Flávia Carvalho Arvelos - ARTICULAÇÕES TEÓRICO-PRÁTICAS PARA UMA PEDAGOGIA TEATRAL: Pedagogia do...

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à primeira vista funciona como um primeiro choque de distanciamento, uma revirada inicial de emersão da consciência. O tempo como elemento a ser desconstruído em sala de aula, não diz repeito a uma sequência que obedece a lógica de presente, passado e futuro ou fala de um momento ficcional como a moldura do drama. A abordagem foi do tempo teatral inserido nos ritmos e velocidades do mundo contemporâneo, o caótico e o arranjado, explorando acelerações, pausas, distorções, durações, repetições, dimensões diferentes de posicionamento. O trabalho com a espacialidade enfatizou a capacidade do teatro em ocupar todo e qualquer espaço. Como o teatro age longe do palco? Desconstruir o espaço é questionar normativas que condicionam sua percepção e ocupação, buscar e criar buracos, rotas de fuga, explorar o próximo e o distante. Os alunos foram provocados a olhar para o seu entorno com uma nova perceptiva e agir de forma que as padronizações instaladas ficassem em evidência para serem modificadas. Durante essa aula, o espaço que foi maior problematizado foi o espaço da escola, os alunos criaram medidas de intervenção no espaço através de manipulação de objetos já presentes dentro da escola. O último aspecto a ser desconstruído foi a corporalidade, por entender esse eixo como o mais complexo. Trabalhamos com o corpo durante todos os encontros, mas focar numa desconstrução desse baú requer cuidado, os adolescentes possuem medo de seus corpos, principalmente as meninas, eles se sentem presos na própria carne. A opressão pesa demais nos corpos, os rótulos impostos geram um temor de estar em si, de se olhar, se sentir, de se reconhecer enquanto isso ou aquilo. Essa é a expressão do que Freire chama de medo da liberdade (FREIRE, 1978, p. 19), o temor dos homens de ser mais, transposta para a relação do indivíduo com o próprio corpo. Há o receio do que pode ser descoberto no momento em que os homens olharem para dentro. Desconstruir o corpo está dentro de uma proposta de investigação da expressividade própria, está ligada a modificação da interação individual com a minha matéria e com o mundo. O corpo no teatro é onde mais se busca por significações, mas no teatro pós-dramático ele reflete uma corporeidade autossuficiente, recusa o papel de comunicador se purifica na presença. O movimento ou a falta dele leva a reflexões sociais através de uma memória sensorial, corporal coletiva e de tudo que é possível fruir da presença. Objetivou-se que nas experimentações focadas na corporeidade a turma se entregasse à própria fisicalidade, que sua presença em fruição com o mundo substituísse qualquer necessidade da palavra e da 37


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