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DESIGN GRÁFICO RETRO: A NOVA ARTE NOVA

Caderno de Experiências DESIGN GRÁFICO RETRO: A NOVA ARTE NOVA.

Lucélia Barbosa Cajazeiras Design de Produtos/UFCA luceliabc1@gmail.com Manoel Deisson Xenofonte Araujo Design de Produtos/UFCA deisson2@hotmail.com Deborah Macêdo dos Santos Professor /UFCA deborah.macedo@gmail.com

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Daniele Carreiro Alves Design de Produtos/UFCA danielec_alves@hotmail.com Isaac Brito Roque Professor /UFCA isaacbritoroque@gmail.com

1 Introdução

Com a era da tecnologia em alta, nos apegamos cada vez mais aos novos métodos de ilustrações gráficas que surgem a cada dia. Estamos constantemente nos adaptando aos aparelhos que nos conectam com a era digital, os papéis que serviram de suporte para os traços de um cartaz deram lugares a imensos monitores com imagens de alta definição. O presente trabalho mescla técnicas digitais e retros de design gráfico, a fim de unir essas áreas estimulando a criação de novas artes gráficas baseados em fatos históricos significativos no surgimento do mesmo. Deste modo salientamos a importância do conhecimento não apenas da técnica dos programas de edição, mas também da estratégia do design, e não podemos nos esquecer da influência dos percursores do design e da sua importância para o desenvolvimento das técnicas de trabalho utilizadas atualmente.

2 Fundamentação teórica

A priori, devemos nos lembrar dos precursores do design gráfico, os artistas e ilustradores que exerciam a função do que categorizamos hoje de designer gráfico, muitos não reconhecidos como tal por não haver um termo específico para esse profissional no início do século XX. O surgimento do design gráfico está atrelado as inovações trazidas pela revolução industrial, pois a partir daí iniciou-se um processo de experimentações para o desenvolvimento de novos tipos de arte. Pois, de acordo com Bhaskaran (2007):

O artista comercial precursor do design gráfico, nasceu dessa fusão entre arte e oficio, criando uma nova linguagem visual necessária para se comunicar com o novo público alvo. A publicidade, em seu sentido moderno, tornou-se uma profissão em si. (RIMES; BHASKARAN, 2007, p.14). A impressão gráfica quebrou paradigmas no ramo da arte que deixou de ser patrocinada pelas igrejas e passou a ser comercializada por meio de cartazes pelo comércio, possibilitando a criação de imagens impressas de boa qualidade em larga escala, surgido assim uma sucessão de movimentos artísticos relacionados a esse novo método de ilustrar. Neste sentido, Bhaskaran (2007) ressalta que “as revistas em geral ganharam maior popularidade, dirigidas a uma nova sociedade de consumo consciente e abastada interessada em moda e viagens.” (RIMES; BHASKARAN, 2007, p.14). Alguns movimentos se destacaram nesse período, entre eles o ‘art and crafts’ (arte e oficio). Considerado por alguns autores como o marco inicial do design, este grupo pretendia unir as funções de artesão e artista, o que impulsionou algumas tecnologias de impressão.

2.1 Art nouveau

Inspirado no ‘arts and crafts’ o art nouveau leva ao mundo um movimento totalmente voltado para o design, pois a arte deixa de servir aos nobres e passa a ser funcional em forma de rótulos, cartazes e outros meios no comércio. O surgimento a litografia colorida impulsiona o design gráfico da época. Assim, Cardoso (2005) considera que:

a grande vantagem da litografia em relação às técnicas de reprodução de texto e de imagem anteriores está na possibilidade de criação do desenhoincluindo ai o desenho a letra e textos imediatamente sobre a matriz a ser impressa, praticamente como se fosse sobre o papel. (CARDOSO, 2005,p.32). Esse foi um marco fundamental na história do design, pois possibilitou uma liberdade de formas, cores e principalmente nos materiais utilizados na criação de novos produtos. No design gráfico os ilustradores utilizavam de novos traços e cores, agora, o artista passa a dominar também as

diversas técnicas de impressão. Sembach (2010) retrata isso no trecho abaixo:

a ambivalência da arte nova, a multiplicidade das suas faces e a sua aparência versátil não resultaram de um capricho, mas da situação que a produziu. Dito de maneira simplificada, era uma consequência da dissonância entre arte e técnica que se confirmara cada vez mais claramente no século XIX, necessitando urgentemente de ser resolvida (SEMBACH, 2010, p.13). A arte nouveau tem traços únicos que são caracterizados por formas curvilíneas, de influências florais, uma paleta de cores sempre em tons claros, a evidência da figura feminina (sempre valorizando as curvas de tecidos e cabelos belíssimos) e elementos que rementem a natureza foram inspirações para as curiosas fontes e ilustrações surgidas na época. Entretanto Sembach (2010) contradiz essa ideia:

mas não é a maneira de se desenhar uma linha que é determinante para a classificação do seu estilo, mas sim, a motivação que a determina devendo ser automaticamente diferente num ornamento ou numa casa, ou ainda quando a encontramos no seio de um quadro (SEMBACH, 2010, p.12).

3 Procedimentos metodológicos

Depois de uma longa pesquisa de autores, layouts e referências da época, escolhemos as obras de Alphonse Maria Mucha referência visual do movimento. Ele se destacou pelas suas representações da figura feminina. Vestimentas folgadas, cabelos soltos, utilização de elementos da natureza (flores e ramagens) e cores claras são características marcantes das suas obras. Executados através da litografia, técnica muito usada pra impressão de cartazes no século XIX que consistia no acúmulo de gordura em uma matriz. Foram escolhidas quatro obras como referências visuais para o desenvolvimento do nosso pôster.

Fonte:

http://www.abcgallery.com/M/mucha/mucha4.html Figura 02 - Rêverie (1897) Alphonse Mucha.

Fonte:

http://www.abcgallery.com/M/mucha/mucha28.html

Figura 03 - Cartaz para "Moët & Chandon: Dry Imperial (1899).

Fonte:

http://www.abcgallery.com/M/mucha/mucha40.html Figura 04 - Zodiac (1896).

Fonte:

http://www.abcgallery.com/M/mucha/mucha11.html As figuras 02 e 04 foram utilizadas como base para criação de alguns ornamentos que foram primeiramente trabalhados a mão livre, de forma que representassem não só as obras de Mucha, mas também o conceito da arte nouveau. A figura 05 mostra os rascunhos dos ornamentos, formas curvilíneas que remetem a natureza, foram desenvolvidas e em seguida digitalizadas. Depois de digitalizados e vetorizados, foi possível trabalhar suas formas aliadas a Gestalt, com agrupamento, multiplicação e continuidade mostrados na figura 05. Figura 05 - Ornamentos desenhados a mão livre a esquerda e trabalhados com Gestalt à direita.

Fonte: Autoral No que diz respeito à disposição dos ornamentos da imagem a figura 01 nos serviu como molde, pois de forma sucinta transmite a sensualidade da mulher em destaque. E a paleta de cores foi retirada das obras de Mucha, cores sutis da paisagem de fundo da figura 01, o verde marcante da figura 02 e as cores das joias tão simbólicas da figura 03.

Figura 06 - Disposição dos ornamentos e paleta de cores.

Fonte: Autoral A figura feminina foi trabalha de maneira separada, pois assim como Mucha, quisemos valorizar a mulher trabalhando nas curvas de seus cabelos e de suas vestes. A posição de perfil foi inspirada na figura 04, de modo a proporcionar a

leveza e movimento que almejamos transmitir. O processo de construção foi feito da mesma maneira que os ornamentos, desenhada a mão livre, digitalizada, vetorizada e trabalhada em programas de edição de imagem.

Figura 07 - Processo de criação da figura feminina.

Fonte: Autoral

4 Resultados e discussão

Figura 08 - Brisa

Fonte: Autoral Como resultado final desta pesquisa, nosso pôster (figura 08) propõe a utilização dos elementos visuais do design retro executados através das técnicas do Photoshop, enfatizando a originalidade de uma obra que uni elementos digitais e a experiência do design. Intitulado Brisa pela maneira como a mulher e os elementos ornamentais se dispõe na obra, procuramos transmitir com esse pôster uma releitura das obras de Mucha, trazendo elementos característicos de suas obras e da arte nouveau executados com técnicas atuais.

5 Considerações finais

O conhecimento da história do design é importante para a execução de uma boa peça gráfica e aplicações nas novas práticas tecnológicas. Observamos atualmente que o estudo das ferramentas dos programas de edição tem dominado o mercado de layouts, pois há facilidade de manuseio e armazenamento dos trabalhos. O conhecimento dos precursores do que conhecemos hoje como design gráfico é importante para a compreensão das técnicas do presente, pois através do estudo da história percebemos, comparamos e compreendemos melhor as transformações e desenvolvimento das técnicas de design ao logo do tempo.

Referências

CARDOSO, Rafael. O design brasileiro antes

do design aspectos da historia gráfica.

São Paulo: Cosac Naify, 2005. FORTY, Adrian. Objetos de desejo, design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac &

Naify, 2007. MUNARI, Bruno. Design e comunicação visual. São Paulo: Martins Fontes, 2001. RIMES, Jonatha; BHASKARAN, Lakshimi. Design retro: 100 anos de design gráfico. São

Paulo: SENAC São Paulo, 2007. SEMBACH, Laus-Jürgen. Arte nova: a utopia da reconciliação. Bona: Taschen, 2010.

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