Educação Problematizadora e Educação Bancária
Exploradas as questões da opressão que atingem a sociedade por completo, cabe agora uma análise de como esse abuso se materializa no processo educacional. Para abrir essa discussão, uma imagem simples da espacialização da sala de aula ajuda a refletir sobre a relação professor-aluno na educação básica: uma sala de aula padrão é dividida em dois núcleos, em um deles, ordenados, enfileirados, sentados e voltados para frente, estão os alunos. O outro núcleo é ocupado pela figura do professor. Percebe-se que o professor é o foco da aula, quando todos os alunos estão dispostos pelo espaço de maneira em que ele fique em evidência, a superioridade também é notada em níveis de altura, uma vez que os alunos sentados apreciam a figura que se apodera do status mais alto. Essa disposição espacial já diz respeito a uma hierarquização de dominação, não é signo complexo de ler. Mas qual o sentido de um processo de ensino-aprendizagem focado no professor? Na maioria das escolas públicas brasileiras, incluindo a Escola Estadual Três Poderes, que é o foco desse estudo, a educação é necessariamente verborrágica. O educador tem função narrativa, despeja sons para que os alunos decorem e repitam, e dessa forma se entende a construção do saber. O foco é na palavra, palavra vazia sem significado, toda a força transformadora da palavra é silenciada. Palavra muda. Muda porque não é comunicação, é desconectada dos sujeitos que a ouvem, apenas repete um ciclo automático de dissertação alienada e alienante. Esse é o quadro da educação bancária (FREIRE, 1978, p. 66), a educação como uma prática de depósito, onde os educandos são depositários e os educadores depositantes. Espelho da sociedade ao seu redor, a educação bancária é a educação da dominação. Quando arquivam os comunicados da opressão, mascarados em forma de conhecimento, os sujeitos se arquivam. As sentenças despejadas não se conectam com sua realidade, o que leva à omissão das suas características para conviver com os dados opressores. O processo de depósito carece da dúvida, da argumentação diante dos arquivos, torna o sujeito menos crítico e transformador e por consequência o afasta do ser mais. O mundo é como uma pintura contemplada de longe, estática, imóvel. Essa situação beneficia os opressores, pois reflete um condicionamento, a passividade, a domesticação do sujeito e a complicação do pensamento autêntico. A relação entre alunos e professores dentro do sistema de depósito, corresponde à anulação do ser, a vivência dos alunos é ignorada, são vistos como tabula rasa (LOCKE, 17