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5.1.2. Desenhos

Nestas pinturas, o leitor atentoirá identificar alguns signos que correspondem ao imaginário do livro, como por exemplo, a cabeça na terra, o porco com assas, o poço da Casa do Sol, a Morte, as varandas em arco da Casa do Sol, o dedo de Deus, da pintura de Miguel Ângelo da Capela Sistina. A figueira e outros elementosreferentes a imagética de Camargo, como a terra arrasada, a caveira etc.

5.1.2- DESENHO

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Os desenhosque produzi para a série NADANADA, tiveram importante relevância nas análises práticas desta pesquisa.

O desenho, como linguagem plástica, sempre esteve em lugar de destaque, tanto na minha formação,como hoje no meu trabalho de artista plástico. O desenho talvez seja a modalidade artística mais primitiva do ser humano. Tudo é desenho.Embora ninguém admita, alguns resistem à ideia da autonomia do desenho como expressão artística. Muitos ainda preferem observar o desenho como arte menor, sob o caráter de rascunho, esboço, ou preparação para algo mais nobre, sobretudo na comparação com a pintura. Em seus Escritos sobre a arte, Ingres que era um exímio desenhista e pintor escreve:

O desenho é a probidade da arte. Desenhar não quer dizer simplesmente reproduzir contornos; o desenho não consiste simplesmente no traço; o desenho é também a expressão, a forma interior, o plano, o modelo. Vejam o que sobra depois disso! O desenho compreende três quartos e meio daquilo que constitui a pintura. Se eu tivesse que pôr um letreiro sobre minha porta, escreveria: Escola de desenho, e tenho certeza que formaria pintores. O desenho abrange tudo, com exceção do matiz. É preciso desenhar sempre, desenhar com os olhos quando não se pode usar o lápis. Enquanto vocês não alinharem a observação à prática, não farão nada de realmente bom. (INGRES, 2006, p. 84-85)

Iberê Camargo era um desenhista obcecado pelo seu trabalho. Seus desenhos são caracterizados pela gestualidade, a impetuosidade diante do papel e o constante fazer e desfazer das figuras. O importante em seu processo de criação dele era a busca e não o encontro. Uma obra em processo.

Em 2011 a Fundação Iberê Camargo, sob a curadoria de Eduardo Veras, realizou a exposição A linha incontornável: desenhos de Iberê Camargo. Veras percebeu que, apesar da quantidade e da qualidade dos desenhos de Camargo, eles quase nunca apareceramem primeiro plano. Isso deu o mote para a exposição:

Examinei mais de três mil desenhos recolhidos do acervo da Fundação Iberê Camargo: grafites, bico de pena, pastéis, estudos, esboços, riscos com esferográfica, anotações, aguadas, guaches. Certamente, encontrei obras singelas, delicadas, desleixadas até, mas descobri que, naquilo que é decisivo, eu estivera enganado. Há qualidades no desenho que são muito particulares desse gênero - síntese, fluidez, clareza - mas também ali Iberê aparece em convulsão, intenso, apaixonado, como aquele que nos acostumamos a admirar na pintura. (VERAS, 2011, p.8)

O desenho também é um gênero originário na minha história. Tenho comigo os primeiros desenhos de minha infância. Costumo dizer que nunca passei um dia sequer sem desenhar. Em muitos momentos da minha vida trabalhei como desenhista: de quadrinhos, de propaganda e de design. Na minha obra plástica o desenho tem uma posição de destaque, pois produzo obcecadamente cadernos e mais cadernos de desenhos. Seja de esboços, de anotações de futuros projetos ou cadernos de artista. Para a série NADANADA produzi uma centena de desenhos em diversas técnicas de grafite, nanquim, pastel, guache e em muitos casos utilizei a técnica mista de colagens e materiais variados.

Os guaches, embora criados com o uso de cor, meio líquido e pincéis, mantêm características próprias do desenho, em especial com o papel como suporte e a predominância da linha. Os guaches são peças de uma completude maior na comparação por exemplo com os rabiscos a grafite ou esferográfica, mas, em razão da diluição e da transparência, não atingem a densidade matérica tão característica da pintura. Porém, muitos desenhos à guache que realizei aproximam-se bastante da técnica da pintura, pela sua materialidade e empastamento, mas continuam sendo classificados como desenho pelo suporte em papel. Do que discordo, pois essas categorias já foram largamente estilhaçadas por artistas, inclusive contemporâneos de Iberê. Desde os anos de 1960 e 70, na cena internacional e

também no Brasil, diferentes artistas trataram de expandir os conceitos de escultura, pintura, cinema e também de desenho. SegundoEduardo Veras:

Para o observador, o desenho talvez tenha uma vantagem sobre a pintura. O desenho, quase sempre, deixaà mostra, graças à linha, o caminho de sua construção. Como expectador, olhando para uma linha, posso reconstruir o gesto do artista ao riscá-la. A linha encerra uma narrativa (por menos narrativo que se pretenda o desenho): a linha tem um começo, um desenvolvimento e um epílogo. [...] Desenhos gestuais nos lembram que a linha é o registro de um movimento no tempo - tanto quanto ela é o registro de uma ação no espaço. (idem, p. 19)

A seguir apresento uma pequena mostra dos mais de cem desenhos que produzi para a série NADANADA.

Figura 131-Andre Araujo, Corpo de luta, 2016 Figura 132-Andre Araujo, Corpo terra, 2016. Nanquim e caneta esferográfica sobre papel, Nanquim sobre papel, 33,5 x 45,5 cm. 33,5 x 45,5 cm.

Figura 133-Andre Araujo, Divina Trindade, 2017. Pastel oleoso e colagem sobre papel, 31 x 42 cm.

Figura 134 Figura 135

Figura 136 Figura 137

Figura 138 Figura 139

Figuras134 a 139 -Andre Araujo, Sem título, 2018. Nanquim sobre papel, 17 x 17 cm

Figura 140-Andre Araujo, Lázarus, 2018. Aquarela sobre papel, 17 x 17 cm

Figura 141-Andre Araujo, Lázarus, 2018. Figura 142-Andre Araujo, Lázarus, 2018. Nanquim e caneta posca sobre papel, Nanquim sobre papel, 17 x 17 cm

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