trindade do pós-dramático feita por André (2011, p. 62, 63): o teatro sem personagem, a interação com o público e o teatro sem enredo. Na orientação para a construção de propostas não elegi nenhuma regra, elas poderiam ter a duração que quisessem, poderiam acontecer em qualquer espaço, poderiam envolver apenas o proponente ou também a turma interia. A única condução era que nessa proposta deveria estar contida uma inquietação deles com o mundo, algo que partisse de um fluxo de movimento interno. A orientação para a procura com essa conexão interna, tem como embasamento as reflexões e conexões que Lehmann faz do teatro pós-dramático com a performance.
A discussão do entrecruzamento de teatro e arte performática no âmbito do teatro pós-dramático deve levar em conta o seguinte deslocamento de perspectiva: se no teatro os artistas apresentam um realidade que eles transformam artisticamente por meio de materiais ou gestos, na arte performática a ação do artista está menos voltada ao propósito de transformar uma realidade que se encontra fora dele e transmiti-la com base em uma elaboração estética aspirando antes uma “autotransformação”. (LEHMANN, 2007. p. 229)
A autotransformação contida nas raízes da performance é de grande valia para um processo de ensino-aprendizagem, pois mesmo em um compartilhamento com o público o foco de apreensão ainda está nos educandos. Não que as propostas se encaixem totalmente no âmbito da arte performática, mas que busquem essa conexão com a vitalidade do homem, para longe da encarnação de uma personagem e mais próximo de um corpo que digeriu seu mundo. As propostas trazidas pelos alunos tinham as mais diversas características e temas geradores. Um exemplo de como foi o processo de experimentação dessas propostas pode ser dado com a ideia que Sara trouxe ao grupo. Sara é vegetariana e possui uma inquietação muito forte com a violência que os humanos impõem aos animais, então começamos a explorar a animalidade do corpo humano, trazer para o corpo traços de movimentos de animais. Depois inserimos uma situação de violência nesses corpos. E assim a proposta de Sara foi sendo experimentada, ela trouxe uma ideia que o grupo experimentou, refletimos, acrescentamos outras características e voltamos a experimentar. Da mesma forma aconteceu com o restante das propostas, um processo de experimentação e reflexão feito diversas vezes. A fase de apropriação se conectou com a fase de ação libertária, pois foi a partir dessas propostas que emergiu “Vômito”, o evento teatral produzido pelo experimentos do Incorporar. As propostas trazidas pelos alunos foram apresentadas e vividas pelo grupo e depois lapidadas para comporem a ação libertária. 43