UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Belas Artes
Izabela Borges Corrêa
DE ALUNA A PROFESSORA DE TEATRO: influências e reflexões sobre a prática teatral
Belo Horizonte 2018
Izabela Borges Corrêa
DE ALUNA A PROFESSORA DE TEATRO: influências e reflexões sobre a prática teatral
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Teatro – Licenciatura – da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais para obtenção de título de Graduação. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Carvalho de Figueiredo
Belo Horizonte 2018
AGRADECIMENTOS A minha mãe, Tânia, por apoiar meus sonhos e ajudar a realiza-los, permitindo que fosse possível dedicar aos meus estudos. Por ser um grande exemplo de mulher. A minha avó, Maria Alayde que é o amor da minha vida. Aos meus irmãos, Henrique e Gabriel que ás vezes acreditavam mais em mim do que eu mesma. Aos meus padrinhos, Lúcia e Daride, que me presentearam com o meu primeiro curso de teatro. Aos meus tios e tias, Edna, Paulo, Magda, Gérard, Rosária, Márcio, Gláucia e Ronaldo que sempre estiveram do meu lado, principalmente na preparação do meu intercâmbio. Ao Carlos, pelo cuidado, por me apoiar durante essa minha finalização de curso e por me acalmar mostrando que existe uma vida de possibilidades fora da graduação. Aos meus professores, Adélia Carvalho, Eugênio Tadeu, Marina Marcondes, Raquel Castro e Vinicius Lírio que me proporcionaram experiências inesquecíveis. A Janaina e Nani por serem minhas companheiras da Licenciatura. Ao Diego Siqueira e Lucas Vasconcelos por me ajudarem a lembrar de coisas que já não lembrava mais. Aos meus amigos que me escutaram falar todos os dias sobre este trabalho. Agradeço imensamente ao meu orientador, Ricardo Figueiredo por toda paciência, parceria e cuidado comigo durante toda a minha trajetória na graduação e principalmente nesse processo. Por ser um grande exemplo, mantendo vivo o meu desejo de ser professora.
RESUMO
Este trabalho apresenta o meu percurso artístico e formativo em teatro até a minha escolha pela docência. Parto de uma análise da minha trajetória anterior à entrada na graduação em Teatro na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e durante o percurso formativo na docência. Utilizo da abordagem (auto)biográfica como metodologia apoiando-me em registros e materiais como blog e diários de bordo para tecer uma análise crítica dos processos que me constituíram enquanto professora de teatro. Conclui-se que a minha formação docente vem do resultado de diversas experiências em minha formação atribuindo escolhas que só pude perceber após análises e reflexões sobre a prática teatral que eu estava inserida durante as experiências teatrais.
Palavras-chave: Formação de professores. Pedagogia do Teatro. (Auto)biografia.
ABSTRACT This work presents my artistic and formative trajectory in the theatrical arts until the moment I decided to be a teacher. It begins with an analysis of my path before entering the Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais and during my studies in teaching. It uses an autobiographical approach as methodology, based on historical records and materials such as blog posts and logbooks to provide a critical analysis of the processes that constituted me as a theater teacher. It concludes that my teacher training comes from the result of diverse experiences in my formation, making choices that I could only perceive after analyzes and reflections on the theatrical practice that I was inserted during the theatrical experiences. Keywords : Teacher training. Theatre Pedagogy. Autobiography.
SUMÁRIO
1 DO QUE FALAR NO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ............................. 7 2 “A IZABELA É TÍMIDA” OU COMO CHEGUEI NO TEATRO! .............................. 11 2.1 “XIU! Não conta para ninguém” .................................................................................... 11 3 DESCOBRI ONDE EU QUERIA ESTAR: O NOME ERA VALORES DE MINAS .. 15 3.1 Muito Prazer, o meu nome é Valores de Minas ............................................................. 16 3.2 Chegou a hora de experimentar! ..................................................................................... 22 3.3 Eu ainda quero estar aqui! .............................................................................................. 27 4 PRÓXIMO PASSO: A ESCOLA INTEGRADA ............................................................. 32 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 36 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 38
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1 DO QUE FALAR NO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Esse trabalho, apresentado como meu trabalho de conclusão de curso (TCC), é fruto de minha trajetória de vida e como o teatro entrou para compor o rol de habilidades que desenvolvi ao longo deste tempo. Para chegar ao que eu gostaria de falar no TCC tive várias dúvidas. Via colegas que encontravam seus temas como se não precisassem fazer nenhum esforço. Outros, que após alguma experiência bem sucedida durante a graduação, decidiam por falar daquela experiência. Outros ainda elegeram uma etapa dos estágios supervisionados para um aprofundamento e fechamento do ciclo na graduação. Era angustiante pensar e não saber do que falar. Existia em mim uma pressão feita por mim mesma e todas as expectativas que veem juntos (da família, dos colegas), chegando a julgar o meu lugar, o meu comportamento enquanto aluna durante todos esses anos de graduação (eu entrei no segundo semestre de 2012 e este trabalho será defendido no primeiro semestre de 2018). Afinal, após uma graduação supõe-se que vamos para o mercado de trabalho. E me perguntava: “Será que eu não estudei ou fui boa o suficiente? Será que até agora não fiz nada de relevante na minha vida e na minha carreira acadêmica? Será que meu trabalho de conclusão de curso vai ter alguma relevância?”... Sempre morri de medo de fazer qualquer coisa, no sentido de fazer algo só porque eu tinha que fazer, definitivamente eu não queria isso. Sempre escutei que durante a trajetória acadêmica deveríamos nos aproximar daqueles que nos inspiram, e com esse pensamento na cabeça, sempre tive o professor Ricardo Figueiredo como uma referência. Para a minha sorte ele sempre esteve presente em meu percurso desde que eu decidi pela Licenciatura, lá no meu terceiro período. Com ele eu sempre pude ser muito sincera, sincera ao ponto de dizer que eu não sabia o que escrever no meu trabalho final e com isso ele já se tornava ali o meu querido orientador. Em 2016 fiz a disciplina Pesquisa em Artes Cênicas, que tem como objetivo principal a elaboração do projeto do trabalho de conclusão de curso, o TCC. No ano anterior, Gabriel, meu irmão mais novo, estava finalizando o ensino médio no ensino público estadual e me mostrou que havia recebido um livro didático de Arte. Naquele dia, ao ver a existência de um livro didático de Arte, que eu não sabia que existia, me deixou muito feliz e curiosa. Feliz, porque sentia que de certa forma aquele livro representava alguma importância para o ensino das artes nas escolas (considerando que o meu irmão estudava na mesma escola que eu me formei e que eu não tive aula de Arte e agora, além de ter, tinha também um livro que poderia
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acrescentar à prática docente) e curiosa, porque eu tinha o interesse de saber como o professor de Arte não mais polivalente e generalista, atuando na sua formação específica, trabalharia com um livro com as diversas linguagens artísticas (artes visuais, dança, música e teatro). Com isso, finalizei o meu projeto de tcc que tinha como título: “Livro didático de Arte: utilizar ou não? Eis a questão”. Finalizando a disciplina continuei uma pesquisa procurando saber se os professores de teatro de algumas escolas utilizavam o livro e a grande maioria respondeu que não, fui procurando outras escolas com professores de outras áreas artísticas e encontrei poucos, quase nenhum dizia utilizar o livro. Com isso fui desmotivando e também percebia que não era algo que me faria escrever com vontade, seria apenas uma aceitação da primeira ideia que veio a minha cabeça. Contrariando assim, o meu instinto natural de improvisadora teatral que aprendi com o Sistema Impro de Keith Johnstone na aceitação da minha primeira ideia. Ricardo, a princípio, me perguntou se eu gostaria de falar da minha experiência enquanto aluna durante a permanência no programa Valores de Minas (VDM). Pensei e disse que talvez sim. Um tempo depois me sugeriu ignorar essa ideia e começou a me instigar perguntando o que eu teria o desejo de contar e refletir, algo que eu escreveria com vontade. Perguntou se era o intercâmbio acadêmico que eu havia realizado em 2016, em Santiago do Chile; se era a minha pesquisa prática e teórica com a Improvisação Teatral e como ele me conhece, conseguia mencionar coisas que eu fiz e/ou eram do meu interesse. Com isso, disse que me interessava em falar da minha trajetória até a graduação como um todo. Cheguei a fazer um Sumário, como um primeiro exercício de orientação, nomeando todas as fases que vivi, por etapas:
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Fonte: Elaborada pela autora.
Depois, foi pedido que eu começasse a aprofundar uma dessas etapas, mas que partisse da que eu mais gostaria de falar. E por acreditar que eu já sabia tudo que eu iria escrever, iniciei com o Valores de Minas. Nesse momento, meu orientador chegou a dizer que nada era por acaso e no decorrer da escrita foi percebido que deveríamos estar atentos às demandas que estavam surgindo, porque estávamos indo para vários lugares que não havia o porquê de não serem explorados. E não, definitivamente, eu não sabia de tudo. Viver a história e pensar sobre ela não é uma tarefa simples. Quando lá atrás, eu disse talvez para o VDM como tema era porque eu pensava que falaria apenas de uma experiência anterior à UFMG, nada a mais ou a menos, e ao mesmo tempo talvez eu tinha um pouco de preguiça de falar disso. Porém, depois fui analisando, pensando e relembrei que minha experiência no VDM foi responsável por eu ter entrado na UFMG, pois me possibilitou a ter um repertório prático suficiente para ser aprovada na etapa de aptidão específica do vestibular. Além disso, o VDM me proporcionou, devido à proposta
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curricular do curso, a minha primeira experiência mais próxima à docência e que me levou a lugares que só vim questionar nesse momento de escrita do TCC. Decidi falar do Valores de Minas e, para isso, utilizei para ter referências concretas o meu blog feito na época, meu diário de bordo e contei com a ajuda de companheiros que estudaram comigo e que foram muito solícitos às minhas perguntas feitas pelo Facebook e WhatsApp. Por se tratar de uma experiência que aconteceu em 2010 e 2011, existem muitos fatos que eu não lembro, ou que não sei se estou inventando agora ou se de fato aconteceram. E, amparada no pensamento de Cecília Salles entendo que: “Lembrar não é reviver mas refazer, reconstruir, repensar com imagens de hoje as experiências do passado. A memória é ação.” (SALLES, 1998, p. 100) Falar da minha trajetória anterior à graduação é importante porque me coloca em uma situação de escrever, pensar, criticar e fazer uma análise de recortes no percurso artístico e formativo que vivi até agora. A minha trajetória anterior à Universidade Federal de Minas Gerais contribuiu para as minhas escolhas durante a minha trajetória acadêmica, pois as minhas experiências anteriores auxiliaram as minhas escolhas e interferiram de alguma maneira, como apontarei nesse trabalho. Ricardo Figueiredo (2016) apresenta que a trajetória do professor pode interferir na prática docente, ou seja, a minha formação anterior e durante a UFMG fará e faz parte do meu processo de aprendizagem e formação docente.
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2 “A IZABELA É TÍMIDA” OU COMO CHEGUEI NO TEATRO!
Nasci como a filha caçula em janeiro de 1992, cinco anos depois fui transformada na filha do meio, por sorte a única menina (já imaginou ser o filho do meio e ser mais um menino?). Sim! Sou “criança de apartamento”. O armário sempre foi um ótimo lugar pra se esconder, o corredor do edifício foi onde eu aprendi a andar de patins e galinha ao vivo eu fui ver lá pros meus 13 anos (porque as do Mercado Central não contam, né!?). Meus irmãos sempre foram uma boa companhia, mas era com a minha prima que eu brincava de cantora, inventando música e fazendo os clipes. Eu também era uma boa companhia para mim mesma. Lembro-me de me trancar no quarto por horas e ter vários diálogos com a Sandy e o Júnior, que na época era o meu namorado. Vendo fotos antigas eu já me vi com microfone na mão. Não era da época das apresentações do famoso “Show da Xuxa das primas do Natal1”, mas obrigava a minha mãe, durante o meu banho, fingir que era a Magali da Turma da Mônica, mudando a voz e tudo mais para que eu aceitasse lavar o cabelo, aproximando minha mãe do meu mundo de faz de conta. Já troquei roupa nova por ida ao cinema, assisti a “Pequena Sereia” e nunca mais me esqueci desse dia, já fui descartada pela professora para recitar o poema no dia das mães, já fui árvore, já coroei Nossa Senhora... Já falei várias vezes que queria ser atriz. Mãe! Quero ser atriz! “Mas a Izabela é tímida”, dizia ela. E eu continuo sendo. 2.1 “XIU! Não conta para ninguém”
Era janeiro o mês do meu aniversário e minha tia que era também a minha madrinha chegou com um envelope branco que tinha escrito “Quero ser lembrada pelo Faustão no seu primeiro arquivo confidencial2 que eu e seu padrinho fomos às primeiras pessoas a te apoiarem a fazer teatro.”. Para poder escrever sobre esse presente fui perguntar à minha tia o 1
O show da Xuxa no Natal era o momento onde as minhas primas mais velhas faziam uma apresentação de dança, no Natal, com as músicas da Xuxa. Era quase que uma tradição essa apresentação e atualmente sempre lembramos e comentamos desse acontecimento familiar. 2 “Arquivo Confidencial” é um quadro do programa dominical do “Domingão do Faustão” que consiste em homenagear uma personalidade da televisão através de depoimentos de amigos e parentes.
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motivo do presente e ela comentou que eu sempre dizia que queria ser atriz e que, muitas vezes, os adultos não “ligam” muito para os sonhos das crianças e ela queria que eu tivesse uma oportunidade. Uma oportunidade de experimentar algo que me proporcionasse à realização do meu sonho que era de ser atriz e que eu tanto dizia. Naquele momento, era através de um curso de teatro que eu poderia, enfim, chegar a participar do quadro do programa do Faustão segundo o imaginário da minha tia. O modo de pensar da minha tia não é diferente de grande parte da população que, por desconhecer os meandros da profissão artística e vislumbrarem programas televisivos que impõem um modo de ser e estar no mundo, acreditam que para chegar à televisão começa-se fazendo teatro ou que toda pessoa de teatro almeja ir para a televisão – como se isso fosse o ápice e realização da carreira. Exemplificando o senso comum que paira sobre as pessoas que vão fazer teatro e “os outros”, geralmente desconhecedores da área, acham que seu futuro de sucesso é estar na televisão. Ou como nos diz Kátia Bueno:
[...] Trata-se dos efeitos socializadores advindos dos contextos culturais, sociais e históricos a fornecer modelos de ação, incitação ao exercício e referências de comportamento, difundidos por toda sorte de instituição (escola, meios de divulgação como televisão, rádio, publicidade etc) (BUENO, 2007, p. 50.)
Quem sabe, se eu fosse homem e meu desejo fosse jogar futebol minha tia teria essa mesma atitude de ajudar na realização do meu sonho, o que Bueno (2007) aponta como ação mobilizadora aliada novamente a um contexto cultural do exercício de uma prática. Ali eu não tinha muita noção do que seria um futuro de sucesso, porém eu estava completamente feliz, porque eu tinha três dias de curso e era em isso que eu focava. Nesse envelope continha um flyer do curso, acho que tinha mais ou menos doze anos e me sentia imensamente feliz, porque eu havia acabado de ganhar o meu primeiro curso de teatro da vida! Era um curso de férias e tinha a duração de três sábados. Eu já conhecia o curso pela propaganda que eles faziam na televisão, que até hoje utilizam de um marketing que induz ao imaginário das pessoas que fazer teatro é ir ou somente preparar para ir à tv, tinham um número de telefone fixo fácil de decorar (que é o mesmo até hoje) e uma promessa de fazer tv e teatro iguais aos artistas da televisão. Eu não me lembro de como foram às aulas, só sei que existia em mim um entusiasmo muito grande em realiza-las. No último sábado de aula eu fiquei doente e não fui, fiquei muito triste e até hoje não contei para a minha madrinha.
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Alguns anos depois, em 2007, quando eu já estava no 1° ano do Ensino Médio em um dia pós-escola eu estava fazendo um curso daqueles gratuitos de “como fazer seu currículo” que eram oferecidos às escolas públicas com o intuito de preparar o aluno para o mercado de trabalho. Eram dois dias de curso e ele estava localizado bem no centro da cidade de Belo Horizonte, eu estava fazendo com um primo (porque fomos “obrigados” a fazer pela mãe dele, a minha tia) e decidimos “matar aula” e passear pelo centro. Nesse passeio fui reconhecendo as ruas durante o caminho e recordei de onde ficava a sede do curso de teatro que eu havia feito alguns anos atrás (na época que eu realizei o curso de teatro eu tinha uma companhia mais velha que eu, que também era aluna do curso, então nunca precisei preocupar com o trajeto até o curso e com isso nunca memorizei). Entrei, perguntei os valores, cheguei à minha casa e logo pedi à minha mãe para voltar a fazer teatro e consegui. Fiz um semestre letivo nessa escola, duas aulas por semana. Eu tinha dois professores diferentes, um para cada dia. Não tenho muita memória referente às aulas, a didática, exercícios e práticas. Porém, lembro-me de várias vezes termos que criar cenas utilizando esquetes que estavam em uma apostila que a própria escola escrevia e vendia. A escola tinha um “pacote completo”: vendia o curso, a carteirinha de identificação do aluno, a apostila de esquetes, a camiseta, o sonho do amador em ir para a televisão e cobrava por isso afirmando que ao final de toda essa etapa sairíamos (após pagar outra taxa) com o registro profissional de atores. Cheguei a fazer uma apresentação e foi a minha primeira vez no palco (um teatro dentro da própria escola) e com plateia (composta pelos familiares dos alunos de diversas turmas que apresentavam no mesmo dia). Foi um momento que recordo de ter sido divertido e feliz junto com os meus colegas de cena, talvez muito mais prazeroso que o próprio processo de criação e ensaio. Nesse dia a minha mãe me assistiu e disse que me apoiaria porque percebeu que ali era onde eu queria estar e me dava bem, me viu a vontade e chegou a dizer que eu não era tão tímida assim. Após a apresentação outro semestre letivo se iniciava. Eu sentia que as aulas pareciam ser as mesmas, que não havia uma mudança significativa que me parecesse suficiente para definir uma mudança do módulo um para o módulo dois. Mesmo com o desconhecimento de outros cursos e metodologias eu não estava satisfeita com as aulas, porém não queria deixar de fazer teatro, até que me foi apresentado o Valores de Minas. Ao entrar no Valores de Minas e na própria UFMG, escutei de várias pessoas “Não conta que você veio de lá” (da minha primeira escola de teatro), “Ignore essa fase da sua vida”, entre outras coisas. A Izabela do passado não entendia o porquê ela se sentia
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insatisfeita mesmo fazendo algo que ela sempre quis fazer, não fazia sentido naquele momento. Não revelarei o nome da instituição, pois será resguardado por motivo de sigilo, porém, não posso deixar de comentar que vejo essa escola como um lugar que utiliza de um discurso de proporcionar um possível sucesso de reconhecimento, fama, oportunidade na tv apenas pelo fato de estar ali – utilizando-se do senso comum e da glamourização tida pela sociedade sobre as pessoas que estão na televisão. É uma instituição que lida com o sonho alheio de uma forma quase que apenas mercadológica. Analisando pelo tempo que frequentei vejo que é um tipo de teatro espetacular que usa de um imaginário da fama e permitem que seus alunos conheçam apenas um modo teatral em formato de módulos esquematizados que variavam muito pouco de um ao outro. Ali não via que era possível utilizar o espaço do teatro como um lugar de falar, para discutir, repensar e fazer crítica sobre algum tema, por exemplo. Éramos obrigados tanto em exercícios cênicos, quanto na própria apresentação, a utilizar de textos “cômicos” que buscavam o riso a qualquer custo, não importando muito se o conteúdo era preconceituoso, por exemplo. Naquela época não me atentei à formação dos professores, havia pouco diálogo, tinha a ideia do professor como detentor do conhecimento, tive a experiência de ter aula com o “professor malvado” que chegava a dizer aos alunos que eles não eram bons, que nunca chegariam a lugar nenhum. Ou seja, dentro da própria instituição havia uma desqualificação do jovem ingressante e uma “verdade” sobre o que o futuro guardava aos jovens atores: qualquer coisa, menos a televisão – já que este lugar, segundo a ótica do professor em questão, era o local para os melhores – fato que nem ele era. Implicitamente, a própria profissão docente era tida como algo desqualificado e menor do que o status do artista de televisão. Hoje já percebo, após passar por outra escola, conhecer outros professores, outros processos de criação que conteúdo proposto naquela escola, o tipo de teatro que eles produzem a relação entre aluno e professor, não faz parte do que eu quero para mim enquanto docente e atriz.
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3 DESCOBRI ONDE EU QUERIA ESTAR: O NOME ERA VALORES DE MINAS
Esse tópico explicitará a minha experiência no projeto Valores de Minas durante nos anos em que eu estive presente (2010 e 2011) desde como eu conheci o projeto, a seleção, os módulos existentes, a participação do espetáculo e alguns desdobramentos. Tenho consciência que o programa sofreu modificações desde a minha saída, porém essas mudanças não estarão presentes em meu discurso. Desde 2009 o Valores de Minas (VDM) faz parte do PlugMinas – um projeto da Secretária do Estado de Minas Gerais que oferece para jovens estudantes ou egressos do ensino público de Belo Horizonte e região metropolitana a experimentação e formação em diversas áreas como artes, empreendedorismo, design, entre outros. O Projeto assegura aos estudantes um tempo qualificado de vivência cultural e social e um currículo que abrange, além da dimensão cognitiva, as dimensões afetiva, ética e estética. Há no espaço cinco núcleos, unidades dirigidas por parceiros que atendem as diretrizes e perspectivas do PlugMinas. MINAS. Plug. Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (CICALT) - Núcleo Valores de Minas. Centro interescolar de cultura arte linguagens e tecnologias cicalt valores de minas. [S.I]: Valores de Minas, 2017. O objetivo do PlugMinas de acordo com o Plano Plurianual de Ação Governamental (2008 – 2011) era de formação e aperfeiçoamento educacional-profissional além da ampliação de oportunidades por meio de cultura digital, das artes e do empreendedorismo. Ou seja, para mim, o PlugMinas entra como uma complementação na formação do jovem estudante que tende a buscar mais experiências formativas para agregar ao currículo profissional, principalmente durante ou após o ensino médio, onde enfrentarão o fechamento da etapa da educação básica e a abertura para o mercado de trabalho – para aqueles que não farão um curso superior ou técnico. Propicia, além da própria experiência pessoal, mais autonomia, reflexão sobre os fazeres em outro tipo de contexto educacional. A partir da perspectiva do conceito de educação não formal, trazida por Maria da Glória Gohn (2014), podemos classificar o projeto PlugMinas como uma experiência calcada nesse segmento educativo, porque:
É um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania, entendendo o sociopolítico como a formação do indivíduo para interagir com o outro em sociedade. Ela designa um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que envolve organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como uma multiplicidade de programas e projetos sociais. A educação não formal, não é nativa, no sentido de herança natural; ela é construída
16 por escolhas ou sob certas condicionalidades, há intencionalidades no seu desenvolvimento, o aprendizado não é espontâneo, não é dado por características da natureza, não é algo naturalizado. (GOHN, 2014, p.40)
Atualmente, o VDM é conhecido como Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (CICALT). A mudança de nome ocorreu após 2016 quando o projeto foi agregado à Secretaria Estadual de Educação, oferecendo aulas de artes por semana em cinco áreas: Arte Visual, Circo, Dança, Música (Canto, Harmonia e Percussão) e Teatro. Mas conforme informamos desde a Introdução, nos ateremos a dialogar com o Valores de Minas durante os anos em que estive presente na referida instituição.
3.1 Muito Prazer, o meu nome é Valores de Minas Conheci o projeto em 20103 através de uma ação que era realizado pelo PlugMinas nas escolas com intuito de divulgar o projeto. Com isso fiz a minha inscrição na minha própria escola. Estudava na Escola Estadual Professor Caetano Azeredo e me foi entregue um questionário onde além dos meus dados pessoais coloquei o núcleo do PlugMinas que me interessava, essa já era a minha inscrição ao projeto. Como eu não fazia mais teatro estava com um grande interesse em procurar saber sobre esse curso que ainda era desconhecido para mim e seria assim uma oportunidade de voltar a estudar teatro. A minha formação escolar, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio foi no ensino público estadual. E durante a minha trajetória de formação escolar pude vivenciar diversos acontecimentos como greve, falta de professores, más condições de estrutura escolar (carteiras quebradas, paredes infiltradas, etc.), explicitando um tipo de realidade das escolas públicas brasileiras fazendo com que, automaticamente, eu acreditasse que um projeto como o PlugMinas não fosse bom pelo fato de ser gratuito e ofertado pela mesma rede de ensino da qual eu havia estudado a vida inteira. Aqui percebo uma contradição, já que anteriormente eu havia realizado um curso que eu não gostava muito, atribuía à ideia de que a qualidade era relacionada com o fato de ser privado. Eu via amigos da minha escola saindo da mesma para ir estudar em instituições privadas, além de conhecer gente que era matriculada na minha escola como forma de “castigo” dos pais. Essa contradição se coloca como reflexo de um confronto que existe, 3
Em 2010 o projeto era fruto de uma parceria do Servas – Serviço Voluntário de Assistência Social com o Governo de Minas.
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manifestado através de uma hegemonia no campo do ensino (PINHEIRO, 2001). Hegemonia essa, apontada por Carlos Cury (1992) como a polêmica do público x privado, que é conhecida pelo viés da realidade dos alunos com sinônimos como superioridade, liderança, dominação, influência, entre outros. Eu fui uma aluna que desejei, por muitos anos, ter a minha formação escolar realizada em um ensino privado, por ter o imaginário de que seria uma experiência muito melhor do que a que eu vivia na escola pública, pois teria acesso a laboratórios, a melhores estruturas físicas etc. além de acreditar que nunca vivenciaria algum tipo de paralização escolar – ocorridas em diversos momentos da minha trajetória escolar. Existia também uma questão de status4, pois imaginava ser muito prazeroso dizer que eu era aluna de alguma instituição privada. Durante a minha adolescência recordo de dizer que não gostaria de estudar em uma universidade pública porque era de graça e mesmo assim com tantos preconceitos, hoje identificados como sem fundamento e pertencentes ao senso comum, depois de uma conversa expondo as minhas dúvidas em relação a estudar ou não em um lugar público e gratuito, expondo os meus pré-conceitos, juntamente com a minha mãe e meu irmão mais velho eu decidi que seguiria com o processo seletivo daquela instituição pública, o VDM. Fui convocada para a segunda etapa do processo seletivo que consistia em uma entrevista individual com os próprios professores e coordenadores do projeto. Nessa entrevista, no decorrer da conversa e das perguntas que eram feitas, já evidenciávamos qual era a nossa principal área de interesse, dentre as citadas. Já na terceira etapa, os 700 jovens selecionados da etapa anterior, participavam de aulas experimentais de todas as áreas, que ocorriam durante uma semana e ao final deveriam escolher duas principais áreas de interesse. Depois disso era marcado o dia teste das duas áreas. A minha primeira opção foi o teatro e por isso tive que fazer uma cena 5, com um texto previamente escolhido pelos professores. O texto variava de acordo com o gênero6 dos alunos:
Você me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza de nada. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes
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Tenho irmãos por parte de pai e eles sempre estudaram em bons colégios e eu sempre soube, pedia ao meu pai para me colocar e ele sempre dizia que não podia. 5 Eu já tinha mesmo que pequeno algum tipo de experiência de criação de cenas. A minha experiência na minha primeira escola de teatro finalizou quando eu percebi que havia algo ali na estrutura didática e estética que não me agradava. 6 A noção de gênero nessa proposta diz respeito ao gênero biológico.
18 desde que isso aconteceu... Receio que não possa me explicar, e é justamente aí onde está o problema. Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma. Retirado do diário de bordo da autora.
Um fragmento retirado da obra de Alice no país das Maravilhas e uma indicação para escolher algum tipo de animal e usar traços do mesmo como estímulo para a criação cênica; era isso que tínhamos para criar. Criei a minha cena sozinha, o meu repertório para essa criação baseava-se apenas nas aulas coletivas do próprio projeto e do meu semestre na minha primeira experiência de um curso de teatro já citado anteriormente neste trabalho. No dia do teste era possível assistir as cenas dos outros possíveis futuros companheiros de área. A sensação de competição existia para mim, e talvez não só para mim, devido a todo o contexto que nos rodeava, pois estávamos todos ali sentados em uma sala, em um silêncio absoluto, com pessoas avaliando, disputando por uma vaga no teatro ou até mesmo no projeto. A sensação de assistir aos outros candidatos era uma mistura de nervosismo (porque o texto se repetia e isso me deixava insegura, com medo de esquecer quando chegasse a minha vez) com entusiasmo (existiam momentos onde era extremamente agradável e prazeroso estar como plateia). Tivemos um tempo bom para dedicarmos à criação da nossa cena, algo de mais ou menos uma semana, que aconteceu desde o fim das aulas experimentais até o dia de realização do teste. O olhar dos meus concorrentes sobre mim não me incomodava, mas a dos professores/avaliadores sim. Eu, de fato, buscava a aprovação e não só naquele momento específico da cena, mas também durante as aulas práticas iniciais que estávamos constantemente em condição de avaliação. Naquele ambiente, conscientemente eu buscava uma interpretação favorável. Eu era participativa, queria dar o melhor de mim, estava em um contexto dentro de uma cultura de aprovação/reprovação, tal como já observado por Viola Spolin: Nosso mais simples movimento em relação ao ambiente é interrompido pela necessidade de comentário ou interpretação favorável por uma autoridade estabelecida. Tememos não ser aprovados, ou então aceitamos comentário e interpretação de fora inquestionavelmente. Numa cultura onde a aprovação/desaprovação tornou-se o regulador predominante dos esforços... (SPOLIN, 2010, p. 6).
A espera tida como angustiante foi cortada pela sinalização de que era a minha hora de ir: “Izabela Borges”, naquele momento eu não tinha certeza se achava positivo ou negativo a
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ordem alfabética. “Respirei fundo, me levantei do chão lotado de alunos sentados e me dirigi à frente da sala que ficava longe da porta e tinha um palco pequeno para que não ficássemos na mesma altura daqueles que estavam no chão, os espectadores. Variávamos de papel a todo instante, ora aluno participante daquele processo seletivo (quando acabava alguma cena e lembrávamo-nos do motivo que estávamos ali), ora espectador (quando iniciava a cena de alguém). Havia um momento em que erámos atores, esse momento era único e acontecia só uma vez. Acredito que a seleção era algo necessário para viabilizar a execução do curso de acordo com as demandas, existia um número de vagas inferior à quantidade de interessados ao teatro como primeira opção. Sei que avaliação já se iniciava desde as aulas experimentais, ou seja, antes da própria apresentação da cena, porém desconheço o peso de cada uma no processo de avaliação. Conheci pessoas que foram aprovadas na segunda área de interesse e demonstraram um descontentamento, mas não suficiente para sair do projeto. Eu com a minha pouca experiência teatral anterior me senti um pouco mais preparada para o ato de se apresentar, talvez isso tenha me privilegiado em algum ponto, mas houve aqueles que foram aprovados sem alguma experiência anterior. Nesse quesito me senti com sorte porque durante esse processo inicial fiquei surpresa ao descobrir que havia muitas pessoas que estavam no processo seletivo do VDM pela segunda, terceira vez. Texto decorado, repassando na minha cabeça durante o meu pequeno trajeto até o palco. O meu animal escolhido era um coelho e essa escolha aconteceu durante as aulas experimentais do teatro onde havíamos começado a explorar uma experimentação de um corpo humano somado a um animal. Eu nunca tinha feito nada antes parecido, não na condição de aula de teatro, no máximo na infância, brincando de faz de conta. A brincadeira onde eu desempenhava um papel com ações, imaginação, tinha o meu corpo, o meu gesto e onde eu dialogava ora comigo ora com o outro era repleto de teatralidades. Marina Marcondes Machado no seu artigo Teatralidades e Pequena infância aponta códigos que evidenciam a proximidade entre o brincar e o fazer teatral: A busca de um “espaço” imaginativo, cênico e de um “tempo” ficcional (Agora eu era... Era uma vez, muito tempo atrás, muito longe daqui... Quando eu era); • uso do corpo de modo integral e imaginativo; • corporificação de um “quem” (que não sou eu, mas que está em mim); • composição, a partir de combinados, de uma narrativa a ser vivida, vivenciada pelos que combinam; • necessidade plena da capacidade humana para a invenção; • saída da vida cotidiana tal qual ela se apresenta (uma espécie de suspensão do tempo e do espaço realista estrito senso) (MACHADO, 2011, p. 4.)
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A escolha do meu animal atribuiu à minha personagem umas mãos levemente levantadas e um nariz que não parava de se mexer, era quase como um tique nervoso. Lembro também que eu tinha alguns deslocamentos no pequeno espaço à minha disposição. Ia de uma ponta a outra e era tudo intencional. Lembro-me de escutar o riso da plateia e acreditar, através do senso comum, que era um sinônimo de algo positivo, afinal a plateia estava rindo – me sentia aprovada pelos risos, era uma interpretação favorável. Não recordo se haviam palmas ou se foi estabelecido bater apenas ao final do dia. Finalizei o meu texto e permaneci ali, parada por alguns segundos até me retirar da área de apresentação. Ao voltar para o chão era possível notar das pessoas que eu já tinha algum contato desde as aulas experimentais um olhar tranquilizador e apoiador de que tudo estava bem. Hoje, depois de uma experiência na disciplina de Montagem Cênica do quarto período do curso de graduação em Teatro da EBA/UFMG, eu sei que utilizar da observação como ferramenta para recriar é um procedimento conhecido como mimese corpórea, tal como destacado pelo pesquisador Renato Ferracini:
A arte busca a mesma potência de criação que a natureza, em si, possui - e porque não dizer vice-versa? E é nesse sentido, e dentro desse conceito, que a mimese corpórea, como entendida no Lume, se coloca: não como mera tentativa de cópia, reprodução ou mesmo representação do que foi observado, mas como busca de recriação que tem, como ponto de partida, as observações de ações físicas e vocais encontradas no cotidiano. (FERRACINI, 2006, p. 208)
Essa não foi à primeira vez em que eu me apresentei, havia apresentado na conclusão do primeiro semestre do meu primeiro curso de teatro, por isso eu já sabia lidar um pouco melhor com a ansiedade pré-apresentação, porque eu já sabia como o meu corpo ficava diante dessas situações. Porém, era a primeira vez que eu fazia uma cena que fosse parte de um processo seletivo. Ou seja, a primeira escola de teatro me ajudou nesse aspecto, já que fazíamos apresentação final para público externo. Já referente à criação da cena foi a primeira vez em que criei a partir de indicações (como a presença obrigatória da figura de um animal), além da abertura do texto permitindo uma criação livre. A minha segunda opção era a dança, onde ocorreu uma aula coletiva que basicamente era composta por repetições de movimentos onde vários professores de especialidades diferentes (dança afro, jazz, hip hop) passavam sequências que deveríamos repetir e havia aí também uma banca avaliativa. Confesso que para mim não era muito confortável estar sendo avaliada na área da dança, já que era uma área que eu tinha também o interesse (não igual ao
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teatro), mas eu me sentia menos pertencente a esse lugar, me sentia “desengonçada”. Porém como eu queria ir para a minha opção número 1, não me importei muito em errar. Depois de alguns dias saía o resultado e nem todos os alunos conseguiriam entrar na primeira área de interesse ou até mesmo no projeto. Dos 700 candidatos desta etapa, apenas 500 entrariam para o projeto e eu, felizmente, consegui entrar para a primeira área escolhida. O interesse pela dança ocorreu durante o primeiro semestre letivo onde tínhamos uma vez por semana aulas nas outras áreas do projeto. Descobri ali que eu gostaria de ter começado antes. Concomitantemente, eu estava no último ano do Ensino Médio e começaria agora uma dupla jornada. Pela manhã estaria na escola regular e pela tarde faria o VDM. Lembro que houve uma reunião pedagógica com pais e alunos com o intuito de apresentar e explicar sobre o projeto. Como eu já tinha 18 anos, não precisaria da companhia da minha mãe para efetuar a matrícula, mas mesmo assim ela compareceu na reunião para conhecer o projeto. Havia o interesse da minha mãe em saber mais sobre aquele projeto que eu estava ingressando, interessava a ela saber o que eles esperavam de mim. Mas o maior motivo foi poder me acompanhar na vida escolar, já que durante a minha formação básica nas reuniões escolares, devido ao trabalho, a minha mãe nunca pôde ir, era quase sempre a minha avó, uma tia ou a Delba (cuidava de mim enquanto a minha mãe trabalhava). Então como existia uma demanda de participação da família no projeto e por se tratar de uma reunião noturna, ela felizmente pode comparecer. Na reunião da matrícula o que mais me chamou atenção foi a insistente fala da coordenação em relação ao comprometimento com a escola regular durante a participação do projeto. O aluno que fizesse parte do VDM e que ainda estudasse não poderia tomar recuperação, muito menos repetir o ano na escola, o que devia ser comprovado através dos boletins. Eu acreditei totalmente nessa condição, o que me fez ser aprovada na escola já no terceiro bimestre, inclusive em matemática, disciplina que não me saía tão bem nos anos anteriores. Eu gostava tanto do que eu estava fazendo que ser convidada a sair não fazia parte dos meus objetivos dentro daquele projeto. Dessa forma poderia agora dizer que essa foi uma das contribuições da educação não formal na minha formação da educação formal (o Ensino Médio), já que para permanecer no projeto, necessitava tirar boas notas na escola regular. Minha permanência no projeto durou dois anos. Em 2010, participei do módulo I e em 2011, do módulo II. Já a minha permanência no PlugMinas se estendeu até o ano de 2014, onde participei do curso de Espanhol. A seguir apresento o que desenvolvi em cada ano do projeto.
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3.2 Chegou a hora de experimentar! O Plano pedagógico do VDM consistia em três módulos:
No Módulo I, os jovens têm aulas quatro vezes por semana no primeiro semestre. Na 1ª etapa do ano letivo, fazem aulas na área que escolheram e também nas outras áreas artísticas. Na 2ª etapa, os jovens constroem e participam do espetáculo multidisciplinar e nesse período passam a ter aulas todos os dias e ensaios nos finais de semana. Na 3ª etapa, finalizam o ano letivo fazendo uma avaliação de tudo o que aprenderam. MINAS. Plug. Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (CICALT) Núcleo Valores de Minas.Centro interescolar de cultura arte linguagens e tecnologias cicalt valores de minas. [S.I]: Valores de Minas, 2017.
No primeiro momento as aulas tinham um caráter de iniciação, éramos apresentados a práticas de consciência corporal e vocal, jogos cênicos e de improvisação. No decorrer do ano letivo e das aulas erámos estimulados à criação, pesquisa, leituras e registro, intensificando muito mais durante o processo de criação do espetáculo final, que era previsto enquanto parte do currículo do curso. Houve então um momento onde percebi algumas diferenciações de ensino, em relação à instituição anterior que eu estive. Uma delas foi quando disseram aos alunos da necessidade de um aquecimento corporal, instaurando assim uma rotina que eu nunca tinha feito antes. Havia o aquecimento como preparação a um estado de prontidão cênica, exigida de diferentes formas durante o espetáculo que seria construído. Era também uma maneira de desenvolver uma consciência corporal individual e coletiva, já dialogando com a primeira cena do espetáculo. O espetáculo foi estruturado dentro do formato tradicional de palco italiano, que foi pensado para contribuir esteticamente em todas as cenas. A primeira cena nomeada “A criação do mundo” e trabalhou com diferentes planos (alto, médio e baixo), além de conseguir explorar toda a área cênica ao mesmo tempo. A cena iniciava com dois alunos do circo, um vestido de preto, simbolizando a terra, e uma vestida de branco, simbolizando o céu. Deitados no chão, no meio do palco, como na figura Yin Yang7. Pouco a pouco vão saindo alunos da dança e do teatro de diferentes coxias, tanto do lado direito quanto do esquerdo e vão formando um círculo, fechando com o “céu” e a “terra” dentro, como se fosse um abraço. A princípio esse círculo era formado por mais ou menos treze alunos, que olhavam para baixo e 7
Yin Yang é um princípio da filosofia chinesa, onde yin e yang são duas energias opostas. Yin significa escuridão sendo representado pelo lado pintado de preto, e yang é a claridade.
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a cada nova entrada era necessário acrescentar mais alunos para que fosse possível fechar o novo círculo que se formava (quase como um rocambole, cheio de camadas). Com isso, ao final tínhamos cinco círculos fechados em torno do “céu” e da “terra”, onde a entrada de cada grupo, e o movimento representado como uma respiração iniciando do plano médio ao plano alto eram regidos pelo tempo da música que era executada ao vivo durante o espetáculo. A imagem a seguir mostra essa cena:
Fonte: Frame retirado pela autora, do DVD do espetáculo “O Herói e a Armadura” (2010).
Depois de algum tempo desse grande corpo pulsando em conjunto, surge uma frase que diz “Na junção de uma natureza oposta deles (céu e da terra), surge o amor” 8. E aí a personagem Terra levanta com uma mão a personagem Céu, enquanto os atores que estavam ao redor, com o corpo mais encurvado, “fechado”, olhando para baixo, começam fazer um movimento inverso, abrindo, destacando o “nascimento”. O foco está todo no casal do meio, “a casa do ovo se partiu, dividindo em dois, o céu e a terra”, até que do teto cai uma lira circense e o Céu segue girando, lá de cima, de mão dada com a Terra, que está com os pés no chão. “Então o Céu cobriu e fecundou a terra fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante, hospitaleiras.” “Ah o amor, se ele pudesse existir eternamente, sem medo e danos como no princípio, mas não, ele não deu conta, ele não suportou e por isso o caos surgiu novamente”. Essas frases são ditas por 8
Os fragmentos das falas citados foram retirados por mim do áudio do DVD do espetáculo “O Herói e a Armadura.”.
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pessoas do coro e enquanto é falada, cada círculo começa a se desfazer e se tornar independente. O coro segue dizendo “Agora, não de maneira insondável, mas aqui nesse mesmo mundo nosso, na forma do medo, do terror, da guerra, da covardia, da solidão.” E seguem cantando até que todos os círculos que estavam em movimento giratório começam a mover-se no sentido contrário ao que estavam, e de costas vão desenrolando e saindo pela coxia, todos os grupos juntos, sobrando apenas a Terra em cena, em pé e imponente. Nessa cena era totalmente necessário cuidar de si e do outro, pois a qualquer descuido rolaria um efeito dominó (uma pessoa caindo em cima da outra) devido à estrutura cíclica da cena que envolvia todos os alunos do teatro (74) e da dança (62) o que quantificava 136 pessoas (nesses cinco círculos)9. Sempre escutei que teatro não se faz sozinho, que no mínimo precisamos de alguém para atuar e outro alguém para assistir. Na criação daquela cena os espectadores eram os nossos professores que tinham um desejo muito grande que desse certo cenicamente e ao mesmo tempo uma preocupação com os nossos corpos, “Não se mate, mas também não se poupem” dizia uma professora. Os alunos-atores viviam na prática que um descuido, uma falta de atenção, poderia machucar-se, ou você ou o machucar o outro. Mas para entenderem que o estado de atenção era essencial e necessário foi preciso muito tombo e caídas em efeitos dominó. Vi que foi preciso vivenciar na prática, proporcionando aos alunos o entendimento de que aquele discurso dos professores não era apenas um sermão qualquer, era algo que deveríamos nos atentar. Obviamente, nem todos tinham essa consciência. A noção de coletividade, acredito que era vista de diferentes formas naquele ambiente, cada círculo (dos cinco em cena) tinham uma responsabilidade macro (pensando no conjunto da cena) e micro (o próprio círculo). Às vezes ao finalizar a cena era possível ver alguns círculos saindo “de ré” de uma maneira limpa e outros deixando rastros, como sapatos perdidos. Durante as aulas de teatro era muito comum dizer que tínhamos que cuidar do nosso e do corpo do outro, mas não fazia tanto sentido tal como se apresentou na execução desta cena. Talvez, lá no início do processo, durante as aulas, isso de “cuide dos corpos de vocês” era instituído para irmos acostumando e acionássemos quando fosse necessário. Era isso que eu pensava. Ou seja, nossa preparação inicial com as aulas, não era desvinculada da proposta final que os professores já visualizavam e favoreceu a preparação do espetáculo. Ou seja, o processo tinha ligação direta com o produto, tal como elaborado por Joaquim Gama:
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Essa quantidade de alunos de cada área é exata e retirada do programa do espetáculo que foi entregue para o público.
25 Não se trata de optar pela primazia do processo em detrimento do produto ou vice-versa, e sim pela escolha de métodos que favoreçam a construção do conhecimento teatral dentro de parâmetros educacionais claros, participativos e criativos. (GAMA, 2002, p. 269)
Outro ponto de destaque para mim foi à insistência dos professores pela necessidade do registro, tanto online quanto em manuscrito, o que Cecília Salles (1998, p. 17) nomearia como ideia de registro. “Pode-se dizer que esses documentos, independentemente de sua materialidade, contêm sempre a ideia de registro.” e os documentos são, portanto,
Registros materiais do processo criador. São retratos temporais de uma gênese que agem como índices do percurso criativo. Estamos conscientes de que não temos acesso direto ao fenômeno mental que os registros materializam, mas estes podem ser considerados a forma física através da qual esse fenômeno se manifesta. Não temos, portanto, o processo de criação em mãos mas apenas alguns índices desse processo. São vestígios vistos como testemunho material de uma criação em processo. (SALLES, 1998, p.17)
Através da minha pesquisa para escrever este trabalho de conclusão de curso somando com minha tentativa de buscar algum conceito acadêmico que exemplificasse as diferentes formas de registros dos documentos do meu processo enquanto aluna do VDM, encontrei a autora citada acima. Essa então foi a minha primeira experiência com o registro, que durante o ano de 2010, era o meu trabalho quase que diário de minhas vivências, tarefas e aprendizados no dia-a-dia dentro do projeto e que hoje já a vejo com outros olhos todo esse processo que vivi. Já durante a graduação fiz outros diários de bordos com a mentalidade de que sendo estudante de Licenciatura e que eles serviriam como instrumentos auxiliadores para futuras criações de planos de aula, por exemplo. Além de estar presente como descrição de algum tipo de processo criativo. Curioso, que por mais que eu já tenha tido esse insight de registrar o meu processo em algumas disciplinas da graduação, eu não tive até então a maturidade de ver meus registros (no diário de bordo e no blog do VDM) como um potente material que tenho acesso. A minha primeira sensação foi de ter vergonha ao ver o que eu escrevia há oito anos.
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Fragmento do meu diário de bordo, explicitando uma parte do aquecimento corporal feito com bastão. Fonte: Elaborada pela autora.
Em 2010, quando eu tinha como obrigação escrever meu diário de bordo com uma finalidade de registro de um processo de curso e não só de criação do espetáculo, eu não imaginava que um dia eu iria lê-lo com fins acadêmicos, em um processo de criação-ensinoaprendizagem. Imaginava que eu visitaria esse documento e que serviria “apenas” como um diário, igual a esses que fazemos quando somos mais novos. Seria um material que me levaria puramente a revisitar uma época vivida e não auxiliar um processo de escrita. Ricardo Figueiredo (2015) em seu artigo “Deixem pegadas! A construção de narrativas poéticas no processo de formação continuada de professoras da Educação Infantil” apresenta o conceito de protocolo pelo viés brechtiano, utilizando para análise o portfólio produzido pelas cursistas de um curso de aperfeiçoamento na área da Educacional Infantil, ocorrido em 2014 e propõe que ao olhar para trás e ver suas vivências, escolhas, trajetos, é olhar a sua trajetória com acertos, erros e tentativas. E isso é como ver as suas próprias pegadas em um ato de caminhar de um processo, e essas “pegadas” não devem, nem há como, serem apagadas, já que o caminho é importante.
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Após a leitura desse artigo pude concluir que o meu diário de bordo eram as minhas “pegadas registradas” e que a utilização do mesmo serviria de uma maneira muito presente no processo de criação desse trabalho, afinal, as histórias aqui revisitadas foram vivenciadas há oito anos e com o meu registro eu consigo confirmar que algumas coisas realmente aconteceram e não foi invenção do meu imaginário. Mais do que isso: suas “pegadas”, assim como as cicatrizes dos joelhos, queixo ou onde as tiver, contam histórias da Izabela de hoje. Ao correr e cair entendeu que ao correr tem que tomar mais cuidado. Sua mãe talvez já avisasse isso, mas você precisou cair algumas vezes para o corpo entender isso. Mas, ao mesmo tempo existia uma resistência ao começar a leitura, pois sentia um pouco de vergonha de revisitar a minha escrita, porém essa vergonha aponta alguma mudança, faz parte do meu processo de formação: A narrativa de si e das experiências vividas ao longo da vida caracterizam-se como processo de formação e processo de conhecimento. Essa experiência formadora consiste na narração dos “processos de formação, de conhecimento e de aprendizagem do ponto de vista dos adultos aprendentes a partir de suas experiências formadoras” (JOSSO apud FIGUEIREDO, 2015, p. 117)
3.3 Eu ainda quero estar aqui! O Módulo II funciona no turno da noite. Neste módulo, jovens selecionados que já passaram pelo Módulo I participam de atividades de criação artística através de aulas nas cinco modalidades do núcleo e também em disciplinas como edição de som e vídeo, produção cultural, didática de ensino, entre outras. Esses jovens se preparam para multiplicar, em suas comunidades e escolas, o conhecimento que adquiriram no Projeto. MINAS. Plug. Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (CICALT) - Núcleo Valores de Minas. [online]
Quando eu ainda estava no módulo I, o módulo II era conhecido como a oportunidade de ficar mais um ano no projeto, ‘‘a chance de fazer outro espetáculo no fim de ano’’ e ‘‘o pessoal que faz muita apresentação externa’’ pois eram ‘‘obrigados’’ a participar de todas as convenções, aberturas, comemorações referentes à política do Estado de Minas Gerais. Digo “obrigados” porque a instituição era convidada ou quiçá, intimada, porém o aluno, na maioria das vezes, podia aceitar ou não (ainda no meu módulo I, os alunos foram ‘‘convidados’’ a participar da abertura da cidade administrativa e eu pude escolher entre ir ou não ir, e acabei não indo). Em geral os alunos pareciam gostar desses eventos pelo fato de estarem apresentando, cantando, atuando, fazendo um show.
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Em 2011 houve uma mudança de direção do módulo II e um discurso de que haveria mais “multiplicação”, ou seja, os alunos se ocupariam de ofertar mais oficinas ao invés de fazer apresentações e o curso nos proporcionaria mais aulas de outras áreas que não havia nos anos anteriores, como de teatro de bonecos e discotecagem. E assim foi. Em 2011 começaria o Módulo II e eu estava como excedentes no processo seletivo onde dos 500 alunos participantes do projeto no ano anterior somente 70 seguiriam para o próximo módulo. A escolha dos alunos era feita através de uma análise do ano anterior baseada em frequência e participação, além de uma carta de intenção. A princípio eu não havia sido aprovada e desconhecia o motivo, senti uma insatisfação tão grande que me fez dizer para mim mesma que eu não queria saber mais de teatro, já que agora iniciaria uma nova etapa após a conclusão do Ensino Médio, focaria em fazer algum curso universitário. Ao mesmo tempo tinha sido aprovada em uma faculdade particular para estudar Farmácia. Decidi por esse curso pelo simples fato de gostar da disciplina química e depois de ir a uma feira estudantil vi que parecia ser um curso legal. Além disso, quando comentava com alguns familiares, principalmente meu pai, eles opinavam que era um bom curso a se cursar devido às possibilidades de trabalho. Já a minha mãe sempre dizia que eu deveria estudar algo que eu gostasse e se fosse um desejo meu entrar em uma faculdade. Naquele momento era inviável estudar em uma faculdade particular, devido ao valor da mensalidade e como não era exatamente o que eu queria e estava recém-saída da escola básica, decidi fazer cursinho pré-vestibular. No final do mês de março iniciariam as aulas do módulo II e eu que já estava matriculada no cursinho pré-vestibular sem saber o que escolheria prestar, quando fui convidada a participar. Voltei ao VDM e ali tive a certeza que tentaria o curso de graduação em Teatro. Comuniquei à minha família sobre a minha decisão e escutei que finalmente eu tinha aceitado o que era para mim, que o meu caminho sempre foi fazer teatro, que era algo que eu realmente deveria fazer e com isso segui no cursinho, onde na segunda etapa de estudos para o vestibular eu tinha um professor que me acompanhava e que me ajudou no processo seletivo da UFMG, auxiliando em toda a criação da minha cena, no entendimento do edital, me dirigindo, além da minha amiga Rikelle10, que foi o meu braço direito nesse processo seletivo.
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Rikelle Ribeiro é Licenciada em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais, Atriz formada pelo Teatro Técnico da UFMG e atualmente é aluna do Mestrado Profissional em Educação nessa mesma instituição. No contexto onde ela foi citada ela era minha companheira de curso no VDM e como já era aluna da UFMG me ajudou muito na criação da cena para o processo seletivo, atuando como minha diretora.
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As aulas eram divididas em duas turmas com alunos de diversas áreas. No primeiro semestre letivo tínhamos novamente as áreas de atuação, igual ao ano anterior, algumas com novos professores outras com os mesmos. No segundo semestre, após as férias foi quando ocorreu a mudança citada anteriormente, ela iniciou-se desde a grade curricular, agregando assim quatro aulas obrigatórias (Papo cabeça, Produção Cultural, Projetos, Vídeos e novas mídias) e três optativas que deveríamos escolher duas (Teatro de Bonecos, Discotecagem e Remix, Percussão e Intervenção Urbana). Ao final do ano letivo tínhamos que criar um plano de aula e deveríamos, em grupos, oferecer uma oficina em alguma das escolas vizinhas do PlugMinas, no bairro Horto em Belo Horizonte. Com isso tive a minha primeira experiência de criar um planejamento de aula e ministrar uma oficina. A preocupação em criar e ministrar uma oficina só veio ao final do curso, juntamente com a aproximação das datas de realização da mesma. Porque antes disso ainda participaríamos do espetáculo daquele ano, mesmo que fosse com uma intensidade diferente do ano anterior. A diversidade de pessoas, no geral, durante o módulo dois, era algo muito positivo durante as aulas, pois existia ali uma multidisciplinaridade que era positiva para os nossos trabalhos diários de criação, principalmente para as cenas que deveríamos fazer para o espetáculo. Porém, na definição dos grupos para a atividade final externa, muitos eram de pessoas oriundas da mesma área do ano anterior, como era o caso do meu grupo. Erámos diversos grupos pequenos que tínhamos que realizar uma “ação multiplicadora”. Anteriormente nos foi apresentando uma estrutura de criação de planos de aula com os seguintes tópicos: ‘’Definição do Tema’, ‘‘Objetivo ‘‘, ‘‘Materiais’ ‘‘Estratégia’’ e ‘‘Avaliação’’. Retomarei a seguir um planejamento realizado como exercício de aula. Ele retorna na condição de um material retirado das minhas fontes de registro. Retomando assim a minha sensação de sentir vergonha ao revisita-lo hoje em dia, porém destacarei adiante, após a imagem, uma consideração referente ao que Ricardo Figueiredo (2014) aponta como protagonismo de sua própria experiência, “penso em uma formação de professores que, aliada à história de vida dos mesmos, possibilite-os a serem protagonistas de sua própria experiência artística na escola.” (2014, p.3).
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Fonte: Criada pela autora com dados extraídos do email pessoal.
Essa oficina nunca chegou a existir na prática, era somente um exercício. Hoje, avalio esse plano mais próximo de um plano de curso do que de uma aula. Classifico como o típico plano utópico, pois seria impossível em poucas horas, propor o que naquela época eu chamava de metodologia. Nesse plano existe uma confusão de conceitos onde conteúdos, objetivos, habilidades e competências são definidos como metodologia, entre outras indefinições. Já no dia da ação multiplicadora em si, recordo de estar com mais dois amigos, ministrando uma oficina para crianças pequenas e nos olharmos pensando que já desde o princípio tudo estava fora do planejamento devido à expectativa e realidade daquela situação. Imaginávamos que conseguiríamos seguir nosso plano inteiro e, no momento de realiza-lo, foi totalmente diferente, finalizando como algo mais recreativo do que teatral. Mesmo assim, tive
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grande prazer em estar na condição de proponente, junto de outros colegas, de atividades lúdicas para crianças. O retorno da creche aos Multiplicadores baseava-se no agradecimento dos funcionários através de uma experiência pouco vivida pelos alunos da instituição. Houve apresentação de música, dança, palhaços, além das nossas ações “multiplicadoras”. Proporcionando uma experiência talvez desconhecida ou pouco vivida por aquelas crianças. Ou seja, a possível ausência de atividades artísticas na instituição, que é uma instituição pública e gratuita, foi o motivo da nossa acolhida integral, porém se formos pensar essa mesma situação em uma instituição privada onde existe na maioria das vezes o calendário letivo que já incluem atividades artísticas dentro dos projetos pedagógicos da escola, além da própria existência de aulas de artes, música e dança dentro do currículo como seria a recepção de uma ação assim? O ano letivo do módulo II finalizou com uma parceria entre o VDM e a Secretaria Municipal de Educação (SMED) onde descobrimos a possibilidade de trabalhar como monitores no projeto “Escola Integrada” das escolas municipais.
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4 PRÓXIMO PASSO: A ESCOLA INTEGRADA Me foi dado a partir da minha experiência no módulo dois do Valores de Minas a oportunidade de conhecer o Programa Escola Integrada (PEI) das escolas municipais de Belo Horizonte. Após o fim do semestre letivo do VDM, tivemos uma reunião com a coordenação pedagógica do curso juntamente com pessoas da secretaria de educação de Minas Gerais e nos foi dito que, se tivéssemos o interesse de trabalhar em uma escola como oficineiro/monitor durante 4 horas semanais no turno de interesse, deveríamos buscar uma escola e enviar um email dizendo da disponibilidade e foi isso que eu fiz. Procurei uma escola próxima ao meu bairro e enviei um e-mail dizendo que tinha acabado de sair do VDM, que havia sido aprovada na graduação em Teatro da UFMG e que tinha o interesse em dar aulas de teatro no projeto, de acordo com as “Orientações Gerais para as escolas” de janeiro de 2012 é possível entrar na escola como: monitores de oficina, monitores universitários e estagiários do programa segundo tempo. E, naquele contexto, eu encaixaria como monitora de oficina. O meu interesse em participar do projeto vinha como uma oportunidade de ter uma fonte de renda e uma ocupação do tempo, já que eu estava sem atividades para realizar naquele primeiro semestre de 2012. Ou seja, o meu interesse em estar ali era basicamente para suprir uma necessidade de manter-me ocupada e hoje eu vejo que era justamente esse perfil de pessoas que as prefeituras precisam: pessoas dispostas a receber pouco, que consigam manter as crianças em “ordem” e ainda sejam capazes de realizar algo que fosse apresentável nos dias de encontros das escolas, como um grande festival das escolas integradas dividido por regionais. Mandei o e-mail, fui à entrevista com a professora comunitária, nome dado à coordenadora da EI. Fui à escola mais próxima da minha casa, mostrei alguns trabalhos realizados no VDM, expliquei o projeto que ela não conhecia e fui chamada para fazer parte do programa como monitora de teatro. No ambiente escolar regido pela EI a nomeação monitor ou oficineiro era muito presente, já na minha carteira de trabalho o meu cargo era de “monitora de oficina” e o meu salário era de 429,58 reais por mês, correspondente a 20 horas semanais trabalhadas. Conheci os outros monitores e havia naquele momento apenas dois que eram estagiários. As oficinas ofertadas eram de artesanato, dança, xadrez, jogos matemáticos e artes visuais e tinha um dia que era o dia de esportes na quadra alugada de um clube pela prefeitura que ficava a quatro quarteirões da escola, e o trajeto até ela era feito por uma longa
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caminhada. Tínhamos nesse trajeto de ida um auxilio de um guarda municipal que fechava as vias para que pudéssemos atravessar com os alunos. Já o outro espaço para a realização das oficinas era ainda mais longe, o trajeto era longo e quando chegávamos lá as urgências maiores eram de tomar água e ir ao banheiro. Um espaço continha um pátio grande que funcionava quase como uma área de recreação e uma única sala fechada, que inviabilizava a oportunidade de ocorrer duas aulas simultaneamente, como uma de teatro e outra de dança, por exemplo. Algumas horas depois naquele espaço já era hora de voltar à escola para almoçar e os alunos deveriam se preparar para as aulas da escola regular. O turno terminava quando chegavam os monitores da tarde e que ficavam olhando os alunos até chegar a hora do inicio das aulas, juntamente com a espera dos alunos do turno da manhã da escola regular que esperavam a hora para iniciar as atividades da EI. Meu primeiro dia de aula foi na quadra e ninguém havia me dito que lá não era o lugar que ocorriam as oficinas. Depois de ser apresentada a mais de oitenta alunos do turno da manhã, que tinham de 6 a 12 anos de idade eu aproveitei a curiosidade de alguns em conhecer a “professora nova” como eles diziam, e os convidei a fazer uma aula. Lembro que tinha feito um planejamento de aula de acordo com as minhas referências anteriores e comecei a realizar algumas atividades, pedindo para que caminhassem pelo espaço. Hoje penso que iniciei a aula sem saber o porquê de ter colocado isso no planejamento, sem pensar o porquê daquela atividade e para onde eu queria chegar com ela, era apenas uma reprodução de um ritual que eu fazia, mesmo sabendo que poderia trabalhar algum tipo de percepção do espaço eu não sabia o porquê eu estava fazendo aquilo. Dei alguns jogos e fui observando que ali era o local da recreação, que nenhum dos monitores estava conduzindo atividade alguma, eles apenas seguiam sentados observando os alunos e a mim naquele momento. Com isso, fui motivo de chacota por alguns companheiros de trabalho em alguns momentos futuros, “qualquer coisa pede a Izabela, ela anda esquisito com os meninos” “lembra daquele dia?”. Algum tempo depois conseguiram que a prefeitura alugasse uma casa próxima à escola para a realização das oficinas. Sabia que eu ia ter uma sala e que esse era o momento de realizar os meus planejamentos de aula, porque finalmente teria um espaço e conseguiria dar a minha aula. Mas, com o tempo eu fui percebendo que naquele ambiente não se fazia necessário essa preocupação anterior, uma porque o plano não era cobrado por ninguém da coordenação e outra porque naquele ambiente, cada dia era único, podendo faltar oficineiros – o que nos obrigava a ir para a quadra. A sala era tão pequena e a quantidade de alunos era tão superior que era inviável fazer qualquer atividade que eu tinha como referencia no teatro. Nesse momento da minha vida a “professora de teatro” que eu era acreditava que uma aula só
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podia se iniciar com um deslocamento pelo espaço e porque ai iríamos para algum tipo de jogo. Para quê? Não sabia. Nesse contexto eu não tinha a concepção de que teatro na escola não é feito para formar atores e eu estava ali, passando tempo com eles de uma forma mais interessante, menos entediante, podemos dizer assim. Existiam desafios diários, muitas vezes deixei o papel de monitora propositora para ser ouvinte dos alunos, às vezes conselheira, ajudante de para casa, entre outras funções que o dia-a-dia nos pedia. Um dia que ficou muito marcante para mim foi quando ocorreu um surto de piolhos e após inúmeras tentativas de contato com os pais de alguns alunos sem resultado, algumas monitoras chegaram a limpar e catar piolho dos alunos. Ali eu pensei que eu não tinha o espírito maternal como as outras tinham. E que também não deveria ter, pois não era o meu papel, a minha função. Fiquei na escola muito mais tempo que eu imaginava. Eu tinha uma boa convivência com os alunos, o que talvez contribuiu para a minha continuidade no projeto. Houve um momento em que tive o desejo de buscar uma mudança naquela instituição, via o “corpo docente” em sua maioria muito desmotivado e, para além disso, desrespeitando aqueles alunos e aquele ambiente. Eu via muita coisa que eu não considerava certa e comecei julgar o papel de alguns daqueles monitores, não que eu fosse à monitora ideal e perfeita, mas havia situações em que eu não podia ficar calada. Havia muitos monitores que estavam lá há muito tempo e isso contribuía, em alguns, para a relação de estarem acomodados e que poderiam seguir assim, sem fazer nada, porque nada acontecia. Tinham como “carta na manga” algo preparado quando fosse necessário participar de alguma apresentação e mostravam à comunidade que o trabalho diário estava sendo feito - o que não estava. Depois disso entraram novas pessoas, principalmente estagiários e começamos a mudar as “regras” daquele lugar. Os monitores que eram estagiários tinham um compromisso muito maior e pensavam realmente naquele espaço como oportunidade de formação para si e para os alunos da escola. Houve momentos muito prazerosos no dia-a-dia daquela escola, foi o meu primeiro emprego. Ali eu via que a docência podia ser um lugar para mim, que me interessava dialogar, trocar com os meus alunos. Porém, chegou um momento que eu já não aguentava mais estar naquele ambiente escolar onde inventavam fofocas sobre mim. Quis sair porque não podia fazer algumas disciplinas no turno da manhã e isso podia prejudicar a minha formação universitária, quis sair porque descobri que existiam bolsas de pesquisa na UFMG e que eu ganharia quase o mesmo tanto, quis sair porque comecei a julgar o meu trabalho, o meu lugar naquele espaço.
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Chegou um momento que eu dizia que o problema daquela escola definitivamente não eram os alunos. Era a comunidade escolar, a falta de espaços adequados, o monitor que faltava e prejudicava todos outros, o porteiro que não respondia um bom dia, a cozinheira que inventava fofoca. Um lugar que deveria ser fértil e fonte de inspiração e conhecimento começou a ser um lugar pesado. Eu acordava e sentia mal em saber que tinha que ir para aquele ambiente, e isso era eu, jovem, monitora, com apenas dois anos de escola, que não precisava do meu salário como fonte de sustento básico. Com isso, ficava imaginando apenas como era para os professores com longos anos de docência, com uma jornada dupla de trabalho, em que as condições de trabalho vivenciadas por eles, nesse ambiente escolar, podem chegar ao desenvolvimento de possíveis adoecimentos físicos e mentais como mostra Gasparini (2005) em seu estudo O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Ou até mesmo chegando ao ápice, ao abandono da profissão, como aponta Zaragoza (1999). Saí da escola quando um dia gritei com um aluno e vi que eu não queria mais estar ali e muito menos ter esse tipo de atitude. Depois da minha saída do projeto somente voltei à outra escola durante as minhas disciplinas de estágio.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não diria que se eu pudesse voltar atrás eu jamais entraria na EI. Querendo ou não, foi uma experiência enriquecedora na minha vida. Serviu para não desistir da profissão (porque eu realmente vi que eu queria ser professora) e ao mesmo tempo serviu para que eu prometesse a mim mesma que eu nunca mais trabalharia outra vez no projeto EI – ao menos naquelas condições. Serviu para que eu não tivesse medo de encarar os estágios obrigatórios, medo que é muito comum aos alunos da licenciatura. Principalmente pelo fato de ser necessária a realização de uma prática docente nesse período. Após o período na Escola Integrada, fiz o meu primeiro estágio – que era o de observação. Ali eu vi um tipo de docência que eu não gostaria de seguir. Continuei com a necessidade de ver “outros exemplos” que agregassem bons exemplos e experiências significativas em teatro. Depois de algum tempo longe da prática docente, em 2017 eu realizei, no segundo semestre, a disciplina de prática de estágio III e IV, concomitantemente. Eu observava em dias diferentes um professor de escola pública que dava aulas no ensino médio e um professor de escola particular que dava aulas no ensino fundamental. Tampouco vi claramente um perfil completo de um professor que eu diria “assim quero ser”, um pensamento comum para mim durante a graduação enquanto aluna. Naquele momento eu não tinha tanto medo, mas também não tinha muita noção do que queria ou poderia propor nas aulas práticas. Conheci a partir daí Ana Mae Barbosa e a abordagem triangular sistematizada por ela:
Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte estaria se organizando de maneira que a criança, suas necessidades, seus interesses e seu desenvolvimento estariam sendo respeitados e, ao mesmo tempo, estaria sendo respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua estrutura e sua contribuição especifica para a cultura. Teremos assim equilíbrio entre as duas teorias curriculares dominantes: a que centra na criança os conteúdos e a que considera as disciplinas autônomas com uma integridade intelectual a ser preservada. (BARBOSA, 2002, p. 350)
A princípio, a partir de uma única leitura o entendimento sobre essa abordagem era ainda superficial. Porém, ao chegarmos durante as disciplinas de estágio, no ponto que deveríamos fazer os nossos planejamentos de curso e de aula para o período da prática do estágio fui percebendo que ali eu precisava pensar no meu conteúdo utilizando das instâncias da abordagem triangular (contextualizar, fazer-exprimir-conhecer, ler-apreciar.).
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Nesse momento eu me sentia em constante comparação, conseguia relembrar a minha experiência na escola integrada e pensar primeiramente que na escola básica eu não estou formando atores e que eu tenho que buscar criar e ter experiências estéticas com os meus alunos, buscar construir narrativas através da consciência de um modo de se fazer, partindo de um lugar de reflexão. Percebi que nas minhas experiências anteriores houve pouco ou nenhum tipo de reflexão, nem minha e nem de mim para com os alunos. Com isso, comecei o meu desafio nas disciplinas de estágios, buscar através da observação um tema de interesse aos alunos daquelas duas instituições, que fosse suficiente para a criação dos meus planos. Ali eu vi um viés que me agradava e, naquele momento, eu me senti aprendendo o ofício de professora de teatro que deve ser de alguém de instiga os alunos a partir de temas e interesses que partem deles e que vão além do que conhecem. Dizer o que eu espero ser e seguir como professora no futuro próximo, seria algo muito utópico e perigoso, talvez eu voltaria a fazer como antigamente, quase que em busca de um molde a ser seguido (é só lembrar de quando eu pedi sem propósito nenhum, para os meus alunos caminharem pelo espaço, pelo simples fato de ter feito muito isso durante o VDM). Também é complicado porque acredito que somente na prática, no dia-a-dia, no “vamos ver” que a gente sabe e vai vendo como realmente é. Deve ser por isso que é comum escutar de professores recém-graduados que “foi na escola mesmo que eu aprendi como é, e não na faculdade.” Percebi que eu não iria encontrar puramente um modelo de professor a ser seguido, onde eu iria gostar de tudo que eles fizessem, porque cada um teve a sua formação, as suas escolhas, as suas preferências estéticas, o seus medos e desejos, assim como eu. Fui vendo que esses desejos que eu tentava buscar nos professores que eu acompanhava era algo que eu tenho que buscar para mim, analisando todo esse meu processo de formação. Ainda não sei tudo que eu desejo ser como professora, mas tenho alguns palpites. Eu desejo o diálogo, desejo escutar o que se apresenta vindo dos alunos, de forma explícita e implícita, desejo não perder o interesse em seguir estudando e me aperfeiçoando. Desejo seguir observando o que dá certo ou não e poder ter a chance de mudar de ideia. Quero seguir aprendendo a lidar com o erro e, principalmente, eu desejo não desistir da profissão. Afinal, o caminho se faz ao caminhar com incorporações e descartes de atitudes, gestos e valores.
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REFERÊNCIAS
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