Revista Aeroespaço 75

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N ot í c i a s A n o

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Centralização de Planos de Voo


Notícias - Ano 18

n 0 75 | Maio 2021 | www.decea.mil.br

04 Reportagem DECEA concretiza a Centralização de Planos de Voo A consolidação em um sistema único para o trâmite de todos os planos de voo que utilizam o espaço aéreo brasileiro possibilita aprimorar a consistência dos dados de voo disponíveis operacionalmente.

08 Reportagem A-CDM já é uma realidade no Brasil

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DECEA implementa o Conceito de Tomada de Decisão Colaborativa (A-CDM) no âmbito do aeroporto, o que contribuirá para melhorias operacionais, ambientais e econômicas em toda a cadeia aeroportuária.

14 Reportagem Projeto LANDELL obtém excelentes resultados em testes técnicos de performance da CPDLC Continental

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A entrada em operação está prevista para junho de 2021.

18 REPORTAGEM Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste SRPV-SP ganha novo nome em face da necessidade de readequação da nomenclatura da unidade, cuja designação já não mais correspondia à sua estrutura e área de abrangência e, também, ao seu escopo de atuação.

22 REPORTAGEM ASA: o novo voo rumo à digitalização do espaço aéreo brasileiro

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Produto digital vai melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo para diferentes finalidades, a partir de padronização e automatização de processos.

27 REPORTAGEM Tecnologia a serviço da defesa aérea Com a instalação dos radares de Corumbá, Porto Murtinho e Ponta Porã, o Brasil passa a contar com uma vigilância aérea que cobrirá toda a fronteira do Mato Grosso do Sul com os países vizinhos.

27 Expediente Informativo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo - DECEA produzido por sua Assessoria de Comunicação Social - ASCOM Diretor-Geral: Tenente-Brigadeiro do Ar João Tadeu Fiorentini Assessor de Comunicação Social e Editor: Paullo Esteves - Coronel Aviador Reformado (MTB 38412 RJ) Coordenação de pauta e edição: Daisy Meireles (RJ 21523 JP) Redação: Denise Fontes (RJ 25254 RJ) Myrian Bucharles Aguiar - 1º Ten JOR (MTB 53648 SP) Telma Penteado (RJ 22794 JP)

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Projeto Gráfico/Diagramação: Aline da Silva Prete (MTB 38334 RJ) Fotos: Fábio Maciel (RJ 33110 RF) Luiz Eduardo Perez (RJ 201930 RF) Contatos: Home page: www.decea.mil.br Intraer: www.decea.intraer Email: contato@decea.mil.br Endereço: Av. General Justo, 160 Centro - CEP 20021-130 - Rio de Janeiro/RJ Telefone: (21) 2101-6031 Editada em Maio - 2021

Nossa capa Na foto de Fábio Maciel, o ambiente no CGNA onde está ativada a centralização dos planos de voo, que constitui um novo paradigma de gerenciamento.


EDITORIAL

Com seguranca e eficiência, seguimos com nossos projetos

Nesses últimos 14 meses, desde março de 2020, se-

da CPDLC (Controller Pilot Data Link Communications

guimos vivendo situações nunca imagináveis. Estamos,

- Comunicação Piloto-Controlador por Enlace de Dados)

ainda, marcados pela pandemia da Covid-19, com a

Continental.

queda nos movimentos aéreos. Passamos, a comunidade aeronáutica, por muitas dificuldades, mas não tivemos tempo de parar, mas sim para seguir em frente. O DECEA não parou. Muito pelo contrário, demos seguimento aos projetos que precisavam ser implantados e que estavam planejados. E, com isso, estamos aqui, reconhecendo o esforço de todas as pessoas que continuaram trabalhando em benefício do usuário do espaço aéreo brasileiro, cumprindo a missão do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Todo o nosso efetivo agiu com firmeza e dedicação para cumprir prazos e executar todas as atividades necessárias. Grandes projetos estão sendo finalizados agora, como a implantação e a modernização dos radares em Corumbá e Porto Murtinho e, em breve – até o final do pri-

Nossas dificuldades foram enfrentadas, porque temos nos fortalecido pelo compromisso de todos os componentes do SISCEAB. Nossos investimentos estão sendo bem aplicados e reconhecidos pela sociedade e pela mídia, como foi o caso da implementação do Conceito de Tomada de Decisão Colaborativa (A-CDM) no âmbito do aeroporto, o que contribui para melhorias operacionais, ambientais e econômicas em toda a cadeia aeroportuária. Continuamos produzindo em casa, facilitando a vida dos nossos usuários, dando um novo rumo à digitalização do espaço aéreo brasileiro. Criamos um produto digital – denominado ASA, que vai melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo para

meiro semestre de 2021, em Ponta Porã (MS). Com essa

diferentes finalidades, a partir de padronização e auto-

instalação, o Brasil passa a contar com uma vigilância

matização de processos.

aérea que cobrirá toda a fronteira do Mato Grosso do Sul com os países vizinhos, Bolívia e Paraguai.

Apresentamos, ainda, nesta edição, o Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste, advindo do Servi-

Na capa desta edição da Aeroespaço, demos destaque

ço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP),

à consolidação do sistema único para o trâmite de todos

que ganhou um novo nome em face da necessidade de

os planos de voo que utilizam o espaço aéreo brasileiro.

readequação da nomenclatura da unidade, cuja desig-

O projeto é uma das inciativas do DECEA que vai pos-

nação já não mais correspondia à sua estrutura e área

sibilitar o aprimoramento da consistência dos dados e

de abrangência e, também, ao seu escopo de atuação.

proporcionar um adequado planejamento estratégico, operacional e tático.

Essa é a primeira edição da Aeroespaço da minha gestão como diretor-geral do DECEA e já assumo agrade-

Em outra reportagem da revista, falamos da entrada

cendo a união de todos. Desde já, conto com o seu apoio

em operação do Projeto LANDELL, que vem obtendo ex-

para continuar oferecendo um serviço de qualidade

celentes resultados em testes técnicos de performance

para o usuário do espaço aéreo brasileiro.

Tenente-Brigadeiro do Ar João Tadeu Fiorentini Diretor-Geral do DECEA

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REPORTAGEM

DECEA concretiza a Centralização de Planos de Voo A consolidação em um sistema único para o trâmite de todos os planos de voo que utilizam o espaço aéreo brasileiro possibilita aprimorar a consistência dos dados de voo disponíveis operacionalmente. Fonte: CISCEA Fotos: CGNA e DECEA

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Responsável por planejar, gerenciar e controlar as

toda a concepção do projeto foi planejada para uma

atividades relacionadas com espaço aéreo brasileiro,

implantação de forma gradual, buscando o menor im-

o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA)

pacto possível para os usuários do Sistema de Controle

desenvolve a necessária e contínua modernização

do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). “Apesar dos pla-

dos processos e sistemas informatizados, essenciais à

nos de voo passarem a percorrer o caminho centrali-

prestação dos serviços de navegação aérea.

zado desde abril de 2021, o processo será transparente,

Dentre as iniciativas que vêm sendo implementadas pelo DECEA, destaca-se o projeto de Centralização de

não havendo, nesse momento, necessidade de mudanças nos procedimentos dos usuários”.

Planos de Voo, que consolida, em um sistema único, o

A centralização constitui um novo paradigma de

trâmite de todas as mensagens que visam à utilização

gerenciamento de planos de voo e suas mensagens

do espaço aéreo brasileiro. Essa centralização possi-

de atualização. De acordo com o Coronel Aviador

bilita o aprimoramento da consistência dos dados e

Marcelo Jorge Pessoa Cavalcante, o Centralizador

proporciona um adequado planejamento estratégico,

de Planos de Voo é um módulo do SIGMA que trará

operacional e tático.

maior apoio ao serviço de gerenciamento de fluxo

O foco do projeto é a padronização de um caminho único para todas essas mensagens, buscando uma validação segura e automatizada por meio do Sistema Integrado de Gestão de Movimentos Aéreos – o SIGMA. O Major Aviador Marcio Rodrigues Ribeiro Gladulich, gerente do empreendimento e chefe da Divisão Operacional da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA), destaca que

de tráfego aéreo prestado pelo Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), que é a organização que permite, a partir das intenções de voo, a harmonização do fluxo de tráfego. “O fato de todos os planos de voo e mensagens associadas serem obrigatoriamente submetidos ao centralizador traz mais eficiência e segurança nas atividades do CGNA, permitindo um planejamento completo e totalmente automatizado”, destaca o comandante do CGNA.

Como funciona o Centralizador de Planos de Voo ID COMPLETO 8 DíGITOS MSG PARAMETRIZÁVEL

CENTRALIZADOR

ID PRELIMINAR 7 DíGITOS MSG PARAMETRIZÁVEL

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O Centralizador gera um código alfanumérico para identificação única de cada plano (IDPLANO), que é informado ao usuário, assegurando a rastreabilidade da informação por todo o sistema

O sistema conta também com a funcionalidade de envio de planos em lote por parte das empresas aéreas, possibilitando uma integração entre os sistemas dessas empresas e o centralizador de planos de voo. Visando, ainda, à uma maior confiabilidade para o usuário, o projeto inclui funcionalidades como um código alfanumérico para identificação única de cada plano, denominada IDPLANO, que assegura a rastreabilidade da informação em todo o sistema. “Isso vai garantir que o usuário tenha a certeza de que o seu plano de voo foi enviado e processado pelo SISCEAB, dando maior segurança para as operações aéreas. A possibilidade de acompanhamento das intenções de voo por parte dos pilotos é um ponto crucial para o DECEA”, ressalta o Brigadeiro do Ar Eduardo Miguel Soares, chefe do Subdepartamento de Operações (SDOP) do DECEA. A Centralização de Planos de Voo também trará confiabilidade e disponibilidade do sistema 24 horas por dia por meio do novo Centro Reserva, concebido no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos – SP. Esse Centro irá operar em paralelo com as mesmas capacidades de processamento do centro principal. Para o desenvolvimento deste projeto de grande vulto, a CISCEA vem trabalhando, desde 2017, na concepção dessa implementação. Para o Major-Brigadeiro do Ar Sérgio Rodrigues Pereira Bastos Júnior, presidente da CISCEA, a responsabilidade pelo desenvolvimento e implantação deste projeto é motivo de orgulho e dedicação para toda a equipe. “A concepção em que se baseia a Centralização

O Centralizador de Planos de Voo é um módulo do SIGMA que trará maior apoio ao serviço de gerenciamento de fluxo de tráfego aéreo prestado pelo CGNA

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de Planos de Voo evidencia a busca constante do DECEA por desenvolvimento e aperfeiçoamento dos serviços aeronáuticos para o País”. A empresa responsável pelo desenvolvimento e implantação no sistema SIGMA foi a ATECH, empresa do Grupo EMBRAER especializada em ferramentas voltadas para o controle de tráfego aéreo. A ATECH - que também desenvolveu o Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional - SAGITARIO, utilizado para o controle das aeronaves no espaço aéreo brasileiro - reforçou sua postura pela inovação e busca por novas tecnologias no mercado.

Parte da equipe presente no dia 11 de abril de 2021, quando foi implementada a Centralização de Planos de Voo no âmbito do SISCEAB, que contou com a participação de mais de 100 profissionais durante três dias de migração para o novo sistema

Importante destacar que foram realizados todos os treinamentos técnicos e operacionais para os profissionais do CGNA, dos quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTAs I, II, III e IV), do Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste (CRCEA-SE), do Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica do Rio de Janeiro (PAME-RJ), da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) e demais organizações envolvidas com o projeto, de forma a permitir uma correta manutenção e utilização do novo sistema operacional.

A ativação Assim, no dia 11 de abril de 2021, foi implementada a Centralização de Planos de Voo no âmbito do SISCEAB, contando com a participação de mais de

Todos os planos de voo e mensagens associadas são obrigatoriamente submetidos ao centralizador e traz mais eficiência e segurança nas atividades do CGNA, permitindo um planejamento completo e totalmente automatizado

100 profissionais durante três dias de migração para o novo sistema. Nas semanas seguintes, os Centros de Controle de Área (ACC) foram incorporados de forma gradual, sendo o ACC Recife, do CINDACTA III, o primeiro a ser integrado à centralização dos planos de voos. A adoção da centralização das intenções de voo no CGNA é uma ação de extrema relevância para o DECEA, garantindo a confiabilidade e a disponibilidade do sistema 24 horas por dia, o que reforça a visão do Departamento em ser reconhecido como referência global em segurança, fluidez e eficiência no gerenciamento e controle integrado do espaço aéreo brasileiro.

Com a Centralização, as mensagens de plano de voo via AMHS (Sistema Automático de Tratamento de Mensagens Aeronáuticas) são enviadas somente para o endereço único do Centralizador no Brasil

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REPORTAGEM

A-CDM já é uma realidade no Brasil DECEA implementa o Conceito de Tomada de Decisão Colaborativa (A-CDM) no âmbito do aeroporto, o que contribuirá para melhorias operacionais, ambientais e econômicas em toda a cadeia aeroportuária. Por Myrian Bucharles Aguiar – 1º Tenente Jornalista Com informações de CISCEA / SAIPHER / GRU Airport Fotos de Luiz Eduardo Perez Batista

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Na aviação, os avanços se tornam cada vez mais primordiais para a evolução do tráfego aéreo no mundo. O século XVIII marca seu início e, desde então, o seu progresso se torna característica crucial para sobrevivência no século XXI. O Brasil, membro da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) - que é a agência especializada das Nações Unidas responsável pela promoção do desenvolvimento seguro e ordenado da aviação civil mundial - possui um dos maiores mercados de aviação civil do mundo e exerce papel de liderança nas discussões da Oraganização por meio do estabelecimento de normas e regulamentos necessários para segurança, eficiência e regularidade aéreas, bem como para a proteção ambiental. Desde a fundação da OACI, em 1944, o Brasil assumiu uma posição de vanguarda na América Latina, reunindo as melhoras práticas na aviação civil, o que garante a segurança, fluidez e eficiência no gerenciamento e controle integrado do espaço aéreo. Para garantir cada vez mais esse patamar no serviço prestado, a aviação no Brasil conta com a implantação de novas tecnologias e novos conceitos.


Assim sendo, em novembro de 2020, mais um grande passo foi dado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Em parceria com a concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo (GRU Airport) deu início à operação do conceito A-CDM (Airport Collaborative Decision Making / Processo de Tomada de Decisão Colaborativa em Aeroportos). Esse modelo de tomada de decisão colaborativa tem o objetivo de promover intensa cooperação entre os parceiros, obtendo uma melhor eficiência operacional, gerada pela troca de informações padronizada entre os diversos operadores aeroportuários, possibilitando maior previsibilidade operacional. O A-CDM busca utilizar ao máximo a infraestrutura e os recursos do aeroporto e a capacidade do espaço aéreo, otimizando o processo por meio da troca de informações cada vez mais precisas em um nível tático e em tempo real. O processo de Tomada de Decisão Colaborativa em Aeroportos funciona como uma ferramenta que busca soluções integradas para a racionalização da movimentação de aeronaves em aeródromos. O compartilhamento dos dados poderá aprimorar o desempenho dos aeroportos. O projeto A-CDM é resultado de uma iniciativa do DECEA na busca por novos conceitos operacionais consagrados ao redor do mundo. O desenvolvimento do A-CDM junto aos diversos Órgãos envolvidos na atividade aérea coloca o Brasil não apenas na vanguarda das operações aeroportuárias integradas, como também traz grandes possibilidades na área da gestão de fluxo do tráfego aéreo.

NAVEGATION PROJECTS AGREEMENT, assinado em outubro de 2015, o A-CDM é parte estratégia de evolução do Sistema de Gerenciamento de Tráfego Aéreo (ATM). Em 2017, Guarulhos voluntariou-se para ser o primeiro aeroporto A-CDM brasileiro. Além de ter uma posição estratégica para o tráfego aéreo, é o mais movimentado aeroporto brasileiro e a principal porta de entrada pelo modal aéreo no País, características que impulsionaram a escolha do alto comando do DECEA, após uma criteriosa avaliação, estabelecendo o GRU Airport como projeto piloto para a implantação do Conceito. No ano seguinte, em 2018, ocorreu a análise e a adequação dos conceitos em busca de atender às normas brasileiras e questões operacionais nacionais. Somente em 2019 foram elaborados os conceitos operacionais do processo A-C DM para o Brasil e suas fontes de alimentação das informações, em função dos sistemas já existentes no Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). O contrato com a empresa SAIPHER, fabricante do sistema TATIC (Controle Total da Informação de Tráfego Aéreo) em operação na torre de controle em Guarulhos e demais aeroportos brasileiros, também foi firmado no mesmo ano, vislumbrando a possibilidade de desenvolvimento das plataformas já integradas ao sistema utilizado no Brasil. “O A-CDM é mais do que um conjunto de sistemas funcionando de forma integrada, é um con-

Em 2020, o lançamento do Conceito A-CDM em Guarulhos, SP

O Acordo e as etapas da implantação do conceito Desenvolvido em Munique, na Alemanha, a implantação do conceito A-CDM é amplamente utilizado pela Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea (EUROCONTROL). No Brasil, é uma iniciativa do DECEA, por meio da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA). Oriundo do Acordo de Cooperação DECEA-EUROCONTROL HQ AIR

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ceito, um modelo de trabalho que propicia o aumento da eficiência nas operações do aeroporto, gerando benefícios a todos os stakeholders. Por isso, implica em, não apenas mudança de rotinas, alteração de mindset, em toda a cadeia de tomada de decisões. Premissas muito importantes numa operação normal são derrubadas e todos os envolvidos precisam se adaptar ao novo cenário”, apontou Fred Boratto, diretor de operações da Saipher ATC. Após as contratações e os ajustes necessários no planejamento, três fases foram necessárias para a conclusão do projeto. Na primeira, ocorreu a validação do módulo ACISP (Airport Collaborative Information Sharing Platform), a ferramenta de compartilhamento das informações. Na segunda fase do módulo PDS (Pre Departure Sequencer), a ferramenta que ordena os voos de maneira automatizada, ambas criadas pela SAIPHER. A terceira e última fase compreende o estudo dos indicadores e resultados gerados, iniciado com a implantação oficial do Conceito A-CDM. A operação A-CDM no aeroporto de Guarulhos será acompanhada pela CISCEA por um ano após a implantação, de forma a possibilitar reuniões com todos os stackholders para ajustes operacionais e com o menor impacto possível. “Esse acompanhamento visa à elaboração de relatórios para uma análise detalhada das operações aéreas, possibilitando, assim, uma implantação aperfeiçoada do processo A-CDM nos próximos aeroportos”, esclareceu o gerente do projeto, o Major Aviador Márcio Rodrigues Ribeiro Gladulich. Antes da ativação definitiva, foi estruturada uma etapa de validação operacional, chamada de Endurance, na qual o sistema e os processos foram testados e ajustados extensivamente. Ela contou com as fases de Familiarização, na qual as empresas aéreas usaram a ferramenta com dados reais de produção e inserção de Target Off-Block Time (TOBT). Na fase de Maturação, o módulo PDS foi ativado para geração de uma sequência de partidas cuja base é o modelo colaborativo. Nesse momento, a Torre de Controle acessou uma sequência sugerida pelo sistema, a título de avaliação. Na última fase, de Consolidação, a torre deu sequência de partida sugerida pelo TATIC PDS. Tanto

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o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA) quanto a Célula de Gerenciamento de Fluxo (FMC) estiveram aptos a realizar medidas de fluxo remotamente, inserindo slot de decolagem de voos específicos. Foi um ensaio real do aeroporto operando em um formato colaborativo. Por fim, no dia 5 de novembro de 2020, o processo A-CDM foi ativado no Aeroporto Internacional de São Paulo, sendo o primeiro da América Latina a adotar este conceito. Os primeiros meses de operação está sendo marcado por uma cooperação extrema entre a equipe de gerência do projeto, a torre de controle Guarulhos (TWR GRU), o Centro de Controle Operacional (CCO GRU) e a empresa Saipher, com constantes reuniões para feedback do usuário e ajustes operacionais na ferramenta e no processo. “O projeto é um marco muito importante. É o primeiro Aeroporto A-CDM da América Latina. Por isso o DECEA, sempre seguindo as recomendações da OACI, está na vanguarda, assumindo patamares excelentes em prover esses serviços e ser responsável por manter um patamar muito elevado, em termos de segurança. Esse projeto contribui e revela que o DECEA está up to date com as novas tecnologias”, declarou o presidente da CISCEA, Major-Brigadeiro do Ar Sérgio Rodrigues Pereira Bastos Junior.

Como funciona O produto das ferramentas ACISP e PDS é a entrega de um ordenamento dos voos para a torre de controle (TWR) já considerando: o horário em que cada operador estará pronto (TOBT); as medidas ATFM a que estão sujeitos; a capacidade da pista no momento devido às condições meteorológicas e outras informações; a disponibilidade de manobra do pátio do aeroporto. “Hoje, na era da informação, é essencial que tenhamos comunicação eficiente entre todos os participantes do SISCEAB. Por meio do SIGMA (Sistema Integrado de Gestão de Movimentos Aéreos), do SAGITARIO (Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional) e do TATIC temos acesso aos planos de voo, dados de Controle de Aproximação (APP), Centro de Controle de Área


No processo A-CDM, as informações serão centralizadas em uma mesma plataforma para geração de relatórios operacionais de fundamental importância para o DECEA e outros Órgãos do SISCEAB

(ACC), e TWR. O-ACM vem para completar esse conjunto de informações com um novo ator: o aeroporto. Desde novembro de 2020, essa comunicação com todos os envolvidos se tornou possível, a partir da plataforma ACISP, gerando eficiência através de uma comunicação mais rápida”, explicou o Major Gladulich. Além disso, o processo A-CDM permitirá um mapeamento por parte do DECEA e da administração aeroportuária a respeito da operação de cada usuário. Diversas Informações - horário de utilização do aeroporto pelo usuário em comparação com o solicitado à Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC), ao CGNA e ao aeroporto; índice de pontualidade de cada operador de forma automatizada, obtido por meio dos sistema do aeroporto que reconhecem chegada e saída das aeronaves; quantidade de medidas ATFM utilizadas pelo CGNA - serão centralizadas em uma mesma plataforma para geração de relatórios operacionais de fundamental importância para o DECEA e outros Órgãos do SISCEAB.

Capacitação Em função da pandemia da COVID-19, foi elaborada a criação de uma plataforma EAD (Ensino

a Distância) que proporcionou condições para o treinamento de todos os demais parceiros do processo aeroportuário, permitindo a continuidade do projeto. Essa fase foi realizada com todas as companhias aéreas que operam no aeroporto de Guarulhos, com o CCO da GRU Airport, a Estação Prestadora de Serviços de Telecomunicações e Tráfego Aéreo (EPTA) da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) e com militares do DECEA. A capacitação para a implantação do conceito no Aeroporto de Guarulhos contou com aproximadamente 140 profissionais envolvidos. Foram 327 horas presenciais e 10.952 no EAD - totalizando 1.582 pessoas capacitadas. O curso teve cinco módulos, a saber: Conceito Geral, Operador Aeroportuário, Operador de Aeronave, Órgão ATC e CGNA. A capacitação foi um dos aspectos mais importantes do projeto, a pandemia surgiu justamente durante o período de treinamento e tiveram de se adequar muito rapidamente para que um dos pilares mais importantes do projeto não fosse prejudicado. “Além dos treinamentos realizados, ainda teremos outros momentos de capacitação relativos à esta fase de operação assistida e a criação de indicadores, que se iniciou em novembro de 2020”, afirmou Fred Boratto. 11


Aeroporto piloto O GRU Airport – Aeroporto Internacional de São Paulo, uma empresa do consórcio formado pela Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.) e ACSA (Airports Company South África), é o maior complexo aeroportuário da América do Sul e também a principal porta de entrada e saída de cargas do Brasil. Em 2019, registrou mais de 43 milhões de embarques e desembarques de pessoas, além de ter movimentado, aproximadamente, 42% das exportações e importações, além de 50% do volume de importações de produtos farmacêuticos por via aérea no País. "A implantação do A-CDM em um aeródromo de grande movimentação como o do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos é muito importante para aprimorar nossos processos e promover melhorias para todos os profissionais, passageiros e frequentadores. As melhorias geradas por esse ambiente colaborativo fazem com que o GRU Airport esteja alinhado com as mais importantes práticas aeroportuárias do mundo", afirmou o diretor de Operações da GRU Airport, Miguel Dau.

Benefícios Com todo esse trabalho colaborativo, haverá uma integração entre todos os operadores aeroportuários, tais como companhias aéreas, aviação geral, torre de controle, empresas de ground handling, entre outros, aumentando a eficiência operacional, previsibilidade e pontualidade dos voos. Essa sinergia ocorre quando os aeroportuários que formam o A-CDM compartilham informações

A implantação do A-CDM em Guarulhos aprimora processos e promove melhorias para os profissionais do aeroporto, passageiros e frequentadores

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relacionadas à sua operação em tempo real, proporcionando uma análise pós-operacional e o registro de tendências operacionais típicas e incomuns. Com esses dados em mãos, é possível prever possíveis interferências, planejar e manter a pontualidade dos voos, tanto no gerenciamento do fluxo do tráfego aéreo como nos processos das operações das chegadas e partidas. “O conceito A-CDM aumenta a eficiência operacional, pois permite a integração entre os órgãos de controle do espaço aéreo, a administração aeroportuária, as empresas aéreas que trabalham no aeroporto, aprimorando o fluxo de tráfego aéreo, possibilitando um planejamento geral muito melhor”, analisou o chefe do Subdepartamento de Operações (SDOP) do DECEA, Brigadeiro do Ar Eduardo Miguel Soares. O Major Gladulich concorda com o Brigadeiro Miguel e lista os resultados da aplicação do conceito: “Maior pontualidade dos voos, diminuição nos atrasos de decolagens, melhoria nas medidas de controle de fluxo de tráfego aéreo (ATFM), redução de emissão de CO² pelas aeronaves, economia de combustível por parte do operador, possibilidade de menor custo de passagem repassado ao usuário, maior consciência das operações pelo CGNA, TWR, APP e CCO GRU e, ainda, possibilidade de ações de todos os envolvidos com maior rapidez e precisão. Trata-se do bem mais preciso em qualquer processo: informação”. Além disso, o compartilhamento de dados A-CDM propiciará uma análise pós-operacional esclarecedora e o registro de tendências operacionais típicas e incomuns que permitirá um melhor planejamento e, por consequência, uma melhor previsibilidade operacional.


“Para o DECEA, que é o órgão gerenciador responsável por todo esse processo, vai trazer mais eficiência para a fluidez e a segurança do tráfego aéreo. A decisão colaborativa vai trazer um serviço mais eficiente. Logo, os passageiros vão esperar menos, as empresas poderão se programar melhor e, operacionalmente, o DECEA poderá aumentar a capacidade de pousos e decolagens nos aeródromos. Isso é muito importante, porque é a capacidade de ter mais tráfego aéreo com mais segurança e eficiência”, relata o presidente da CISCEA. O diretor de Operações da GRU Airport comentou sobre os impactos do conceito, tanto para os aeroportos, quanto para as empresas aéreas e de handlings. “Eles vão passar a ter uma capacidade de planejamento mais apurada, sabendo exatamente tempos e movimentos dentro do aeroporto. Com isso, haverá economia de meios, menor custo da operação, trazendo benefícios para o passageiro”, concluiu. Ruy Amparo, diretor de Segurança e Operações

de Voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), também falou sobre os benefícios do A-CDM para o passageiro. “Trabalhamos muito com o usuário final. Na verdade, todo o sistema trabalha, ou seja, as empresas aéreas, o DECEA, os operadores aeroportuários. Quando conseguimos dar fluidez ao sistema, trabalhar de modo colaborativo e eficiente, isso chega ao passageiro de uma forma muito positiva. Esse é um trabalho que tomou e ainda toma tempo, muito esforço, muita disciplina, mas é de grande importância. Com certeza, o usuário final vai reconhecer os resultados: mais pontualidade, mais regularidade, mais fluidez de tráfego no aeroporto”, finalizou. O Conceito A-CDM visa melhorar a eficiência operacional de todos os operadores aeroportuários. Benefícios, como a redução de atrasos, resultam no aumento da eficiência e da otimização dos recursos, gerando aumento da capacidade operacional do aeroporto e impactando diretamente a vida dos passageiros.

Eventos relacionados ao Conceito A-CDM Em 2019, foi realizado o Seminário Internacional A-CDM, com duração de dois dias, em São Paulo. Presentes, aproximadamente, 300 pessoas da comunidade aeronáutica. O evento, com o intuito de divulgar os conceitos no Brasil, contou com palestras e painéis de especialistas da EUROCONTROL, da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), das companhias aéreas e aeroportos ao redor do mundo.

Devido a pandemia da COVID-19, compareceram,

Na ocasião, foram expostos todos os detalhes do projeto A-CDM Brasil, suas ações e o cronograma de desenvolvimento, para uma consciência de todos os usuários e dos países como um todo. Cabe ressaltar que o feedback foi bastante positivo por parte dos palestrantes e envolvidos da comunidade internacional.

envolvidas com a implantação do conceito no Brasil.

O Seminário foi uma parceria da Revista Força Aérea com a FAB e o GRU Airport.

diretor de Operações - SAIPHER.

Outro evento foi o Lançamento do Conceito A-CDM, que aconteceu no dia 18 de novembro de 2020, no Aeroporto Internacional de São Paulo.

placa de lançamento da operacionalidade do conceito

aproximadamente,

50

pessoas,

dentre

elas

autoridades da FAB e stakeholders da aviação brasileira. Durante a solenidade o gerente do projeto fez uma breve apresentação explicando o que é o Conceito A-CDM, e a plateia pode esclarecer suas dúvidas em um painel com representantes das empresas diretamente Foram eles: Cesar Tuna, coordenador de Crise e Tráfego Aéreo - GRU Airport; Major Gladulich, chefe da Divisão Operacional - CISCEA, representando o DECEA; Marilisa Mira, coordenadora de tráfego aéreo da EPTA de Guarulhos – INFRAERO; e Fred Boratto,

No encerramento da cerimônia, foi descerrada uma A-CDM, no Centro de Controle Operacional (CCO) do Aeroporto.

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REPORTAGEM ARTIGO

Projeto LANDELL obtém excelentes resultados em testes técnicos de performance da CPDLC Continental Por Telma Penteado Fotos de Luiz Eduardo Perez Batista Ilustração: © freepik

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Não é mais novidade alguma a compreensão de que o sucesso de um empreendimento tem relação direta com planejamento. Ter metas claras e prazos definidos, dispor de recursos, estabelecer métricas e indicadores de performance e distribuir responsabilidades aos envolvidos são muitos dos diversos elementos que constituem este caminho a ser trilhado até à concretização de um projeto. E, quando o projeto em questão envolve números impressionantes, toda esta estrutura se potencializa em termos de impactos, responsabilidades e multidisciplinaridade. Nascido de um conceito muito bem executado e bem-sucedido, o uso da ferramenta CPDLC (Comunicação piloto-controlador por enlace de dados) – realidade desde 2009 na área de responsabilidade de controle de tráfego aéreo brasileiro sobre a porção do oceano Atlântico até próximo às costas da África – se estende agora para a porção continental do País, mais precisamente nas regiões Nordeste e Norte, através da implementação do Projeto LANDELL, com características técnicas e operacionais diferentes, especialmente relacionadas ao espaço aéreo e ao tráfego aéreo. É justamente neste movimento de implantação de um projeto da mais alta complexidade que o fator humano faz toda a diferença e o que não falta para a equipe de gestão e execução da CPDLC Continental é o reconhecimento da qualidade de cada profissional envolvido. Com previsão de entrada em operação em junho de 2021, muitas têm sido as entregas do Projeto já no início deste ano. Publicação de Norma de Procedimentos Operacionais para o Uso de Comunicação por Enlace de Dados Controlador-Piloto (MCA 100-23); treinamento de controladores de tráfego aéreo em cenário operacional (ATM042); e conclusão do Documento de Gerenciamento de Risco à Segurança Operacional (DGRSO) são algumas delas. Os trabalhos prosseguem e os resultados já aparecem, confirmando que estamos no caminho certo. Militares e civis do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), dos Terceiro e Quarto Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de

Tráfego Aéreo (CINDACTA III e IV) e do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV) se empenharam para tornar realidade esse grandioso projeto. Desde 2020, testes de performance do enlace de dados nacional em espaço aéreo continental estão sendo realizados no Centro de Controle de Área de Recife (ACC-RE) com a participação de uma equipe multidisciplinar envolvendo integrantes do Projeto LANDELL, técnicos da Seção de Informática Operacional (TIOP) do CINDACTA III, controladores de tráfego aéreo do referido ACC e pilotos do GEIV. Ao término do mês de janeiro de 2021, os resultados levantados comprovam o sucesso da missão. O planejamento dos testes foi desenvolvido pelo Capitão Engenheiro Celdo Souza da Silveira, chefe da TIOP, e pelo Capitão Bruno Pacheco Santos Azevedo Costa, da Divisão de Tecnologia e Segurança da Informação (D-TSI) do DECEA. A infraestrutura de rede, configuração do Sistema de Tratamento e Visualização da Dados (STVD), assim como as análises desenvolvidas com base nos dados obtidos dos voos, foram realizadas pela TIOP. A Divisão de Operações do CINDACTA III foi responsável pelas avaliações de risco e aprovação dos procedimentos operacionais. Conforme explicado pelo Capitão Celdo, os testes partiram de uma demanda planejada no Projeto LANDELL e direcionada ao subgrupo técnico. O relatório com os resultados dos referidos testes contém as análises estatísticas efetuadas com base nos dados coletados nos diversos sistemas utilizados na comunicação, previstas desde o planejamento dos voos realizados pelo GEIV. "Quando fizemos o documento de planejamento do voo, já elencamos o que seria extraído de informações, como tempo de latência das comunicações (que é o período de espera do controlador e do piloto para receber as mensagens), cobertura das estações, quantidade de mensagens tramitadas, tempo de resposta do piloto, dentre outros dados de datalink, em concordância com o estudo desenvolvido pelo Subgrupo Técnico do Projeto LANDELL”, explicou o chefe da Tiop. Para o gerente-geral do Projeto LANDELL, Capitão Marcelo Mello Fagundes, o trabalho que vem 15


sendo realizado é um exemplo de coordenação entre os Subdepartamentos Técnico (SDTE) e de Operações (SDOP) do DECEA, o CINDACTA III - especialmente a Divisão de Operacões (DO - DOATM e TIOP) - e o GEIV, que teve valiosa contribuição nos trabalhos.

tema, pudemos validar esta versão do SAGITARIO com voos reais”, explicou Sérgio, que também realizou a validação de algoritmos para análise da capacidade do enlace de dados desenvolvidos pela TIOP. Trata-se de mais um produto entregue pelo Projeto LANDELL.

Os testes já utilizaram a nova versão do SAGITARIO, com requisitos para melhorias de interface homem máquina (IHM) desenvolvidos no âmbito do projeto, especialmente para o emprego da CPDLC em espaço aéreo continental.

Para Laércio Dalmolin Filho, Gerente de Projeto Atech – Implantação do SAGITARIO, esta parceria com o DECEA é muito importante. “A Atech sente-se honrada em fazer parte da implantação da CPDLC Continental no Brasil, trabalhando em conjunto com o DECEA, como seu braço tecnológico, reforçando ainda mais a segurança do tráfego aéreo brasileiro, com o que há de mais moderno, em termos de tecnologia, no cenário mundial. O desenvolvimento desta funcionalidade no SAGITARIO foi fundamental para atender à esta demanda e garantir o sucesso desta iniciativa", complementou Laércio.

“Como a versão 2.6 do SAGITARIO, que é a versão para a CPDLC Continental, não entrou ainda em operação, nós precisávamos de alguma forma disponibilizá-la em ambiente operacional para realizar os testes em voo. Partindo do princípio de que não poderíamos atualizar todas as consoles, foi necessário montar uma estrutura reduzida que, futuramente, será replicada para todo o Centro”, explicou o Capitão Celdo. Segundo Sérgio Gomes, analista da TIOP, estes dados levantados pelos testes embasarão não só as ações dos outros subgrupos do Projeto (Normas, Doutrina de Emprego, entre outros), como, também, permitirão melhorias a serem realizadas pela própria Atech. “Nesta ocasião fizemos também a validação do software. Até então, tínhamos a validação de simulação. Com a análise de comportamento do sisPilotos do GEIV são recepcionados no CINDACTA III, em missão para o Projeto LANDELL

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Os testemunhos de dois controladores de tráfego aéreo, a seguir, comprovam as melhorias de IHM planejadas e desenvolvidas para este contexto. Para o 2º Sargento Bruno Bringel, do ACC-RE, “a CPDLC Continental vai contribuir muito para o nosso trabalho, já que vamos ter uma capacidade de absorver mais tráfegos, aumentando a fluidez. Vamos também ter mais facilidade para superar os ruídos que temos hoje ao utilizar as frequências, sendo uma forma mais objetiva de nos comunicarmos com as aeronaves”.


No Centro de Testes da TIOP, o Suboficial Jota configura a base de dados do SAGITARIO 2.6, antes dos voos de avaliação da capacidade datalink

A avaliação de desempenho do datalink nacional já foi ampliada e agora conta com a participação das companhias aéreas nacionais e internacionais, se estendendo até março e, dessa forma, possibilitará a identificação de outras adequações. De acordo com o Suboficial Darlan Sobreira Guedes, que presta serviço no Centro de Controle de Área Atlântico (ACC-AO) desde 2007, não demorou muito para que grande parte da aviação percebesse os benefícios da ferramenta e de suas funcionalidades. “No que diz respeito ao LANDELL, os benefícios são igualmente muitos, como praticidade de controle, facilidade de plotação de voos, rotas mais diretas, economia de combustível, sustentabilidade. Temos mais aeronaves em mais voos e níveis ótimos. Para a CPDLC Continental, a parte de comunicação, como complemento ou como meio principal de trabalho no continente será de grande valor para toda a aviação”, comentou o Suboficial Guedes. De acordo com os dados levantados, os testes realizados com apoio do GEIV permitiram validar os principais parâmetros técnicos e operacionais com vistas a entrada em operação da primeira fase do Projeto LANDELL na FIR-RE. Foram mais de 6.700 milhas náuticas (12.408 km)

voadas, distribuídas em três dias de testes, dentro de cenários específicos, com objetivo de buscar a maior quantidade de dados possível. “Pode-se confirmar o ganho operacional da comunicação VDL modo 2 (versão principal do VHF DataLink) em relação ao POA (do inglês Plain Old ACARS), onde a latência foi três vezes menor. Nos locais onde a cobertura VHF não era completa devido ao relevo, foi possível observar a comutação do serviço para satélite e obter os valores relativos a tempo de resposta”, observou o Capitão Celdo. “O fruto desse trabalho permitiu consolidar a entrada em operação do serviço de enlace de dados conforme preconizado, uma vez que todos os parâmetros atenderam aos requisitos do projeto. Além disso, gerou subsídios técnicos e operacionais para que alguns ajustes sejam realizados, com vistas a garantir a maior disponibilidade possível do serviço datalink continental nas próximas fases do Projeto”, concluiu o chefe da TIOP. “O mundo aguarda ansioso os resultados desses testes para evolução global em trabalhos desenvolvidos pelo Brasil no Painel DataLink Operacional da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) projeta hoje mais um largo passo rumo às comunicações do futuro”, finaliza o Capitão Fagundes. 17


REPORTAGEM

Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP) ganha novo nome em face da necessidade de readequação da nomenclatura da unidade, cuja designação já não mais correspondia à sua estrutura e área de abrangência e, também, ao seu escopo de atuação. Por Major R1 Mauro Gomes Costa Fotos: CRCEA-SE

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Com a visão prospectiva do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), alinhada com a política estratégica da Força Aérea Brasileira (FAB), foi aprovado a transformação do Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP) em Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste (CRCEA-SE). A homologação da nova estrutura promove a atualização administrativa, técnica e operacional decorrente dos 74 anos de atuação da organização no Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). A Portaria nº 60/GC3, de 17 de março de 2021, passou a vigorar a partir do dia 1º de abril de 2021, e é um marco na história da Organização, que agora tem um nome que corresponde diretamente com a sua atual missão. Em uma retrospectiva histórica, nos idos de 1947 houve a criação do Serviço de Rotas da 4ª Zona Aérea, atividade pioneira para a época em que o espírito empreendedor e a abnegação daqueles que nos antecederam foram determinantes para que o projeto alcançasse os objetivos propostos, preparando o caminho para o futuro, passando pelas designações Divisão de Proteção ao Voo (DPV-4) e Serviço Regional de Eletrônica e Proteção ao Voo (SRPV-4), para

finalmente aportarmos em 1976, na última designação SRPV-SP. O intervalo temporal entre os eventos ainda foi marcado por significativas mudanças organizacionais em todos os níveis do Sistema, como o advento do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), em 2001, a extinção do Sistema de Proteção ao Voo (SPV), o qual foi substituído pelo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Houve, também, a incorporação da área do Rio de Janeiro, em 2005, ao SRPV-SP, o que concentrou as duas maiores terminais aéreas do Brasil em um único Órgão Regional do DECEA, que abarcou aproximadamente 37% do volume de tráfego da Circulação Aérea Geral (CAG) em apenas 0,4% do espaço aéreo brasileiro. Esse legado do SRPV-SP foi a base para o emprego de novos protocolos que proporcionassem a dinâmica operacional, a otimização e a segurança necessárias para a manutenção da operação. Nessa linha, em 2019, foi inaugurado o Centro de Operações (COP), integrado à Divisão de Operações (DO), órgão que tem o escopo de atender às premissas do gerenciamento de tráfego aéreo, por meio de um modelo mais robusto, e focado nas atividades do Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP), que antes era gerenciado pelo Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de São

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Paulo (DTCEA-SP), que também coordenava a Torre de Controle de São Paulo (TWR-SP). Inicialmente, a concepção estratégica do COP trouxe mais foco no APP-SP e permeia os projetos futuros programados na Diretriz da Força Aérea Brasileira, a qual contempla a criação do Controle de Aproximação Sudeste (APP-SE), em Guaratinguetá, SP, modelo semelhante ao Consolidated Terminal Radar Approach Control (TRACON), em português, Controle de Aproximação Radar Consolidado, extensamente utilizado com sucesso nos Estados Unidos da América. Operacionalmente, o CRCEA-SE tem a maior quantidade de movimentos aéreos em comparação com os Centros de Controle de Área (ACC) dos demais Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), demonstrando a amplitude da atuação deste Regional no cenário nacional. Com a criação do COP e com o êxito dos resultados apresentados frente ao novo modelo, o DECEA constatou que o nome SRPV-SP não representava mais a essência de sua atividade, sendo primordial passar por um processo de atualização na nomenclatura, uma vez que o tempo trouxe a ampliação das responsabilidades atribuídas, além de um novo desenho operacional decorrente da nova área de jurisdição delegada (Rio de Janeiro). A mudança mostrou a preocupação do Comando da Aeronáutica com a importante região econômica do País, pois além do fortalecimento do modelo de gestão com a criação do CRCEA-SE, foram gerados novos projetos de melhoria, como a Terminal São Paulo Neo e, também, o APP Sudeste, que serão importantes marcos na evolução do Tráfego Aéreo do Brasil.

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Não obstante, a reformulação do SRPV-SP permitiu certa equiparação de suas atividades com os demais Regionais, os quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), bem como a regularização de sua área de jurisdição e, também, da atualização para o SISCEAB, com a supressão do termo “Proteção ao Voo” constante em sua antiga descrição heráldica. Na esteira desse processo de transformação, os desafios impostos ao CRCEA-SE assumem uma nova perspectiva, uma vez que com o crescimento das aeronaves remotamente pilotadas, os drones e os futuros eVTOL (electric vertical take-off and land vehicle), os veículos aéreos elétricos para o transporte de pessoas, trarão a disruptura ao transporte aéreo urbano das grandes capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Integrado a essas variáveis, a nova designação que ora se apresenta, além da identidade forjada em sua respeitável história, traz em sua linhagem a excelência do serviço de controle do espaço aéreo prestado à sociedade brasileira, ensejando novas perspectivas e dando amplitude a um modelo forte, moderno e voltado para o atendimento dos desafios futuros, com robustez e segurança. O comandante do CRCEA-SE, Coronel Aviador Chrystian Alex Scherk Ciccacio, apresentou sua visão do cenário positivo: “Enalteço a satisfação de todos do efetivo pela mudança e ratifico que as melhorias na gestão da área mais complexa de tráfego aéreo da América Latina terão reflexos em termos de pontualidade e economia de combustível para a maioria dos voos do Brasil, devido a sete dos 11 maiores aeroportos do País se encontrarem no eixo Rio-São Paulo”.


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REPORTAGEM

O novo voo rumo à

digitalização do espaço aéreo brasileiro ASA, acrônimo de Airspace System Analysis, é um produto digital que vai melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo para diferentes finalidades, a partir de padronização e automatização de processos. Por Glória Galembeck e João Ximenes Arte: Augusto Yamamoto

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O trabalho realizado pelo CIMAER abarca 22 milhões de quilômetros quadrados que são protegidos pela Força Aérea Brasileira por meio das ações de controlar, defender e integrar


A gestão do uso dos 22 milhões de quilômetros quadrados do espaço aéreo brasileiro é uma tarefa complexa, dado aos diferentes usos possíveis e a imensidão desse cenário tridimensional.

ou em algum período, seja no passado ou no futuro. “Todos os processos contemplados pelo ASA são atualmente controlados pelo DECEA por meio de sistemas que cumprem suas missões separadamente. A novi-

Do ponto de vista dos profissionais que controlam o

dade do ASA é ter essas camadas sobrepostas, isto é,

acesso e o uso do espaço aéreo brasileiro, são muitas

em uma mesma plataforma. E, ainda assim, poder ter

as camadas possíveis. Circulação aérea geral, opera-

uma visão conjunta dos usos que estão solicitados, seja

ções militares, voos de aeronaves não tripuladas (dro-

pela aviação tripulada, por drones ou para práticas ae-

nes), aerodesporto e objeto projetado no espaço aéreo

rodesportivas. É uma ferramenta que une os esforços

(OPEA) são algumas das possibilidades.

realizados por analistas de diferentes áreas do DECEA

Cada tipo de uso possui características - como a área da operação e a altitude - bastante distintas, mas, o que todos têm em comum é que ocupam uma porção

e das organizações subordinadas, em uma mesma interface. Dessa forma, o ASA irá facilitar a análise para os especialistas, minimizando ainda mais as possibili-

do espaço aéreo, em um determinado intervalo de

dades de um parecer equivocado” – explicou o Briga-

tempo e precisam ser solicitados ao Departamento de

deiro do Ar Eduardo Miguel Soares – chefe do SDOP.

Controle do Espaço Aéreo (DECEA) para serem devidamente autorizados. Com o objetivo de melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo a partir de padronização e automatização de processos, desde o recebimento do pedido, o DECEA, por meio da Assessoria de Transformação Digital (ATD), ligada ao Subdepartamento de Operações (SDOP) está desenvolvendo uma plataforma chamada ASA, acrônimo de Airspace System Analysis – Análise do Sistema do Espaço Aéreo. O ASA é composto por uma série de produtos digitais, com missões distintas que concorrem para os mesmos objetivos: viabilizar o gerenciamento do uso do espaço aéreo no espaço-tempo, divulgar as infor-

Céu digital A organização do fluxo dos processos de solicitação de uso do espaço aéreo trará também outros ganhos: a padronização na entrada e a centralização no armazenamento de dados georreferenciados, a integração com outros serviços GEO, a estruturação de dados de espaço e tempo referentes às solicitações de uso do espaço aéreo e separação do que é operacional do que é administrativo. Atualmente, existem áreas do espaço aéreo permanentes e temporárias, estas últimas ativadas mediantes NOTAM (Notice to Airmen) para alguma finalidade, como aerodesporto, por exemplo.

mações entre os responsáveis por diferentes proces-

A abordagem utilizada pelo ASA irá adicionar um

sos, melhorar a análise das solicitações do uso do espa-

novo status, que são as áreas pré-aprovadas, isto é,

ço aéreo e automatizar as análises possíveis, visando

porções do espaço aéreo cujo acesso já foi requerido,

desonerar o efetivo.

mas que será de fato autorizado mediante o check in

Para o usuário externo, as solicitações continua-

do solicitante por meio de aplicativo de celular, e pode-

rão a ser feitas da mesma forma. Por exemplo, voos

rá ser bloqueado pelo DECEA, caso seja necessário. Isso

de drone são solicitados no Sistema de Solicitação de

aumentará a capacidade do espaço aéreo, trazendo o

Acesso ao Espaço Aéreo por RPAS (SARPAS), enquan-

controle do fator tempo para as mãos dos analistas.

to a autorização para construções que se caracterizam como OPEA é feita por meio do Sistema de Informações Administrativas da Área de Aeródromos (SysAGA). Porém, o público interno - sejam analistas dos Órgãos Regionais ou das organizações do DECEA - contará com uma ferramenta para ter uma visão geral dos múltiplos usos do espaço aéreo em vigor

A “digitalização do espaço aéreo” aumenta a consciência situacional acerca dos diferentes usos e possibilita a conexão com outros processos futuramente. O aumento na geração de dados estruturados sobre uso do espaço aéreo é um fator crucial para a implementação do UTM (Unmanned Traffic Management) no Brasil, isto é, o controle do tráfego aéreo não-tripulado. 23


“Os dados gerados pelos produtos ASA são insumos

mento do requerimento. Ao permitir que o usuário

relevantes para formar uma base que constituirá mais

declare com exatidão o momento da utilização do es-

um instrumento para nortear a tomada de decisão

paço aéreo (dentro da janela previamente solicitada),

pelo DECEA em uma série de processos, entre eles, a

garante uma otimização na gestão do fator tempo.

implementação do UTM no Brasil” – revelou o Briga-

Assim, terá as funcionalidades: listagem das áreas sob

deiro Miguel.

responsabilidade do usuário; checkin/checkout para

Conheça os módulos que compõem a plataforma:

declaração do uso da área; aviso de indisponibilidade temporária da área e notificação em caso de emergência relacionada ao espaço.

ASA-MAP É a interface georreferenciada que será disponibilizada em diversas aplicações e irá mostrar o desenho da solicitação de uso do espaço aéreo. Caberá ao ASA-MAP padronizar a entrada de dados e otimizar o desenvolvimento de mapas para outros produtos digitais.

ASA-ADMIN Interface destinada à utilização dos operadores do ASA, isto é, dos analistas do DECEA e das organizações subordinadas. É por meio deste módulo que serão feitas as análises que não forem resolvidas pelo ASAAUTO por demandarem ação humana. Esse módulo

ASA-GAD O Gerador Automático de Desenhos (GAD) será incorporado ao workflow ASA como módulo destinado

permitirá, também, as configurações gerais do sistema, gerenciamento de contextos e suas regras e o gerenciamento do ASA-MAP.

a partir de regras pré-definidas. Vai gerar feições no espaço aéreo de maneira estruturada com base em dados informados em processos de solicitação vinculados.

A expectativa é que o ASA-AUTO, o ASA-GIS e o ASA-GAD sejam disponibilizados ainda no primeiro semestre de 2021. O ASA-AUTO será o responsável por fazer as análi-

ASA-GIS É a base de dados do Sistema de Informação Geográfica (GIS) para armazenamento dos elementos georreferenciados gerados pelos produtos digitais

ses de solicitação de voo não-tripulado, substituindo o motor que está em funcionamento desde o lançamento do SARPAS, em 2016. Os demais módulos serão entregues gradualmente.

que recebem solicitações de uso do espaço aéreo. O ASAS-GIS atuará como um complemento aos processos existentes.

UTM e ASA Automatização é o ponto de partida quando se pensa em tráfego aéreo não-tripulado (UTM, de

ASA-AUTO É o motor de análise automática de solicitações de uso do espaço aéreo, que aplicará regras de acordo

Unmanned Aircraft Systems Traffic Management) e, principalmente, mobilidade aérea urbana (UAM, de Urban Air Mobility). Para automatizar qualquer

com o contexto de cada tipo de solicitação. Esse módu-

processo, os insumos fundamentais são dados e

lo irá incorporar as análises feitas pelo SysAGA (OPEA)

devem estar estruturados e disponíveis. O ASA

e pelo SARPAS.

atende justamente à essas duas demandas, pois é um hub que permite o uso dos dados de espaço

ASA-MOBILE Aplicativo de celular destinado ao solicitante do uso do espaço aéreo, que fará a interface para o gerencia24

aéreo dos mais diversos provedores, viabilizando o conceito de ecossistema que é imprescindível para o êxito da implementação do UTM no Brasil.


Uso Flexível do Espaço Aéreo A alta conectividade e a mobilidade, viabilizadas por aplicativos mobile, oferecem a oportunidade de colocar a camada tempo no mesmo patamar do espaço, isso quando falamos em espaço aéreo, com a criação de áreas de uso flexível pré-aprovadas. A partir dos gerenciamentos estratégico e pré-tático do espaço aéreo - que são passíveis de gestão em tempo real, por meio do controle tático - o gerente tem a possibilidade de alterar a estrutura e a capacidade do espaço aéreo, conforme a necessidade dos usuários, que podem acompanhar o status, também em tempo real, por meio de aplicativo ou integração via serviço e, ainda, informar da utilização ou não do espaço em um dado momento. Ao oferecer este serviço, o ASA atende ao conceito de Uso Flexível do Espaço Aéreo (FUA, de Flexible Use of Airspace), segundo o qual não deve ser classificado como civil ou militar, mas ser considerado como algo contínuo e usado de maneira flexível a cada dia. Dessa forma, qualquer segregação do espaço aéreo deve ser de natureza temporária. Objetiva-se, com isso, a sua utilização mais eficiente por parte dos usuários.

Preconizado pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), o FUA faz parte do conjunto de implementações coordenadas pelo Grupo de Trabalho do Programa Sirius Brasil e estabelece que qualquer segregação de espaço aéreo deve ser baseada no uso real de um volume de espaço aéreo dentro de um determinado horizonte de tempo. A expectativa é que, por meio de sua implementação, seja possível aumentar a capacidade do espaço aéreo e reduzir, além dos custos associados à gestão do tráfego aéreo, o impacto da aviação no meio ambiente. “O ASA permitirá a aplicação do conceito FUA no nível pré-tático, aumentando a consciência situacional dos órgãos de controle e do CGNA, atendendo aos compromissos do Brasil junto à OACI no que diz respeito à performance do sistema ATM nacional, com benefícios para a aviação civil e militar no que diz respeito à acessibilidade e à eficiência das operações aéreas” – avalia o gerente de implementação do conceito FUA, Capitão Especialista em Controle de Tráfego Aéreo Ricardo David Benedictis

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REPORTAGEM

Tecnologia a serviço da defesa aérea Com a instalação dos radares de Corumbá, Porto Murtinho e Ponta Porã, o Brasil passa a contar com uma vigilância aérea que cobrirá toda a fronteira do Mato Grosso do Sul com os países vizinhos. Por Denise Fontes Fotos Agência Força Aérea

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O Brasil tem um dos melhores sistemas de controle de tráfego aéreo do mundo, com altos índices de eficiência, segurança e pontualidade reconhecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). A implantação de novas tecnologias e equipamentos tem sido uma das metas estabelecidas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), visando à manutenção da Soberania e da Defesa Nacional. Sem dúvida, o Brasil tem um dos melhores sistemas de controle de tráfego aéreo do mundo, com altos índices de eficiência, segurança e pontualidade reconhecidos pela OACI que, em sua 40ª Assembleia, escolheu o Brasil e atestou o seu papel relevante no cenário mundial, ao assegurar a sua continuidade no corpo executivo da Organização e preservar a capacidade de influência brasileira nos principais temas da aviação civil internacional.

Implantação O projeto de modernização foi iniciado em 2018 pelo Ministério da Defesa em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O DECEA, por meio da Comissão de Implantação do Sistema

As infomações geradas pela Estação Radar de Corumbá são integradas na síntese radar e podem ser visualizadas no CINDACTA II

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de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA), contratou a OMNISYS, empresa integrante da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, para o fornecimento de três sistemas de vigilância, com a implantação de radares nas cidades de Corumbá, Porto Murtinho e Ponta Porã, no Estado do Mato Grosso do Sul, na região da tríplice fronteira (Bolívia, Brasil e Paraguai). Subordinada ao DECEA, a CISCEA é responsável por promover as atividades relacionadas com a implantação de projetos voltados para o desenvolvimento do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) e de outros projetos de interesse do Comando da Aeronáutica (COMAER), e isso inclui a modernização de sistemas já implantados.

Corumbá - MS Em 18 de agosto de 2020 foi registrado um marco para a vigilância do espaço aéreo brasileiro: a Força Aérea Brasileira (FAB) inaugurou a Estação Radar em Corumbá (MS), que dá continuidade ao processo de modernização da rede de radares de vigilância e aprimora o controle do espaço aéreo em áreas fronteiriças. A Estação Radar de Corumbá amplia a vigilância


O Brasil, por meio do DECEA, vem empregando soluções estratégicas para evolução permanente de gerenciamento e controle integrado do espaço aéreo brasileiro

O novo equipamento aumenta a capacidade de vigilância aérea na região de fronteira

do espaço aéreo na região e, principalmente, otimiza a detecção de tráfegos não cooperativos na área de fronteira oeste do Brasil, coibindo os voos ilícitos dentro do território brasileiro. Certamente, não é tarefa fácil, sobretudo quando a área sob sua jurisdição possui proporções gigantescas. Subordinado ao COMAER, o DECEA é responsável por controlar, defender e integrar uma área de 22 milhões de Km². Dentro dessa estrutura, a vigilância do espaço aéreo brasileiro é realizada 24 horas por dia, por meio de uma rede de radares que cobre todo o território nacional, além de partes do Oceano Atlântico. A Estação Radar de Corumbá, composta de dois novos radares de vigilância de rota, que operam sempre juntos, amplia o controle de tráfego aéreo na região. O sistema radar LP23SST-NG/RSM970S se destina

à vigilância dos tráfegos aéreos, voando em rota, facilitando o trabalho do controlador de tráfego aéreo. Os radares aumentam a capacidade de vigilância aérea na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA), por meio da detecção de aeronaves cooperativas e não cooperativas, podendo alcançar um raio de 450 quilômetros, a 30.000 pés, o que corresponde a quase duas vezes a área do Estado do Mato Grosso do Sul. Este sistema radar está preparado para operar 24 horas por dia, 365 dias por ano podendo ser conectado aos Centros de Controle através de uma grande gama de meios de transporte de dados, usando os protocolos de comunicação internacionalmente adotados em radar. A colaboração se dá pelo trânsito de interrogações codificadas feitas pelo radar secundário e, por respostas - também codificadas - dadas pelo alvo, por intermédio do transponder embarcado na aeronave sob vigilância dos radares. 29


Benefícios A entrada em serviço desses novos equipamentos visa à potencialização da identificação de aeronaves voando a baixa altura na região de fronteira, trazendo benefícios operacionais, tanto para o controle civil de aeronaves, quanto para a defesa aérea, aumentando a capacidade de detecção de tráfegos não autorizados ou de emprego ilícito, colaborando, decisivamente, para o sucesso das ações de policiamento do espaço aéreo. Portanto, além de auxiliar no controle do espaço aéreo, a nova estação vai proporcionar a ampliação da vigilância aérea, com foco no centro-oeste brasileiro. “A cobertura radar na região hoje é feita por radares de vigilância de rotas, não abrangendo toda a extensão do território. Sabemos da importância deste equipamento, não só para proteção ao voo, como para defesa aérea. Estamos aumentando a capacidade de vigilância do espaço aéreo no território nacional, reforçando as ações para manutenção da soberania e segurança de nossas fronteiras”, justifica o presidente da CISCEA, Major-Brigadeiro do Ar Sérgio Rodrigues Pereira Bastos Junior.

O projeto prevê, ainda, a absorção do conhecimento técnico pelo COMAER, visando à realização das atividades de manutenção preventiva e corretiva, além de minimizar os custos de logística e manter um alto nível de disponibilidade dos equipamentos

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Integração As informações geradas pela Estação Radar de Corumbá são integradas na síntese radar e podem ser visualizadas no Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II), em Curitiba (PR), que presta serviços de gerenciamento de tráfego aéreo, defesa aérea, informações aeronáuticas, meteorologia aeronáutica, telecomunicações aeronáuticas e busca e salvamento. A integração provê, além da otimização de meios, uma resposta mais rápida a situações que possam colocar em risco a defesa do Brasil. “Com a instalação desses novos equipamentos, o nosso País terá uma vigilância aérea que cobrirá toda a fronteira do Mato Grosso do Sul com os países vizinhos. Isso proporcionará a capacidade de detecção de qualquer aeronave que passar por essa região, possibilitando a execução de ações de interceptação de forma mais efetiva e evitando a entrada de ilícitos por via aérea”, enfatiza o comandante do CINDACTA II, Coronel Aviador Kazuhiko Toda. A aquisição das capacidades advindas da operação desses radares norteia-se por um coerente alinhamento com os objetivos da Estratégia Nacional de Defesa, que considera a vigilância do espaço aéreo a primeira das responsabilidades e condicionamento das demais tarefas da FAB.


Porto Murtinho também já está em operação e Ponta Porã até o fim do primeiro semestre de 2021 Por Camille Barroso 1º Tenente Relações Públicas

A CISCEA entregou para operação, no dia 31 de março, a nova Estação Radar de Porto Murtinho (MS), dando continuidade ao processo de complementação da capacidade de vigilância aérea, com o objetivo de aprimorar o controle dos tráfegos que voam na região da tríplice fronteira. “Foram inúmeros os desafios enfrentados pela CISCEA durante a implantação desse radar, em tão curto espaço de tempo. Em 12 meses concluímos as obras de infraestrutura, a instalação do radar, os testes de aceitação, homologação e integração do radar ao Centro de Controle de Área de Curitiba (ACC-CW). O resultado obtido foi possível graças ao apoio incondicional do Comando Militar do Oeste do Exército Brasileiro, tanto na cessão da área para a instalação do equipamento quanto na celeridade dos processos necessários”, declarou o gerente do projeto na CISCEA, o engenheiro Paulo Roberto P. Magalhães. O chefe da Divisão Técnica da CISCEA destaca a evolução tecnológica dessa nova família de radares, além do fato de serem produzidos no Brasil. “A finalidade principal é compor a rede de radares que prestam o serviço de vigilância radar, em prol do controle do espaço aéreo, mas que também são dotados de funcionalidades militares, específicas dos radares

utilizados pela defesa aérea. É importante destacar, também, que a implantação desses radares proporciona, tanto no aspecto logístico quanto operacional, tendo em vista a existência de outras unidades similares em funcionamento no SISCEAB” - ressaltou o Tenente-Coronel Engenheiro Gustavo Erivan Bezerra Lima “A implantação de mais um sensor com tecnologia no estado da arte faz parte do trabalho incessante da FAB em aprimorar a sua capacidade de vigilância, controle e defesa do espaço aéreo, reforçando as ações para a manutenção da soberania e segurança nessa área”, atestou o presidente da CISCEA, MajorBrigadeiro do Ar Sérgio Rodrigues Pereira Bastos Junior.

RADARES O equipamento de modelo LP23SST-NG, fabricado pela empresa Omnisys, faz parte de uma nova geração de radares primários de longo alcance, com capacidade para detectar aeronaves cooperativas e não-cooperativas. São equipados com a capacidade de altimetria, permitindo a identificação dos alvos com precisão, além de funções de proteção eletrônica que os resguardam contra interferências eletromagnéticas, sejam elas intencionais ou não. Os radares são fabricados em São Bernardo do Campo (SP), o que permite rápido acesso à toda cadeia produtiva, agilizando os procedimentos de assistência técnica por parte do fabricante. O projeto prevê, ainda, a absorção do conhecimento técnico pelo COMAER, visando à realização das atividades de manutenção preventiva e corretiva, minimizando os custos de logística e mantendo um alto nível de disponibilidade dos equipamentos.

A nova estação radar vai proporcionar a ampliação da vigilância aérea, com foco no centro-oeste brasileiro

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