as letras que a compõe, todos os gozos que cada sílaba nos permite deleitar. Se tivesse a oportunidade de voltar no tempo, diria para aquela menina que um dia fui, a menina da escola, aquela, que era 14, que queria ser alguém na vida sem ter a mínima noção do que isso significava, “ei pequena, ser alguém na vida é não precisar de ser nada além de si”. Mais que qualquer coisa, Freire carrega a necessidade dos homens de se humanizarem, de pensar e agir segundo eles mesmos. A Pedagogia do Oprimido propõe uma reflexão sobre uma ampla dimensão de opressão presente na sociedade contemporânea, sua reverberação nas relações de ensinoaprendizagem e no cotidiano dos homens inclusos nesses sistemas. E diante das problemáticas alcançadas, convida à fuga, como num filme de aventura onde se arrisca na busca de uma terra nova e sublime, essa proposta compromete-se com uma educação como prática de liberdade (FREIRE, 1999). Apesar de ter sido sistematizada em 1968, as questões levantadas por Freire ainda estão presentes, estão por todos os lados, cochicham nos ouvidos, nos esbarram na rua. São diversas as ponderações teóricas e práticas que a Pedagogia do Oprimido apresenta e investiga, a elaboração que componho se apropria e retira três traços desse acervo para a articulação da práxis desenvolvida. O primeiro ponto é o que dá a roupagem social à proposta, a noção de uma sociedade composta de oprimidos e opressores; o segundo traço se pauta na concepção problematizadora da educação e analisa seu contrário, a concepção bancária; e como último elemento todo o universo dos temas geradores.
Oprimidos e Opressores
O ponto de partida para que aconteçam todas as discussões presentes na Pedagogia do Oprimido está fundamentado na noção instalada por Freire de uma sociedade composta de homens oprimidos e homens opressores. A coletividade como é vivida atualmente está vinculada ao sistema de opressão e essa submissão desumaniza os sujeitos, impedindo-os de ser mais. Desumanizar (FREIRE, 1978, p. 30) é robotizar os homens bloqueando seu pensamento autêntico, criativo e crítico diante das próprias vidas e do mundo que os cerca. Essa castração está infiltrada em vários níveis na sociedade, presente nas relações interpessoais, no modo em que os governos se organizam e governam, nas mais diversas formas de hierarquia e até na visão que o indivíduo tem de si mesmo. Estamos rendidos por todos os lados. 15