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Beau e o Chapéu da Vó

Jacob Katz

Esta história, ouvi de meu pai. Ele nunca falou muito sobre sua infância, mas às vezes, em alguns momentos, cheio de uma mistura de tristeza e nostalgia, parava e pensava na sua avó. Ela se chamava Sara, mas meu pai a conhecia como “Hup”. Ela, uma judia polonesa, imigrou da Alemanha para os Estados Unidos nos anos 1930, antes da guerra, fugindo dos nazistas. Seria a única de quinze irmãos a sobreviver à guerra. Ela não tinha muito dinheiro em seu novo país, e vivia uma vida simples e religiosa. A cada duas semanas, ela pegava dois ônibus e um trem para chegar à casa da sua filha, na periferia da cidade de Nova York.

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De seus três netos, Hup sempre preferiu meu pai, o mais novo, com apenas oito anos de idade, na época dessa história. A família tinha um cachorro, um poodle standard preto chamado “Beau”. Como qualquer animal, ele queria atenção, e faria qualquer coisa para consegui-la. Mas a família do meu pai não sabia como criar um cachorro, não lhe davam reforços positivos, e o cão respondia com muita agressão e causava encrencas. (Um dia, por exemplo, ele estragou uma grande televisão inteira!) Ainda assim, meu pai se lembra do cachorro com carinho, porque Beau sempre o protegia.

Certa vez, Hup chegou para o jantar, usando um enorme chapéu de pele preta, mas falsa. E nesse chapéu, dentro de uma toalha de papel, havia escondido seu dinheiro. Ela mencionou o chapéu muitas vezes naquela noite porque era novo

Henrique Soares de Oliveira, 5

e, mesmo que fosse de pelúcia, tinha muito orgulho dele. Talvez fosse um símbolo da vida depois da guerra. Ela permaneceu com o chapéu na cabeça o tempo todo. Só o tirou na hora do jantar. Mas, no momento exato em que ela tirou o chapéu, Beau o roubou rapidamente. O cachorro começou a correr pela casa, seguido pela minha avó (a mãe do meu pai) que gritava, gritava. Ela obviamente não conseguiu capturá-lo, e Beau destruiu completamente o chapéu com os dentes. Enquanto minha avó perseguia o cachorro, Hup estava em silêncio. Inquieta, mas em silêncio, talvez preocupada e, por isso, imóvel na cozinha. No fim, Beau arruinou o chapéu inteiro e a toalha de papel que estava dentro, mas o dinheiro, este ficou inalterado. Talvez Beau soubesse o quanto ela precisava dele.

Toda a família olhou para Hup, mas ela continuou imóvel e silenciosa. Depois de vários minutos, ela finalmente falou: “Bem, o chapéu tinha suas partes coladas quando o comprei, então agora eu posso repará-lo com agulha e linha e ficará

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bem melhor”. Nas semanas seguintes, ela passou longo tempo costurando, e no fim, consertou o chapéu. Essa história meu pai contava e alguns ensinamentos aprendeu e me ensinou. O primeiro é que devemos apenas nos preocupar com as coisas que podemos mudar. E a segunda lição foi sobre o cachorro que protegeu o dinheiro. Os animais, como os humanos, precisam de atenção positiva e carinho. Há que amar as coisas boas e ignorar as más.

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Victor Veríssimo Soares de Oliveira, 9

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