por decorar grandes porções das Escrituras, hábito que cultiva desde a infância, Barry Black participou de posses presidenciais, muitos eventos oficiais e foi testemunha ocular dos debates históricos do século 21. Durante a paralização de três semanas do governo federal em 2013, ele atraiu a atenção do país quando orou: “fortalece nossa fraqueza, substitui o cinismo pela fé e a covardia pela coragem.” Black escreveu quatro livros, entre eles sua autobiografia Sonho Impossível (CPB, 2008). ] STEPHEN CHAVEZ é editor associado da Adventist World

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países assistidos, a fim de iniciar novos projetos, avaliar o progresso dos programas em andamento e oferecer serviços especializados nas áreas médica, odontológica, de reabilitação e fisioterapia. Para fomentar a formação de novos voluntários, A Better World organiza missões de curta duração para jovens, a fim de que vivenciem em primeira mão o serviço humanitário e aprendam a captar recursos e desenvolver projetos no exterior. No início do seu discurso em uma formatura na Universidade Burman, no Canadá, em abril de 2017, Eric Rajah disse aos formandos que três palavras simples e diretas podem transformar o mundo: “Pense. Creia. Aja. Juntas, elas são a fórmula útil em qualquer comunidade.” ] STEPHEN CHAVEZ é editor associado da Adventist World

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

Foto: A Better World Canada

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ra o ano de 1990, quando a Igreja de College Heights, em Lacombe, Alberta, Canadá, buscava oportunidades de evangelizar, mas com o foco de não apenas abençoar sua comunidade, e sim o mundo todo. Eric Rajah e Brian Leavitt passaram a pesquisar projetos humanitários internacionais nos quais sua comunidade de fé pudesse se engajar. Isso aconteceu em 1990. Vinte e nove anos mais tarde, a ONG A Better World Canada (Um Mundo Melhor Canadá, abwcanada.ca) está envolvida em ações sociais em 14 países, como Quênia, Ruanda, Tanzânia e Bolívia. A Better World é uma referência em desenvolvimento comunitário sustentável, pois realiza parcerias para manter projetos por pelo menos dez anos. Em vez de trabalhar apenas com assistencialismo, ela investe em desenvolvimento. Sua abordagem parte do diálogo com a comunidade a ser beneficiada, a fim de entender como os moradores enxergam suas necessidades mais importantes. A comunidade local também precisa contribuir com mão de obra e a manutenção do projeto. A ONG dos adventistas compartilha os objetivos humanitários da ONU, como tirar as pessoas do ciclo da pobreza e garantir que elas tenham acesso à comida, água potável, saúde e educação fundamental. Essas metas são inspiradas no reconhecimento de que a dignidade humana tem como base o fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, e que Ele quer restaurar essa imagem em nós. Todos os anos, a ONG coordena viagens de voluntários para os


MULHERES TAMBÉM TÊM VEZ EM MUITAS CULTURAS, ELAS AINDA SÃO CIDADÃS DE SEGUNDA CLASSE S T E P H E N C H AV E Z

Fotos: Joy-Marie Butler / FARMSTEW

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ESCOLA DE ALIMENTAÇÃO

oy-Marie Butler se autodescreve como uma mulher de fé que se preocupa com outras que estão feridas. “Justiça, imparcialidade e compaixão são palavras-chave que descrevem meu caráter. Eu falo, escrevo e oro sobre essas questões em qualquer oportunidade. Creio na libertação das mulheres dos venenos devastadores das drogas, álcool e tabaco.” Butler é presidente da União Cristã de Temperança Feminina da Austrália (WCTU, em inglês) e uma das vice-presidentes mundiais da entidade. Ela já foi a coordenadora da Escola de Saúde e diretora do Ministério da Mulher da Divisão do Sul do Pacífico da Igreja Adventista. Trabalhou também num programa em favor do saneamento e saúde das escolas adventistas de Papua-Nova Guiné. Butler atuou também como capelã do Hospital Adventista de Sydney, na Austrália, e num projeto da ADRA Tailândia de combate ao tráfico humano. Sobre sua ligação com a WCTU, ela diz: “As mulheres da WCTU fizeram campanha pelos direitos das mães e crianças numa época em que essas pessoas menos privilegiadas e feridas enfrentavam grandes dificuldades. A preocupação continua, e estou aqui neste mundo hoje para fazer a diferença e torná-lo melhor para as pessoas com quem me encontro.” ]

oy Kauffman lançou a Farm Stew em 2015, após observar as necessidades nutricionais em Uganda. “Percebi que os agricultores estavam plantando soja, mas não a usavam para alimentar seus filhos que estavam morrendo por falta de proteína. Eles não sabiam como utilizar o que tinham”, justifica seu ministério. A ONG Farm Stew trabalha nas áreas de agricultura, segurança alimentar, saneamento básico e empreendedorismo. A metodologia inicial incluia ensinar, com o apoio de instrutores nativos, as ugandenses a cozinhar de modo saudável e saboroso com a soja e seus derivados (leite e tofu), e ainda a organizar pequenos negócios com o que colhiam da terra. O sucesso inicial mostrou que, para avançar, seria necessário treinar e contratar mais gente. Por causa dessa visão de multiplicação, 49 mil pessoas já foram beneficiadas. Kauffman e sua equipe também desenvolveram materiais e expandiram as atividades da ONG para o Zimbábue e Sudão do Sul. Esse ministério tem atuado na zona rural, centros urbanos, escolas e prisões. Até um restaurante vegano foi aberto. “Há muito a ser feito, e podemos fazer se nos esforçarmos. Estamos abertos para ver o que Deus ainda tem preparado para nós”, conlui Joy. ]

STEPHEN CHAVEZ é editor associado da Adventist World

MARCOS PASEGGI é jornalista da Adventist World

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FORMANDO PROFESSORES DE NUTRIÇÃO NO LESTE DA ÁFRICA M A R C O S PA S E G G I

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FAZENDO HISTÓRIA

PROJETO ORFANATO UMA INICIATIVA PARA ENSINAR, ALIMENTAR E VESTIR CRIANÇAS DE BOTSUANA QUE PERDERAM OS PAIS PARA O HIV M A R C O S PA S E G G I

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ui criado em Botsuana, quase ignorante dos seus desafios”, diz Ryan Williams, de 37 anos, a força motora por trás do Projeto Orfanato em Botsuana. “Só quando me mudei para a Austrália, a fim de estudar engenharia, é que percebi o grande contraste entre esses dois mundos e enxerguei a necessidade de Botsuana.” Durante uma de suas férias universitárias, em 2004, pediram a Williams que tirasse fotografias e fizesse vídeos de um orfanato mantido pela Igreja Adventista, no norte de Botsuana. Ele ficou impressionado com o número de órfãos que haviam perdido os pais por causa da AIDS. Um relatório da ONU de 2003 mostrou que quase 25% da população do país, entre 15 e 49 anos, estavam contaminados pelo vírus. Diante daquele quadro, Williams se comprometeu a fazer qualquer coisa para oferecer alimentação e educação para essas crianças. De volta à Austrália, ele convocou seus amigos da igreja e da escola para ajudar. Sua intenção era criar um movimento com fins humanitários. O projeto tem duas

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frentes: (1) prevenção por meio da educação visando mudança de comportamento das crianças e (2) provisão de um ambiente seguro em que elas possam receber amor, alimentação e os cuidados necessários para seu desenvolvimento. Quinze anos depois, hoje o projeto tem parcerias com a sede administrativa da igreja (União) e instituições locais. Juntos, eles mantêm seis orfanatos espalhados pelo país. Os centros foram construídos e financiados, em sua maioria, por voluntários da Austrália e Canadá. Por influência de Williams, colegas de escola e do trabalho dele se envolveram. Até uma banda musical cristã ajudou na divulgação da iniciativa. “Muitos dos voluntários que se inscreveram nem são cristãos, mas todos confessam que participar desse projeto foi uma experiência transformadora”, revela Williams. Entre os beneficiados está o ex-chefe de Williams, um agnóstico dono de uma companhia de 5 mil funcionários na Austrália. Após a viagem humanitária, a esposa do ex-chefe abordou Williams dizendo que aquela viagem havia salvado o casamento dela. Em 2013, Williams foi condecorado pelo governo de Botsuana com a Ordem Presidencial de Serviço Meritório. Hoje vivendo em Portland, Oregon (EUA), Williams continua promovendo o projeto com os orfanatos. A próxima viagem missionária está marcada para julho. ]

Conforme é ensinada em vários sistemas educacionais ao redor do mundo, a disciplina de História é lecionada com base na narrativa de coisas grandes ou terríveis, ditas ou realizadas por pessoas importantes, em momentos marcantes de determinada tribo, povo ou nação. Esse roteiro faz com que as crianças cresçam com a noção de que a história foi escrita por grandes heróis militares, monarcas poderosos e políticos eloquentes. Desde os primeiros registros escritos da trajetória humana, datados de 4 mil anos na Mesopotâmia, até as manchetes da imprensa de hoje, “fazer história” é algo que esperamos de outras pessoas. Daquelas cuja vida, de certa maneira, é diferente da nossa por causa de sua riqueza, linhagem ou preparo intelectual. No entanto, essa teoria da história do “grande homem” inevitavelmente reduz nossas expectativas sobre nós mesmos e a respeito de nossa responsabilidade de mudar o mundo. Assumimos que a fome é um problema que os políticos devem resolver. A pacificação é um desafio para diplomatas capacitados. E que mudanças legislativas que promovam a igualdade das pessoas é prerrogativa apenas dos parlamentares. Mas há outra história – vivida e ensinada por Jesus – que posiciona cada cristão, mesmo que aparentemente humilde e anônimo, no clímax da grande narrativa da humanidade. É o evangelho vivido por aqueles que nunca chegarão às manchetes. Se cada copo de água fresca e cada fatia de pão são percebidos e valorizados por Aquele que julga todas as coisas, então as ações despretensiosas realizadas em nome do único Rei, a fim de mudar ainda que seja uma única vida humana, é que são registrados pelo Céu. Pois são essas atitudes que podem ser decisivas para a história de alguém. Os testemunhos retratados nesta matéria são de pessoas que estão trabalhando para o reino de Deus. Nenhuma dessas pessoas nasceu para exercer poder ou influência, mas todos já abençoaram alguém. As histórias deles servem para lembrá-lo de que você também é um influenciador para a implementação do futuro reino de Cristo. ]

MARCOS PASEGGI é jornalista da Adventist

BILL KNOTT é editor executivo dos periódicos Adventist

World

Review e Adventist World

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Foto: Botswana Orphan Project

BILL KNOTT


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“Seja seu primeiro objetivo tornar o lar aprazível.” Ellen G. White

(O Lar Adventista, p. 24)

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HISTÓRIA DA IGREJA

Não importa o custo A HISTÓRIA DE UM CASAL NORTE-AMERICANO QUE DEIXOU TUDO PARA SERVIR NO IRÃ BETH THOMAS

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Foto: Rchphoto

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ncrédula, Florence observou ao seu redor. Sua cabana de barro de dois andares em Maragha, na Pérsia (atual Irã), era confortável para os padrões locais. Tinha uma cozinha pequena com janelas que permitiam a entrada de uma brisa suave. No primeiro andar havia espaço para reuniões, enquanto que no piso superior mais quatro cômodos ofereciam a possibilidade de atividades paralelas. No entanto, ela se perguntava como iria manter limpos o chão e as paredes de barro. Seus olhos se umedeceram ao se lembrar da sua casa e de sua família. Ela se sentia muito sozinha ali. Frank Oster, com quem havia acabado de se casar, estava acostumado à vida missionária. Ele já havia trabalhado no campo por quatro anos. Florence se lembrava bem do primeiro encontro deles. Tinham se assentado um ao lado do outro na reunião da equipe de missão internacional do professor Harry Washburn, no Walla Walla College (EUA). Eles juraram que seriam missionários no exterior. Brotou entre eles uma amizade casual, até que Frank partiu para além-mar em 1909.


Foto: Arquivo GC

Ele e muitos outros jovens adventistas foram escolhidos no início do século 20 para servir em lugares distantes e desconhecidos. Após a assembleia da igreja em 1901, um novo impulso foi dado para as missões transculturais. Frank e seu amigo Henry Dirksen foram os primeiros missionários adventistas residentes a entrar na Pérsia. Como a maioria dos norte-americanos que aceitavam esse desafio naquela época, eles sabiam que seu compromisso era para o resto da vida. VIDA EM FAMÍLIA Graças aos correios, a relação entre Frank e Florence se tornou séria depois que ele partiu. Por meio de uma enxurrada de cartas, eles concluíram que haviam sido feitos um para o outro e que poderiam ser parceiros na missão. Os jovens se casaram em Londres, Inglaterra, onde os pais de Florence moravam. Em seguida, o casal tomou o navio para o Oriente Médio e passou a lua de mel a caminho da Pérsia. Era o ano de 1913. A introdução do livro To Persia, With Love (Pacific Press, 1980), um esboço biográfico sobre o trabalho de Oster no Irã, diz o seguinte: “O Islã [...], desde seu início, criou um nível de fervor e lealdade entre seu povo que tem sido visto apenas ocasionalmente em outras religiões. Tem-se provado que aqui talvez seja o maior desafio missionário em todo o mundo. Nos primeiros 50 anos do trabalho dos adventistas do sétimo dia na Pérsia (iniciado em 1911), houve um total de 29 missionários. Frank e Florence Oster trabalham ali sozinhos por 11 anos (19141925)” (p. 9, 10). No total, Frank trabalhou no Oriente Médio por 35 anos, 27 deles no Irã. O casal Oster criou um método de trabalho naquele país. Frank realizava reuniões de estudo da Bíblia em sua casa, usando os materiais da Escola Sabatina, enquanto Florence procurava estabelecer contatos por meio do ensino e aprendizagem de idiomas (Advent Review and Sabbath Herald, de 7 de agosto de 1952). Ela procurou aprender a língua local usando a Bíblia como livro-texto. Logo Florence reuniu um grupo de meninas do bairro e começou a ensinar inglês para elas. Enquanto as garotas aprendiam seu idioma, ela praticava o delas, explicando os textos bíblicos que estava lendo. Como resultado de sua habilidade linguística e vontade de acolher seus vizinhos, algumas meninas começaram a guardar o sábado. A vida não foi fácil para os Osters. Eles enfrentaram enfermidades graves, fugiram R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

Frank Oster

FRANK E FLORENCE OSTER ENFRENTARAM ENFERMIDADES GRAVES, FUGIRAM DE INVASORES CURDOS DURANTE A 1a GUERRA MUNDIAL, PERDERAM DOIS FILHOS DEVIDO A DOENÇAS, SOBREVIVERAM COM RECURSOS LIMITADOS E DIARIAMENTE ENFRENTARAM A SOLIDÃO

de invasores curdos durante a 1ª Guerra Mundial, perderam dois filhos devido a doenças, sobreviveram com recursos limitados e diariamente enfrentaram a solidão. Porém, foram fiéis no posto do dever. Quando chegavam as cartas dos Estados Unidos oferecendo férias, eles escolhiam permanecer no campo missionário. Afinal, após tantos anos de trabalho, a igreja estava prestes a ganhar vida naquele lugar. “Não, Frank. A obra de Deus vai sofrer se partirmos. Não podemos ir agora”, disse certa vez Florence ao marido (To Persia, With Love, p. 69). O casal Oster fundou escolas, alimentou e vestiu órfãos, ministrou para refugiados. E, pouco a pouco, a igreja foi crescendo no Oriente Médio. Uma pessoa por vez. Quando foram transferidos para Istambul, na Turquia, o trabalho havia saído da “estaca zero” para uma missão consolidada e estável, com uma equipe competente formada por funcionários locais e europeus (p. 160). Finalmente, seguindo ordens expressas para que deixassem o país durante a 2ª Guerra Mundial, eles tiveram que voltar para os Estados Unidos. O trabalho deles no Oriente Médio teve pontos altos e também baixos. Se forem analisados apenas os números, aparentemente foi gasto muito tempo e energia para resultados tão pequenos (p. 188). LEGADO DURADOURO Os Osters podem ter sido tentados a pensar que seu sacrifício foi em vão, mas, nas páginas finais da história da vida deles, disseram que não teriam feito diferente. Certa vez perguntaram a Florence: “‘O seu fardo foi muito grande? O preço de tudo isso foi muito alto? Você teria dedicado sua vida e seus talentos para uma causa melhor?’ Sua resposta foi: ‘Não, mil vezes, não!’” (p. 190). A razão para não lamentarem nem se arrependerem é que haviam experimentado a orientação de Deus e o conforto de Seu Espírito. A centelha da chama espiritual acesa pelos Osters foi varrida completamente na revolução iraniana na década de 1970. A “obra naquela terra antiga permanece inacabada, e os desafios são ainda maiores do que antes. Como será terminada a obra de Deus [...] permanece nas mãos de novos pioneiros, trabalhando sob a Providência divina” (p. 4). Quem tomará a bandeira e seguirá os passos deles, realizando coisas difíceis para Deus? ] BETH THOMAS é escritora e editora freelance

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DEVOCIONAL

DÍVIDA IMPAGÁVEL O QUE VOCÊ FARIA SE DEVESSE A MONSTRUOSA QUANTIA DE 13,7 BILHÕES DE DÓLARES?

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ma das parábolas mais intrigantes contadas por Jesus é a história do servo implacável (Mt 18:21-35), com um desfecho inusitado. Aparentemente é sobre um patrão generoso que, de repente, revoga seu perdão. No entanto, ao examinar mais de perto, sua atitude é ainda mais chocante. Não conseguimos compreender a extensão da dívida do servo. Além disso, o patrão não estava revogando seu perdão; estava fazendo outra coisa. PERGUNTA CURIOSA “Quantas vezes deverei perdoar meu irmão quando ele pecar contra mim?”, perguntou Pedro a Jesus certo dia. Cristo olhou para ele. “Sete vezes?”, disse Pedro impacientemente, impressionado com a generosidade do seu palpite. “Não, muito mais do que isso. Setenta vezes sete”, respondeu Jesus.

DÍVIDA SURPREENDENTE O patrão estava analisando as contas dos seus empregados. Ele parou na conta de alguém que lhe devia uma quantia enorme. Chamou o empregado para saber o que estava acontecendo com sua conta. Em outra parábola (Mt 25:14-28), Jesus nos apresenta um pouco mais do contexto sobre o perdão. O patrão escolheu a dedo os empregados e confiou-lhes talentos de ouro de acordo com suas habilidades. Algumas fontes estimam que tipicamente cada talento pesava 34 quilos, valendo o equivalente a 1,37 milhões de dólares (ou aproximadamente R$ 5,08 milhões) no valor atual. Esperava-se que os empregados investissem os bens com sabedoria e devolvessem ao

Foto: Trumzz

JONEEN WILSON

A resposta foi chocante. Os fariseus mesquinhos tinham estipulado o número três (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 243). Pedro foi além, e Jesus excedeu completamente o número sugerido por Pedro. Se Pedro dissesse 100 vezes, provavelmente Jesus teria dito 100 milhões de vezes porque, a julgar pela história que Jesus contou a seguir, o Céu está preparado para perdoar infinitamente.

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patrão o capital com juros. Os empregados que não conseguiam ou não queriam administrar sabiamente o dinheiro do patrão eram despedidos. O servo de nossa história devia ao patrão 10 mil talentos – 340 mil quilos de ouro. No mercado de hoje, o valor atingiria cerca de 13,7 bilhões de dólares. A confiança do patrão deve ter sido infinita. No entanto, mais impressionante ainda é o fato de que o servo conseguiu deixar que todo esse valor lhe escapasse pelos dedos. Como alguém consegue desperdiçar uma soma tão exorbitante? O patrão olhou para a situação e decidiu que a opção mais viável seria vender o servo, sua família e todos seus bens para pagar a dívida. Para que essa decisão tivesse sentido, o empregado devia ter um bom número de filhos e bens. O patrão deve ter suspeitado que o empregado havia usado o dinheiro em benefício próprio. Imediatamente, o empregado implorou por misericórdia. Era a única coisa sensata a fazer. Ele, então, fez a declaração mais absurda: “Vou pagar toda a dívida!” Essa é a coisa correta a ser dita. No entanto, mesmo que ele trabalhasse todos os dias, levaria cerca de 200 mil anos até que sua dívida fosse paga – mais de 3 mil vezes o período de uma vida!

Existe alguma boa desculpa para exigir um grão de sal quando você recebeu o universo?

COMPAIXÃO CHOCANTE O patrão faz algo chocante. Ao concluir que o empregado nunca iria conseguir pagar-lhe, ele teve pena do homem e perdoou sua dívida. Ele cancelou toda a dívida. O saldo devedor passou a ser $ 0,00. O patrão tinha acabado de perder dez mil barras de ouro... Não há nada indicando que o empregado perdeu seu emprego. De fato, aparentemente ele ainda fazia parte do quadro de funcionários. Outras pessoas foram demitidas por má administração de dinheiro muito menos grave. Ele ainda tinha sua família. O patrão nem vendeu suas propriedades. Ele simplesmente declarou o empregado um homem livre. CONTRADIÇÃO RÁPIDA O servo saiu para comemorar a clemência do patrão. Ele fez isso estrangulando um colega de trabalho e exigindo que ele lhe pagasse sua dívida. O colega devia a ele meros cem denários, o que equivale aproximadamente ao salário de cem dias de trabalho – nada comparado ao valor da sua dívida anterior. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

O colega de trabalho implorou por misericórdia. Ele prometeu pagar toda a dívida. Mas não houve perdão. Ele foi lançado na prisão até saldar seu débito. Comentaristas destacam que a prisão tornava quase impossível ganhar o dinheiro necessário para pagar uma dívida. Que resposta implacável, insensível! A insistência do servo em punir tão severamente seu colega sugere o que ele realmente pensava a respeito de como deveria ter sido punido. Os outros servos ficaram tão horrorizados e tristes com a brutalidade que testemunharam que foram direto falar com o patrão. Eles relataram detalhadamente o que aconteceu. Então, o patrão também ficou indignado, ofendido. O servo demonstrou claramente o que achava da sua generosidade. O fato de outros servos acharem que o comportamento do empregado fosse algo que irritaria o patrão é um indicativo do seu caráter. Ele devia ser um homem que se importava com o bem-estar dos seus subordinados.

CONCESSÃO GENEROSA Por esse tipo de comportamento outros empregados haviam sido cortados em pedaços sem aviso prévio (cf. Lc 12:46). Mas, ao contrário, o patrão o chamou para conversar. “Você implorou meu perdão e eu o perdoei”, gritou o patrão. “Você não deveria também perdoar seu colega de trabalho?” Ele estava fazendo uma pergunta. Essa é uma conversa. Ele estava oferecendo uma oportunidade para que o empregado desse uma explicação. O empregado não respondeu. Mas existe alguma boa desculpa para exigir um grão de sal quando você recebeu o universo? O empregado nem pediu perdão. Nem houve um diálogo relevante. “Muito bem”, admitiu o patrão. “Mande-o para a cadeia para que seja torturado até pagar sua dívida.” Se o servo quiser ficar trancado em uma prisão pelo resto da vida, assim será. Observe que somente o empregado é mandado para a cadeia. Não sua esposa, nem seus filhos. Suas propriedades não são vendidas. O patrão nem estava exigindo a punição em toda a extensão da lei. O empregado escreveu sua própria sentença. Sim, ele pediu isso. Ele rejeitou o perdão. Talvez até nem tenha compreendido a enormidade da sua dívida. “O motivo de todo perdão achase no imerecido amor de Deus”, escreveu Ellen White, “mas pela nossa atitude para com os outros denotamos se estamos possuídos desse amor. Por isso Cristo disse: ‘Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também’ (Mt 7:2)” (Parábolas de Jesus, p. 251). Deus escreveu nossa sentença. Vamos aceitá-la ou escrevê-la? ] JONEEN WILSON é enfermeira na Califórnia (EUA) e, quando não está administrando medicações nem trabalhando no departamento audiovisual de sua igreja, faz evangelismo da página impressa

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VISÃO GLOBAL

Poder absoluto

RON KELLY

dw i n F r ie d m a n, u m rabino judeu e terapeuta familiar, escreveu em seu livro A Failure of Nerve (2007) que, à medida em que a mente humana é treinada nas duras disciplinas do bom senso e da honestidade, nossos “demônios” emocionais vão sendo expulsos. Friedman fala especialmente aos líderes, e ele descreve o “líder bem diferenciado” como alguém que sabe separar seu estado emocional das emoções de seus seguidores, mesmo estando ligado a eles. Para o rabino, a visão de um líder depende mais de suas emoções do que de seu cérebro, mais de sua capacidade de

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lidar com a própria ansiedade do que de seu preparo profissional e acadêmico. O autor defende que um bom líder precisa ter coragem de, ocasionalmente, desagradar as pessoas. E a história da nossa igreja confirma isso. Uriah Smith, por exemplo, disse que alguns achavam que faltavam habilidades sociais para Tiago White, pois ele seria alguém duro e injusto até mesmo com seus melhores amigos. Porém, conforme registrou Arthur White, Uriah Smith acreditava que muitos não entendiam uma das principais virtudes de Tiago White: seu amor pela causa que havia abraçado (Ellen G. White: The Lonely Years, v. 3, 1984, p. 164). Creio que Tiago White foi um líder diferenciado, que se colocou nas mãos de Deus para levar esse movimento profético a uma base segura. Junto com Ellen, sua esposa, eles fizeram tremendos sacrifícios emocionais e relacionais para estabelecer e proteger a igreja. Como pontuou Friedman, para serem diferenciados, homens e mulheres, sejam pais, gestores ou presidentes, precisam saber quem são e o que devem fazer. Os líderes precisam fazer o que é correto porque é certo, caso contrário serão uma desculpa esfarrapada. PODER CENTRALIZADO A espressão kingly power (poder absoluto) foi usada por Ellen G. White muitas vezes e em contextos diferentes. Às vezes, ela se referiu à expectativa judaica em relação ao Messias; R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

Foto: Adobe Stock

DESDE O INÍCIO DA IGREJA, TEMOS LIDADO COM O RISCO DA CONCENTRAÇÃO DE PODER, MAS A VERDADEIRA AUTORIDADE EMANA DA HUMILDADE E DA ORAÇÃO


em outras oportunidades, ao poder que Jesus deixou para trás quando veio ao nosso mundo; e ainda fez uso dessa expressão para descrever a ânsia pelo controle por parte do doutor John H. Kellogg. No entanto, na maioria dos casos, ela qualificou como poder absoluto a atitude centralizadora de um homem ou de um pequeno grupo de pessoas sobre a administração da igreja, fossem eles o presidente mundial, o tesoureiro ou os líderes da área de saúde e publicações. A expressão também foi utilizada pela pioneira para se referir à natureza humana não santificada, que inclui o desejo de controle (Enciclopédia Ellen G. White, CPB, 2017, p. 1161-1162). Em Battle Creek, Michigan (EUA), que se tornou o reduto inicial do adventismo, as decisões estavam concentradas nas mãos de duas ou três pessoas. Porém, essa centralização do processo decisório foi posteriormente revista com a reorganização da denominação na assembleia de 1901. Na oportunidade, foi criado o nível administrativo da União, e que permanece até hoje. Dois anos mais tarde, Ellen G. White escreveu que a reorganização da igreja, com a inclusão das Uniões, havia sido uma solução divina para evitar o exercício do poder absoluto (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 232). Ainda em 1903, ela resgistrou também que todos os servos de Deus têm um trabalho na missão Dele, e que ninguém deve cumprir essa tarefa se colocando numa posição de poder absoluto, e sim com cortesia no discurso e gentileza nas ações (Bible Training School, 1º de maio de 1903). Por isso, é importante sermos cuidadosos com nossa fala, evitando acusar-nos com frases ou títulos pejorativos. Se alguém dissesse que você, no exercício de sua liderança, está buscando o poder absoluto, essa seria uma acusação contundente, porque carrega em si uma emoção muito negativa. Imagino que ela não deveria ser usada de maneira descuidada, especialmente em relação aos líderes de nossa igreja. PODER DA ORAÇÃO Ellen G. White escreveu que, se houvesse mais oração e humildade no exercício da liderança na igreja, a missão adventista avançaria mais (Manuscrito 144, 1903, parágrafo 14). Por isso, as orações não podem ser mera formalidade em nossas reuniões, comissões e decisões. Como ressaltou Ellen G. White, ainda no mesmo contexto, “o Senhor Deus do Céu é o nosso Líder”. Nele podemos depositar nossa segurança, pois nunca cometeu um equívoco. Quem anda no R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

temor do Senhor, meditando em Seu caráter, torna-se semelhante a Cristo e vence a própria arrogância (Este Dia com Deus, p. 38). Ao nos aproximarmos do fim deste mundo, o caráter revelará aqueles que estão e os que não estão cheios do Espírito. Deus poderia fazer Seu trabalho sem nossa ajuda, mas Ele nos dá essa responsabilidade com o intuito de nos transformar e aumentar nossa fé. Porém, se fizemos a obra Dele por conta própria, cairemos no caminho. Em 1904, Ellen G. White escreveu que havia uma grande missão a cumprir, e que seu coração doía de pensar em quantas pessoas ainda não estavam prontas para a volta de Jesus. Ela advertiu adultos e líderes que, neste contexto de urgência, estavam agindo como crianças pequenas. Para ela, não havia desculpa para alimentar desavenças entre o povo de Deus (Carta 61, 1904). Na visão dela, era trabalho de Satanás manter o coração dos servidores da igreja cheio de desconfiança e suspeita, porque a unidade entre os seguidores de Cristo é uma evidência de que o poder miraculoso de Deus pode salvar e aproximar pecadores, fazendo com que eles cooperem na mesma missão, apesar de suas diferenças. Por isso, a profetisa nos aconselhou a orar e trabalhar pela unidade, a fim de que nossa mentalidade seja enobrecida e nosso egoísmo seja vencido (Carta 170, 1902). Se você não confia em um líder, ou suspeita dele, desde o pastor local até o presidente da Associação, União, Divisão ou Associação Geral, a primeira coisa a fazer é cair de joelhos e orar. O Senhor está chamado líderes diferenciados, que estejam dispostos a conhecer a si mesmos, em Cristo, e a fazer o mesmo em relação aos outros. Portanto, cumpra o papel que Deus lhe confiou e faça seu melhor. Ele será glorificado pelo seu exemplo.

DEVEMOS ORAR E TRABALHAR PELA UNIDADE DO CORPO DE CRISTO, POIS ELA EVIDENCIA O PODER MIRACULOSO DE DEUS

Ocasionalmente, o pastor Ted Wilson convida outros autores para apresentar materiais pertinentes nesta seção. Este artigo foi adaptado de um sermão proferido em dezembro de 2018. Para assistir à série completa, acesse villagesda.org. ] RON KELLY é pastor da Igreja Village, em Berrien Springs, Michigan (EUA)

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VIDA ADVENTISTA

AGÊNCIAS DA IGREJA FAZEM SUA PARTE EM DEFESA DOS FRAGILIZADOS E ÓRFÃOS SANDRA BLACKMER

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aminhando pela costa do Oceano Índico, na África Oriental, trabalhadores de resgate perceberam um objeto a certa distância, na praia. “Será um tronco de árvore? Ou será um animal pequeno encalhado?”, indagaram-se. Aproximando-se, encontraram uma garotinha, com cerca de 18 meses, quase sem roupa, tremendo de frio e muito assustada, sentada ao lado de um sacola plástica. Na sacola havia algumas roupas e uma folha de papel em que estava escrito o nome dela: Grace (o nome foi trocado). De duas, uma: ou a mãe não a queria mais ou não tinha condições de cuidar dela e, por isso, a havia abandonado na praia. Talvez o coração daquela mãe batesse com uma oração de esperança de que alguém encontrasse Grace e suprisse suas necessidades. Se esse fosse o caso, as orações foram respondidas. No entanto, tragicamente inúmeras crianças não têm a mesma sorte. REVENDO AS ESTATÍSTICAS Segundo a ONG SOS Children’s Villages, as estatísticas indicam que, no mundo, cerca de 153 milhões de crianças são órfãs, e 263 milhões de crianças e jovens não frequentam 30

a escola. Aproximadamente 69 milhões de crianças sofrem com desnutrição, fator responsável pela metade das mortes de crianças menores de cinco anos de idade. Nos países em desenvolvimento, quase 70 milhões de crianças em idade escolar vão para a escola com fome; desse total, 23 milhões só na África. Esses números são impressionantes, especialmente à luz da responsabilidade que recebemos de Deus de “cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades” (Tg 1:27, NVI) e de sermos “pai para os órfãos” (Sl 68:5, NVI). Inúmeras famílias têm recebido órfãos em sua casa para amá-los e criá-los até a idade adulta. Obviamente, isso não supre as necessidades de todas crianças que perderam seus pais. Por isso, bom número de membros leigos adventistas tem desenvolvido várias organizações sem fins lucrativos, junto com outras agências de fora da igreja, para ajudar a resgatar e cuidar de crianças que estão sofrendo. Uma dessas agências é a Restore a Child (Restaure uma Criança). RESTAURE UMA CRIANÇA Em 1998, Norma Nashed visitou sua terra natal, a Jordânia. Enquanto estava lá, percebeu na

comunidade a enorme necessidade das crianças órfãs e negligenciadas e se sentiu compelida a ajudar. Quando voltou para os Estados Unidos, pediu demissão do seu trabalho e iniciou um ministério sem fins lucrativos, então chamado Reaching Kids International. Solicitando doações e apoio, primeiro da família, amigos e membros da igreja, mais tarde de organizações como o Banco Mundial e Help International, Reaching Kids International, que em 2011 passou a ser chamada de Restore a Child, é um ministério de apoio da Igreja Adventista que oferece alimento, moradia, resgate do tráfico ou educação adventista para cerca de 17 mil crianças, em 20 países, entre eles a Jordânia, Quênia, Etiópia, Congo, Tanzânia, Chade, Zâmbia, Zimbábue, Bolívia, Ucrânia, Sudão do Sul e Haiti. Restore a Child já financiou ou ajudou a financiar a construção e a administração de oito orfanatos, 12 escolas adventistas e a escavação de seis poços para oferecer água potável para a comunidade. Já pagou os estudos para 2 mil alunos, ofereceu cuidados médicos para milhares de crianças na África e alimenta cerca de 3 mil crianças diariamente. Cerca de 50 voluntários do mundo inteiro

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Foto: International Children’s Care

Os vulneráveis


doam seu tempo e talentos para apoiar a Restore a Child e as crianças ajudadas pela instituição. “O desejo do meu coração é cuidar dos órfãos e ensinarlhes sobre Jesus e os princípios do caráter cristão”, diz Nashed. “A educação é a chave. Ela oferece esperança e um futuro às crianças.” IMPACTO INTERNACIONAL ChildImpact International (childimpact.org) é um ministério de apoio sem fins lucrativos da Igreja Adventista que ajuda tanto crianças como adultos que vivem na pobreza. Fundado em 1966 como AsianAID e ganhando o novo nome de ChildImpact em 2017, a organização mantêm quatro orfanatos, uma escola para cegos em Bobbili, na Índia, e uma escola para crianças com deficiências de fala e auditivas em Kollegal, também na Índia. Sua principal missão é dar bolsas de estudos para crianças, patrocinando o estudo nas escolas da missão adventista na Índia, Bangladesh, Mianmar, Nepal, Sri Lanka e Papua-Nova Guiné. Seu programa Operação de Resgate da Criança resgata meninas do

Foto: Restore a Child

QUANDO COMPARTILHAMOS NOSSA VIDA, SOMOS TRANSFORMADOS

Norma Nashed, fundadora e presidente da Restore a Child, segura a pequena Grace, que foi abandonada pela mãe numa praia

tráfico humano, crianças que vivem nas favelas e bebês abandonados na Índia. A sede do ChildImpact é no estado do Tennessee, Estados Unidos. “Nossa missão principal é dar educação à criança carente, apresentá-la a Jesus e patrocinar seu valioso estudo nas escolas missionárias adventistas”, diz o CEO Jim Rennie. Mudando de cenário, quando a cidade da Guatemala foi atingida por um terremoto em 1976, deixou inúmeras crianças órfãs. Ken e Alcyon Fleck, junto com um grupo de pessoas leigas da região noroeste dos Estados Unidos, fundaram a International Children’s Care (ICC) como resposta àquela tragédia. Hoje a organização ajuda crianças órfãs, abandonadas ou abusadas em todos os continentes. Por meio dos doadores e outros apoios, o ICC constrói e mantém “vilas para crianças”, formadas por lares de famílias, prédio escolar, indústrias e capela. As crianças recebem uma atmosfera de amor e segurança, assim como a oportunidade de estudar e trabalhar. Em 40 anos de existência, o ICC, com sede em Vancouver, no estado de Washington (EUA), já ajudou milhares de crianças em todo o mundo (para saber mais, acesse forhiskids.org). “As crianças precisam saber que no mundo há amor para elas hoje e esperança de um futuro melhor”, diz Rich Fleck, presidente da ONG. “O ICC existe para oferecer amor e esperança para crianças muito feridas e que estão demasiadamente famintas para amar, porque toda criança necessita de uma família.” NECESSIDADES ESPECIAIS Em 2015, a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com sede em Silver Spring,

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Maryland (EUA), criou uma iniciativa chamada Ministério das Necessidades Especiais, dirigido por Larry R. Evans. Comprometido a “coordenar e promover a aceitação, o apoio e a inclusão de pessoas que possuem necessidades especiais e para os que cuidam deles”, Evans supervisiona o ministério voltado para cegos, surdos, cuidadores, órfãos e crianças vulneráveis. “Esse ministério oferece maneiras de mostrar compaixão e respeito profundo por todas as pessoas”, diz Evans. “Todos nós somos filhos e filhas adotados por Deus (veja Ef 1:5). Portanto, Deus nos chama para cuidar daqueles que não têm pai ou mãe.” Ellen White nos lembra que “a tarefa de salvar os que não têm lar e os órfãos é responsabilidade de cada um” (O Lar Adventista, p. 169), e nosso modo de cuidar daqueles que necessitam do nosso amor e simpatia é a “maneira de Deus provar nosso caráter” (­Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 511). “Quando compartilhamos nossa vida”, reflete Evans, “geralmente descobrimos que nós é que somos transformados.” O QUE ACONTECEU COM GRACE? Após Grace ter sido encontrada naquele trecho da praia, em 2017, as autoridades a entregaram a um orfanato Restore a Child, onde ela está sendo nutrida e cuidada pelos voluntários da organização. Infelizmente, inúmeras crianças não tiveram o mesmo resultado positivo, mas as organizações adventistas e outros que são comprometidos a resgatar o máximo de crianças possível estão “garantindo a justiça para os fracos e para os órfãos” e mantendo o direito dos necessitados e oprimidos (Sl 82:3). “Esse é o nosso chamado”, diz Nashed. “É isso que o amor nos compele a fazer.” ] SANDRA BLACKMER é editora-assistente da Adventist World

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MINHA HISTÓRIA

Oração em espanhol A EXPERIÊNCIA MARCANTE QUE TIVE COMO ESTUDANTE MISSIONÁRIO NUM QUARTO DE HOSPITAL DIANTE DE ALGUÉM QUE ESTAVA PARA MORRER

V

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ocê precisa ser um estudante missionário.” A voz era do pastor do campus da universidade adventista na qual eu estudava. Para mim, aquela sugestão pareceu totalmente maluca. Eu não queria ser estudante missionário, mas ficar na Califórnia (EUA) e terminar meus estudos. Por que eu deixaria meus amigos a fim de ir para um lugar estranho e distante? “Hospital Bella Vista. Eles precisam de um capelão ali, por um ano. Você não gostaria de voltar para casa?” Meu pai foi administrador do hospital Bella Vista quando eu estava no ensino fundamental. Eu havia feito muitos amigos na Costa Rica e me apaixonado pelo país. Havia passado centenas de horas correndo atrás das borboletas numa floresta fechada de bambu. “Voltar para casa” era uma grande ideia, mas eu tinha as motivações erradas. APRENDENDO O IDIOMA Comecei a sonhar, liguei para meus parentes e enviei uma inscrição para ser estudante missionário. Três meses mais tarde eu estava voando de San Diego, na Califórnia, com escala em Miami, na Flórida, para então ir para San Juan e Mayagüez, em Porto Rico. Tinha 21 anos de idade, era ansioso e tolo. No meu primeiro dia de trabalho na capelania, Fred Hernández me cumprimentou calorosamente e me levou 32

para o andar de cima, na ala da maternidade. “Este é o lugar perfeito para começar como capelão”, Fred me disse, enquanto subíamos a escada. No primeiro quarto encontramos uma mãe muito feliz, o pai e seus três filhos. Unimo-nos a eles, admirando o bebê recémnascido. Fiz uma breve oração, nos despedimos e saímos. Foi quando o capelão olhou para o relógio e, assustado, disse: “Dick, esqueci que tenho de estar na estação de TV no centro de Mayagüez em 20 minutos. Tenho que sair agora. Você foi muito bem no primeiro quarto. Estou realmente grato por você estar aqui!” Fiquei sozinho. Um estudante missionário que estava se preparando para ser pastor, mas que não sabia absolutamente nada sobre capelania. Ao abrir a porta seguinte, encontrei uma mãe solteira, com 15 anos de idade, muito triste, que estava doando o bebê para adoção. Orei R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

Foto: Tongpatong

DICK DUERKSEN


em inglês e saí do quarto. No piso inferior, fugi para a ala da clínica médica, procurando por um paciente “fácil”. A mulher que escolhi olhou bem no fundo da minha alma e perguntou: “Jovem, você sabe orar em espanhol?” Respondi que não, morrendo de medo de ser pego fingindo ser o que eu não era. “Siéntate”, disse ela. Sentei-me, ouvi e aprendi a fazer orações simples em espanhol. DIANTE DA MORTE Nas semanas seguintes, visitei muitos pacientes com o ­capelão Hernández e comecei a me sentir confortável nos quartos dos pacientes. Vagarosamente, muito vagarosamente, comecei a me sentir um pouco capelão. Uma tarde eu fui chamado para me encontrar com a família Rodríguez na ala de oncologia. Vovó Rodríguez estava no hospital havia algum tempo, lutando contra um câncer, e sua aparência era de quem iria morrer naquele mesmo dia. Apertei o nó da minha gravata preta, coloquei minha jaqueta azul de capelão, peguei a Bíblia em espanhol e desci as escadas para o primeiro andar. Ela seria a última paciente a ser visitada antes do jantar e eu estava ansioso para deixar o plantão. A senhora Rodríguez estava numa enfermaria de quatro leitos. Sua cama ficava ao lado de uma grande janela com vista para o jardim do hospital. Puxei a cortina que envolvia o leito e me deparei com oito rostos expectantes. Meu mundo parou. Cada pessoa procurava em mim um pouco de esperança e motivação, um lampejo de força espiritual que tornasse mais fácil ver a matriarca partir. A esperança deles revelou o deserto da minha alma. Eu era um estudante missionário. Estava me preparando para ser pastor. Sabia suficientemente o espanhol e a respeito de Deus para me sair bem, mas aquelas pessoas queriam mais do que palavras. Elas desejavam sentir o abraço de Deus por meu intermédio. E eu não tinha nada para lhes oferecer... Minha vontade era correr para escapar daqueles olhares penetrantes e do cheiro de morte, fugir daquele lugar onde minha impotente fé era ousadamente revelada. Desesperado, caí de joelhos, segurei as mãos da senhora Rodríguez e orei. “Deus, perdoa-me. Não tenho nada para dar. Ajuda-me!” Então, saí depressa do quarto, corri para fora do hospital pela porta da frente. Passei debaixo da mangueira gigante, pelo meio da lavanderia do hospital, até longe, lá no fundo, próximo a uma plantação de bananas, com grama molhada e macia, um bom lugar para chorar. Eu havia destruído tudo. Tinha deixado Deus decepcionado. Tinha mostrado a todos que meu cristianismo era só de fachada. Pior de tudo, eu tinha decepcionado a família Rodríguez quando ela mais precisava de mim. Imaginei que eles contariam tudo ao doutor Angell e que ele provavelmente já teria feito minhas malas e comprado minha passagem aérea de volta para casa. Eu tinha sido orgulhoso, agora estava humilhado, quebrado. SURPRESA Mais tarde, após muita confissão e de implorar a Deus, voltei ao hospital. Lembro-me de tudo naquela caminhada. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

DECEPCIONEI A FAMÍLIA RODRÍGUEZ QUANDO ELA MAIS PRECISAVA DE MIM As mangas apodrecendo embaixo das árvores. Os arbustos bico-depapagaio, com seu vermelho brilhante em contraste com o verde. Os degraus de concreto manchados de barro por onde milhares de famílias haviam entrado no hospital em busca de esperança. Minha cabeça estava baixa. Eu tentava ser invisível. O doutor Angell foi se encontrar comigo à porta. Segurou nos meus ombros e exigiu que eu contasse o que havia acontecido naquele quarto. “O que você disse para aquelas pessoas?” Eu desmoronei e contei a ele exatamente o que tinha acontecido, implorando seu perdão. Antes que ele pudesse responder, fomos interrompidos pela família Rodríguez, que descia os degraus do hospital. Todos me abraçaram e disseram mil coisas que não entendi. Quando eles foram, ficamos o doutor Angell e eu. “Dick, você ora em inglês ou em espanhol?”, ele perguntou gentilmente. “Inglês”, sussurrei. “Não foi isso que eles disseram. Eles louvaram a Deus pela oração maravilhosa e compassiva que você fez. Suas palavras foram simplesmente perfeitas para o momento que tiveram de ver a vovó partir. Agradeceram a Deus pela oração que você fez em espanhol perfeito.” O doutor Angell entrou no hospital e eu me sentei sozinho nos degraus sujos de barro vermelho, agradecendo a Deus por ter me enviado como estudante missionário. ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)

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O Senhor ressurgiu A RESSURREIÇÃO DE CRISTO É UMA ANTEVISÃO DO SEU RETORNO E DA NOSSA VITÓRIA SOBRE A MORTE ELLEN G. WHITE

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noite do primeiro dia da semana tinha passado lentamente. Cristo ainda era prisioneiro da Sua tumba. O selo romano estava intacto; os guardas romanos se mantinham alertas. Houvesse sido possível, o príncipe das trevas teria mantido a tumba que guardava o Filho de Deus selada para sempre. Mas poderosos anjos celestiais estavam à espera para saudar o Príncipe da vida. “E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu” (Mt 28:2). [...] Esse mensageiro era o anjo que ocupou a posição que Satanás perdeu. Quando ele afastou a pedra, parecia que o Céu descia à Terra. Os soldados o viram remover a pedra como se ela fosse um seixo e o ouviram exclamar: “Filho de Deus, sai para fora; o Teu Pai está chamando.” Eles viram Jesus sair do sepulcro e O ouviram proclamar sobre a tumba aberta: “Eu sou a ressurreição e a vida.” Ao sair em glória e majestade, a multidão de anjos O saudou com cânticos de louvor. Quando viram os anjos e o Salvador glorificado, os guardas romanos desmaiaram, ficando como mortos. Quando já não se podia ver o cortejo celestial, eles se levantaram e, cambaleantes como se estivessem bêbados, correram para a cidade e contaram a maravilhosa notícia a todos que encontraram. Eles estavam a caminho do palácio de Pilatos, mas os sacerdotes e líderes religiosos mandaram dizer-lhes que fossem se encontrar primeiro com eles. Pálidos e tremendo de medo, os soldados contaram tudo o que viram. Disseram: “O que foi crucificado era

CRISTO ROMPEU AS CADEIAS DA SEPULTURA E SAIU DA TUMBA CAMINHANDO COMO VENCEDOR

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o Filho de Deus; ouvimos um anjo proclamá-Lo como a Majestade do Céu, o Rei da glória!” [...] Ao ressuscitar, Cristo tirou do sepulcro uma multidão de cativos (ver Mt 27:52). Foram esses que deram testemunho da verdade, à custa da própria vida. Agora, eles deviam ser testemunhas Daquele que os havia ressuscitado. Durante Seu ministério, Jesus tinha dado vida a alguns mortos. Esses que foram ressuscitados não foram revestidos de imortalidade. Eles ainda estavam sujeitos à morte. No entanto, os que saíram da sepultura na ressurreição de Cristo foram ressuscitados para a vida eterna. Posteriormente, subiram com Ele como troféus da Sua vitória sobre a morte e a sepultura. Agora, os mesmos entraram na cidade e apareceram para muitos, declarando: “Cristo ressurgiu dos mortos, e nós ressurgimos com Ele.” [...] Em nosso Salvador, a vida que foi perdida por causa do pecado é restaurada. A Ele é concedido o direito de dar a imortalidade (Jo 10:10; 6:54). Para o cristão, a morte é apenas um sono, um momento de silêncio e escuridão (Cl 3:4). [...] A voz que exclamou da cruz “Está consumado!” penetrará as sepulturas e abrirá as tumbas, e os mortos em Cristo ressuscitarão. Na ressurreição do Salvador, algumas poucas sepulturas foram abertas; mas, na Sua segunda vinda, todos os queridos mortos ouvirão Sua voz e ressurgirão para uma gloriosa vida imortal. O mesmo poder que levantou Cristo dentre os mortos levantará Sua igreja acima de todos os poderes, não somente deste mundo, mas também do mundo por vir. ] Texto adaptado de O Libertador, p. 449-452. ELLEN G. WHITE (1827-1915), escritora norte-americana, exerceu o ministério profético por mais de 70 anos

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Ilustração: Boonyachoat

DOM DE PROFECIA


BEM-ESTAR

DEVEMOS APROVEITAR AS INSTRUÇÕES CONSISTENTES QUE DEUS NOS DEIXOU E TESTEMUNHAR SOBRE UMA MENSAGEM CENTENÁRIA QUE HOJE TEM RESPALDO CIENTÍFICO

TESTEMUNHO PÚBLICO A LONGEVIDADE E QUALIDADE DE VIDA DOS ADVENTISTAS TÊM FEITO COM QUE A BANDEIRA DA SAÚDE SEJA ASSOCIADA À NOSSA MENSAGEM PETER N. LANDLESS E ZENO CHARLES MARCEL

Foto: Ashwini Chaudhary

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esde seu início, a Igreja Adventista tem enxergado em sua mensagem de saúde um dos principais caminhos de testemunho ao mundo. A visão especial sobre o assunto recebida por Ellen White em 1863 fez com que a então igreja incipiente já recebesse sólida orientação de como viver melhor. Inspirados por essa mensagem, o médico John Harvey Kellogg e seu irmão, William, foram parceiros no desenvolvimento da manteiga de amendoim (1890) e dos flocos de milho para o desjejum. E muito antes de surgirem evidências médicas contra o consumo de fumo e álcool, a profetisa adventista já alertava para esses riscos. Na virada da década de 1950 para a de 1960, os adventistas também foram pioneiros na realização dos cursos antitabagistas, com o Plano Para Deixar de Fumar em Cinco

Dias, desenvolvido por J. Wayne McFarland e Elman J. Folkenberg. Por sua vez, a longevidade adventista começou a ganhar destaque na grande imprensa ­secular quando a revista Time de 28 de outubro de 1966 publicou os resultados positivos do primeiro Estudo de Saúde Adventista. O periódico chamou de “vantagem adventista” os indicadores de menor incidência de câncer e cirrose entre os membros da igreja, e a maior expectativa de vida dos adventistas (entre sete a nove anos a mais do que a população norteamericana). Esses resultados convincentes trouxeram credibilidade para a pesquisa científica que, em sua segunda fase, com 95 mil pessoas, recebeu 19 milhões de dólares do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. Em novembro de 2005, novamente a imprensa destacou o estilo de vida dos adventistas. Uma

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reportagem de capa da National Geographic enfatizou os “segredos da vida longeva”, e os adventistas de Loma Linda, na Califórnia (EUA), foram uma das cinco comunidades destacadas na matéria. Posteriormente, o autor da reportagem, Dan Buettner, lançou o livro sobre as chamadas zonas azuis, que acabou se desdobrando num projeto nacional em favor da saúde. Em 20 de fevereiro de 2009, a empresa de comunicação U.S. News & World Report, que publica vários rankings, elencou dez hábitos que ajudam a chegar aos 100 anos. Entre eles, viver como um adventista do sétimo dia. Os adventistas são descritos como aqueles que entendem o cuidado do corpo como uma expressão de adoração a Deus. Por isso, não fumam, não consomem álcool, mantêm uma dieta vegetariana equilibrada, procuram não abusar dos doces, nutrem relacionamentos familiares sólidos e se dedicam ao serviço comunitário. De fato, é muito bom viver alguns anos a mais; porém, é mais importante imitar Jesus e fazer a obra Daquele que nos enviou (Jo 9:4; Mt 28:18-20). Sendo assim, devemos aproveitar as instruções consistentes que Deus nos deixou de como viver de modo saudável, feliz e santo, e testemunhar a respeito dessa mensagem revelada há mais de um século e que hoje encontra respaldo na ciência. ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse ministério

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BOA PERGUNTA

A BÍBLIA DIZ QUE, EM ALGUNS CASOS, A PENA CAPITAL DEVERIA SER EXECUTADA COM FOGO. NÃO É MUITA CRUELDADE? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ

sistema jurídico israelita estabelecia que, em determinados delitos, o criminoso devia morrer queimado. Isso poderia ser aplicado para a filha do sacerdote que se corrompesse, tornando-se prostituta (Lv 21:9), porque sua conduta profanava a santidade do seu pai; e para com o homem que se casasse com uma mulher e a mãe dela. Nesse caso, os três deviam ser queimados no intuito de remover a imoralidade entre o povo (Lv 20:14). Quando Judá foi informado de que Tamar, sua nora, era prostituta, ele determinou que ela fosse queimada (Gn 38:24). A seguir, apresento duas informações que podem ser úteis para a compreensão dessa legislação: 1. Acã, fogo e pedras. A narrativa sobre Acã, que violou a lei da “exterminação” (no hebraico, cherem), é particularmente esclarecedora. Após a vitória dos israelitas sobre a cidade de Ai, Josué orou ao Senhor pedindo orientação (Js 7:7-9). Deus o informou que alguém havia quebrado a aliança se apropriando indevidamente do que pertencia exclusivamente a Ele (v. 11). A instrução divina foi que, assim que o culpado fosse identificado, ele devia ser queimado com tudo o que tivesse (v. 15). Surpreendentemente, quando Acã foi identificado e a penalidade aplicada, o relato acrescenta algo: ele e sua família foram apedrejados antes de ser queimados (v. 25). Ou seja, as pessoas eram completamente queimadas (assim como as ofertas, Lv 4:12, 6:23) depois que já estavam mortas. 2. Fogo e prostituição. Outro exemplo vem da punição por acusações de prostituição. Jerusalém

O

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica

AO QUE PARECE, AS PESSOAS ERAM COMPLETAMENTE QUEIMADAS DEPOIS QUE JÁ ESTAVAM MORTAS

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Foto: Adobe Stock

MORTE NA FOGUEIRA

era a esposa do Senhor que se prostituiu por meio de idolatria e alianças políticas com outras nações (Ez 16 e 23). Como punição, ela seria apedrejada até a morte e esquartejada por seus amantes, que, então, queimariam a cidade (Ez 16:40, 41; 23:47). Embora o texto não diga especificamente que a mulher infiel era queimada, o apedrejamento é seguido pela destruição da cidade com fogo, tendo Jerusalém personalizada como uma mulher. 3. Fogo e Babilônia. O veredito divino contra a cidade escatológica de Babilônia, caracterizada por sua imoralidade e alianças com os reis da Terra (Ap 18:3), é claramente apresentado em Apocalipse. Ela será morta pelas pragas (v. 8), para depois ser queimada. Em Apocalipse 17, Babilônia é representada por uma prostituta, que as nações “levarão à ruína e a deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com fogo” (Ap 17:16). Ter o corpo devorado foi o tipo de morte profetizado contra a rainha Jezabel (2Rs 9:36, 37). No caso da Babilônia apocalíptica, seus restos mortais serão consumidos pelo fogo. Esse foi o mesmo destino previsto para o poder insolente (chifre) que se levanta contra Deus na visão de Daniel 7 (v. 11). Em resumo, o sistema jurídico que penaliza alguns crimes com morte pelo fogo é usado para ilustrar a vitória final sobre os poderes do mal. Em outras palavras, não sobrará nem raiz nem ramo do mal (Ml 4:1). Portanto, ao que parece, no sistema jurídico de Israel, a exterminação do corpo com fogo era precedida pela morte do criminoso. ]


NOVA GERAÇÃO

MEL E SANDÁLIAS O

clima extremamente quente foi o assunto principal das conversas o dia todo. Fosse em português ou em espanhol (em sete sotaques diferentes), todos reclamávamos da mesma coisa enquanto caminhávamos entre as barracas. Foi no banho, hora aguardada no acampamento, que me encontrei com cinco garotas ensaboadas e, de repente, descobri uma história para contar. “Quantas horas você viajou?”, perguntaram as meninas em português, certas de que eu compreendia seu idioma. “Trinta e seis”, respondi, sentindo-me um pouco arrogante. “E vocês?”, perguntei num português pobre. “Viajamos mais de 80 horas. Três dias de barco, dois de avião e muitas horas em um ônibus”, responderam as garotas com entusiasmo. Quando perceberam meu espanto, elas se animaram a me contar mais. “Tivemos que trabalhar muito duro por dois anos. Vendemos mel, sandálias e muitas outras coisas. Quando uma de nós alcançava o valor necessário, ajudávamos as outras a fazer o mesmo.”

Foto: Arquivo pessoal

NÃO IMPORTA A DISTÂNCIA DE NOSSA VIAGEM, O IMPORTANTE É EMBARCARMOS NELA

O QUE APRENDI COM ALGUMAS GAROTAS DA REGIÃO AMAZÔNICA QUE SE ESFORÇARAM MUITO PARA PARTICIPAR DO CAMPORI SUL-AMERICANO CAROLINA RAMOS

Eu fiquei impressionada com a história delas. Emocionadas, elas então desfrutavam do resultado de seu esforço. Conversamos um pouco mais e logo um grupo se formou com desbravadoras de vários países. Éramos parte dos 50 mil participantes do 5º Campori Sul-Americano, realizado em Barretos (SP), no mês de janeiro. Pensei um pouco que não importava de onde tínhamos vindo, todas ali precisávamos de água e de um bom banho. No fim das contas, como seres humanos, tínhamos as mesmas necessidades. Olhar para o que temos em comum nos ajuda a cruzar as barreiras que nos separam, fazendo com que ouçamos as histórias de outros a quem Jesus veio salvar. No fundo, não importa a distância de nossa viagem, o importante é embarcarmos nela. Sempre haverá dificuldades e obstáculos. Pode parecer que outros atingem mais rapidamente seu alvo ou precisam fazer menos para obter o mesmo resultado. Tudo bem! Nosso Deus é um Salvador pessoal. Ele não está preocupado com as comparações que fazemos, porque é capaz de prover tudo de que individualmente precisamos (Fl 4:19). Manter o foco em Jesus nos ajuda a caminhar na mesma direção, olhar para o mesmo ponto fixo quando oramos, estudar Sua palavra em submissão, observar Suas digitais na natureza e nos comprometer em conduzir outros até Ele. A salvação é uma questão de fé, mas devemos nos lembrar de que nossas ações e testemunho podem ser uma bênção para outros, mesmo que isso signifique vender mel e sandálias para participar de um grande acampamento. Por isso, devemos perseverar, a fim de receber o que Deus prometeu. “Pois em breve, muito em breve Aquele que vem virá, e não demorará” (Hb 10:35-39, NVI). ] CAROLINA RAMOS é estudante de tradução, inglês e educação musical na Universidade Adventista del Plata, na Argentina

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O BILHETE DA FLORICULTURA

UM CARTÃO FEZ DIFERENÇA NA VIDA DE UM GAROTO COM LEUCEMIA MERLE POIRIER

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ocê sabia que existem muitas pessoas solitárias? Até mesmo em meio à multidão ou rodeado de colegas, existem aqueles que se sentem sozinhos por dentro. Geralmente, essas pessoas estão cercadas por outras, mas não têm com quem conversar, alguém com quem possa sentar-se, ouvir e gastar tempo com elas. Jesus nos diz que devemos cuidar dos outros. E muitos pensam que podem fazer isso doando alimentos e roupas que não lhes servem mais. Porém, talvez Jesus esteja pedindo para irmos além, mostrando de alguma forma que essas pessoas são importantes para nós. Douglas Maurer, de 15 anos, foi diagnosticado com leucemia, um tipo de câncer. Seus médicos explicaram para ele o que era sua doença e como seriam os três anos de quimioterapia. Disseram-lhe

Vários médicos e enfermeiras haviam tentado animá-lo, mas foi a funcionária da floricultura que fez a diferença na vida de Douglas

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que perderia o cabelo e que seu corpo ficaria inchado, mas também disseram que acreditavam na sua cura. No entanto, Douglas sabia que o que estavam dizendo é que ele também podia morrer. E isso deixou o menino tão triste que parecia que ninguém conseguiria animá-lo. Sua tia soube de sua tristeza e ligou para uma floricultura. “Por favor, faça um buquê bem colorido e alegre”, disse ela à vendedora. As flores lindas chegaram para ele. Douglas olhou para elas e leu o cartão de sua tia, mas ele não sorriu. Então, percebeu um segundo cartão. Ao abrir, leu a seguinte mensagem: “Douglas, fui eu que anotei o pedido, pois trabalho na floricultura Brix. Tive leucemia aos 7 anos de idade e hoje estou com 22. Boa sorte! Meu coração estará junto do seu. Sinceramente, Laura Bradly.” Pela primeira vez, desde que recebeu o diagnóstico, o rosto de Douglas ficou iluminado. Pela primeira vez, desde que havia chegado ao hospital, ele ficou feliz. Vários médicos e enfermeiras haviam tentado animá-lo, mas foi o bilhete da moça da floricultura, que gastou seu tempo para escrever aquele cartão, que fez toda a diferença para ele. Nós também podemos fazer a diferença. Com quem nos sentamos? Com quem podemos conversar? Quem pode nos contar suas histórias? Um amigo? Um dos avós? Um vizinho? Encontre alguém hoje, e faça a diferença! ] Publicado originalmente na revista Kids View (kidsview.com) de janeiro de 2019. MERLE POIRIER é gerente de operações da revista Adventist World

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Ilustração: Xuan Le

PRIMEIROS PASSOS


PERSPECTIVA

MÃO NA MASSA

ECOLOGICAMENTE CORRETO

OS ADVENTISTAS ESTÃO LEVANDO A SÉRIO A MORDOMIA DO MEIO AMBIENTE?

Padrões de gerenciamento como o ISO 14000 permitem que as organizações identifiquem, modifiquem ou controlem a maneira como sua atividade afeta o ambiente. Membros e igrejas também podem ser incentivados a:

RICHARD DE LISSER

▪ Ensinar as gerações futuras a pensar sobre a preservação do meio

Foto: Benjamin Voros

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reio que os adventistas em todo o mundo estejam preocupados com o meio ambiente. Expressões como mudanças climáticas, aquecimento global e emissão de carbono são a “dieta básica” de muitos editores de notícia ao prepararem os jornais para o consumo diário. As manchetes chamam nossa atenção e nos fazem pensar: haverá um planeta viável para nossos filhos e netos? Se os profetas da catástrofe estiverem certos, a humanidade terá que procurar transpor novas fronteiras para garantir sua sobrevivência. Fala-se em colonização da Lua ou de Marte. Enquanto isso, líderes políticos, cientistas e religiosos convocam conferências, emitem declarações conjuntas e estabelecem alvos para livrar o mundo do desastre, pedindo que a população pense globalmente, mas aja localmente. Qual organização religiosa teria melhores condições de levantar essa bandeira? Uma de nossas 28 crenças fundamentais é a mordomia. Essa doutrina nos lembra que Deus nos colocou R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2019

ambiente.

PARA NÓS, PRESERVAÇÃO AMBIENTAL TEM QUE VER COM SERVIÇO A DEUS

▪ Valorizar a biodiversidade que temos agora no planeta. ▪ Trabalhar em conjunto com as agências que estão protegendo a natureza. ▪ Reduzir, reciclar e reutilizar. ▪ Aprender com a natureza como o livro-texto da vida. ▪ Melhorar a eficiência energética de

neste planeta como Seus representantes, a fim de que cuidemos de tudo o que Ele criou. Para nós, preservação ambiental tem que ver com serviço a Deus. Isso é ratificado por documentos da igreja. Um deles aponta que os problemas ambientais “se devem, em grande parte, ao egoísmo e à ganância do ser humano, que sempre busca obter mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do esgotamento de recursos não renováveis. A causa da crise ecológica está na ganância humana e na opção de não praticar a boa e fiel mordomia dentro dos limites divinos da criação”. É por essa razão que o

nossas casas, igrejas e instituições. ▪ Ser equilibrados em tudo que fazem, adotando um estilo de vida simples.

documento insiste com os adventistas, declarando que eles devem defender e adotar “um estilo de vida simples e saudável”, que as pessoas não participem “da rotina do consumismo desenfreado, do acúmulo de bens e da produção exagerada de lixo” (Declarações da Igreja, CPB, 2012, p. 55). ] RICHARD DE LISSER é presidente da Igreja Adventista para o sul da Inglaterra

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IGREJA

EXPLOSÃO NUMÉRICA Região centro-leste da África ultrapassa a marca dos 4 milhões de adventistas PRINCE BAHATI

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Com sede em Nairóbi, no Quênia, a Divisão Centro-Leste Africana abrange atualmente 11 países. Segundo os líderes da igreja nessa parte do globo, o crescimento tem sido resultado da maior participação dos membros na missão, motivada pelo programa Envolvimento Total dos Membros. A iniciativa da igreja mundial tem o objetivo de fazer com que as pessoas se envolvam no trabalho de compartilhar Jesus com seus amigos e vizinhos. Embora o número de novos adventistas seja uma conquista sem precedentes na história da Igreja Adventista do Sétimo Dia no continente africano, Coralie contrabalançou as boas-novas com o fato de a igreja também ter perdido 40

quase 150 mil membros no mesmo período. Simplificando, para cada 100 membros que se uniram à igreja, cerca de 15 decidiram sair. Porém, essa realidade não tem passado despercebida aos olhos da liderança da igreja. “O crescimento do número de adventistas nos faz sorrir, mas as perdas são decepcionantes”, afirma o pastor Blasius Ruguri, presidente da ­Divisão Centro-Leste Africana. Durante a apresentação do relatório aos integrantes do Comitê Executivo da igreja na região, Coralie pediu aos líderes e membros que permitam que o amor de Cristo os impulsione a fim de que eles não poupem esforços para resgatar aqueles que deixaram a igreja. Ele

Em 2016, ao fim de uma campanha evangelística, cerca de 100 mil pessoas foram batizadas em Ruanda, um dos países que compõem esse território

também desafiou os delegados a compartilhar estratégias para nutrir e reter as novas pessoas que aceitam a mensagem adventista. “Nutrir e discipular não devem ser reflexões tardias”, ele enfatizou. O relatório foi concluído com a apresentação do Sistema de Gerenciamento da Igreja Adventista (ACMS). Ele elogiou o mecanismo de gerenciamento de membros e disse que a implantação do sistema pelas igrejas locais permitirá gerar informações com um nível mais alto de precisão e confiabilidade. “Pela fé, vamos avançar com um compromisso renovado com nossa visão”, terminou o secretário executivo da Divisão Centro-Leste Africana. ] PRINCE BAHATI é líder do departamento de Comunicação da Divisão Centro-Leste Africana

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Foto: Adventist World

ela primeira vez na história, o número de membros batizados da Igreja Adventista do Sétimo Dia no território da Divisão Centro-Leste Africana (ECD) passou de quatro milhões. O novo relatório apresentado pelo secretário executivo da igreja na região, Alain Coralie, mostrou que, nos últimos três anos, a igreja ganhou quase um milhão de membros (981.027). Se em 2015 havia 3.116.320 adventistas lá, hoje são 4.097.347. Isso representou uma taxa de crescimento de 31,5% no período (mais de 10% ao ano).


COMUNICAÇÃO “Estamos aqui para servir, para usar nossa voz a fim de apoiar as iniciativas missionárias da igreja”, justificou o pastor Williams Costa Jr., no encontro que reuniu 600 profissionais de comunicação, tecnologia e da ADRA na Jordânia

INTEGRAR PARA SERVIR

Encontro global discute como alinhar estratégias evangelísticas que envolvam comunicação e tecnologia MÁRCIO BASSO GOMES

om cerca de 9,5 milhões de habitantes, a Jordânia tem a segunda taxa mais alta de refugiados do mundo, ficando atrás apenas do Líbano. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados (ACNUR), o país tem 89 refugiados para cada mil habitantes, a maioria deles da Síria. Apesar da falta de florestas, de possuir terra árida e recursos naturais limitados, a nação é sinônimo de convívio pacífico entre religiões, bom índice de alfabetização e de expectativa de vida. Seu nome deriva de uma das maiores fontes hídricas da região, o rio Jordão, curso de água mencionado em muitas histórias bíblicas, inclusive no batismo de Jesus. Foi nesse contexto e espírito, às margens do Mar Morto, na cidade de Sweimeh, que teve lugar a edição de 2019 do GAiN (Global Adventist Internet Network) nos dias 25 a 28 de fevereiro. O principal encontro sobre comunicação e tecnologia da Igreja Adventista reuniu

Foto: GAIN

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600 profissionais dessas áreas e, pela primeira vez, líderes e funcionários da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais). Integrar outras instituições e áreas da denominação nos encontros é um dos objetivos do pastor Williams Costa Jr., diretor mundial de comunicação da igreja e organizador do evento. “Estamos aqui para servir, para usar nossa voz a fim de apoiar as iniciativas missionárias da igreja”, justificou Costa Jr. O ideal de servir ao mundo deu o tom do GAiN. Sob o slogan “20 for 7 – finding our voice”, a ênfase do encontro foi que os mais de 20 milhões de adventistas são chamados a servir os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta. “Se você não fala como uma só voz, você não será ouvido. Essa é parte mais importante da missão”, ressaltou o pastor Samuel Neves, diretor associado do departamento de comunicação da igreja, ao reforçar a importância do alinhamento das ações. Pela manhã, os participantes assistiram aos devocionais e palestras gerais, que abordaram temas como tecnologia de realidade virtual para estudos bíblicos, gestão de crise, marketing digital e relatórios do trabalho da igreja ao redor do mundo. Na parte da tarde, foi possível escolher o que acompanhar, desde treinamentos específicos sobre uso de equipamentos e construção de narrativas até as reuniões anuais da Hope Channel e da Rádio Mundial Adventista. Outra novidade do GAiN 2019 foi o prêmio Convergence (Convergência). Três iniciativas foram premiadas: o Festival de Cinema Sonscreen, criado em 2002 nos Estados Unidos; o filme Libertos, produzido pela sede sul-americana da igreja para o programa de Semana Santa de 2018; e o projeto Fathers (Pais), uma iniciativa em vídeo, áudio e livro produzida por profissionais de 15 países, que discute a relação entre pais e filhos em seis diferentes culturas. Por fim, foi anunciado o primeiro programa de doutorado em comunicação e ministério da Igreja Adventista, que será oferecido a partir de 2020 na Universidade Andrews. Em virtude da assembleia mundial da igreja no próximo ano, em Indianópolis (EUA), o GAiN de 2020 será on-line (palestras de edições anteriores estão disponíveis em gain. adventist.org). ] MÁRCIO BASSO GOMES é jornalista (com informações de Marcos Paseggi, Felipe Lemos e Ana Paula Ramos)

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EVANGELISMO

CONHECER DE PERTO

Cooperação entre a Novo Tempo e a igreja tem aperfeiçoado o atendimento aos interessados em estudar a Bíblia LUCAS NASCIMENTO E THAYS SILVA

anessa se preparava para ir trabalhar. Naquela ocasião, o divórcio, o retorno à faculdade, o começo em um novo emprego e o filho, de apenas dois anos, eram preocupações que sondavam sua mente. Enquanto se arrumava, fez algo que não era comum para ela: ligou a televisão e “zapeou” pelos canais. Naquela manhã de sábado de 2012, Vanessa Cassimiro conheceu a TV Novo Tempo.

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A partir de então, o que era incomum se tornou um hábito: sempre que podia, ela buscava no Canal da Esperança mensagens que foram acalentando seu coração e mudando sua vida. Vanessa procurou uma igreja, porém não continuou frequentando. Todavia, seu contato com a Bíblia foi fortalecido através dos estudos que ela solicitou à TV Novo Tempo. Embora buscasse colocar em prática os ensinamentos bíblicos, foi só em 2018 que ela preencheu um formulário na internet informando que queria ser batizada. Decidida, ela foi novamente a uma igreja, foi acolhida e visitada por um líder local. Em seguida, recebeu o contato da Novo Tempo convidando-a para ser batizada. 42

Histórias como a de Vanessa evidenciam a importância de acompanhar de perto as pessoas que conhecem a mensagem da Bíblia através da Rede Novo Tempo. Essa tem sido a preocupação da Escola Bíblica, que mantém contato com pessoas que assistem ou ouvem conteúdo de toda a rede. De acordo com o pastor Antonio Tostes, diretor da Rede Novo Tempo de Comunicação, as pessoas necessitam não apenas receber a Palavra, mas também ser abraçadas. “Elas precisam fazer parte de uma comunidade e, por isso, é importante que, além de conhecer nomes e endereços, a igreja vá ao encontro dessas pessoas”, enfatizou. O pastor Tostes acrescenta que o DNA da Novo Tempo é ensinar

a Bíblia. “Nós não somos um centro de mídia que tem uma escola bíblica. Nós somos uma grande escola bíblica que tem um centro de mídia para evangelizar por meio da TV, do rádio e da internet”, ele reforça. Essa mesma visão é compartilhada pela liderança da Igreja Adventista. O Ministério Pessoal, departamento que mobiliza os membros das igrejas em ações missionárias, e a Escola Bíblica estão fortalecendo sua cooperação para atender melhor os interessados. Líderes de ambas as áreas se reuniram na sede da Rede Novo Tempo, em Jacareí (SP), nos dias 7 a 10 de março para uma capacitação pioneira que mostrou a necessidade de tornar mais eficaz e frequente o contato direto e presencial com as pessoas. Segundo o pastor Herbert Boger Jr., líder sul-americano do Ministério Pessoal, esse é o momento de dedicar atenção especial aos interessados no estudo da Bíblia. Para ele, “a pessoa que entra no site, faz o cadastro e pede um estudo já demonstra que tem muito interesse em conhecer mais”. É preciso atender essas pessoas o mais rapidamente possível. “Metade das pessoas espera um retorno em menos de 60 minutos. Se demorarmos mais do que isso, a pessoa pode perder o interesse”, explicou Boger. A Escola Bíblica apresentou ainda uma novidade: será lançado um aplicativo para facilitar que o interessado receba a visita de alguém que possa oferecer estudos bíblicos. “Com a chegada da Escola Bíblica Digital vamos estar mais próximos das pessoas. Vamos dar à igreja uma facilidade de encontrar as pessoas para fazer um atendimento mais pessoal”, explicou o pastor Arilton Oliveira, gerente da Escola Bíblica da Rede Novo Tempo. ] LUCAS NASCIMENTO é repórter do programa Revista Novo Tempo; THAYS SILVA é produtora na emissora adventista

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Foto: Kleiton Pieper

Vanessa Cassimiro, que conheceu a mensagem adventista através da TV Novo Tempo, foi batizada pelo pastor Arilton Oliveira, diretor da Escola Bíblica, durante o evento realizado na sede da emissora, em Jacareí (SP)


LITERATURA

OS MEIOS MUDAM, MAS A MENSAGEM NÃO Editores do Brasil e da Argentina discutem sobre desafios comuns e como ampliar o alcance das publicações adventistas MÁRCIO TONETTI

e comparássemos uma fotografia pessoal de dez anos atrás e outra atual, provavelmente não iríamos notar tantas diferenças. Mas, se colocássemos lado a lado dois retratos da sociedade, perceberíamos que o mundo mudou muito. Foi para discutir como lidar com as transformações contemporâneas no ministério editorial que um grupo de quase 70 servidores das duas editoras adventistas sul-americanas (CPB e ACES) se reuniu na sede continental da Igreja Adventista em Brasília (DF), nos dias 21 a 23 de março. O tema do 4º Encontro Sul-Americano de Editores foi “A Palavra Eterna em uma Sociedade em Mudança”. “De um lado, temos um mundo em processo de profundas transformações, e precisamos ser sensíveis a essa realidade. De outro, há um Deus inabalável e Sua Palavra eterna, os quais devem fundamentar nossa visão e pautar nossos escritos”, sintetiza o pastor Marcos De Benedicto, editor-chefe da CPB. As palestras proferidas no encontro se desdobraram em duas principais direções. Uma delas tem que ver com a forma. Hoje as pessoas estão consumindo cada vez mais informações nas plataformas digitais. Por isso, a igreja reconhece que precisa ir além da mídia impressa para alcançar seu público. Embora o mercado de livros físicos ainda esteja em alta, é fato que o segmento de revistas está em crise, o que tem levado até mesmo grandes editoras seculares a tirar títulos de circulação, como expôs o pastor Diogo Cavalcanti, editor da CPB. O evento dedicou também tempo para refletir sobre o conteúdo. Em uma de suas apresentações, Gerald Klingbeil, editor associado da Adventist Review, ressaltou que as publicações adventistas devem se preocupar com a relevância, mas manter a voz profética.

Foto: Márcio de Oliveira

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Encontro em Brasília (DF), em março, ofereceu palestras, workshops e painéis sobre o ministério editorial

Ao falar sobre a necessidade de contextualização, Bill Knott, editor executivo do mesmo periódico e da Adventist World, fez uma ponderação adicional: “existe o risco de tornar a história secundária mais importante do que a principal”. Por sua vez, os teólogos Alberto Timm e Artur Stele tocaram em questões que possivelmente continuarão desafiando o adventismo nos próximos anos, como autoridade da igreja, polarização, evolucionismo, consumismo e perfeccionismo, além de novas correntes de interpretação da Bíblia e padrões de sexualidade e família. Ao mesmo tempo que se falou na importância de ter uma abordagem equilibrada, evitando temas polêmicos e sensacionalistas, discutiu-se a necessidade de oferecer respostas sólidas sobre questões contemporâneas e tornar mais transparente a comunicação sobre os problemas internos na igreja. Conforme disse Bill Knott, “se fizermos bem o nosso trabalho, vamos minimizar a importância da mídia alternativa”. O pastor Erton Köhler, líder sul-americano da denominação, ressaltou que aqueles que trabalham com as sagradas letras produzem basicamente o único alimento espiritual que membros e pastores adventistas recebem regularmente. Assim, ele aconselhou que as editoras sejam abrangentes nas publicações, equilibrando o lançamento de livros leves e mais densos, obras que vendem mais com as que vendem menos, e os materiais que tratam de temas gerais com os que abordam pontos específicos da nossa fé. A possibilidade de reunir editores das duas instituições da igreja a cada três anos permite ver que há desafios comuns a ser enfrentados e discutir soluções conjuntas para esse ministério que tem acompanhado a história do movimento adventista. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista

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LOGOS

UMA BÊNÇÃO PARA O FARAÓ FELIPE CARMO

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instituição da Páscoa emerge de forma inaugural no Êxodo. O leitor atento perceberá a costura de pelo menos dois gêneros literários em 12:1–13:16: uma narrativa emoldurada pelo ímpeto de um regulamento. É como se o autor não fizesse distinção entre legislação e história. Com isso, o leitor que se depara com essa porção não sabe distinguir entre o que Deus relata e o que Ele demanda, o que é memória e o que é mandamento, o que é história e o que é liturgia. Esse detalhe já foi percebido por alguns estudiosos da Bíblia Hebraica que, à sua maneira, explicam o motivo da intersecção dos estilos. Entre eles, podemos citar Lesleigh C. Stahlberg (“Time, Memory Ritual, and Recital: Religion and Literature in Exodus 12”, Religion & Literature v. 46 [2014], p. 75-94) e Gary A. Rendsburg (“The Literary Unit of Exodus Narrative”, em “Did I Not Bring Israel out of Egypt?” [Eisenbrauns, 2016], p. 113-132). O texto é introduzido com a fala do “Senhor a Moisés e Arão” (12:1) e segue até o verso 28 como um conjunto de normas estipuladas para a recepção da Páscoa, isto é, para a celebração da libertação do Egito. Em 12:28-41, o texto retoma o estilo da narrativa costumeiro de Êxodo relatando o envio da décima praga contra o Egito e, em seguida, a saída dos israelitas. Novamente, a voz do Senhor irrompe no texto de maneira inesperada (12:42), outra vez detalhando, em forma de preceito, a relação do leitor com o evento histórico. Finalmente, a porção 12:42–13:16 44

delineia mais algumas obrigações para a celebração da Páscoa e repete outras anteriormente mencionadas. A partir de Êxodo 13:17, a história segue o fluxo narrativo característico do livro. EXIGÊNCIA LEGAL É evidente que, na união de tais estilos, o autor dessa porção não introduz a Páscoa como um evento que deve ser meramente relembrado, mas exigido no presente. A utilização de expressões como “este mês”, “nesse mesmo dia” ou “esta noite se observará”, antes da estipulação de uma ordenança, se confunde com o tom nostálgico da narrativa, que é basicamente elaborada como uma ação concretizada no passado (“aconteceu”). A ênfase, contudo, está na inflexão jurídica do texto. Conforme explica a biblista escocesa Avivah G. Zornberg, em The Particulars of Rapture (Doubleday, 2001, p. 172), “o principal evento da noite não foi essencialmente narrado. O que temos é a previsão de Deus sobre a narrativa noturna enquadrada em linguagem judicial”. A libertação dos israelitas submerge nas estipulações divinas, e a história se torna liturgia para ser revivida. Essa estipulação deveria definir a identidade de Israel dali em diante. Como “registro” (12:14a), a Páscoa está fincada para sempre no solo da história como evidência da salvação (ver Js 4:7). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

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A PARTICIPAÇÃO DO ESTRANGEIRO NA PÁSCOA REVELA A ATITUDE INCLUSIVA DE DEUS


Contudo, ela também representa uma “recordação do futuro”, justamente por ser observada como estatuto “eterno” (Êx 12:14b). O próprio Deus menciona o futuro como algo que já ocorreu na expressão “porque neste mesmo dia eu retirei”, antes da libertação do Egito. Essa tensão temporal entre o passado, o presente e o futuro transforma a história em ritual, isto é, em padrão que se repete; a ordenança reforça a realidade do evento concretizado e a veracidade de outros ainda por vir. De uma perspectiva literária, a Páscoa não é um mero acontecimento, mas um regulamento perpétuo para todos os israelitas. Ela não faz parte da história apenas; é parte da conduta moral de Israel. Todas as outras pragas anteriores são história, registro. Mas a última praga, a experiência da libertação, é uma exigência legal. Aquele que não a cumprisse da maneira correta seria “eliminado de Israel” (ver 12:15, 19). Conforme lemos nos comentários rabínicos, portanto, é preciso experimentar a Páscoa para tornar-se israelita: “em todas as gerações, que cada pessoa se considere como se tivesse saído do Egito” (­Mishnah, Pesah.im 10:3). A Páscoa, assim, é um estatuto atemporal que define a experiência e a identidade do israelita. Essa ideia encontra paralelo nas observações do biblista nova-iorquino Robert B. Alter, em The Hebrew Bible (W. W. Norton & Company, 2018, p. 1186 e 1196): “o ritual da Páscoa, que comemora a história, é a promulgação cultural de filiação na nação”; “a história [da Páscoa] codifica a própria essência e lógica da existência nacional israelita”. Por isso, o texto bíblico diz: “Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: é o sacrifício da Páscoa ao Senhor que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os e ­ gípcios e livrou as nossas casas” (12:27). Entretanto, o caráter nacional da comemoração pascoal parece exigir a inevitável exclusão do outro, do diferente, do forasteiro. Por possuir a conotação de experiência nacional, o texto sugere que a Páscoa não seja um evento para estranhos: “nenhum estrangeiro comerá dela” (12:43b; ver 12:19). Se este, porventura, desejasse participar da festividade, deveria ser circuncidado para a ocasião (ver 12:44-49) – e isso também era imposto a qualquer suposto israelita não circuncidado. Mas essa proibição talvez possa ser compreendida melhor no seu contexto literário, já que essa leitura pode soar de forma discriminatória ou separatista. Logo no início de Êxodo há um “prenúncio” da décima praga nas palavras de Deus ao faraó em 4:23: “deixa ir Meu filho, para que Me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que Eu matarei teu filho, teu primogênito.” Em seguida, o Senhor ameaçou de morte o primogênito de Moisés, Gérson, um estrangeiro; mas este foi salvo por sua mãe, Zípora, que tomou uma pedra e o circuncidou, poupando-lhe a vida (4:24-26). Note que Deus anunciou a morte dos primogênitos egípcios e salvou a vida de um estrangeiro por meio da circuncisão.

EM CRISTO, O CORDEIRO DA PÁSCOA, TODOS SÃO CONVIDADOS A PARTICIPAR DA CELEBRAÇÃO FUNDANTE DA RELIGIÃO ISRAELITA PARA SEMPRE

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EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA Essa narrativa cria um intertexto com o evento posterior, em que o sangue dos primogênitos de Israel é poupado à custa do sangue do cordeiro, assim como o sangue de Gérson é poupado pelo da circuncisão. À semelhança de Zípora, que “lançou” o prepúcio de Gérson aos pés de Moisés (4:25), os israelitas “lançaram” o pincel às portas, para pintá-las com o sangue do sacrifício (12:22). A utilização do mesmo verbo foi proposital para a criação do intertexto: o sangue de Gérson, o estrangeiro, prenunciava o sacrifício pascoal dos israelitas, unindo assim a experiência de ambos, como ressalta Alter (p. 1183). Por isso, a vivência do filho de Moisés como estrangeiro não diz respeito apenas a ele. Ela rememora a experiência dos próprios israelitas no Egito: o seu nome (Gershom) é a união de dois termos, ger (“estrangeiro”) e sham (“lá”), significando, nas palavras de Moisés, “sou peregrino em terra estranha” (2:22). Esse detalhe faz ecoar a importante ideia de que o sentimento de inadequação do estrangeiro também foi experimentado pelos israelitas: eles conhecem o “coração do estrangeiro” (23:9) e, por isso, não deviam afligi-lo (22:21). Ao contrário, eles deviam amá-lo como amavam a si mesmos, porque eles também haviam sido estrangeiros no Egito (ver Lv 19:34). Dessa perspectiva, a experiência da Páscoa é compartilhada por todos os assim chamados “peregrinos” ou “ex-peregrinos” em terra estranha, em virtude de sua emancipação, no passado, no presente e no futuro. Essa experiência não se resume à história; ela é uma ordenança a todos os que pretendem fazer parte do corpo de Cristo. Em Jesus Cristo – e não mais na circuncisão nem no sacrifício pascoal – a exigência do sangue se concretiza, respondendo à necessidade do judeu e do grego, do hebreu e do estrangeiro (ver Ef 2:11-19; 3:6). Isso significa que não mais somos “forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus” (Ef 2:19). Em Cristo, o Cordeiro da Páscoa, todos são convidados a participar da celebração fundante da religião israelita para sempre. Ela deve, se possível, ser estendida ao próprio faraó, que, na desesperança de sua situação diante da última praga, rogou aos israelitas que seguissem o seu caminho, dizendo: “ide-vos embora e abençoai-me também a mim” (12:32). ] FELIPE CARMO, mestre em Estudos Judaicos pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de ensino religioso no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)

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INSTITUCIONAL

ADORAÇÃO É MISSÃO

O TESTEMUNHO CRISTÃO TEM COMO BASE O RECONHECIMENTO DE QUEM DEUS É, ASSIM COMO A EXPERIMENTAÇÃO DA SALVAÇÃO QUE ELE OFERECE HERBERT BOGER

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A CONEXÃO ENTRE ADORAÇÃO E MISSÃO ESTÁ PRESENTE NA PRIMEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS ADVERTÊNCIAS DE DEUS PARA A HUMANIDADE o eunuco enxergou nas Escrituras que Jesus era o Cristo e rendeu-se ao Seu senhorio, ele foi batizado por Filipe. A oferta da viúva pobre também pode nos ensinar algo sobre esse tema (Mc 12:41-44). O relato nos indica que Jesus observa os fiéis adoradores e reconhece a fidelidade deles. A adoração da viúva foi para demonstrar gratidão a Deus, e não para agradar os líderes religiosos. Segundo Ellen White, aquela pobre mulher não imaginou que seu gesto simples e discreto ficaria registrado na Bíblia e inspiraria cristãos do mundo todo “a manter missões, a estabelecer hospitais, a alimentar os

famintos, vestir os nus, curar os doentes e pregar o evangelho aos pobres” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 310). Termino com a experiência de Paulo e Silas na prisão. Embora em circunstância muito desfavorável, eles adoraram a Deus no cárcere, louvando-O mesmo depois de terem sido espancados. Como destacou Ellen White, eles haviam aprendido a encontrar alegria “no sofrer por amor da verdade” (­Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 423). A atitude de adoração de Paulo e Silas naquela noite salvou a vida do carcereiro e de toda a sua família (At 16:30-33). Um oficial influente, uma frágil viúva e uma dupla de missionários nos ensinam que, quando nos deparamos com quem Deus é e o que Ele faz em nós, não há outra alternativa a não ser compartilhar o que experimentamos. ] HERBERT BOGER é pastor e diretor do Ministério Pessoal da sede sul-americana da Igreja Adventista

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doração a Deus e compromisso com Sua missão estão intimimamente relacionados. É isso que nos mostra vários textos e experiências relatadas na Bíblia. Em Apocalipse 14:6 e 7, por exemplo, a primeira das últimas três mensagens de advertência ao mundo conecta a devoção Àquele que “fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” ao “evangelho eterno” que deve ser proclamado. A adoração em espírito e em verdade (Jo 4:23-24; 39-42) transborda do adorador para outros. A razão da adoração é a imersão na graça, no perdão e na salvação de Jesus. Por isso, ela não pode ficar contida no coração, mas precisa ser compartilhada. Aqueles que buscam e encontram o Senhor tornam conhecidos os Seus feitos (Sl 105:1-3). “Adoração tem tudo a ver com Deus, com o compromisso com Ele e com dar-Lhe valor, honra, glória e devoção”, define o teólogo S. Joseph ­Kidder (Adoração Autêntica, CPB, 2012, p. 9). Essa adoração é renovada nos dias de culto na igreja e ampliada fora do templo, quando andamos com Jesus a cada dia. Pois tudo o que fazemos deve glorificar a Deus (1Co 10:31). A seguir, destaco três relatos bíblicos em que fica clara a conexão entre adoração e missão. Começo pelo etíope, mordomo da rainha Candace (At 8:27 e 28). Ele tinha ido a Jersualém para adorar e, sendo um homem de grande influência, Deus viu que, caso ele se convertesse, testemunharia fortemente do evangelho. Conforme comentou Ellen White, o Senhor comissionou anjos e o próprio Filipe para ­g uiá-lo à luz (Atos dos Apóstolos, p. 107). Depois que


MEMÓRIA

Alice Fuckner, aos 97 anos, vítima de parada cardíaca. Natural de Mococa (SP), foi membro de igrejas nas cidades paulistas de Taubaté e Tremembé. Gostava de entregar folhetos. Viúva de Germano Fuckner, teve cinco filhos (um já falecido) e deixa 11 netos e 21 bisnetos. Ana Alexandrina Neta Mandu, aos 81 anos, em Maringá (PR), vítima de câncer. Sempre foi um exemplo de fidelidade a Deus. Era membro da Igreja de Doutor Camargo (PR). Deixa o esposo, José, 12 filhos, 11 netos e duas bisnetas. Antonio Rodrigues da Silva Filho, aos 78 anos, em Uberlândia (MG). Batizado em 1964, por muitos anos trabalhou como colportor. Serviu à igreja também como ancião. Deixa a esposa, três filhos e quatro netos. Cacilda Custódio Almeida Neto, aos 92 anos, em Duque de Caxias (RJ). Conheceu a mensagem adventista na infância e foi batizada aos 9 anos de idade. Desde então, dedicou-se à igreja. Foi uma das pioneiras da Igreja do bairro 25 de Agosto, em Duque de Caxias. Era membro da Igreja de Parada de Lucas, na capital fluminense.

Pela influência dela, vários de seus familiares se tornaram líderes da igreja. Apesar de ter recebido pouca instrução formal, era uma pessoa sábia e procurava estar bem informada assistindo à TV Novo Tempo. Tinha o hábito de interceder pelas pessoas que conhecia. Deixa três filhos e cinco netos. Elias Cruz de Oliveira, aos 71 anos, vítima de câncer. Serviu como pastor por 27 anos nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Fundou várias igrejas, construiu e reformou algumas escolas. Trabalhou também como instrutor bíblico. Aposentado desde 2006, era membro da comunidade judaica-adventista de Curitiba (PR). Deixa a esposa, Isabel, e três filhos. Ernesto Renck, aos 62 anos, vítima de câncer. Era membro da Igreja de Praia do Camacho, em Jaguaruna (SC). Deixa a esposa, Marlene, dois filhos e três netos. Josefina Berta Mochiutti, aos 98 anos, em Maringá (PR). Natural da Itália, chegou ao Brasil em 1926. Junto com seu esposo, Carlos, foi pioneira do adventismo nas cidades paranaenses de Maringá, Rolândia e Cambé. Foi alfabetizada lendo a Bíblia e leu o livro sagrado inteiro mais de 50 vezes. Viúva, dona Pina, como era chamada carinhosamente, deixa dez filhos (dois deles pastores), 17 netos e 19 bisnetos.

Jovina Walter Colaço, aos 71 anos, em Santa Maria do Oeste (PR), vítima de infarto. Era membro da Igreja de São Manoel, onde servia como diaconisa. Deixa nove filhos, 15 netos e quatro bisnetos. Júlio Lopes da Silva, aos 56 anos, em Gravataí (RS), vítima de choque cardiogênico. Era membro da Igreja de Monte Belo. Deficiente mental, não tinha maldade, ouvia e tratava bem a todos. Costumava colecionar fotos com seus amigos num álbum e imprimia estampas de camisetas com o nome de seus colegas. Era muito conhecido na cidade. Solteiro, deixa três irmãos e uma irmã. Maria José Bispo Dias, aos 80 anos, em Feira de Santana (BA), vítima de hemorragia intracerebral. Natural de Alagoinhas (BA), foi batizada em 1974. Serviu no ministério de Mordomia Cristã, ASA, Escola Sabatina, diaconato e liderou pequenos grupos. Era membro da Igreja do bairro SIM e seu exemplo continuará a inspirar sua família. Viúva, deixa sete filhos, sete netos e um bisneto. Marta Lino Martins, aos 75 anos, vítima de câncer no intestino. Natural de Conceição da Aparecida (MG) e nascida em lar adventista, era membro da

Igreja Central de Varginha (MG). Exerceu diversos cargos na igreja, principalmente no Ministério da Criança e do Adolescente. Viúva, deixa duas filhas, cinco netos e nove bisnetos. Mauro Rodrigues dos Santos, aos 82 anos, em Aracaju (SE), vítima de um AVC hemorrágico. Foi um dos construtores da Igreja de Cariri (CE), cidade em que nasceu e foi batizado. Ali serviu como diácono e líder do ministério de lar e família. Deixa a esposa (com quem foi casado por 58 anos), cinco filhos, 11 netos e três bisnetos. Odilia Rodrigues de Sousa Sudário, aos 83 anos, em São Luís (MA), vítima de pneumonia. Batizada aos 38 anos de idade, era membro da Igreja Central de Governador Newton Bello (MA), onde colaborou ativamente na construção do templo e no ministério de assistência social. Deixa o esposo, Francisco, duas filhas, oito netos e 12 bisnetos. Ofélia Siebel Renck, aos 92 anos. Foi membro da Igreja Central de Taquara (RS), por mais de 71 anos. Serviu à igreja como diaconisa e foi muito ativa no ministério de assistência social. Deixa quatro filhos, sete netos e quatro bisnetos.

“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

(APOCALIPSE 14:13)

47


EM FAMÍLIA

O VALOR DA AMIZADE

OS AMIGOS TORNAM A VIDA MAIS LEVE E MENOS ESTRESSANTE, POIS PROPORCIONAM COMPANHIA E RISO

S

em eles é bem difícil viver, mas com eles a vida se torna suportável. Há quem diga que não fazem falta, mas quem os tem de verdade sabe que se relacionar com amigos é uma experiência extraordinária. Você tem amigos? Eles não estão por aí dando sopa em qualquer esquina e precisam de tempo para se revelarem. Nos momentos felizes, pode parecer que sejam uma multidão, mas não se engane. Amigos de verdade são os que permanecem quando a luz se apaga e vivemos momentos de escuridão e medo. Seja na perda de alguém querido, na crise financeira, no término de um relacionamento ou simplesmente quando você não está bem. Além de ser um suporte nas adversidades, os amigos realmente promovem felicidade. Um estudo epidemiológico realizado nos Estados Unidos pelos pesquisadores James Fowler e Nicholas Christakis mostrou isso. Segundo a pesquisa realizada com 4.739 pessoas ao longo de 17 anos (1983-2000), a simples existência do relacionamento de amizade já torna alguém mais feliz. Quando esse amigo é um indivíduo “pra cima”, isso aumenta em 15% a probabilidade de também o outro se sentir bem. O que o estudo indica é que cada amigo feliz aumenta em 9% a probabilidade de outro ser feliz, enquanto uma companhia infeliz reduz essa proporção em 7%. Essa influência é o que os pesquisadores chamaram de “contágio social”. Ou seja, a proximidade das pessoas tem efeito direto nos seus hábitos positivos e negativos. Foi em outro estudo, analisando 12.067 pessoas entre os anos de 1971 e 2003, que Fowler e Christakis verificaram que, quando uma pessoa para de fumar, sua decisão afeta profundamente os que estão conectados a ela. Isso também se aplica ao ganho de peso. Mesmo engordando juntos, amigos tornam a vida mais leve e menos estressante. Eles favorecem a sensação de pertencimento, porque compartilham experiências sociais e culturais semelhantes, trazendo companhia e riso. Contudo, nem todas as amizades são iguais. Os psicólogos Luciana Souza e Claudio Hutz, em um artigo sobre amizade entre adultos 48

O FENÔMENO DO “CONTÁGIO SOCIAL” TEM QUE VER COM OS BONS E OS MAUS HÁBITOS

publicado na revista Psicologia em Estudo (2008), discutem alguns aspectos positivos e negativos das amizades. Se por um lado os amigos oferecem apoio emocional e intimidade, eventualmente podem ocorrer ciúme, submissão, conflito, rivalidade, distanciamento e outros problemas. Entretanto, apesar de alguns percalços, a amizade promove uma experiência de amor e afeto que é única, diferente da que se tem com os pais e outros familiares. Amizades são normalmente moldadas levando-se em consideração fatores como idade, estado civil, classe social, religião e sexo. As evidências mostram, por exemplo, que a amizade entre as mulheres é de melhor qualidade do que entre os homens, pois geralmente são mais próximas, divertidas e com trocas afetivas mais satisfatórias. Se você tem amigos, cuide desse tesouro valioso. Gaste tempo com eles e seja presente mesmo estando a quilômetros de distância. Não deixe que as situações da vida simplesmente impeçam ou apaguem amizades verdadeiras. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Foto: Adobe Stock

TALITA CASTELÃO


ESTANTE

MEDICINA DOURADA

A PARTIR DA BÍBLIA E DA CIÊNCIA, LIVRO APRESENTA UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS E FILOSOFIA DAS TERAPIAS ALTERNATIVAS JESSICA MANFRIM

E

m meio a inúmeras pesquisas científicas, lançamentos de novos medicamentos farmacêuticos e desenvolvimento de terapias médicas, muitas pessoas optam por testar métodos não convencionais. Enquanto algumas dessas práticas não têm respaldo científico, outras já foram incorporadas pela medicina tradicional. Fitoterapia, homeopatia e acupuntura são alguns dos tratamentos alternativos usados por quem busca algo “natural”. Atraídas por um diagnóstico muitas vezes preciso, tratamento rápido e resultados positivos, muitas pessoas ­procuram na medicina alternativa aquilo que, via de regra, não encontram na medicina convencional. Quem decide experimentar esses tratamentos geralmente ouviu bons comentários a respeito deles e topa testá-los motivado por uma questão básica: isso funciona? Segundo o doutor Silas de Araújo Gomes, médico-cirurgião do Hospital Adventista de São Paulo e autor do livro Medicina Alternativa, eles funcionam, mas essa não é a pergunta certa a ser feita. Ele argumenta que as questõeschave são outras: como escolher o tratamento adequado? O que está por trás de determinada terapia? Ela traz algum risco? De acordo com o autor, há distinção entre os métodos “naturais” alternativos e os remédios naturais indicados pelos escritos de Ellen G. White (ar puro, luz solar, exercício físico, sono reparador, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

alimentação saudável, ingestão de água, equilíbrio em todas as coisas e confiança em Deus). Na opinião dele, tratamentos que não têm esses fundamentos devem ser rejeitados, porque não têm respaldo no “manual do Fabricante”, a Bíblia. O doutor Silas adverte que, por trás da iridologia, homeopatia, ioga, acupuntura e meditação transcendental, por exemplo, existe uma base mística, sem comprovação científica. É o caso da chamada anatomia sutil (sem correspondente com a anatomia topográfica e a fisiologia humana) e da suposta energia vital (uma força que permeia todo o Universo). Publicado pela primeira vez em 1998, o livro foi atualizado e ganhou nova edição, que sairá no próximo mês. A obra tem linguagem simples e traz a explicação de termos médicos. O material está dividido em 12 capítulos e responde o que é medicina alternativa e a razão de seu uso, qual é a verdadeira fonte de cura, o que é vitalismo, a filosofia por trás da acupuntura, iridologia, ioga, meditação transcendental, homeopatia e medicina espiritualista, além dos perigos do mau uso das plantas. Em Medicina Alternativa, o leitor encontra subsídios bíblicos e científicos para decidir pelo melhor tratamento, aquele que restaurará sua saúde de forma plena e que tem o selo de aprovação divina. ] JESSICA MANFRIM é mestre em História pela USP e trabalha como revisora de livros na CPB

TRECHOS

“Se existe uma medicina alternativa é porque, de alguma maneira, as pessoas não estão satisfeitas com o modo como está sendo exercida a medicina científica oficial.” “Por meio da Bíblia, Deus tem insistentemente mostrado que a solução para o sofrimento humano consiste em seguir o plano divino originalmente traçado para a humanidade. É pura utopia buscar saúde plena apenas em si mesmo ou em coisas da natureza, e ao mesmo tempo desconhecer a Deus, rejeitar a Cristo e desobedecer Sua vontade e lei.” 49


ENFIM

CASAMENTO TRADICIONAL

DECISÃO DA IGREJA METODISTA REFLETE O DILEMA DO CRISTIANISMO DIANTE DAS PRESSÕES CULTURAIS WELLINGTON BARBOSA

N

50

É PRECISO DEMONSTRAR SENSIBILIDADE EM RELAÇÃO AOS DESAFIOS DAS PESSOAS E, AO MESMO TEMPO, MANTER O COMPROMISSO COM OS PADRÕES BÍBLICOS que sofriam a consequência do pecado. [...] Mas fez distinção entre Seu amor pelos pecadores e Seus claros ensinos sobre as práticas pecaminosas” (Declarações da Igreja, CPB, 2012, p. 104). Em relação ao casamento homoafetivo, a declaração intitulada “União homossexual e casamento cristão” (2004) reiterou a posição apresentada anteriormente e acrescentou: “Não toleramos que qualquer grupo sofra escárnio ou ridículo, muito menos abuso. No entanto, é muito claro que a Palavra de Deus não aprova um estilo de vida homossexual” (p. 106). O último documento, “Declaração sobre transgêneros” (2017), entre outros pontos, afirmou:

“O fato de alguns indivíduos alegarem uma identidade de gênero incompatível com seu sexo biológico revela uma grave dicotomia. Essa debilidade ou angústia [...] é uma expressão dos efeitos danosos do pecado sobre os seres humanos e pode ter diversas causas”; no entanto, “aqueles que experimentam desajuste entre seu sexo biológico e sua identidade de gênero são incentivados a seguir os princípios bíblicos ao lidar com sua angústia” (Revista Adventista, maio de 2017, p. 36 e 37; d ­ isponível em http://adv7.in/TK). Assim, os documentos da Igreja Adventista têm demonstrado, ao longo dos anos, sensibilidade em relação aos desafios que os homossexuais enfrentam e, ao mesmo tempo, ressaltado o compromisso com os padrões bíblicos. Portanto, os membros da igreja devem refletir a atitude de Cristo ao acolher e auxiliar aqueles que têm lutas em relação à sua orientação sexual, a fim de que esses tenham uma perspectiva correta da justiça e misericórdia de Deus, as duas faces de Seu amor. ] WELLINGTON BARBOSA é pastor, editor da revista Ministério e doutorando em Ministério pela Universidade Andrews (EUA)

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2019

Foto: Unsplash

o fim de fevereiro, a Igreja Metodista Unida, terceiro maior grupo religioso dos Estados Unidos, discutiu em sua Assembleia Geral dois assuntos relacionados ao público LGBT: a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a ordenação de homossexuais praticantes ao ministério. Após dias de debates, os delegados metodistas decidiram (por 438 a 384 votos) manter a proibição de ambos os ritos, conforme prescreve o manual da denominação. A votação acirrada foi destaque na imprensa norte-americana e evidenciou a pressão que as igrejas cristãs estão vivendo nas últimas décadas em relação ao tema. Por um lado, instituições como a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) estão casando e ordenando homossexuais. Por outro, denominações como a Igreja Batista têm mantido a posição convencional. E o que a Igreja Adventista do Sétimo Dia pensa sobre o assunto? Por meio de declarações oficiais, a denominação tem procurado apresentar uma posição sensata a respeito do tema. Por exemplo, no documento “Homossexualidade” (1999), a igreja destacou “que cada ser humano é precioso à vista de Deus”, mas “a Bíblia não faz ajustes para incluir atividades ou relacionamentos homossexuais”. Diante disso, “os adventistas empenham-se por seguir a instrução e o exemplo de Jesus. Ele afirmou a dignidade de todos os seres humanos e estendeu a mão compassivamente a todas as pessoas e famílias


H

á uma grande luta entre os exércitos do bem e do mal acontecendo neste momento, e todos nós estamos envolvidos. Como saber de que lado ficar? Escrito especialmente para o público infantil, o livro Guerra no Céu, uma adaptação do clássico O Grande Conflito, de Ellen G. White, revela detalhes imperdíveis desse combate milenar.

ARIANE M. OLIVEIRA é formada em Pedagogia e atua como editora de livros infantojuvenis na Casa Publicadora Brasileira. Ama trabalhar com crianças e desenvolve um ministério infantil voluntário há mais de 20 anos. Casada com o Pr. Vinícius Mendes de Oliveira, é mãe da Ana Clara.

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Ao ler esta obra, você conhecerá as características dos dois exércitos, descobrirá o que o Grande General guarda em Seu cofre secreto e saberá onde fica a verdadeira Casa de Comando. Além disso, aprenderá sobre o grande desfecho da guerra e será convidado a se alistar no exército vencedor.

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