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Transição Energética
AS RENOVÁVEIS NO AUMENTO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA CERÂMICA NACIONAL
por Pedro Amaral Jorge, Presidente da Direção da APREN
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O objetivo da neutralidade carbónica em 2050 encontra-se totalmente justificado do ponto de vista ambiental, dando origem ao principal projeto global da humanidade: o de criar as infraestruturas e modelos de sociedade de consumo que origine mudanças no comportamento dos cidadãos como forma de evitar e/ou mitigar o efeito das alterações climáticas no planeta e no quotidiano das pessoas. Os comportamentos de consumo dos cidadãos e do setor público, de acordo com estudos recentes, irão exigir que as empresas lhes ofereçam produtos e serviços ambientalmente sustentáveis. As empresas irão ter aqui um desafio de equilibrar a sua competitividade económica com as preferências e exigências dos consumidores. O próximo passo das empresas neste paradigma será, muito provavelmente, a conquista de quota de mercado com a rendibilidade mínima exigida para posteriormente crescerem em rentabilidade do seu equity. Para além destes comportamentos, com a implementação do Pacto Ecológico Europeu, é espectável que os preços da tonelada de CO2 atinjam já em 2030 valores acima dos 60€/ton e que o sistema de emissões seja alargado ao setor industrial. Como tem sido também muito debatido e se encontra técnica e economicamente comprovado, o setor com a maior contribuição para a redução das emissões GEE /CO2 equivalentes na década 20-30 será o energético, através da incorporação de fontes renováveis produção de electricidade e calor. O que se verifica há já alguns anos, com ainda mais incidência atualmente, é que os custos de produção de eletricidade (LCOE) são inferiores ao preços médios do mercado grossista ibérico, como se pôde observar nos preços obtidos no leilão de solar fotovoltaico realizado em 2020 em Portugal, e o leilão de eólica e fotovoltaico realizado em Espanha em janeiro de 2021. Daqui se conclui que a forma mais custo-eficaz de reduzir as emissões oriundas dos consumos e usos de energia é através da eletrificação dos mesmos, gerando essa eletricidade a partir de fontes renováveis (a chamada eletrificação direta). Onde a eletrificação direta não é custo-eficaz ou sequer ambientalmente sustentável, há que recorrer à eletrificação indireta, ou seja, à produção de um combustível, como o H2
Presidente da Direção da APREN Pedro Amaral Jorge -
ou CH4 sintético, a partir da eletrólise da água com recurso a corrente elétrica gerada a partir de centros electroprodutores renováveis, por forma a que seja viável obtenção de calor de processo de alta temperatura. A indústria cerâmica, pela sua necessidade de calor de alta temperatura, não tem hoje soluções custo-eficazes de eletrificação direta para utilizar na sua produção, pelo que, com a tecnologia que hoje conhecemos, a eletrificação indireta será o caminho a seguir. Isto implica a substituição gradual dos consumos de gás natural por hidrogénio verde, mesmo que no arranque desta mudança se recorra ao sistema de mistura (blend) de gás natural com hidrogénio verde. As indústrias terão à sua disposição diversas opções para utilização de recursos renováveis para suprir as suas necessidades energéticas. Poderão ter sistemas de autoconsumo para geração de eletricidade, podendo esta ser utilizada para gerar calor ou hidrogénio verde. Obviamente que toda esta mudança de paradigma energético, de gás natural para hidrogénio verde e/ou metano sintético, irá ser apoiada pelos países através dos auxílios de estado providenciados pela bazuca financeira europeia. Assim, a migração de consumo de energia de origem fóssil para consumo de energia de fontes renováveis irá criar um conjunto de oportunidades para o tecido empresarial português e não uma ameaça, como muitas ouço ser dito ou vejo escrito, nas mais diversas fontes de divulgação de conteúdos. Os argumentos são muito simples: (i) o potencial ibérico para geração de eletricidade renovável é o mais elevado da europa; (ii) os custos de produção de eletricidade renovável em Portugal são os mais baixos do Espaço Europeu; (iii) o H2 verde produzido em Portugal será dos mais baratos da Europa; (iv) o preço do CO2, muito provavelmente, irá subir até aos 60€/ton em 2030; (v) é muito provável que a comissão europeia implemente o “carbon border tax adjustment mechanism”, que irá funcionar como uma taxa aduaneira paga por poluentes resultante das emissões equivalentes geradas para fazer chegar produtos de zonas fora da União Europeia; (vi) Portugal tem condições para passar a ser um país muito competitivo em custos de eletricidade; (vii) Portugal irá incorporar na legislação a possibilidade de sistemas de autoconsumo individuais e coletivos, estes últimos inseridos em comunidade industriais de energia renovável; e muitos se podem ainda acrescentar. Concluindo, a transição energética é uma oportunidade para a indústria cerâmica em Portugal, e não uma ameaça.