Tavola Retangular

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No Brasil, 300 jogos são lançados por ano.

Editoras e desenvolvedores independentes também testam seus produtos em encontros de jogadores. “A galera começa a chegar às 12h, e o encontro só termina às 5h do dia seguinte”, diz Fernando Celso, organizador do BoardGames São Paulo, encontro criado em 2015 e que reúne, mensalmente, mais de 200 pessoas. Num público bastante diverso, jogadores hardcore dividem espaço com iniciantes e famílias inteiras. Jogos como Carcassonne, Dixit e o próprio Catan são os mais populares. Muitos projetos nascem das plataformas de financiamento coletivo. “Esse modelo de financiamento ajudou a alavancar a indústria”, diz Fábio Cury Hirsh, brasileiro que trabalha como desenvolvedor de jogos na CMON, com sede em Singapura. A CMON, por exemplo, arrecadou mais de US$ 3 milhões em menos de um mês pelo Kickstarter, para uma nova edição de Zombicide, seu maior sucesso. O objetivo inicial era US$ 250 mil. O financiamento coletivo também ajuda a tirar do papel projetos mais excêntricos. É o caso dos jogos do tipo legacy (em português, “legado”), moda que surgiu nos últimos anos. Sua proposta é interessante: eles só podem ser jogados uma única vez, seja por conta de revelações na história, itens que você precisa destruir ou porque os jogadores não podem mudar após a partida começar. Eles são a vanguarda dos board games. Mas não o único caminho. “Um bom jogo não precisa ter mecânica inovadora ou ser cheio de detalhes”, diz Queiroz. De fato: basta que seja divertido. E isso muitos jogos, sejam legacy, europeus, brasileiros ou

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aquele War surrado e já quase esquecido dentro do seu guarda-roupa, podem ser. É só começar a jogar.

Mercado de jogos de tabuleiro ganha espaço no Brasil

Em tempos de alta tecnologia, o chamado jogo analógico não apenas resiste, como vai bem, obrigado. Segundo dados da Pesquisa Game Brasil 2019, 28% da população do país se diverte com tabuleiros (“boardgames”), fatia próxima dos que jogam cartas – 34%. O segmento representou 9,7% das vendas do setor de brinquedos, de um total de R$ 6,871 bilhões, em 2018. A indústria dos jogos analógicos como um todo também teve um crescimento de 7,5% no ano, como se vê em levantamento da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Em todo o mundo, foram lançados mais de 4.000 jogos de tabuleiro em 2018, segundo o site especializado “BoardGameGeek”. O número se explica pela demanda. Só no Brasil, de acordo com o Censo Ludopedia 2018, que traça o perfil do jogador nacional, 66% das pessoas investem em “boardgames”. Só neste ano títulos lançados ou em desenvolvimento já somam 421. “Os jogos modernos são mais fáceis de jogar. Têm partidas curtas, não longas como as de ‘War’ e ‘Monopoly’”, explica Cristiano Cuty, diretor de criação e produção da Conclave Games, editora nacional de jogos. Cuty produzia fanzines (revistas artesanais feitas por fãs) do universo geek, nos anos 1990. Em 2003, fundou a Conclave, que, então, apenas publicava livros de ficção e jogos autorais de RPG. Só em 2014, a empresa começou o licenciamento de jogos de tabuleiro. “Hoje, os “boardgames” representam 85% da nossa produção”, conta Cuty. No ano passado, a Conclave Games faturou R$ 1,5 milhão. Em 2014, Diego Bianchini, sócio-fundador de outra editora, a Meeple BR, expandiu seu hobby. No início, comercializava peças e componentes de “boardgames” pelo Facebook. “No final de 2015, vimos a oportunidade de licenciar e distribuir com exclusividade no Brasil vários dos jogos que eu gostava de jogar”, relembra Bianchini. De 2017 para 2018, a empresa teve um crescimento de 120%, e neste ano espera saltar mais 70%. Trajetória mais diversificada e certeira teve o casal Thiago Castro e Milene Ferrari, que já


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