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Leituras

Raquel Sá Solicitadora

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

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José Saramago

O autor dispensa apresentações. Uma escrita tão cheia de detalhes que nos permite ver e viver as suas narrações.

Perante o semáforo vermelho, aguardam os carros que se acenda a luz verde, até que esta se acende e o primeiro carro da fila não avança. Tinha, naquele instante, ficado cego, “como se houvesse um muro branco do outro lado”. O diagnóstico: “uma cegueira inexplicável”. Quem o tinha levado a casa também cegou.

Também o oftalmologista ficou cego e infetou todos os seus pacientes, tornando-se rapidamente a cegueira numa verdadeira pandemia.

Todos os cegos são internados num manicómio abandonado. Ali passa-se fome, luta-se pela sobrevivência, como animais, por instinto.

A cidade, aos poucos, “a ver tudo branco”, transformada num caos, numa luta pela sobrevivência.

Uma obra que, pese embora aborde a cegueira, nos permite “ver” e imaginar, cada leitor à sua maneira. Uma obra brilhante, que nos prende da primeira à última página.

“Se podes ver, repara”.

A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE

Matt Haig

Nora vive uma vida profundamente infeliz e decide terminar com ela. Contudo, não morre e é transportada para a Biblioteca da Meia-Noite, um espaço misterioso situado entre a vida e a morte, um pórtico de oportunidades de vida, onde “pode viver todas as vidas que poderia ter vivido”. Encontra o livro onde constam os seus arrependimentos ao longo da vida e, com base nele, pode escolher um livro novo e viver uma vida diferente. Tem, assim, a chance de descobrir que rumo teria tomado a sua vida se tivesse optado por uma decisão em vez de outra.

Será que Nora vai encontrar a vida perfeita?

Como seria a nossa vida se determinada decisão tivesse sido outra? Quão incrível ou assustador seria podermos ver o rumo da nossa vida com base noutras decisões? Ou será que não existem, de todo, vidas perfeitas?

Um livro extraordinário que nos leva a refletir sobre as nossas decisões, sobre o impacto que as mesmas têm na vida que hoje vivemos e sobre o que realmente importa, o que faz com que valha a pena a vida ser vivida.

CORTIÇA

na vanguarda da inovação e da sustentabilidade

REPORTAGEM DINA TEIXEIRA

Foi fundada em 1870 por António Alves de Amorim e Ana Pinto Alves e, na altura, o abastecimento do setor vinícola foi o ponto de partida desta empresa dedicada à produção de cortiça. Hoje, tem dezenas de unidades de negócio espalhadas pelos cinco continentes. Fomos visitar a CORTICEIRA AMORIM e, nesta reportagem, mostramos-lhe todos os segredos daquele que é um dos produtos naturais mais caraterísticos de Portugal: a cortiça.

ara descobrir todo o universo desta matéria-prima, não poderíamos deixar de conhecer o maior grupo de transformação de cortiça do mundo. A Corticeira Amorim soma mais de 150 anos de história bem-sucedida. Grupo este que se move pelos valores do orgulho, ambição, iniciativa, sobriedade e atitude. E para descobrirmos um pouco mais acerca dos seus detalhes históricos, contamos com a ajuda de Rafael Rocha, Diretor de Comunicação Corporativa da Corticeira Amorim, que nos explica: “Para além do abastecimento do setor vinícola, a empresa tem inscritos na sua cronologia outros cinco momentos históricos dignos de particular registo. A saber: a exportação de matérias-primas semiP "A cortiça é uma matéria-prima renovável, reciclável e reutilizável. Um material leve, impermeável e hipoalergénico. Um recurso orgânico elástico e compressível, isolante térmico e acústico, preparadas para a indústria da cortiça, sediada naquela altura integralmente impermeável, flutuante e fora das fronteiras do nosso país; a transformação de toda a matéria-prima em resiliente. Uma substância

Portugal, como consequência do alargamento da base industrial iniciado na década de 60; o processo de internacionalização alavancado pela entrada na Bolsa de Valores em 1988; a inovação, que se torna peça fundamental do negócio a partir de 2000, com novos produtos, melhores tecnologias e outros modelos de gestão; e, finalmente, a fase atual caraterizada pela intervenção florestal, inimitável capaz de gerar valor social, ambiental e económico, com altas credenciais de cujo objetivo basilar é um maior conhecimento do sobreiro”. E, rumando até sustentabilidade e aliada à atualidade, revela-nos ainda: “A empresa exporta para mais de 100 países e do equilíbrio climático. conta com uma rede diversificada de 29 mil clientes e com uma equipa de mais de 4.600 colaboradores, cerca de 3.200 dos quais em Portugal”. E acrescenta: “A Corticeira Amorim contribui como nenhum outro player para o negócio, para o mercado, para a economia, para a inovação e para a sustentabilidade de toda a fileira da cortiça”. Uma única tonelada de cortiça retém até 73 toneladas de dióxido de carbono." Que a cortiça é uma matéria-prima proveniente da casca do sobreiro, ou Rafael Rocha seja, um tecido vegetal 100% natural, e um dos produtos mais extraordinários da natureza, isso sabemos bem. Mas será que conhecemos todas as suas características e versatilidade? É o que única tonelada de cortiça retém até 73 toneladas de dióvamos perceber agora. “As células da cortiça, agrupadas xido de carbono”. E, por estes motivos, é fácil perceber numa estrutura alveolar caraterística, em tudo idêntica que “a cortiça é uma matéria-prima tão perfeita que até a uma colmeia, estão preenchidas com uma mistura de hoje nenhum processo industrial, laboratorial ou tecnogases muito semelhante ao ar, sendo as suas paredes lógico a conseguiu replicar”, como nos desvenda o Diremaioritariamente revestidas por suberina (uma espécie tor de Comunicação. de cera natural) e lenhina (uma macrocélula tridimensio- Quisemos ainda saber como funciona o processo de nal de resistência a ataques microbiológicos). Tal estru- produção da cortiça. “Cada sobreiro demora 25 anos até tura celular confere à cortiça um conjunto de caraterísti- poder ser descortiçado pela primeira vez, sendo que apecas ímpar”, refere Rafael Rocha. Mas esta não é a única nas a partir do terceiro descortiçamento (aos 43 anos), razão pela qual este é um recurso tão único. Saliente-se ou «tiradia», na linguagem popular dos descortiçadores, ainda que “a cortiça é uma matéria-prima renovável, re- a cortiça, então denominada «amadia», tem a qualidaciclável e reutilizável. Um material leve, impermeável e de exigida para a produção de rolhas. As duas primeihipoalergénico. Um recurso orgânico elástico e compres- ras extrações – cortiça «virgem» e «secundeira» –, assim sível, isolante térmico e acústico, impermeável, flutuante como a que é retirada da base da árvore, resultam em e resiliente. Uma substância inimitável capaz de gerar va- matéria-prima para isolamento, pavimentos e produtos lor social, ambiental e económico, com altas credenciais para áreas tão diversas como a construção, o desporto, de sustentabilidade e aliada do equilíbrio climático. Uma a moda, o design, a saúde, a produção de energia ou a indústria aeroespacial”, esclarece Rafael Rocha. E quanto ao processo de extração, destaca: “A extração é feita em ciclos de nove anos, tantos quantos são necessários para a completa regeneração do Quercus suber L. (casca do sobreiro), por profissionais altamente especializados, sempre entre maio e agosto, quando a árvore está numa

fase mais ativa do crescimento, o que torna mais fácil descortiçá-la sem ferir o tronco. Após o descortiçamento, cada sobreiro é marcado com a numeração do último algarismo do ano em que foi realizada a extração da cortiça”. Apesar de muito deste trabalho ser feito pelas mãos experientes, qualificadas e cuidadosas dos trabalhadores da Corticeira Amorim, “a permanente busca de eficiência operacional conduziu a Corticeira Amorim ao desenvolvimento de uma máquina de extração de cortiça, introduzindo desta forma a mecanização no descortiçamento”, admite, sublinhando que “o objetivo é alargar a utilização do mecanismo, entretanto patenteado, a toda a produção florestal. Ou seja, dentro de dois ou três anos evoluir dos atuais 10% para 60 ou 70% da totalidade de cortiça comprada pela indústria extraída com recurso a esta nova tecnologia”.

Atualmente, a cortiça chega aos quatro cantos do mundo das mais variadas formas. “Sob a liderança da 4.ª geração da família, e tendo como presidente e CEO António Rios de Amorim, a Corticeira Amorim é detentora da maior rede de distribuição do mundo (56 empresas), realiza mais de 90% das vendas fora do mercado português e em 2021 registou 837,8 milhões de euros em vendas consolidadas”, diz-nos o Diretor de Comunicação. E isso deve-se muito à estratégia que têm vindo a desenvolver, alicerçada na sustentabilidade e inovação.

Comecemos pela primeira. Como nos explica Rafael Rocha, “a sustentabilidade é mesmo uma das maiores bandeiras da Corticeira Amorim que tem orgulho na sua pegada de carbono negativa. Tanto a nossa visão (crescer garantindo a promoção da equidade social em paralelo com a salvaguarda ambiental), como a missão (acrescentar valor à cortiça, de forma competitiva, diferenciada e inovadora, em perfeita harmonia com a Natureza) consideram o capital natural. A preocupação constante pela escolha, adoção e reforço de práticas de desenvolvimento sustentável elegem a empresa como uma das mais sustentáveis do mundo, um cenário que tem como principal responsável uma matéria-prima única que é, em si mesma, a simbiose perfeita entre natureza e tecnologia”. E mais. “Ao promover a extração cíclica da cortiça, sem danificar as árvores, a empresa garante que o montado de sobro é um recurso viável, natural e renovável, com inúmeros benefícios ambientais, económicos e sociais. Ao nível das operações, sob o mote «nada se perde, tudo é valorizado», desde 1963 que a Corticeira Amorim transforma os desperdícios da produção de rolhas em grânulos, aglomera-os recorrendo a diferentes densidades (e tamanhos) e explora as práticas da economia circular (tantas vezes usando também os desperdícios de outras indústrias como a do têxtil, do calçado ou a automóvel, etc.)”, destaca. A plena adesão aos princípios da economia circular é outro dos grandes pilares da sustentabilidade desta empresa, como nos refere o Diretor de Comunicação: “Temos 100% de aproveitamento da cortiça; uma taxa de valorização de resíduos (não cortiça) de 93%; 79% de energia utilizada de fontes renováveis; 64% das unidades industriais com certificação Forest Stewardship Council (FSC®) na cadeia de custódia; e programas de reciclagem de cortiça por todo o mundo”. Não há dúvidas de que esta empresa tem estado na dianteira do desenvolvimento sustentável: “em 2004, a Corticeira Amorim foi a primeira empresa de cortiça do mundo a alcançar o certificado FSC® na cadeia de custódia; desde 2006, publica o relatório de sustentabilidade, iniciando um processo de comunicação regular das suas práticas; em 2008, juntou-se ao projeto Green Cork, uma iniciativa dedicada à recolha de rolhas para reciclagem; desde 2013, explora, promove e lidera um Projeto de Intervenção Florestal que visa assegurar a manutenção, a preservação e a valorização das florestas de sobro e, consequentemente, a produção contínua de cortiça de qualidade; em 2018, alinhou os objetivos da empresa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, lançando as bases para o programa «Sustentável por natureza» com a ambição para 2030; entre outras ações, iniciativas e projetos com impacto a nível ambiental, económico e social”. Mas não querem ficar por aqui.

"Ontem como hoje, é a paixão pela cortiça que nos move e o nosso grande trunfo reside no conhecimento desta matéria-prima."

Rafael Rocha

António Rios de Amorim

Rafael Rocha confessa que “a ambição de querer ir mais longe, de criar um impacto verdadeiramente positivo nas pessoas e de sustentar um planeta mais inclusivo, equitativo e verde é o nosso mote”.

Foquemo-nos agora na inovação. Desenvolver novos produtos e soluções capazes de responder a desafios, marcar a diferença e agregar valor. Este é o trabalho que a Corticeira Amorim tem levado a cabo ao longo de todos estes anos, promovendo programas de inovação, que apostam na diferenciação, pela qualidade única da cortiça, e na reinvenção deste recurso natural. “A nossa paixão pela cultura de inovação é muito alargada, abrangente e multidisciplinar. Assenta em investimentos significativos em Investigação & Desenvolvimento e Inovação, é transversal a todas as unidades de negócio do universo da Corticeira Amorim, e motiva, desperta e anima quotidianamente os mais de 4.600 colaboradores espalhados pelo mundo”, revela-nos o Diretor. E dá-nos alguns exemplos desta inovação: “Rolhas que prescindem do saca-rolhas; compósitos de cortiça com biopolímeros; soluções para relvados naturais que, ao substituir a tradicional turfa, reduzem em 40% as lesões dos jogadores de futebol; tecnologia que permite uma performance de TCA (Tricloroanisol) não detetável numa análise rolha a rolha; pavimentos flutuantes sustentáveis, 100% à prova de água e sem PVC; aplicações inovadoras para as indústrias aeroespacial, da construção, da mobilidade, do desporto, da energia ou do design, entre outros”. A par desta estratégia, a Corticeira Amorim criou, em 2018, uma nova unidade: “a i.cork factory, um laboratório de exploração de novas tecnologias aplicadas à cortiça e de novos materiais resultantes da incorporação desta em todas as suas vertentes e potencialidades”. “A busca incessante da inovação em todas as suas dimensões será fundamental para que a Corticeira Amorim possa continuar a crescer, reforçar a sua liderança e assegurar a sua longevidade”, clarifica.

O fim da visita aproxima-se. E não vamos embora sem antes esclarecermos uma questão: Qual é chave para o sucesso? Para Rafael Rocha, é simples: “Conjugando trabalho e talento, combinando perseverança e engenho, conciliando conhecimento e técnica ininterruptamente na busca do sucesso. Mas sobretudo unidos pela paixão que a todos estimula: a cortiça. Ontem como hoje, é a paixão pela cortiça que nos move e o nosso grande trunfo reside no conhecimento desta matéria-prima. Um know-how que continuaremos a expandir, reforçando as competências internas e estabelecendo novas parcerias com a ciência”, rematou, não deixando ainda de ressaltar que “o futuro da Corticeira Amorim passa não só pela diversificação da transformação da cortiça, mas também pela otimização da produção florestal”.

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