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Editorial O Extremismo religioso e a liberdade religiosa

O extremismo religioso e a liberdade religiosa

Para este número da Consciência e Liberdade escolhemos como tema “O Extremismo religioso e a liberdade religiosa”. Antes de abordar o assunto, questionámos o que significava “extremismo”, “fanatismo” e “fundamentalismo” religioso e que relação tinham com a liberdade religiosa.

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Aparentemente, o fanatismo religioso e a liberdade religiosa são dois fenómenos que criam tensões e que, em certa medida, são antinómicas. O extremismo, e mais particularmente o extremismo religioso, tem tendência a ser um entrave para a liberdade religiosa. Com muita frequência cria restrições legais e, em certos casos, fornece às autoridades um pretexto para limitar a liberdade religiosa.

Ao abordarmos o nosso assunto, viemos a compreender que o vocabulário usado em volta deste problema era, na maior parte das vezes, vazio. Logo, a primeira dificuldade é, portanto, semântica. O que é que entendemos por “extremismo religioso”? Os termos “fanatismo” e “fundamentalismo” são aparentados? Numerosos autores e oradores utilizam com frequência estas palavras como sinónimos inter-cambiáveis. Falta a todos uma definição clara e admissível. Além disso, o sentido de certas palavras tem evoluído com o passar do tempo. Por exemplo, o fundamentalismo, que era muito mais positivo na sua origem, tem, actualmente, uma conotação pejorativa. Uma vez que estes termos não são claramente definidos, suscitam sentimentos negativos, o que torna a sua compreensão ainda mais subjectiva. O que é um extremista? O que é um fanático? O que é um fundamentalista?

Quando consultamos as enciclopédias, corremos o risco de nos sentirmos frustrados pela imprecisão e a subjectividade das definições que aí encontramos. Eis o género de definição que lá se encontra: “Fanatismo designa uma adesão apaixonada e incondicional a uma causa, um entusiasmo duradouro e quase monomaníaco por um determinado assunto, ou uma ligação opinativa, cega e por vezes violenta” (Wikipedia). Uma outra fonte propõe: “O fanatismo religioso pode ser definido como o fanatismo ligado à devoção de uma pessoa ou de um grupo a uma religião. Contudo, o fanatismo religioso é uma avaliação subjectiva definida pelo contexto cultural de quem faz a avaliação. O que pode ser considerado como fanatismo no comportamento ou a crença de outrem é determinado pelas hipóteses de base daquele que avalia. Eis porque não existe, na hora actual, nenhum modelo teórico constante daquilo que define o fanatismo religioso.”

O “extremismo” e o “fanatismo” são, em geral, definidos como um desvio em relação a uma norma comportamental aceite por todos, que varia segun-

do a época, o lugar ou a cultura. “O comportamento de um fanático ou de um extremista será considerado como uma violação das normas sociais em vigor. O objecto da obsessão do fanático pode ser normal, como um interesse pela religião ou a política, o que não é senão a ampliação do seu envolvimento, do seu devoção ou ainda da sua obsessão por certa actividade onde esta actividade ou esta causa é anormal ou desproporcionada.” (Wikipedia em inglês). Será uma questão de intensidade ou de nível de implicação? Pensamos que muito mais do que isso.

Ainda podemos encontrar outras definições. O filósofo George Santayana, por exemplo, dizia que “ser fanático é prosseguir nos esforços quando se esqueceu o fim em vista”. Para Winston Churchill, “um fanático é alguém que não pode mudar de opinião e que não quer mudar de assunto”. Qualquer que seja a definição, resulta que o fanático fixa normas muito estritas e demonstra pouca tolerância para com as ideias e opiniões contrárias às suas.

Mesmo se não propomos uma nova definição destes termos que seja mais clara e aceitável para todos, damo-nos conta que o fenómeno que eles descrevem, habitualmente, amplifica-se. Instituições internacionais, tais como as Nações Unidas afirmam que o extremismo religioso e a intolerância religiosa estão num claro crescendo em todo o mundo. Abdelfattah Amor, o Relator Especial das Nações Unidas, declarou no seu relatório na Assembleia Geral de 1999 que “nenhuma religião está isenta de extremismo”.

O seu relatório mencionava, por outro lado, que era importante fazer a diferença entre os extremistas que se servem da religião para objectivos políticos – e são de facto uma minoria – e aqueles que praticam a sua religião de acordo com os princípios da tolerância e da não-descriminação, e que pertencem à maioria.

A história tem provado que o extremismo religioso e o fanatismo de qualquer espécie são hostis à liberdade religiosa e prejudicam-na. Os grupos religiosos que têm tendências extremistas demonstram, geralmente, pouca tolerância para com as outras religiões ou as outras formas de piedade. Em certas regiões do mundo, observamos tendências para a “limpeza religiosa”, logo que as minorias religiosas são sistematicamente expulsas de um determinado território. Por outro lado, há governos que, ao tentarem lutar contra o extremismo religioso, limitam a liberdade religiosa de todos.

Para ilustrarmos o nosso ponto de vista, citaremos um comentário pessoal de Nariman Gasimoglu, um erudito natural do Azerbaijão, tradutor do Corão, director do Centre para a Religião e a Democracia em Bacu e antigo investigador associado da Universidade de Georgetown (Estados Unidos): “Os grupos islamitas extremistas, como o partido interdito Hizb-ut-Tahrir, que ainda não beneficiam de um grande apoio, foram reforçados pela repressão, assim como os muçulmanos moderados, os protestantes e as Testemunhas de Jeová sofreram por causa disso. O melhor – talvez o único – meio de contrariar o extremismo religioso, é abrir a sociedade à liberdade religiosa para todos, à

democracia e ao debate livre – incluindo mesmo os grupos islamitas. A única forma de privar o extremismo religioso de apoio é deixando ver a realidade daquilo que o extremismo no poder significaria. A liberdade religiosa favorecerá a democracia, e a democracia favorecerá a liberdade religiosa. Quanto mais deixarmos as pessoas livres para praticarem a sua religião, mais se libertará a sociedade dos problemas de extremismo religioso. A liberdade é uma espécie de remédio contra os problemas sociais, tais como o extremismo”. Publicado por Forum 18 News Service.

Uma maior liberdade religiosa – uma maior liberdade de manifestar e de ensinar diversas convicções religiosas – constituiu um poderoso antídoto contra o extremismo religioso. A promoção do direito à liberdade de religião ou de convicção é, não apenas um imperativo moral, mas igualmente uma obrigação pragmática. É o melhor remédio contra o extremismo e o fanatismo e um meio essencial para garantir a segurança do mundo.

Karel Nowak

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