Flávia Carvalho Arvelos - ARTICULAÇÕES TEÓRICO-PRÁTICAS PARA UMA PEDAGOGIA TEATRAL: Pedagogia do...

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reflexões. Porém há algo em comum entre eles que vai para além da fundamentação, uma característica que partilham e que merece um destaque: a válvula de libertação. Quando Freire denuncia a opressão social ele também deixa claro que tem como objetivo o rompimento dessa condição, assim podemos ver claramente a chave de conexão com a liberdade. A descontinuação do drama como forma única do teatro é a libertação de uma nova teatralidade. Essas duas noções de liberdade, quando postas em um mesmo ponto de atividade, nesse caso a escola, geram uma mesma força propulsora de expressividade. Associadas a teatralidade com maior liberdade formal e a consciência liberta, juntas, proporcionam uma manifestação genuína de criação e ação, distante da obrigatoriedade de obedecer as normas, ou de ser bela e acabada. A potência de expressão atingida nessa associação supera o uso dessas entradas em isolamento, não exige que o aluno enquadre o que diz ou como age a uma rede de normativas, permite que ele se aventure na descoberta de novos caminhos. Essa proposta se atrela ao objetivo que André (2011) dá para o papel da arte na escola, a característica de ser ação cultural, ao promover essa expressão sem castrações. O aluno se conecta com o que ele carrega como ser único e social e deixa que aflore os modos de interferir no seu contexto.

Educação problematizadora e a estética da realidade

Se a fundamentação dos modelos adotados abrange um capricho de liberdade expressiva, o acesso que elas elaboram para tocar nesse demanda está contido na formulação da educação problematizadora e na conversação do teatro pós-dramático com a realidade. A Pedagogia do Oprimido e o teatro pós-dramático também se abraçam sob uma condição temporal, que é pressuposto fundamental para as duas linhas se instalarem: o foco no presente. A opressão não é um problema contemporâneo, ela esta presente na história da humanidade ao longo do tempo, mas não podemos decretar uma luta para a mudança do passado e nem do futuro se a base não se concentrar no agora. Os oprimidos são homens e mulheres do presente, estão por todos os lados, limitados em seus atos por questões da dominação. Estão envolvidos crucialmente por rédeas da realidade, só conseguem a liberdade rompendo com imposições palpáveis do seu cotidiano. A pedagogia do oprimido é uma luta do presente, das pessoas de hoje, dos problemas de hoje.

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