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PARQUE INFANTIL E O LÚDICO PEDAGÓGICO
Podemos afirmar que a arte situada nos espaços públicos converte-se em estratégia de aproximação com a realidade e a sociedade, colabora na ativação das dinâmicas locais e busca remediar as dificuldades socais através da sensibilização do indivíduo nas suas relações com a cidade. (NEVES, 2019, p.24).
Mário de Andrade, não somente poeta mas também idealizador e exdiretor do Departamento de Cultura da prefeitura do município de São Paulo
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(gestão do prefeito Fábio Prado), criou dentre diversos programas para o operariado, o Parque Infantil (PI) para crianças de 3 a 12 anos, e contribuiu deste momento em diante para as atuais, e inclusive presentes neste trabalho, reflexões voltadas à elaboração de propostas de programação educativa.
O conceito de Parque Infantil traz consigo, por sua definição histórica, um repertório e uma vasta possibilidade de abordagens projetuais, como instrumento pedagógico, e com relação as características programáticas lúdico-culturais.
Sob a visão de Elvira de Almeida, “Através da ação no espaço, a criança irá descobrir-se a si própria e a tudo o que está a sua volta, ganhando uma autonomia com relação ao adulto.” (1992, p.6), a artista e arquiteta buscava incorporar em seus projetos “identidade cultural e o estímulo à fantasia infantil, criando cenários lúdicos coletivos”, pois acreditava que já faltava “nos espaços públicos, o sentido do espetáculo, da festa e da poesia”, nos parques em “espaços híbridos, sem vitalidade”.
Já a partir de uma leitura histórica, como resume Carlos Augusto da Costa Niemeyer, a respeito dos Parques Infantis, surgidos na década de 1930, em São Paulo, pela visão e gestão de Mário de Andrade, a proposta era “estabelecer que a educação deveria estimular aspectos ligados a inteligência e à solidariedade social, e que a recreação viria contribuir eficazmente para essa finalidade.”
(2002, p.31).
PARTE 1 ~ CONCEITUAÇÃO
Indo na contramão das teorias e cidades que priorizam o crescimento precoce das crianças a fim de transformá-las e tratá-las equivocadamente como adultos, o conceito geral deste tópico preza por garantir sobretudo o direito à infância: o direito a brincar e a não trabalhar.
Uma vez que os direitos da criança são previstos tanto em normas internacionais quanto na constituição federal, e ainda regulamentados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promover e resguardar o exercicio de todas as dimensões humanas, sendo elas, lúdicas, artística, e do imaginário infantil, e garantir o acesso à educação de qualidade, cultura, lazer e esporte, fez-se premissa global do presente trabalho.
É de suma importância garantir que a ludicidade esteja presente nas idas e vindas cotidianas do público infantil e também adulto, pois, garantir que o lúdico seja vivenciado pode ser uma alternativa ao contexto massacrante e voraz da contemporaneidade. (VICTORINO, 2020, p.45).
Museu Paisagem
PARTE 1 ~ CONCEITUAÇÃO
A participação dos jovens e dos moradores em processos de construção do espaço público, também pode ser vista como uma ideia de pertencimento ao local, evitando apropriações individuais e egoístas e discutindo sobre qual a melhor proposta para determinado lugar. Quando essa falta de sentimento de pertencimento deixa de existir, vemos a construção de espaços abandonados, com apropriações indevidas e atos de vandalismo relacionados, resultando nas depredações e degradações de bens públicos.
(DE MARCHI, P.M., In: KON S. e DUARTE F., 2008, p.107).
O conceito de Museu Paisagem embasa um modelo arquitetônico/paisagístico que tem como características triviais: a diluição das fronteiras entre o interior e exterior das “galerias”, a área expositiva tanto em espaços abertos quanto fechados, e a utilização da paisagem como suporte integrador. É uma categoria intitulada por Nuno Grande (2009) para fazer referência e provocação ao tipo artificial de exposição fechada, e sua transposição para o ambiente externo, contextualizada, inserida, e autoral.
Dessa forma, o presente estudo incorporará ao projeto o conceito de Museu-Paisagem, mas expandirá ademais os critérios e características de “arte” para além da escala clássica expositiva, já que atribuirá também ao próprio “museu” o papel de arte, e sugerindo: um museu pode ser um museu de si mesmo?
Ao propôr espaços expositivos abertos, o modelo arquitetônico viabiliza também um contato com a pré-existência natural e ambiental, tornando o cenário um elemento intrínseco e indissociável da identidade do equipamento, que por sua vez se associará à identidade local.
Seguindo a veia da diluição de barreiras, a aplicação do conceito de Museu Paisagem a um projeto de parque, proporá que sua visitação, exposições, interações, e percursos, aconteçam intercaladas através de um itinerário onde o público transita na paisagem natural e no patrimônio pré-existente -abrigo e acervo de si mesmo - em um roteiro museográfico–paisagístico.
Para sediar interações entre diversos públicos e arte, da forma mais democrática possível, visando a apropriação e a manifestação artística original, de linguagem e temática plural, faz-se necessário a acessibilidade de um espaço material que integre e use do paisagismo como ferramenta, pois a construção paisagística também abrange questões sociais.
(...)nota-se que o Museu Paisagem se apresenta como uma materialização que tem por objetivo reaver a distância entre as questões da paisagem à produção artística brasileira. Trata-se de resistência. (NEVES, 2019, p. 11)