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5.1.4. Fotografias

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5.1.3.	Gravuras

5.1.3. Gravuras

5.1.4 - FOTOGRAFIA

A fotografiatambém é um meio de expressão presenteneste trabalho. A começar pelo Atlas imagético, construído como fonte inspiradora para futuros trabalhos, ou pelasfotografias produzidas por mim para a série NADANADA.

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As fotografias que compõem o Atlas são fotografias apropriadas dos mais diferentes lugares e mídias. São fotografias de jornais, físicos e virtuais, de sites, frames de filmes, enfim, imagens de arquivo.

Além do Atlas Imagético, produzi uma série fotográfica baseada nos contextos e conceitos vindos das obras de Hilda Hilst e de Iberê Camargo. São imagens inspiradas nas obras desses dois artistas, porém com uma leitura pessoal e com características tradutórias. O objetivo inicial foi recolher imagens do mundo, enquanto produtos das leituras de Fluxo-floema e análises das pinturas de Iberê Camargo. São imagens captadas de maneira informal, às vezes distraída, e sem preocupação de fazer uma foto muito bem-sucedida, em termos técnicos de iluminação e enquadramento.

Sabe-se que entre as técnicas de figuração, a fotografia é aquela que está mais próxima do objeto referente. Porém há um corte entre o real e a realidade da foto. Segundo Boris Kossoy:

A fotografia é sempre uma representação a partir do real intermediada pelo fotógrafo que a produz segundo sua forma particular de compreensão daquele real, seu repertório, sua ideologia. A fotografia é, como já vimos reiteradas vezes, o resultado de um processo de criação/construção técnico, cultural e estético elaborado pelo fotógrafo. A imagem de qualquer objeto ou situação documentada pode ser dramatizada ou estetizada, de acordo com a ênfase pretendida pelo fotógrafo em função da finalidade ou aplicação a que se destina. (KOSSOY, 2002, p. 52)

A fotografia responde com eficácia às necessidades dos artistas contemporâneos enquanto ferramenta disponível para se captar imagens do real e, posteriormente, submetê-las a processos de hibridação e edição. Com as possibilidades tecnológicas disponíveis, os artistas lançaram mão da fotografia a fim de chegar a outros resultados. Como se, com o tratamento digital, os dados do real fossem

contaminados por uma infinidade de variações possíveis, deslocando esses dados para o âmbito da ficção.

Na produção da série fotográfica RESTOSDENADA, imagens capturadas digitalmente, em percursos pela cidade ou campo, foram manipuladas e editadas no programa Photoshop, e assim ressignificadasmetaforicamente no contexto hilstiano e iberiano da morte, da finitude, do abandono e da miséria humana, tornando-se assim ficção. Vale a pena ressaltar que todas as fotografias desta subsérie foram feitas por mim e nenhuma foi apropriada de outros fotógrafos.

Como explica Boris Kossoy:

O processo de construção da representação não se finaliza com a materialização da imagem através do processo de criação do fotógrafo. Não é nenhuma novidade que a produção da representação, tal como é empreendida pelo fotógrafo, tem sequência ao longo da editoração da imagem. É o que poderíamos chamar de pós-producão, isto é, quando a imagem se vê objeto de uma série de "adaptações". (KOSSOY, 2002, p. 54)

Abaixo algumas fotografias para a subsérie Restos de nada:

Figura 147-Andre Araujo, Série RESTOS DE NADA, 2018. Fotografia.

Outra subsérie que produzi para a série fotográfica NADANADA foram as fotografias baseadas nas performances que realizei. Intitulada NADANADADEMIM, esta série reforça os questionamentos levantados pela arte contemporâneaque põe em discussão a impossibilidade do registro e documentação da performance, contrariando justamente a afirmação de alguns teóricos de que na performance, por vezes, a obra só adquire significado, tanto para o artista, quanto para o grupo social, no momento exato de sua realização.

Na contramão dos que advogam pela rigidez de uma performance entendida como um processo artístico que só ocorre ao vivo, e que a ação do artista precisa de um público para que seja consumada, desenvolvi uma série performática feita exclusivamente para a fotografia e o vídeo. Desta forma, ocorre uma mudança na

maneira de compreender a performance, já que o público passou a ser importante apenas na observação da obra final, no caso, uma fotografia ou um vídeo. É o que Regina Melim intitula de "ações orientadas para fotografia e vídeo" (MELIM, 2008, p. 49) ressaltando o aspecto performativo empreendido pelo artista diante dacâmera, instaurando seu próprio corpo como matéria artística, criando assim um desdobramento das categorias de escultura e pintura. Melim, assim, diferencia a obra do registro. Trazendo à tona não somente questões de performance tradicional mas também preocupações específicas da fotografia e do vídeo.

Ressalto que, com esta intenção de produzir performances para vídeo e fotografia, procurei aproximar mais uma vez esta série de conceitos intermidiáticos, visto que este trabalho também ocorre na fronteira. Este tipo de produção artística, apesar de ser de caráter autoral, só acontece com a participação de outros profissionais. É portanto um trabalho colaborativo, pois faz-se necessário para a realização da obra artística, além do artista performer, o fotógrafo, o cinegrafista, o editor, o sonorizador, o produtor . Assim, a questão da autoria é apresentada de forma múltipla, pois mesmo que haja a direção do artista performático, cada profissional impõe também sua marca autoral.

A seguir, apresento as fotografias da série CORPOTERRA, que também rendeu uma vídeo performance e possivelmente ainda renderá outras produções. Esta performance foi inspirada na questão da terra, sua relação com a morte e com a vida. A presença do sangue também é incorporada. Também pode-se relacionar esta performance com a questão da metamorfose e das diversas máscaras sociais.

Fig. 148- Andre Araujo, Performance Corpo Terra, 2018

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