teatro é capaz de elevar a experiência para um campo mais próximo do sensorial do que do racional. A presença do espectador como sujeito dentro da obra, é uma presença ética. Ele é obrigado a tomar uma postura já que está inserido no acontecimento, mesmo que essa postura seja uma aparente inércia, ela diz sobre uma conduta pessoal diante das problemáticas. Essa estética do real provoca um deslocamento das questões morais, éticas e comportamentais. Se o espectador é quem decide a maneira de ver a situação, somente ele pode dizer o nível de importância daquele momento e a forma de lidar com ele. Quando o espectador começa a se questionar sobre os limites do real, ele se desloca do seu lugar de conforto passivo não problemático. O teatro pós-dramático retira o chão do espectador e lhe deixa flutuar.
O Político despolitizado
Um emaranhado que é uma questão central na exploração da cena contemporânea, é a sua vereda politizada. Como uma arte esvaziada de sentido pode se fazer política? Essa é outra vertente muito importante para esse trabalho e para a entrada do teatro pós-dramático na escola. Ao discorrer sobre a questão política no teatro, Lehmann toca em um ponto importante, primeiramente cabe lembrar que o teatro não é necessariamente político. Não é, e nem quer ser o centro de articulação de uma nação para a formação política. Em outros momentos da história o teatro teve uma articulação política maior, a evolução das mídias interrompeu esse processo. Também o político de hoje não é o mesmo dos anos 1920, não pode ser pensado da mesma forma, nem com os mesmos propósitos. Mas em contraponto, apesar de não ser vitalmente político, o teatro é necessariamente social e o político está inscrito no social independentemente de suas intenções. Não há como separar o social do político. Há um discurso comum do político no teatro: alega ser a discussão de temas públicos no palco, para se chegar a um esclarecimento destes.
Mas é válido: o fato de problemas éticos ou morais serem tratados no palco em forma de fábulas apropriadas não torna o teatro moral ou ético. O fato de pessoas politicamente oprimidas aparecerem no palco, não torna o teatro político. O fato de se notar em uma encenação o engajamento político do diretor como pessoa, o fato de ele assumir publicamente uma posição é louvável, mas não é essencialmente diferente do que se faria em outra profissão. (LEHMANN, 2002, p. 7)
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