Revista Juventudes e Agroecologia

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Quem são as mulheres da pedagogia da alternância da EFASC? “quando vi que eram só essas

meninas, me espantei um pouco, pensei que teria mais meninas, tive um pouco de receio de entrar sozinha e não ter ninguém”.

Onde estão, o que fazem ou não fazem estas mulheres? “o papel da mulher tá em tudo dentro da EFASC” ... “o que

me chama mais atenção é os estereótipos de que pra lidar com a agricultura tem que ser homem e que não é coisa de mulher”.

Quais são suas contribuições na EFASC? “A escola proporciona a gente

mudar o pensamento da gente e a gente vê que trabalho da mulher é trabalho mesmo e não uma ajuda”.

Quais os espaços e tempos que ocupam na pedagogia da alternância e nos trabalhos da agricultura familiar? “sendo mulher lá dentro da EFASC

a gente descobre que tem um valor imenso na agricultura”... “eu mudei meu horizonte, a minha visão, eu entendi que eu posso fazer o que eu quiser, eu sou dona de mim!”.

As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

Cristina Luisa Bencke Vergutz1

É a partir destas inquietações e falas das mulheres da EFASC que nos desafiamos a trazer nesta escrita algumas compreensões da existência delas dentro da escola e também na agricultura. Buscamos reconhecer seus trabalhos na dinâmica da pedagogia da alternância da EFASC e sua importância enquanto ser mulher agricultora. Quando pesquisamos a história da pedagogia da alternância, junto aos registros literários identificamos a não existência de mulheres enquanto protagonistas deste processo. Entretanto, elas sempre estiveram presentes, como monitoras, agricultoras, dirigentes, esposas, mães, avós, estudantes, egressas e militantes, mas foram e são invisibilizadas pela compreensão patriarcal e machista de que espaços de decisão e de poder, isto é, espaços públicos, não condizem com o ser mulher enquanto que espaços privados, limitados ao familiar e a casa, são adequados as condições tidas como naturais de todas as mulheres. São registros históricos da pedagogia da alternância em que

há a exaltação apenas do protagonismo da igreja e da família. Uma narrativa imersa em uma compreensão de mundo e de relações sociais de sociedade discriminadora e excludente, construída como única e verdadeira e que torna invisível as diversidades de sujeitos que contribuíram e contribuem no dia a dia da pedagogia da alternância como as mulheres, os idosos e a própria juventude.

1Monitora e Coordenadora Pedagógica da EFASC. Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação. Todas as palavras identificadas em itálico são falas de mulheres que estabelecem ou estabeleceram vínculos com a EFASC, ou seja: são estudantes, egressas, mães, avós, monitoras, professoras ou militantes. São falas oriundas de diálogos e entrevistas que emergiram de uma pesquisa que resultou em uma Tese de Doutorado intitulada Pedagogia das Vozes e dos Silêncios: experiências das mulheres na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC de autoria de Cristina Luisa Bencke Vergutz e que se teceu junto aos trabalhos do Grupo de Pesquisa Educação Popular, Metodologias Participativas e Estudos Decoloniais da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC com apoio do CAPES.

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