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Raízes na Música

Héctor Leal

A música sempre foi algo importante para minha família. Tenho tias que cantam, primos que cantam, e um avô que toca vários instrumentos. Desde criança eu via o meu avô tocar o violão e cantar as músicas dos Beatles, Eagles, Creedence Clearwater Revival, e outros grandes artistas da sua época. O meu avô cresceu num rancho no estado de Sonora no México. Ele deixou a escola muito jovem para trabalhar e ajudar a sua mãe, mas ele sempre foi apaixonado pela música. Especificamente, ele amava o rock em inglês; tanto que ele aprendeu sozinho o inglês só por escutar e cantar as músicas.

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Mais tarde o meu avô se mudou para uma cidade maior, perto do seu rancho: Navojóa, Sonora. Logo depois, aos vinte anos, o meu avô tornou-se um dos poucos que cantavam canções em inglês. Então, ele começou sua carreira musical em Navojóa e cantou em várias bandas, fazendo concertos e gravações. Hoje em dia, eu ainda vejo o meu avô afinando o seu violão e tocando suas canções favoritas da sua época. Mas o que eu não sabia era o grau de profundidade em que a música se manifesta na minha família.

Durante o feriado de Natal de 2020, eu fui para Sonora, até o rancho onde a minha bisavó deu à luz ao meu avô e a seus irmãos. O rancho se chama El Chinal e fica bem escondidinho na serra de Sonora. Para se chegar até lá, é necessário pegar ruas de terra, o que torna o percurso muito mais lento do que se fosse em estradas pavimentadas. Porém, a paisagem

Ana Clara Neto, 12

é muito bonita. Há muitas montanhas que refletem uma bela mistura de vermelho e laranja durante o pôr-do-sol, o que nos permitiu apreciar a paisagem ao longo do caminho. Quando chegamos, nós visitamos a casa onde nasceram meu avô e seus irmãos. Foi uma experiência muito especial porque ali começaram as minhas raízes. Ao estar nesse rancho, vieram-me muitas perguntas sobre o que aconteceu ali: a história da infância do meu avô e também a história da minha bisavó.

Quando voltamos do rancho, fui ao encontro da minha bisavó. Eu acreditava que, por ser muito idosa, ela não gostaria de falar muito. Mas eu estava tão errado! Quando fiz a minha primeira pergunta, “Vovó, você lembra do seu tempo no Chinal?” Ela falou de tudo. A coisa mais interessante para mim foi quando falou sobre o meu bisavô porque eu não sabia

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Ana Luiza Thomé-Hamilton, 7

muito sobre ele. Ela me disse que era um homem alto e magro com cabelo preto, pele marrom, e olhos verdes. Ele morreu num acidente de carro quando meu avô era menino. Depois da sua morte, a vida da minha bisavó e do meu avô ficou muito difícil. Sem o apoio do meu bisavô, meu avô lutou muito na pobreza e teve que começar a trabalhar ainda menino. E, por isso, ele não gostava de falar sobre sua infância.

Ao final da minha conversa com a minha bisavó, eu aprendi que o meu bisavô era cantor. Ele cantava muito e tinha uma voz muito aguda. Minha bisavó me disse que ele cantava para ela, então eu perguntei “Bisavó, você se lembra das canções que ele cantava?” Ela me disse que sim; e cantou uma das músicas por inteiro! Isso foi muito comovente para mim. Talvez ela não se lembrasse de muitas coisas do seu passado, mas ela

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se lembrou do seu amor antigo pelo canto. E assim, fiz outra descoberta: o meu avô, talvez sem saber, continuou a tradição da música que se originou com seu pai e chegou até mim. Eu gosto de cantar também. Sempre quando nossa família se reúne, cantamos juntos enquanto o meu avô toca violão. Eu pensava em todas estas coisas quando minha bisavó falava sobre o meu bisavô. Assim, fiz uma grande descoberta que a música em nossa família vem do meu bisavô! Foi um detalhe que se eu não perguntasse para minha bisavó, nunca saberia. Hoje em dia, eu vejo a música e o canto na nossa família como uma maneira de honrar as minhas raízes e, especialmente, o meu bisavô.

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Lucas Luz Andrade, 9

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