Ana Júlia Cornélio Ribeiro
Contos de Ana
Ana Júlia Cornélio Ribeiro
Contos de Ana e poesias
FRANCA/SP 2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Ribeiro, Ana Júlia Cornélio Contos de Ana/ Ana Júlia Cornélio Ribeiro. – Franca (SP): Ribeirão Gráfica e Editora, 2017. 172 p ISBN 978–85–7681– 313-2 ISBN Ebook 978-65-89271-25-3 1. Literatura Brasileira – Poesia 2. Poesia Brasileira CDD 869.915
© 2017 by ANA JÚLIA CORNÉLIO RIBEIRO Todos os direitos reservados.
Ribeirão Gráfica e Editora Rua Estevam Marcolino, 561 14405-333 – Franca-SP Pabx (16) 3722-8237 fernandarge@hotmail.com
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e início, não era um livro de poesia como foi o “No Calor das Emoções”. No entanto, durante o processo ela surgiu, gritando em meu peito para sair da mente e descansar no leito de uma folha em branco. 1, 2, 3 eu não podia mais parar, ela domina meus sentidos com força tamanha que se tornou inviável não ser poeta. Ela me escolheu, e foi de menina... Vem contudo, pronta, na ponta da língua para calar alguém com boca de beijo. Ela me escolheu e serei eternamente grata a cada uma que vem em mente e em coração surgindo sempre em dias que a emoção transcende a capacidade humana de viver banalmente um cotidiano preto e branco. Ela me escolheu colorindo meus dias com sua musicalidade.
E eu escolhi permanecer fiel à minha essência poeta de ser, portanto “Contos de Ana” são poemas, histórias e contos: tudo de várias Ana(s) que não sei ao certo se existem ou não. Dei voz a elas, na ficção. E sigo assim, sempre em frente, permitindo e agradecendo cada voz que fala através de mim. OBS: A poesia está em todos os lugares permita-se namorar com ela.
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Sumário 9 13 21 27 31 37 41 45 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69 71 73 75 77 79 81 83 85 87 89 91
Contos de Ana “Cuidado, Olhos Azuis” “Ella & Louis” Moraes Jasmine... Amor em Roma Golpes de Sangue Ana Fazenda Hart Benton Enfim, a Poesia Os Lábios de um Homem Almas em Cores A Vida Alheia E de novo a Rejeição Eternamente Insatisfeita Nos braços seus Ele Uma noite ao teu lado Tu és Menino Perdão Possuída Você em Mente Poesia Triste Paixão Olhe nos meus olhos A melhor das Transas Mulher de Muitos Você e Eu Ops! De novo A chegada dele 7
93 95 97 99 101 103 105 109 111 113 115 117 119 121 123 125 127 129 131 135 137 139 141 143 145 147 149 151 153 157 161 163 165 167
Momento Mágico Raça Humana Amor na ignorância Falando de amor Mude Julgando a si Chamou-me Vênus Rococó supra real Zaratustra Falar de amor Ética Taças de vinho Solidão Amar Pelos olhos dele Passaram Insatisfeitos Distante Prostitutas Eu A Arte é que escolhe Resistente Apaixonados O jeito seu comigo Para estarmos juntos Sublime Cê La vie Francês Depressão Não tenho amigo Infeliz Não vou me abrir para ninguém A realidade Se me ofendeu 8
Contos de Ana
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“Cuidado, olhos azuis”
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na, jornalista recém formada, trabalha na redação de uma conceituada revista, como redatora e assistente geral. Uma vida corrida, não reclama de não ter tempo para mais nada, aproveita seu trabalho, vive seus dias com alma de cigana, que precisa trabalhar de forma insana para pagar as contas e cuidar de sua mãe doente. No auge de seus 20 anos, honra seus compromissos profissionais também, sabendo atender o desejo de todos os seus chefes, que ela nem sabe ao certo quem são. Em uma segunda-feira insana, Ana desce as escadas da empresa com cafés para seus chefes, como faz todos os dias... Naquela segunda, ela se depara com um homem que a faz tremer na base. Ele se aproxima e diz: bom dia. O café quase caiu rolando escada abaixo.
(Ana sempre paga micos na frente de gente interessante. Nasceu assim.) Voltando... aquele bom dia foi suficiente para que ela não esquecesse os olhos mais fatais que já viu na vida. Ao longo de seus dias e da sua rotina, não se dá conta que sua mente busca o olhar daquele homem diariamente. Distraída que só ela no mundo de Ana, pensando alto, enquanto ouve boleros no seu fone, que são interrompidos por um telefonema da supervisora: intimando seu trabalho de assistente para ser acompanhante de um chefe a um coquetel. Ela providencia tudo o que foi exigido, no prazo até com certa antecedência e vai meio que sem entender a esse coquetel de gala. 15
Linda, com um vestido emprestado de sua amiga milionária Mariana, ela chega ao local do coquetel e aguarda como pedido do lado de fora. O coquetel era uma exposição de arte, e ela espia o lado de dentro, quando: um toque caloroso em suas costas tira todo seu foco em existir. — Boa noite.
(De novo aquele homem de olhar fatal! Ana não sabe lidar com isso... A carne ali é fraca dinastia de canalha honesto.) Olhar naqueles olhos de novo foi suficiente para que soubesse que estava apaixonada. A noite foi sublime, sua missão profissional era observar todas aquelas obras de arte, anotar o que ele pedia discutir conceitos, deixar em ordem os pensamentos dele para que fosse possível redigir uma crítica em seu nome. As obras eram variações de azul, Ana fica encantada com trabalho do arista italiano Luiggi Trousseaut, anota tudo o que vem à sua mente, ao mesmo tempo, suspira por seu chefe que divaga sobre as imagens com uma poética tão bela que poderia ser uma outra exposição.
(O parecer dele sobre tudo aquilo era também uma obra de arte). Trabalharam, entre sorrisos contidos e olhares doces, divertiram-se ao longo da noite. Quem observa de fora nota: eles têm uma sintonia diferente de todas as pessoas, pareciam um casal mesmo sem ser. Pareciam se amar e ainda formavam uma conexão de gerações intrigante: ela com 20 ele com 60 anos. Saindo da exposição, ele pergunta se ela aceita conversar tomando um drink fora dali. Ela diz que não 16
pode, ele insiste, ela aceita. Tomaram wisky cada um da sua maneira, muitas risadas falaram sobre o mundo, as pessoas, deram gargalhadas de suas semelhantes impressões sobre a humanidade. O celular de Ana toca, ela precisa ir. Ele sorri compreensivo e, no caminho de volta, ela só pensa naquele par de olhos brilhantes que a fez lembrar que felicidade existe. Passaram-se meses Ana não teve mais notícia daquele belo homem, não conseguia se concentrar em nada a não ser no fato de que ele desapareceu e que fazia falta em sua rotina mesmo que por um mísero bom dia. Sua vida se tornou mais cinza sem ele. Em uma quarta-feira a noite, próximo ao final de seu expediente, Ana é surpreendida, a porta se abre, ele entra, lindo erótico e com seu terno preto, sua postura ereta e riso sarcástico fatalmente sedutor. Ela diz: boa noite. (pergunta no que pode ajudar) Ele diz: que horas você sai? Ela responde: em 10 minutos. Ele diz: eu espero. Ela pergunta: por quê? Ele sai e aguarda lá fora. Ana treme por inteiro, começa a transpirar, 10 minutos pareciam 9 anos, e ela conseguia vê-lo pela porta de vidro: calmo e tranquilo do lado de fora, fumando seu cigarro e observando a noite. Ela sai, vai até ele já imaginando que algo em seu trabalho podia estar errado e que era bem possível que uma bronca pudesse ser dada, envergonhada e se sentindo culpada, ela pergunta... 17
“Está tudo bem?” Ele responde que “não.” Ela tem um ataque por dentro, pensando “eu tô na rua”. Ele não aguenta e ri da cara dela de assustada, ela relaxa e sorri de volta. Ele diz: janta comigo. Ela vai. No carro dele, toca blues, ela ama. Ana sabia que estava errado ir jantar com seu chefe, não era ético não era moral muito menos correto. Ela simplesmente quer que o mundo se exploda, entrega-se aquela experiência, solta seu cabelo, olha pra ele a cantar, ele olha de volta com olhos azuis fatais inteligentes e pensando alto solta “é muito filha da puta”... com sorriso sacana... ela devolve o elogio em um olhar que ele não vai esquecer tão fácil. Jantam sorrindo, divertem-se, conversam, olham-se. Ana se esquece de tudo: de ser chefe, da hierarquia, entregase a sensação que aqueles olhos claros provocavam nela. Ele também esquece, e eram os dois, em um restaurante lindo que tocava jazz... Na manhã seguinte, ela vai trabalhar ainda descrente do que tinha acontecido, sorria sozinha pelos cantos. Não conseguia esconder sua luz radiante que a presença dele havia deixado. Ela senta em sua mesa e começa a trabalhar, a porta abre: uma mulher elegante belíssima, séria em alto e bom tom pergunta onde estava JR. Ana treme, diz não saber. A Mulher menciona que ele não havia jantado em casa na noite anterior, Ana não entende ao certo de quem ela estava falando... mas eis que sua ficha cai. Ele era casado. 18
A mulher sai da sala, bate a porta, Ana fica lá. Gélida, descrente. Ele não havia mencionado isso. “Ok”, nada havia acontecido, não se beijaram, não transaram, mas porra! ELE A LEVOU PARA JANTAR! Ela estava apaixonada. Ele era seu chefe, já estava errado e ainda por cima, marido de uma mulher daquelas, mil vezes melhor que ela. Ana fica apática, um ódio descomunal começa surgir no seu interior, ela sai do trabalho, nervosa, entra na primeira balada que encontra, vai ao bar, começa beber, depara-se com uma jovem linda, de olhos azuis. E, sem pensar, aproxima-se dela e a beija da forma mais intensa que ela podia. Dançaram, beijaram-se a noite toda, sem trocar uma só palavra, Ana foi amaldiçoada pelos olhos azuis e compenetrada neles permaneceu a noite toda. Passou seu telefone para moça que nem sabia o nome e foi embora. Outro dia de trabalho, Ana chega como sempre faz, senta a sua mesa, logo que começa trabalhar, chega um entregador com flores para ela. Ela recebe aquilo já com ódio nas veias, abre o cartão e era ele dizendo: “desculpe, imaginei que soubesse e preciso ver você de novo. Esperote às 22h na portaria 3.” Maldito! Ela pensa... Ignora o bilhete, continua seu dia de trabalho como se nada tivesse acontecido, recebe uma mensagem em seu celular (a moça da noite anterior), dizendo: “quero te ver de novo”. Ela responde, me encontre às 23h, na portaria 3 do local onde trabalho. A moça diz: ok. Às 22h, Ana, ansiosa, com os nervos a flor da pele vai a até a portaria e lá estava ele, lindo de terno preto, calmamente aguardando. Aproxima-se e, quando vai brigar com ele, ele a beija de maneira deliciosa, ela não resiste e se 19
entrega. Beijam-se sem parar, como se tivessem passado sede daquele instante, param, se olham nos olhos. Um chamado bem perto tira o foco deles: Pai? Os olhos azuis eram os mesmos.
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“Ella & Louis”
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m enorme jardim de folhas verdes, com caminho de pedras no chão que dava nos pés da grande escadaria central do mosteiro. A sede grandiosa e bela, detalhes em mármore branco, vezes cinza meio o reflexo das folhagens. Na noite chuvosa, o internato parecia um castelo, e Ella no auge de seus 15 anos, cabelos negros, pele branca, subia as escadas às pressas para esconder da chuva seu vestido branco, já transparente com a garoa que caía do céu; bate na porta gigantesca de entrada, enquanto tenta aquecer seu corpo do frio com os braços. Ella: tem alguém ai? Abre para mim!!! A porta se abre rangendo, Ella entra no salão e a porta fecha em suas costas lentamente. Desconfiada e curiosa, olha por trás de seu ombro a mostra, as alças caídas e gotas de chuva escorrendo por seu corpo, tornando a jovem mais vulnerável que de costume. Ouviu uma risada sarcástica e seus olhos encontram com ele: Roupas de tecidos nobres, olhos tarados, tímidos sem serem, 50 anos voz grave e debochada como sua risada. Louis: que faz aqui por essas horas? Ella: vim me esconder da tempestade, perdi o sono... Louis: faz frio lá fora, não é de bom grado andar sozinha por aí a essas horas. Você pode ser expulsa por isso... Não te avisaram? Ella: perdão! Eu não quero ter problemas, não consegui dormir e achei que dar uma volta não faria mal... Não sabia que era proibido muito menos que ia chover, se puder, não conte para ninguém, não vai acontecer de novo. Prometo. 23
Louis: não? Ella: se não for permitido, não. Louis: mesmo você gostando? Ella: sim, se é proibido vou respeitar. Louis: não precisa mentir para mim. Ella: e você o que faz aqui? Louis: eu mando aqui rsrsrs... Ella: então as regras quem faz é você? Louis: depende... Ella: de quê? Louis: menina, não é seguro andar por aí a essas horas, descoberta e de roupa molhada, volte aos dormitórios. Não quero prejudicar você. Ella: sabe, pouco aqui me interessa... obrigaram-me a vir para cá para aprender a me comportar e, honestamente, eu não gosto. Não faz o menor sentido. Louis: e o que quer que eu faça? Te expulse? Ella: não! Não quero voltar para casa... Louis: está aqui fazendo o que então? Ella: nesse momento, conhecendo você. Louis: hahahaha...Me conhecendo? Diz então, quem sou eu? Ella: aquele dos olhos tarados que procurei... Louis: Ella... Ella: boa noite mestre... Ella passeia novamente pela madrugada nos jardins do mosteiro, com sua camisola branca transparente sob a luz à lua. Andando, dançando com uma rosa vermelha roubada do jardim, ela vai pela noite, provocando a madrugada... Escuta alguém chamar e pergunta: Ella: quem esta aí? 24
Louis chega por trás de suas costas, pega em seu pescoço, morde suave e sussurra baixo em seu ouvido: Louis: vem. Louis arrasta Ella para as árvores, vai rasgando aos poucos a roupa dela. Cena escura e os olhos famintos dos dois queimam juntos em pecado, juntamente com as mãos dele subindo pelas pernas dela. Ella não reage, mesmo dizendo para ele parar, não queria que aquilo terminasse. Ella foi estuprada. Por aquele homem que tanto queria. E, no dia seguinte, seu corpo foi encontrado gélido ensanguentado e pálido, perto do riacho. Só o que se sabe... é que não se deve mexer com um homem casado.
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Moraes Jasmine...
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ezoito anos, o frescor dos olhos curiosos dela que seguiam dia a dia a procura de algo que não fosse tão real assim... Ele surgiu, com um bilhete na mochila dela, envelope azul, que ela, vira sem querer durante a aula... Abriu e era uma charada...uma espécie de poema que dizia algo que somente os dois sabiam, o gosto de baunilha de um café que tomavam sempre um na companhia do outro com a desculpa de estar entre amigos... Saiu da sala de forma discreta com o coração batendo forte e desconfiado, as borboletas no seu estômago a deixavam com pressa de chegar até o café... talvez fosse isso que o envelope quis dizer... No café, nada além de um cheiro agradável de baunilha, seu olhar desapontou em não telo por perto... sentiu-se tola e sozinha quando no tapete beirando a porta de saída estava mais um envelope, com um escrito dele: “Se as flores pudessem cantar, elas chamariam seu nome... E se eu puder sorrir em vida que seja no teu olhar Me encontra onde tudo que for flor tem seu lugar Para mais belas das flores quero eu me confessar.” Demorou para compreender o que havia lido. Aquilo realmente estava acontecendo? Provavelmente, alguém de mal gosto estava a debochar de seus encantos...ainda assim curiosa que só e desconfiada partiu rumo às flores mais 29
belas que ela conhecia, moravam... O portão de grades retorcidas estava entreaberto, naquela manha de inverno, havia estreitos raios de sol que emergiam nas folhagens das roseiras e damas da noite. A fonte no centro mesmo que seca era linda de se ver e, por trás dela, o campo de rosas e orquídeas a bailar... Ela foi apreciando cada raio de sol em sua vista rumo às flores mais belas ao fim do jardim. Na última moita das ultimas rosas colombianas que restavam ser observadas por ela, ele chegou. Sorriso lindo, olhos brilhantes, tanto quanto os dela. Olharam-se nos olhos, ele deu-lhe um beijo na testa com todo amor que sentira nessa vida, ela se emocionou. E ele disse: “Casa comigo?”
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Amor em Roma
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na, rainha das belas, órfã aos 12 anos, assumiu o trono de seu pai no sul da Itália e, desde então aprendeu que a vida de milhares de famílias dependia dela. Com o passar dos anos, seu império cresceu imensamente, ela tinha o dom de se comunicar fazendo alianças e conquistando terras; tudo o que ela toca vira tesouro dos fartos, no entanto sua ambição nunca foi suprida. Cheia de posses, poder, riquezas olhos claros mais nem tanto carrega em seu sorriso um vazio profundo onde qualquer um que observar por muito tempo pode padecer em pecado ou loucura. Ana era deusa dos servos, bajulada e adorada por todos, com um vazio no peito que não tem tamanho. Solitária, em tudo, inclusive em seu propósito de conquistar algo a mais que nem ela mesma se dava conta do que seria. Em uma bela manha de inverno, reuniu seu exercito e tomou para si que Roma seria dela. Desafiando os limites do bom senso, que ela nunca teve, convenceu a todos de sua vontade e partiu na mesma noite junto à cavalaria para uma visita ao rei de Roma... Ana adentra o Reino alheio como se já pertencesse a ela e eis que se depara com Aurélio, o rei. Eles se olham, ela sorri com toda sua exuberância, deixando o perplexo e estarrecido. Sem pensar duas vezes, menciona que o reino de Roma agora pertence a ela. Aurélio pede provas e, sem titubear, Ana tasca-lhe um beijo arrebatador. Aurélio: o que foi isso? Ana: minha sentença de morte. Aurélio: sentença de afeto. 33
Ana: como preferir chamar, eu gosto de dizer assim. Sentença de morte. Aurélio: e por que estaria condenada? Ana: por amar o que não devo. Aurélio: amas a mim? Ana: não só amo como vim para me juntar a ti, posto que não há outra maneira de matar amor em mim. O Reino de Roma é meu por decreto e não fui eu quem o escolheu assim, você me inebriou de tal forma que não tive escolha, agora estamos assim, juntos pelo fogo do desejo, da sede do amor sublime que arranca minhas roupas com o poder do seu olhar. Aurélio: Ana, já tenho minha rainha. Ana: o meu deus não... Não te contaram? Ela se foi. Os soldados passam com o corpo da rainha morta, levando para fora do castelo enquanto Ana vai tirando sua estola de pele negra e deixando seus ombros à mostra... Aurélio: guardas! O que aconteceu? O que está havendo aqui? Ana: picada de cobra. Imaginei que soubesse, quando cheguei estava lá, entristeci-me, no entanto perdão não me contive, precisei me declarar... um rei não pode ficar só. E sei que deve estar sofrendo, portanto não se acanhe. Estou aqui e isso que fica, temos um ao outro agora. Não que o Reino não me importe, mas é o seu olhar que eu preciso nos meus dias, uma mulher não vive sem o calor de seu amado. Aurélio: eu sempre soube que um dia estaria por ser minha. Ana: pois bem, e esse dia acaba por chegar. O destino 34
quis assim... Os dias passaram e Aurélio parecia estar realmente encantado, enquanto ele babava por sua rainha amante e amada, Ana expulsava todo legado dele e dominava o território todo. Feliz poderosa, ela estava em sua melhor fase, o mais importante dos reinos agora era também dela, todos faziam o que queria, sua beleza seu poder eram tamanhos que muitos acreditavam que a magia de seu pai falecido fazia aquilo. Como era possível uma mulher tão jovem alcançar patrimônio tamanho? Ao certo, ninguém nunca soube e os dias se passaram, todos felizes quando... As portas do castelo se abriram, um caçador solitário com uma Citara em mãos cantando e sorrindo por todo reino, confiante divertido e belo. Ele adentra canta diverte a todos como se tivesse sido convidado. Ana escuta durante seu banho a doce canção do seresteiro, pergunta a suas criadas quem estava a tocar, e trouxeram-lhe o moço. Diego, jovem, risada alta, debochado com um ar alcoolizado sem estar, ele entra na sala de banho e Ana o encara, deixando o corpo à mostra que estava envolto em seda branca. Diego: que ótima recepção!!! Jamais imaginei que a rainha trataria um caçador com tanto apreço. Ana: como ousa falar assim comigo? Ele se aproxima e Ana não se intimida, ele pega em sua mão, ajoelha-se perante aquela deusa despida, beija suas mãos com cuidado e diz: perdão vossa alteza. Eles ficam ali parados por instantes com os olhos fixados um na alma do outro, as mãos dele começam a subir 35
pelo braço macio, hidratado, ainda quente do banho que Ana havia tomado, e seguem rumo aos ombros delicados brancos da rainha. Com os olhos vidrados um no outro ele vai tocando em todo seu corpo, cada parte de Ana que havia ali naquele instante estava nas mãos dele. Um mel escorre dentre as pernas dela e ele se deleita no doce gosto de uma traição fatal. A porta se abre. Aurélio: filho? Diego sorri com cara de vingança e olhos mortais. Ana, mulher difícil de surpreender, olha com desprezo para Aurélio e, antes que ele conseguisse respirar de novo, já estava morto. Transaram como se não houvesse o amanhã, selvagens pérfidos como dois animais famintos dominavam um ao outro de tal forma que nada mais foi dito. Os olhares eram insanos intensos, animais, eles eram animais sedentos de algo que não se sabe o que é. Explodiram juntos em um orgasmo transcendental. E de olhos ainda fechados, Ana chora com alma em prantos. Ele havia se vingado. Maldito, aquele que pôs fogo em Roma.
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Golpes de Sangue
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N
oite de Outubro, 1930, tudo estava como de costume na mansão dos Del Lacorte. Julieta, a empregada, ascendia as velas da sala de jantar, enquanto isso, Alejandro bebia wisky escocês em seu quarto, batendo punheta pensando na empregada; sua irmã Katerina para variar abre a porta do quarto como de costume, deixando o irmão constrangido e começando assim mais uma discussão sem o menor sentido de existir, entre irmãos. No quarto da mansão Del Lacorte, Manollo e sua mulher Ana se arrumam para o jantar, ao som de um tango argentino de dar nó nas pernas... A campainha toca, Pablito o mordomo, de antemão recebe o médico amigo da família, Ruliano Tabares. Manollo se apreça desce as escadas berrando o nome de seu tão amado amigo, enquanto isso Alejandro tenta agarrar Julieta que se esconde atrás de Katerina. Todos sentam à mesa, começam a jantar feliz e alegremente, Pablito sempre a postos servindo a todos juntamente com Julieta que, apesar de tímida, sempre fora mais eficiente. Comem sobremesa e vão até a sala de estar tomar licor de Cassis para conversar... Manollo recebe um telefonema, sobe rapidamente as escadas esbravejando alguma coisa que ninguém entende... Ana, que nunca foi desse mundo, resolve dançar um tango com Dr Ruliano. Bêbados, sem qualquer culpa ou responsabilidade, eles se agarram loucamente na sala de estar antes mesmo de Julietta trazer os “pettit fours”. Alejandro, saindo do banheiro vê a mãe nos braços de outro 39
homem e berra: Alejandro: Pai!!! Sua mulher está a se agarrar com seu amigo estrangeiro!!! Julieta se assusta com a cena, derruba toda louça no chão e na roupa do mordomo Pablito que, já impaciente vai para a cozinha com as mãos para o alto, indiginado com sua própria existência. Manollo desce as escadas com um 38 e atira: primeiro em sua mulher e depois para o alto para espantar seu amigo traidor que sai correndo rumo à rua sem perspectiva de volta... Tudo em uma rapidez tamanha enquanto Alejandro estava a berrar: — Minha mãe! Mi Madre! Uma mulher infiel! Não! Manollo fica completamente louco e sem saber o que fazer. Tinha atirado na própria esposa, no entanto gostava dela, vai até o corpo de Ana e a beija loucamente. Ana abre os olhos sorrindo e diz: “Perdoa-me, por me traíres” Os dois se abraçam e caem no riso, afinal tudo está como sempre foi.
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Ana
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na, menina de muitos amores, e de todos os que viveu, uns doeram mais que outros. Como previu Vinicius “que todo grande amor só é bem grande se for triste.” Ana desconheceu amores pequenos. Não teve em sua vida medo de sofrer, posto que a maior de todas as dores é viver, sabendo que assim morrerá hora ou outra. A vida... tão banal quanto areia do deserto, vagando de um lado a outro sem rumo nenhum. E das dores de amor à rejeição é a mais nefasta delas. Ana: “E ele olhou nos Meus olhos, correspondeu aos Meus sentidos Tocou Meus lábios com ternura e havia afeto em seu abraço. E eu ali acreditei que minha patologia passional havia achado um fundamento. Mas ele se foi Antes mesmo de chegar ele se foi E me senti completamente despida e abandonada. Rejeitada! Ele se foi. E nunca mais apareceu. Despertando a maior das minhas vergonhas e vinganças. Ele se foi. 43
Sem dar a menor explicação Ele se foi, deixando-me sedenta no ato. Ele se foi. E eu não consigo perdoar. Afundei no meu inferno quando ele se foi Sem dar a menor explicação. E não importa que espécie de amor seja esse meu Ele se foi. E pediu assim para que eu destruísse junto a mim Todo suspiro vital dele. Ele se foi, mas, Quando eu me for, levarei comigo a vida dele inteira. Você se foi, e eu Te encontro no inferno para queimar comigo.
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Fazenda Hart Benton
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nterior da Austrália, 1825, tarde de outono, na fazenda Hart Benton, observa-se a sede da propriedade mais calorosa que o normal. Portas entre abertas, a lareira ainda quente, o tapete de pele macio e ainda quente, cobertores de pele sobrepostos formando um ninho de amor, canecas jogadas com resto de conhaque, uma cesta de pães na bandeja próxima ao abajur. As escadas, com gotas e folhas trazidas do vento espalhadas nos degraus e, do andar de cima, ouvia-se o som do banjo que soava distante triste e agradável. A casa ainda cheira canela com charutos, e a cadeira de balanço range e se move ao som do vento, um gato sentado na varanda encara o horizonte que faz surgir um cavalo selado a galope, trazendo Ana sangrando, desacordada sob o dorso. Cristian o herdeiro, (perdeu seus pais com picada de cobra), corre para socorrer a pobre moça. Junto a ele restaram o caseiro e seu tio avô Salvatore, imprestáveis de natureza não moviam um dedo para socorrer nem ajudar em nada. Apavorado, sem saber muito que fazer, Cristian deita Ana no tapete, sobe as escadas para pedir ajuda, encontra o tio: tocando banjo, fumando charuto e bebendo “gin”, com sua camisa sempre suja, dessa vez com gotas vermelhas. A ficha cai: Salvatore havia corrompido mais uma donzela da cidade. Com a certeza de que não haveria punição do xerife, que aparentemente fazia a mesma coisa, 47
revolta-se. Como mais uma moça pura fora desonrada pelo sujo homem que ele havia de chamar de tio? Como ninguém naquela cidade fazia nada a respeito? Como o xerife havia de ser criminoso? A raiva domina, ele parte para cima de Salvatore tentando enforcá-lo, ingênuo e inexperiente, jamais fora ágil o suficiente para conseguir vingar-se, toma várias facadas do velho e apanha como um escravo fugido. Ana acorda, sobe as escadas, vê o homem que a estuprou esfaqueando o jovem que ama, corre, pega a espingarda ao lado da poltrona atira em Salvatore, debruçase sobre Cristian e chora desesperada. De dor, de amor, de solidão, de desespero. O caseiro espia tudo pela fresta do quarto ao lado, não disse nada, não ajudou ninguém e viu ali sua chance de tomar aquelas terras para si. Chega de mancinho, dá uma paulada na cabeça de Ana, pelas costas. Nunca mais se ouviu falar de nenhum deles, o que se sabe é que foram dados como mortos por ataque animal. O caseiro vendeu as terras, fugiu para longe com seu destino pecador nos ombros. Ficou naquela casa o gosto da tragédia provocada por vaidades.
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Enfim, a Poesia
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Os lábios de um homem Nunca confie nos lábios de um homem, Eles são de longe os mais traiçoeiros, Nunca confie nos lábios de um homem. Suas mentiras são belas e promessas das mais doces irão levar você Ao fundo do poço. Nunca confie seu corpo no falo de um homem Ele vai plantar em seu ventre a semente mais duradoura da vida. Se for para amar, que seja uma mulher.
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Almas em cores Quando olho ao redor, vejo cores nas pessoas, E não são cores bonitas, São sombras. As sombras dos outros me olham de longe e eu vejo suas reais intenções. Normalmente nunca são boas. E é por isso que eu ando só. Quando estou comigo, nada vem me perturbar, Quando estou comigo, eu consigo me amar. E quando os outros chegam, eu só sinto o atacar da inveja alheia corroendo minha alma. Quando observo o ser humano, sinto-me tão animal. Quando animais me olham, caio em mim que sou humana. E fui condenada a me amar sozinha.
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A Vida Alheia É impressionante o quanto as pessoas gostam de observar a desgraça das outras Quando obtêm sucesso, a solidão será o seu abraço. E quando o fracasso atravessar suas vísceras milhões de não amigos vêm sentir compaixão de ti. Eu tenho vontade de vomitar na cara de cada um Deles. Compaixão imunda a de vocês. Falsa e suja Só sei que não sei. Meus amigos. Nunca tive amigos. Tenho invejosos sugando meu sangue vital de sucesso Tenho encontrados que se aproximam para tentar fazer sei lá o que. E sei que eles nunca permanecem e sei que eles não conseguem lidar comigo Não porque eu seja foda ou algo assim, Mas porque eu sou de verdade. 57
E se você olhar nos Meus olhos vai saber que tenho vingança nas veias Eu não escondo nada, Inclusive não escondo Meus defeitos, Meus podres muito menos, Meus pecados. Já sai com homem casado Já traí a confiança de pessoas que eu amei. Já roubei. Já cheirei. Já iludi. Já tirei sarro na sua cara sem que você pudesse se tocar. Portanto, cuidado quando brinca comigo. Cuidado, quando me engana. pensando que eu não percebo. Eu sou sofrida. O suficientemente calejada pra sacar sua mira em mim E não tenho medo De matar ninguém. Então, por que não começar com você? Você que se preocupa tanto com a minha vida. Ajudo-te a ter sossego sem problema algum.
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E de novo a rejeição Não existe nada mais triste na existência de um indivíduo do que ser desprezado, E sempre pode piorar... Quando o desprezo vem daqueles que amamos. O enamoramento é o estado mais patético da alma humana. Nada que sua consciência diga quando estiver apaixonado é real. E, quando seu amor não for correspondido, prepare-se para imersão mais pérfida ao fundo do poço. Um buraco negro onde não há volta Onde a vingança chama a todo custo, Pedindo a cabeça de quem não te quis. A mais eufórica das alegrias e a mais profunda das dores se dá em uma paixão. E só o amor é como o oxigênio preciso dele para morrer e viver. Na vida, não existe nada mais sagrado 59
do que amar e ser amado em retribuição. E não se assuste se isso não acontecer contigo. A vida não é sagrada. É imunda e profana. E nós... Somos todos amaldiçoados pela eternidade.
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Eternamente Insatisfeita Eu estou triste e não sei porque. Tenho tudo o que preciso tenho aquilo que almejo. Meus familiares me amam. Meus país estão vivos. Eu tenho saúde. Mil homens aos Meus pés Sou bem sucedida até agora, levando em conta as circunstâncias... E acredito em Deus Sinto-me abençoada e protegida pelo destino. Mas estou triste com um vazio melancólico na alma que não consigo definir. Na realidade não quero definir Hoje eu estou triste e sei muito bem o por quê Por tocar em lábios não devidos Por não ser forte o bastante em não gostar de você. Estou completamente apaixonada e teoricamente fiz tudo o que devia ser feito para não machucar Ninguém. 61
E me machuquei porque eu realmente queria ser entregue ao seu abraço. E a tristeza sempre vem vezes por amor ou pela falta dele. Nesse caso, a tristeza vem por matar em mim algo que ama você em função de empatia com o outro. Ser egoísta de imediato é uma possível solução para enganar a tristeza. Mas, eu não soube lidar mais uma vez e antes de conhecer o paraíso, mergulhei no inferno da culpa. Errando sempre eu sigo em frente, com dias mais tristes que outros.
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Nos braços seus E eu poderia estar nos braços de um alguém, mas é no seu olhar que quero estar. Eu poderia ficar em silêncio e nada dizer, mas meu sorriso não nega: é de você que eu gosto. Tenho te desejado muito além do meu dever... Para o seu abraço eu sou entregue, mesmo que ele não seja meu. Em sonho é. Espero-te. E que seja seu meu último suspiro de prazer.
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Ele E ele não me trata com carinho nem amor, age como se eu fosse uma desconhecida. Ele não me quer viva. Prefere que eu esteja longe e não olhe para trás. Ele não gosta de ser Ele rejeita meu ser.
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Uma noite ao teu lado Uma noite ao teu lado sonho acordada com teu beijo no ato, Tendo delírios sedentos... Molhando tuas mãos e me envolvendo de quatro. Uma noite... ao teu lado para suprir desejos de uma história inteira que não pode ser contada, só pode ser vivida ao teu desejo permissivo em se entregar pra uma noite ao meu lado. No mais... Breves memórias se encarregam de cuidar da praga maldita... chamada saudade. Ciente do que nos resta e do que me cabe: Fazer-te feliz com... Uma noite ao teu lado. Apenas.
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Tu és menino Tu és menino E quer que eu o trate como homem. Faça me rir... Tu, com mais tempo de mundo que eu, é menino. Aproveite ... nessa vida posso dizer de boca cheia que eu nunca fui menina. Cortaram inocências de meu sangue logo cedo. Eu vi de perto que o demônio existe... Aprendi a falar com ele domesticá-lo para safar minha existência E é por sofrer além do suportável que consigo compreender que não há liga entre mim e você Tu és menino. E eu? Mulher. Daquelas leem os olhos dos outros. 69
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Perdão Peço perdão, Encantei-me por outro alguém não consigo me envolver contigo. Não é que não goste mais de ti. Tu és meu eterno amor. Por isso peço perdão. Eu me encantei por outro alguém. E minha alma deu as costas para você. Exatamente como a sua fez comigo ao sair de Meus encantos para voltar ao matrimônio.
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Possuída Possuída pelo demônio da responsabilidade. Eu prefiro ser bicho, mas quero um conforto. E minha mente é um barco navegando em tempestade. Não sei que caminho seguir, não faço ideia do que querer... Que Meus demônios me ajudem, estou perdida e confusa. Já não sei o que é pensamento, o que é realidade. Algo se apossa do meu esqueleto Ocupando minha carcaça em vida. Sim, estou eu possuída De morte em vida.
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Você em mente O que me toma quando vem você em mente? O calor inigualável a qualquer vulcão ativo em seu instante pré-erupção. Erupção das boas é aquela que você sabe fazer comigo. Quando toca ... Quando toca ... ... Quando toca ... ... ... Tudo aquilo que não deve ser tocado Quando se trata de um cara casado. O que enlouquece quando vem você na minha mente? As memórias da minha pele, explodindo junto à sua E que tudo vire pó depois do ato, Eu não me importo, Vivo e existo com o que recordo, O sedento calor inigualável com o qual você me deixa No instante pré-erupção.
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Poesia Poesia é o que eu faço com você na minha boca. O resto: é comunicação.
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Triste paixão Sou triste em ser apaixonada por você. Triste porque te amo. E vai além do tempo de paixão, Esquecer-te nunca foi uma opção, Eu continuo apaixonada por você. Passaram se anos, nada mudou. E a realidade é que Eu amo ser apaixonada por você, Chorar por você, a ausência sua me torna poeta. E é por isso que Distante ao seu convívio cotidiano, eu sigo a vida sendo apaixonada por você. E minha tristeza me acompanha quando no mais você diz “estou indo embora”
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Olhe nos Meus olhos Olhe nos Meus olhos Penetre minha alma a fundo com o seu olhar, Prenda-se nele. Continue Afunde no meu olhar Exatamente assim, Penetrando seu olhar no meu Sem que nenhum deles perceba. Continue. Penetre seu olhar no meu E eu estou quase lá, Continue, não pare, Penetre seu olhar no meu Até que nossos corpos não aguentem mais Não serem Um só.
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A melhor das Transas A melhor das transas É aquela que te faz gozar conhecimento. A melhor das transas É aquela que te faz rever valores imorais. A melhor de todas as transas Vem da masturbação constante de explorar o que você não sabe. Da constante sede de sabedoria, Que é regada, Nas palavras de um bom professor. A melhor de todas as transas é assistir a uma aula bem dada.
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Mulher de Muitos São tantos e tão ingênuos Que tenho afeição por cada um deles. São tantos e tão carentes Que me sinto na missão de confortar a alma humana. São tantos e tão infelizes Que dá pena quando se olha de perto. São tantos, E tantos Que perdi a conta. Só sei que São muitos E buscam colo No meu sorriso: bobo jovem e solitário. São muitos e só querem abraço.
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Você e Eu Inesquecível o toque de sua língua adentrando meus lábios Na forma sublime fatal de um pecado Santificado, Salve o Eros de Dionísio que habita em nós. Não se comete só um pecado desses, e se pecar errado for Levem-me agora ao inferno, Pois sempre estive em partes nele, Pecando diariamente por não conter o amor que arde em mim. Inesquecível sua boca possuindo a minha. Não sei mais meu próprio nome. Você penetra minha alma e faz transbordar Um doce veneno chamado paixão. Tenha piedade, Meu corpo é fraco vulnerável ao seu olhar.
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Ops! De novo Estou apaixonada. Saindo na rua com cara de boba, Envergonhada e distraída. Pego-me feliz sem cabimento pelos cantos. Que vergonha! Eu fiquei apaixonada, Tinha que ser você Que me fez gostar assim tão fácil ninguém imagina. Estou apaixonada De novo, E dessa vez é por você.
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A chegada dele A chegada dele Ecoa pelo mundo todo, E Eu ouço vibrar na alma inteira. À chegada dele atravessa os limites do desejo reprimido aonde quer que eu esteja. Ele voltou, chegou para ficar, não fui eu quem chamou. Ele voltou porque quis estar mais uma vez nos braços Meus. Chegou E disse meu nome Como qualquer canalha honesto faz. Só que diferente: Chegou, E dessa vez não conseguiu partir.
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Momento Mágico Esperei tanto um momento sublime Entre você-eu. E eu não imaginava que pudesse ser Tão melhor na realidade quanto em devaneios Quando você me toca. Eu volto a sentir que o mundo pode ser bom por algumas vezes. Quando você acaricia meu rosto, Com ternura tamanha, Eu sei, e você sabe Que nos reencontramos Por sentir saudade independente às circunstâncias. Para o lado meu você retorna Sempre e para sempre. São raros os instantes dos reencontros. São presentes dos céus E ganhamos esse Para sorrir de novo. 93
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Raça Humana A alma dele sangrava muito, Ferida estava. Chamaram-no de preto, De um jeito ruim. E ele não queria ser preto daquele jeito, Ele gostava de ser preto, Mas infeliz estava por agredirem a beleza dele. Ele sangrava com isso E contou aos Meus olhos, sangrei junto a dele E nos olhamos, para compreender quem eram aqueles que não entendem nada. A única diferença entre os indivíduos vem do fato de que alguns são humanos, outros se perderam achando que eram outra coisa. 95
Somos grãos de areia simples, igualmente solitários nesse mundo vasto. Ao olhar no espelho, veja que o lado negro de sua alma não tem a ver com a etnia de ninguém.
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Amor na ignorância Os bons, Os péssimos, Péssimos vestidos de bons, Bons vestidos de péssimos, E o que mais você desejar encontrar; No mundo existe, Independente disso, Igualdade é uma só todos merecem respeito. Inclusive os ignorantes, Traga próxima a você a ignorância alheia, acaricie toda face dela com sabedoria, Em conta gotas Com amor e paciência O mundo pode ser mais tolerável.
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Falando de amor E falando de amor infinitas vezes... Peguei-me desprevenida, Vivendo encantos de paixão. Abri pernas, alma, coração. Entrei no olho do furacão, Sendo impossível separar amor - tesão, dessa vez não vai ter jeito, Dessa vez, não tem sentido Viver a vida Sem casar contigo.
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Mude Mude a fundo, Pra colorir de novo o mundo... Mude a fundo, A consciência da alma humana, Que se manchou de valores Agressivos e banais... Mude de novo, Cada ato Do olfato que já não agrada mais... O egoísmo estraga tudo o que a ternura fez segundo os mandamentos de Oxalá... Mude de novo enquanto há tempo. Mude agora esse tormento Para sentir o amor reinar... Mudando sempre a toda hora. Chega o dia de ir embora E certamente vai mudar... Alguma coisa aí dentro para descansar do tormento De mudar, mudar, mudar. 101
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Julgando a si O julgamento é trava das fortes Bloqueia criatividade, interrompe a ousadia, mata fontes de inovação. O julgamento de si Impede de seguir adiante, Quem julga são os outros. Tire esse trabalho de suas costas Pouco importa se é bom ou ruim Belo ou grotesco. O importante é que está feito, Vivo no mundo real, Desprendendo do medo maldito Do julgamento alheio e seu.
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Chamou-me Vênus Chamou-me de Vênus, E não conhece Botticelli. Chamou-me de sua Mulher, Mas nunca fomos casados. Chamou-me de Deusa, Quando soltei realidades Em sua face Com amor de alguém Que quer cuidar de outros. Chamou-me novamente e dessa vez não pude fazer nada... Ele estava medicado, Fardado a ser zumbi humano como tantos outros. Meu coração morreu ali Em ver alma tamanha reduzida, Evitando sofrimento Não! Não! Não! 105
O caminho é bom por não ser doce, O caminho é bom por ser árduo e complexo, Se assim não for, Não será real. Será manipulação de alguns inibindo suas capacidades, evitando seu sucesso.
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Rococó supra real Quando preferem Rococó à Caravaggio não me espanto Não buscam realidade, Visam só felicidade. Egoícos de natureza, perdidos em vaidade Fogem sempre à realidade. Buscando ouro para cobrir no espelho A medusa aterradora que habita cada um.
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Zaratustra Zaratustra falou comigo, Não duvidei De mais nada, O bem e o mal Existem Como entidades que possuem cada gota do seu sangue. Zaratustra falou comigo, Não duvidei de mais nada.
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Falar de amor Falar de amor todo Imbecil fala, Viver de amor real Eles não querem, Para viver de amor Se renúncia da alegria efêmera De comprar umas coisas para ser feliz.
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á Etica Façam-me o favor, Poupem-me de falar em ética, Observando realidades. Sabemos que ética aqui “não existiu”. Olhando o seu o meu o deles, obtive certeza. E meu ser descansou em paz. Libertou-se dá culpa. Por cruzar as linhas do limite moral Libertou-se da ética gourmetizada Que existe para pessoas fingirem ser boas. A ética existe, só não sei onde ela está E fatalmente é bem distinta ao que a humanidade vem praticando há séculos.
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Taças de vinho Dentre taças de vinho, Canecas de chopp, Cigarros e banalidades Deixam a vida passar sendo Imbecilmente felizes e ignorantes.
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Solidão Tanta gente ao meu redor, sigo vazia apática a sociabilidade alheia. Tanta gente ao meu redor, E eu só me emociono aos olhos da natureza. Tanta, tanta, tanta, Gente, E eu só me sinto em paz Sozinha.
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Amar Nos bares não se aprende amor, aprende-se fingir amar a todos sem gostar de ninguém. Curiosa de nascença, quis aprender amor, Sentir amor, Cheirar amor, Viver de amor, E é por isso que sei Que não se encontra em bares Algo que transcende a alma e toca o coração.
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Pelos olhos dele Tratou-me mal por ser observada pelos olhos dele, E eu me senti culpada Por ser quem sou. Injusto! Acontece todo dia e é Injusto. Ela que se trate melhor aos olhos dele, Para que eu não seja parte dessa relação na qual Eles prestem atenção. Não tenho nada com isso Eles que se encontrem no mundo Para esquecer que eu existo. Os olhos deles Só viram em mim O que perderam quando deixaram de lado O amor próprio.
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Passaram Passaram-se anos, tu não me esqueceste, Passaram-se foras, e tu não desististe, Passaram oportunidades, e você não abraçou, Passaram Como tudo passa, E ficou Nosso bem querer, Com riso de canto de boca Toda vez que passamos Um pelo outro.
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Insatisfeitos A insatisfação é inerente ao ser humano.
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Distante Trocou os braços Meus para seguir viagem, E eu dei graças a Deus. Gosto assim, Você longe de mim Para eu conseguir viver Sem me dopar de você, Para eu conseguir sair Sem ter hora para voltar, Não que você me prenda, Mas meu amor me prende a você, E eu não gosto. E eu não sei fazer diferente. Agradeço dia a dia a distância sua Que me faz viver Minha própria vida Independente de amar.
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Prostitutas A mais confiável das mulheres é a prostituta, A mais sofrida das mulheres é a prostituta, Portanto, meus caros, Mais respeito, mais cautela, ao conviver com mulheres assim, Que largaram a vida delas para cuidar da sua vidinha. Emocionalmente insustentável sem escapes traições Emocionalmente perturbados pela falta de moral que os habita. Abraçem nas prostitutas a segurança de suas vidas Cheias de mitos, Vexames e mentiras. Salve, salve as prostitutas que salvam dia dia vidas nossas em família. Amém!
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Eu De sorriso fácil, Braços abertos, Caráter escorregadio, de poucos amigos, Inúmeros conhecidos, destemida de inimigos, abusada e metida, Cheia de marra e chorona, Menina doce e levada, Mulher vivida, Sem rumo, Sigo.
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Triste essa maldição Uma artista sem perdão Com alma, Fogo e coração Voltados ao teatro e a solidão.
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A arte é que escolhe Você pode escolher dentre milhares delas, Não são como eu. Eu sou o diamante cintilante que inebria seus olhos com encanto. Encanto que nenhuma outra tem, E não pense que estou a cometer desdém. Digo por que sei. Que alma boa me convém quando estou a sorrir assim, Sorriso que você desperta em mim. Por quanto tempo!? Não sei... Espero que tempo suficiente para essa música acabar O show tem que continuar E eu não sou mulher que pode se apaixonar. A arte me escolheu. Com ela vou ficar. Abrindo mão de cada amor assim para viver de ficção. 137
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Resistente Inesquecível a resistência de um “scotch”, Durou a noite toda Sem ceder aos Meus encantos Fatalmente inatingível, Mesmo quando alcoolizado, Nunca vi coisa assim, Homem fiel mesmo com “gin” Deu me esperança de crer que amor sublime existe, Que amor de um só persiste, Mesmo depois de altas doses de “whisky”. Resistiu. E eu que não aceito não como resposta. Fiquei feliz. Não pelo fora, Mas pela esperança de viver um amor assim. Fiel. Resistente ao “gin”. 139
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Apaixonados Ele me olhou, deu um sorriso, Levantou foi ao banheiro, Abusada eu fui atrás, Sem desistir sendo incapaz De perder a oportunidade De se apaixonar. A porta abriu, Ele saiu, Assustado feito bicho, No meu sorriso ele caiu, De quatro, sem jeito, sem graça, sem saída, Eu o beijei. Pelo simples fato de na vida achar necessário surpreender alguém, Eu o beijei, E ele Sorri pra mim todos os dias. 141
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O jeito seu comigo Inspira-me saber que você sede aos Meus sorrisos, Que me acolhe quando não há ninguém. Inspira-me ter você do outro lado do mundo pra chamar de Meu. Mesmo sendo meu companheiro daqueles que a gente não escolhe, não pensa, não idealiza, Companheiro. Que foi trazido pelo destino pra tornar real um sonho que nunca sonhei. E eu agradeço a cada instante de ousadia minha Que provocou com covardia Inspiração dançante de cada dia Que é amar sem escolher, Que é amar sem saber, Como nem porque.
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Para Estarmos Juntos Para estarmos juntos, estamos perto, E não tem a ver com distância. Eu aqui Você por milhas distantes Seguindo conectados pelo gosto da saudade, Por amor à liberdade, Abrindo mão da vaidade de seguir independentes. Somos sozinhos, confidentes De um destino de uma noite só, Uma só noite Suficiente para brindar A vida toda de sorrisos.
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Sublime De forma sublime, você soube conduzir Todo meu afeto ao seu olhar Sublime, você levou meu ser aos seus braços Exatamente como havia imaginado. De forma fatal você arrebatou meu coração com um sorriso do melhor presente que se pode dar. De forma tímida, você ganhou meu toque de ternura desconhecido a todos os outros com os quais estive. Na cidade luz, você brilhou além na minha alma Transcendente em expectativas que meu coração costuma inventar. De forma mágica você fez eu me apaixonar.
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Cê La vie A vida surpreende te dando presente que você pensou. A vida adivinha cada desejo do âmago Te levando exatamente paro lugar que deveria estar A vida sendo a vida, E nela sigo flutuando em fantasias tão belas que parecem sonhos.
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Francês Tudo em você é francês, Um típico francês qualquer, Como tantos que vi pela rua. Você é francês. E ainda assim com tantos outros iguais ou melhores que você. Encantei-me no jeito seu francês de ser.
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Depressão Você tenta se livrar dela, Ela não sai de você, Toma dia após dia no seu âmago, Com tristeza tão profunda, Que da vontade de morrer. Dormir. E não sonhar. Somente descansar dessa praga maldita Que atormenta os dias Da vida de quem a sente, Fugir é inevitável. Você pode mudar de vida, De emprego, De jeito, Ela segue como uma crosta de nuvem preta colada na sua cabeça te impedindo de sorrir, De enxergar. 153
Amaldiçoados, Fizemos algo que não sabemos E pagamos diariamente Vivendo o inferno Depressivo de existir.
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Não tenho amigo Não tenho amigo, Nunca tive amigo, Pai e mãe é outra coisa, E isso Deus me deu. De resto sigo sozinha, Dia após dia, No mundo meu. Só, Há dias bons há dias péssimos Mas, não há dia nenhum em que alguém me esfaqueia pelas costas, Como no tempo que pensava ter amigos, pessoas ótimas, eu nunca fui boa o bastante para relevar feridas de convivência. Nunca tive paciência, Ter amigos não foi prioridade, Sou sozinha por vaidade 157
De não trocar intimidade Para além de mãe e pai. Sou sozinha por clemência a cada ato de demência que insisto em embarcar. E sigo assim, somente só. No mundo, meu comigo assim, Egoista, solitária, Eu comigo até o fim.
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Infeliz Eu nunca serei feliz. É isso que me mata dia após dia. Saber que não há o que fazer para onde ir. Nunca serei feliz. A felicidade não existe. Não aqui Comigo. É degradante viver sabendo disso E enlouquece olhar pela janela e ver Sete bilhões de pessoas tentando felicidade, Sabendo que ela não existe.
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Não vou me abrir para ninguém Não vou me abrir para ninguém Da minha angústia cuido eu Dia após dia, Chorando pelos cantos. Ninguém imagina que a luz dos olhos que leva alegria ao dia de vocês Padece a noite em tristeza profunda Por sentir as injustas profanas do mundo Diariamente bem aos pés do meu nariz, Sem poder fazer nada. Luz imprestável essa minha que não consegue aliviar a escuridão de ninguém.
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A realidade A realidade é que todos defendem seus próprios interesses E não é possível confiar em ninguém, Por isso me fecho sofrendo sozinha Sob a verdade do meu travesseiro. Ainda bem que Dormir em paz é possível Até onde eu saiba.
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Se me ofendeu Se me ofendeu, Não tente bajular depois, Assuma o fato de não gostar da minha alma Diariamente. Não sorria em minha presença Ofendeu-me Caluniou-me aos quatro cantos da terra. Então não venha bajular depois. Dispenso qualquer forma de educação que venha de você. Dispenso seu arrependimento interesseiro, Agradeço as veracidades de suas ofensas Que me mostraram sinais de cuidado Com quem te ofende E tenta bajular depois. Afastem-se dos bajuladores São eles que matam os reis enquanto eles dormem sob a sombra de um arbusto no jardim. 167
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Contos de Ana nasceu da vontade em prosa de produzir ficção. Dei corda, trela e asas nas fantasias de uma imaginação maldita.
Escrevi sem trancas ou receios, permiti: Aflorar-me em verbo para desvendar mistérios na alma humana que moralmente silenciamos ao fugir do caos.