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POR UMA INDÚSTRIA MAIS RESILIENTE

por Lídia Pereira, Eurodeputada do PSD

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É amplamente reconhecido pelos decisores políticos na União Europeia tanto o papel crucial da indústria na economia europeia, como a sua capacidade para liderar as mudanças e inovações que os tempos pedem. A indústria representa quase 25% da economia da UE e emprega cerca de 35 milhões de pessoas, gerando outros tantos milhões de empregos associados a setores que a suportam, tanto na Europa, como no resto do mundo. Além disso, 80% das exportações de bens da União são atribuídos à sua indústria, sendo por isso um dos setores com maior relevo no que a investimento direto estrangeiro diz respeito. Tendo em conta os dados descritos, uma das políticas fundamentais da UE é, de facto, a Estratégia Industrial Europeia. Esta estabelecerá as diretrizes necessárias para que a indústria europeia se possa reindustrializar, tendo em conta as tendências que o futuro exige. Já assistimos a este processo no passado, e estamos convictos que, tendo acesso às ferramentas necessárias, a indústria será capaz de se voltar a reinventar e superar os desafios que lhes são apresentados. Os desafios mais críticos são óbvios: o objetivo de neutralidade climática em 2050 e a transição digital. Foram apresentados não só por Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, como também por muitos líderes governamentais e corporativos por todo o mundo como sendo o maior desafio da nossa geração. Um não pode existir sem o outro, e ambos estão presentes no coração na grande maioria das políticas europeias a serem desenhadas, e a indústria vai ter se adaptar, da melhor forma possível, para que consiga aproveitar de uma forma eficaz os conhecimentos e fundos disponíveis na União. Sei que muitos líderes da indústria estão sensibilizados para este facto e que estão a levar a nível pessoal a missão de alinharem os seus negócios com os objetivos mencionados. A União Europeia tem de liderar o caminho para garantir que as estratégias e planos apresentados sejam eficientes ao mesmo tempo que não deixam ninguém para trás. Não deixa de ser importante lembrar que diferentes setores da economia partem de posições de partida diferentes, estando uns já mais digitalizados e descarbonizados que outros, e, por isso, os níveis de ajuda e incentivos variam entre setores. Este facto é relevante, pois muitos setores tradicionais da nossa economia, representam uma fonte histórica de crescimento económico e de emprego

Eurodeputada do PSD Lídia Pereira -

bastante significante em todos os países europeus, não sendo Portugal uma exceção. A pandemia de Covid-19 veio, no entanto, dificultar bastante a vida a muitos setores da indústria europeia. Muitas empresas têm lutado durante o último ano para se adaptarem às restrições que lhes foram impostas. A UE e os seus Estados Membros devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar as suas empresas a recuperar desta grave crise económica, ao mesmo tempo que as ajuda a descarbonizar e no processo de digitalização. Neste âmbito, não posso deixar de lamentar que o Plano de Recuperação e Resiliência apresentado pelo governo português, em vez de optar por colocar as empresas e as indústrias no centro estratégico da recuperação, escolha alocar mais dinheiro para o setor público, e em particular para as zonas metropolitanas de Lisboa e do Porto. As respostas que encontrarmos para esta crise terão um impacto profundo tanto na nossa economia no curto-médio prazo, como na nossa capacidade de aproveitar a oportunidade histórica que os fundos europeus nos fornecem para tornar a nossa economia mais resiliente e preparada para o futuro. Infelizmente o Governo não está a tomar as medidas certas para aproveitar esta oportunidade única. A Comissão Europeia apresentou em março passado a última versão da Estratégia Industrial, onde deixou claro, para além dos objetivos acima descritos, a importância da melhor integração do mercado único, da manutenção de condições de concorrência equitativas e da necessidade de qualificação e requalificação do mercado de trabalho. Porém, esta estratégia foi pensada numa realidade pré-Covid, e, portanto, o Parlamento Europeu solicitou em novembro uma revisão do documento para incorporar os fundos de recuperação provenientes do Next Generation EU e que estabeleça um cenário de duas fases. A primeira é uma fase de recuperação económica onde se consolidem empregos, se reativem as cadeias de produção e de adaptação a um período pós-covid, enquanto a segunda visa a muito necessária reindustrialização. Embora as empresas com maior dimensão, geralmente multinacionais, tenham acesso a instrumentos financeiros que as ajudem a superar esta crise económica, as pequenas e médias empresas muitas vezes não têm. Sendo que estas representam cerca de 99% do total de empresas da União, a Estratégia Industrial tem de se concentrar nelas. O estado agravado das dívidas privadas e a diminuição da capacidade de investimento irá ter um impacto relevante no crescimento destas empresas no longo prazo. Este é um assunto do qual eu, e os meus colegas no Partido Popular Europeu, estamos particularmente conscientes e pelo qual iremos continuar a lutar para que tenha a devida relevância no debate político europeu. Durante o último ano observámos também o quão as nossas cadeias de produção podem ser fragilizadas, e como a União Europeia é dependente de países terceiros em alguns setores. Com as restrições vigentes ao comércio internacional, o debate sobre a soberania da UE tem ganho relevância dentro das instituições europeias. Particularmente, a nossa dependência de matérias-primas de um número reduzido de países produtores pode impor desafios extra num futuro próximo se a procura por matérias-primas específicas aumentar e a instabilidade do mercado internacional se mantiver. De forma a mitigar este problema, a Comissão Europeia, apresentou o plano de ação para as matérias-primas essenciais, que propõe o desenvolvimento de cadeias de valor mais resilientes para os ecossistemas industriais europeus, reduzindo a dependência de mercados estrageiros através da implementação de uma economia circular, da comercialização de produtos mais sustentáveis e na forte aposta em inovação. A União Europeia foi pioneira ao comprometer-se com a meta de neutralidade carbónica até 2050, sendo bastante mais ambiciosa que todos os seus parceiros comerciais. Deve, por isso, proteger o seu mercado único de outras economias mais poluentes, através de ferramentas como o Mecanismo de Ajustamento das Emissões de Carbono, de forma a alcançar condições de concorrência equitativas e garantir, que o seu setor da indústria cerâmica seja competitivo desde as PME até às maiores empresas. No que à digitalização diz respeito, a indústria da cerâmica e cristalaria enfrenta uma oportunidade única para transformar os seus modelos operacionais através da implementação de produtos e serviços digitais que permitem melhorar a eficiência operacional, conseguir uma melhor personalização na venda ao cliente, na gestão de stocks que resultam em melhores margens de lucro. Comparado com outras indústrias, como os media ou o retalho, a margem de crescimento é significativa, e aqueles que primeiro aproveitarem esta oportunidade alcançaram uma vantagem competitiva significante. Por outro lado, aqueles que não o fizerem, correm o risco de não se conseguirem adaptar ao mercado do futuro. Acredito que indústria portuguesa seja capaz de aproveitar esta oportunidade, de usar os fundos que vão estar disponíveis para se reinventarem e contribuírem para um mundo melhor, mostrando o verdadeiro potencial que temos no nosso país.

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