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GESTÃO DE DADOS E INFORMAÇÃO

GESTÃO DE DADOS E INFORMAÇÃO

RECOLHER E GERIR DADOS PARA AUMENTAR PRODUTIVIDADE

Reduzir tempos. Rentabilizar recursos. Diminuir custos. Em suma, aumentar a produtividade. Estes são, em traços gerais, alguns dos principais benefícios de uma gestão de dados nas empresas de moldes. Enquanto que, por um lado, Politécnico de Leiria e Centro Tecnológico para a Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (CENTIMFE) chamam a atenção para a necessidade das organizações estabelecerem estratégias e, em função delas, definirem os dados a recolher e a tratar, GLN e Moldes RP partilham a sua experiência, dando nota das mudanças (com vantagens) que o tratamento de dados introduziu nas respetivas produções.

A recolha e a gestão dos dados são essenciais para que as empresas tomem decisões ponderadas. Por isso, “a gestão de dados é fundamental para qualquer empresa”, considera Carlos Neves, professor do Politécnico de Leiria.

Mas vamos por partes. Importa perceber, em primeiro lugar, o que são dados. “De uma maneira muito geral, são elementos que, depois de recolhidos, temos de tratar para gerar informação que nos permita conseguir tomar decisões”, explica o professor. E esses ‘dados’ podem ser de tudo um pouco: indicações, medidas sobre a realidade, conjuntos de valores ou de medidas que se fazem diretamente em muitas áreas. Para que sirvam de auxílio têm, depois de recolhidos, de ser trabalhados e transformados em informação. Essa informação tem de ser analisada e permite, então, retirar conclusões e, com isso, apoiar na tomada de decisões. “Isso é o fundamental: os dados servem-nos para tomar decisões”, sublinha.

Assim sendo, os dados servem para controlar e dirigir uma organização de forma a que alcance os objetivos pretendidos. Carlos Neves exemplifica com um caso prático: uma máquina, na qual os dados permitem, por um lado, perceber o que se passa e, por outro, fazer com que esteja a ser continuamente ajustada para funcionar. São tomadas decisões em função dos dados recolhidos e esses têm de estar sempre disponíveis, de forma muito rápida, para que se consiga controlar a máquina. Este é apenas um exemplo. Mas esta recolha, tratamento, análise e decisão são transversais a vários sectores e atividades.

A relevância dos dados varia de organização para organização, salienta, “uma vez que a sua importância é definida pela estratégia, pela cultura ou pelos objetivos das pessoas”. A partir do momento em que estejam definidos quais os dados que importa recolher e analisar, pode, também, definir-se uma outra questão: os que são desperdícios, que não sejam necessários.

Sistematizar informação

“Uma empresa que não tem os seus dados atualizados, que não conhece o que faz, não conhece o seu mercado, não conhece a sua situação financeira, não conhece as competências que tem: como é que é gerida?”, questiona, apresentando a resposta evidente: “é gerida, achando”. Ou seja, “são tomadas decisões sem um fundamento explicável e sólido”.

OS DADOS SUPORTAM A ‘INDÚSTRIA 4.0’ OU A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E ELES ESTÃO EM TODOS OS PROCESSOS QUE NOS RODEIAM

Carlos Neves – POLITÉCNICO DE LEIRIA

“Não significa que não haja pessoas que consigam gerir – e muito bem – empresas e entidades dessa forma. É informação e há pessoas que têm outras formas de captar essa informação, que gerem atividades e empresas sem ter uma forma sistemática de tratar e analisar os dados que têm. Mas a capacidade humana de gerir sistemas complexos sem ajuda e de forma sistemática tem um limite”, adverte. “Numa abordagem coerente, que não depende das pessoas, os dados estão sistematizados e isso torna a empresa mais robusta”, considera.

Para Carlos Neves, ainda há, nesta matéria, “muita coisa a fazer” pelas empresas. “O panorama é muito heterogéneo. Há muitas empresas que não recolhem rigorosamente nada, pelo menos automaticamente”, considera. Contudo, reforça, “hoje em dia, todas as empresas de moldes têm o seu planeamento, têm o seu controlo de produção, por vezes, até em papel. As questões existem e, em muitos casos, com suporte informático e, para chegar aí, elas foram trabalhadas de uma forma até sistematizada”, considera.

Mas “a aquisição automática desses dados existe apenas em poucas empresas e, nas que existe, é de forma ainda pouco automatizada. Aí há um trabalho grande a fazer”, adverte, sublinhando que “a grande vantagem da automatização da recolha de dados é que torna os dados mais rapidamente disponíveis, o que permite que sejam disseminados com mais facilidade para as diversas análises que é preciso fazer”.

Por outro lado, “alguma automatização na criação de informação, a partir destes dados, também aumenta a rapidez porque a sua análise pode ser feita automaticamente. Em alguns casos, isso pode ser vantajoso porque significa menos trabalho envolvido na identificação de algumas situações. Portanto, elas podem ser identificadas de forma mais rápida e as decisões só podem ser tomadas mais rapidamente”. A pessoa, contudo, continua a ter importância. “A decisão tem de estar em algum sítio”, lembra. Estratégia

“Quando temos muitos dados e não sabemos o que lhes fazer, o melhor é mudar de ramo. Porque se nós, enquanto técnicos e empresários não conseguimos saber qual a informação de que precisamos, alguma coisa está mal e não vamos a lado nenhum. Outra coisa que se pode dizer é que há aqui uma questão, que é técnica e que é fazer a ponte entre os dados que temos e a informação de que precisamos”, defende.

Para isso, “é preciso clarividência de todas as partes: quem tem de tomar as decisões precisa de saber como é que as toma e o que precisa para as tomar”, defende. Mas chama a atenção para uma situação que, por vezes, acontece nas organizações. “O pessoal mais técnico diz que é preciso tirar todos os dados que a máquina dá. Só que, depois, não sabemos o que fazer com eles porque uma grande parte é puro desperdício”, explica, reforçando que o fundamental é saber “o que se pretende fazer com esses dados e o que é que é preciso para tomar as decisões como deve ser”. Ou seja: uma estratégia definida.

“É necessário que quem vai tomar essas decisões saiba bem o que é que precisa para as tomar. Por níveis, podemos considerar que, primeiro, preciso de saber quais decisões e, a um outro nível, qual a informação necessária para que essas decisões sejam bem tomadas. A um nível ainda mais baixo, quais são os dados que precisamos para ter essa informação. E ainda mais baixo: sabendo quais são os dados, como é que vamos às máquinas e os vamos buscar. Há máquinas que já têm alguma automação, outras não, umas precisam de sensores e outras não”, remata.

FOTO: POLITÉCNICO DE LEIRIA

É NECESSÁRIO TERMOS UMA CULTURA DE RESPONSABILIDADE. É O QUE NOS PERMITE MELHORAR OS NOSSOS PROCESSOS E A QUALIDADE DAQUILO QUE OFERECEMOS AO MERCADO

“Para gerir, é preciso ter dados fiáveis”

António Baptista, do Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (CENTIMFE) considera que a gestão de dados na produção “é algo fundamental”. “Esta é uma questão transversal a todas as entidades e a todas as empresas. Para gerirmos os nossos processos e a nossa produção necessitamos de dados robustos, seja para alimentar o nosso planeamento seja para responder aos nossos clientes, mas toda essa informação tem de ser confiável”, defende.

Para decidir, “é fundamental sabermos exatamente como é que está a nossa produção ou o estado da nossa peça, conhecermos a alocação de recursos entre pessoas e equipamentos, e o seu estado e a carga. Só assim conseguimos delinear um planeamento eficaz para os trabalhos e para toda a produção, e definir prazos de entrega mais realistas”. Acrescenta que “toda esta informação não é necessária apenas para gerir o dia a dia, mas também para o futuro. Do ponto de vista estratégico, é necessário saber, por exemplo, quando se pode avançar para novos negócios, e nesta perspetiva, saber quanto tempo demorou e quanto é que custou a produção de um determinado produto”, explica.

Em relação à natureza dos dados ou quais são as principais informações a recolher, António Baptista considera que “depende muito de empresa para empresa”. Sublinha, contudo, que “há dados que são comuns. Por exemplo, os tempos-homem ou os tempos-máquina são dados transversais a todas as empresas”. A diferença entre as organizações faz-se, depois, na fase de tratamento e análise desses dados. Ou seja, “cada empresa irá trabalhar esses dados para alimentar os indicadores que, para si, são mais relevantes para a tomada de decisões”. E isto está relacionado com o modelo de gestão e a cultura que caracterizam cada empresa. “As empresas dão importância às questões, aos dados, e aos indicadores que consideram mais relevantes em função da sua própria cultura”, afirma. António Baptista – CENTIMFE

Tooling4G – Advanced Tools for Smart Manufacturing

A recolha e tratamento de dados do chão de fábrica é um dos eixos do projeto mobilizador Tooling4G, que nasceu em 2018, envolvendo 30 copromotores, dos quais 20 são empresas do sector de moldes e plásticos e 10 são Entidades Não Empresariais do SI&I, entre entidades do ensino superior e centros de interface tecnológica.

“Os dados suportam a ‘Indústria 4.0’ ou a quarta revolução industrial e eles estão em todos os processos que nos rodeiam”, salienta António Baptista, explicando que é essa a filosofia que está por detrás deste projeto. O projeto Tooling4G tem como foco gerar conhecimento e capacitar as empresas na ótica da ‘Indústria 4.0’, a digitalização da indústria e os zero-defeitos, o que naturalmente envolve a recolha e tratamento de dados de forma rápida e fiável.

Na questão da ‘Digitalização da Indústria’, sublinha, “o projeto pretende aproximar o cluster Engineering & Tooling dos conceitos da ‘Indústria 4.0’, intervindo em cinco

áreas fundamentais: a robótica colaborativa, a realidade aumentada, a recolha e controlo de dados ao nível do chão de fábrica, a localização de produtos e a melhoria dos dados de processo reportados pelos equipamentos produtivos”.

Neste projeto, conta ainda, “está contemplada a construção de um demonstrador onde se prevê a recolha de dados e a disponibilização de informação às diversas áreas e processos da área fabril, sejam eles de produção, de qualidade ou de gestão”. O projeto tem como objetivo o desenvolvimento de “uma célula que será implementada e demonstrada no CENTIMFE. Será construída a partir de uma plataforma de gestão de informação, a ser desenvolvida em parceria pela inCentea e pelo Politécnico de Leiria, em colaboração com o CENTIMFE, e conta ainda com a colaboração da GLN MOLDS e da Moldes RP, uma vez que alguns dos módulos dessa célula serão transpostos para estas duas empresas”, explica. “O importante é ter uma célula que possa ser gerida de forma automatizada com base num conjunto de indicadores que estão a ser desenvolvidos e estudados”, sintetiza.

Adianta que “o conhecimento detalhado dos dados do chão de fábrica em tempo real e com grande detalhe é um aspeto fundamental neste cluster, e deverá permitir no futuro, não só que equipamentos com maiores níveis de inteligência possam tomar decisões baseadas no estado dos produtos que fabricam, mas que essas decisões possam ser tomadas em tempo útil. Isto assume uma importância maior no sector de moldes e ferramentas, tendo em conta o seu valor unitário, sabendo ainda que cada molde/ferramenta é um produto único e diferente”.

Zero defeitos

O projeto trabalha ainda uma outra questão de grande relevância para a indústria, as ‘cadeias de produção zero defeitos e sustentáveis’, que “envolve o aprofundamento do conhecimento relacionado com a ocorrência e impacto de erros e não conformidades no sistema produtivo”.

“As suas causas e ações de prevenção de ocorrência estão a ser estudadas, planeadas e avaliadas”, explica, contando que, “para isso, está a ser desenvolvido trabalho de campo envolvendo um conjunto de empresas representativas, e será criado um modelo virtual do sistema produtivo para simular e avaliar o impacto global de medidas e ações de prevenção. Estão igualmente previstas soluções inovadoras com vista a auxiliar o operador no seu posto de trabalho com sistemas colaborativos de apoio na realização de tarefas e de controlo automático da qualidade no posto de trabalho, em tempo quase real e sem interferência no fluxo de produção, pelo recurso a sistemas baseados em visão e processamento de imagem”.

Às empresas, António Baptista deixa algumas recomendações: é necessário que cada empresa estabeleça o seu quadro de indicadores, que uma crie uma cultura de registo fidedigno de dados, e implemente sistemas de recolha fiáveis para que, depois, possa gerar informação útil. Uma outra questão, realça, é a integração dos dados. “Esta deve ser transversal a toda a empresa. Por vezes, o que vimos é que há sectores ou áreas da empresa que recolhem dados, mas depois eles não são disseminados por toda a organização e acaba por se perder informação relevante”.

“É necessário termos uma cultura de responsabilidade. É o que nos permite melhorar os nossos processos e a qualidade daquilo que oferecemos ao mercado”, e afirma ainda, que tudo isto deve ser acompanhado por “uma forte aposta na formação das pessoas”, conclui.

Moldes RP: Maior objetividade nas decisões da empresa

E, na prática, como veem as empresas a gestão de dados?

Hugo Rosa, da empresa Moldes RP, considera que esta questão “tem assumido um papel cada vez mais relevante, por aquilo que contêm (os dados) e podem conter e o trabalho que podemos fazer com eles”. Com a introdução de novos equipamentos tecnologicamente mais avançados, adianta, “todos os inputs e outputs que são gerados e o seu funcionamento tomaram uma relevância maior”.

PARA CONTINUAR ESSE DESENVOLVIMENTO, É IMPORTANTE QUE AS EMPRESAS PONHAM UM POUCO DE LADO OS MECANISMOS TRADICIONAIS DE AVALIAÇÃO E TOMADAS DE DECISÃO, E PASSEM A SUSTENTAR MAIS AS DECISÕES BASEADAS EM DADOS

Hugo Rosa – MOLDES RP

E sustenta que “com uma boa gestão de dados, com informação e indicadores robustos, a empresa consegue ser mais objetiva nas decisões e não dispersar do seu foco”. Em resumo, considera, “permite-nos antecipar erros ou problemas e criar algumas rotinas isentas de intervenção humana”.

Em relação aos dados a recolher, afirma que “podem ser das mais variadas naturezas tendo em conta as várias áreas da empresa e as necessidades”. Para um sector da empresa, “pode ser importante tratar uma tipologia de dados para poder avaliar algo e agir sobre e com base nesses dados”, enquanto que, para outro, “haverá dados diferentes que poderão interligar-se ou não durante um determinado momento”, diz.

Na produção há todo um vasto conjunto de dados possíveis de caracterizar, explica, enumerando alguns: “a entrada e saída de uma peça num dado equipamento ou posto trabalho, o tempo consumido e/ou decorrido, as diferentes tarefas executadas, os alertas gerados pelos equipamentos, a possibilidade de notificar em tempo real determinado evento quer seja humano ou máquina”.

Acrescenta que “poder saber em tempo real o estado de determinada peça/tarefa, a sua localização ou o seu percurso são dados relevantes, reais e de extrema importância” e que permitem “reduzir tempo, recursos, custos, e aumentar produtividade”. Por outro lado, “receber alertas de estado/erros/anomalias de determinados equipamentos, permite-nos trabalhar a componente da manutenção preventiva de uma forma completamente diferente da atual” e, para além disso, “todos os dados relativos à produção que possam ser ‘retirados’ de forma autónoma, sem intervenção humana quer seja de máquinas, computadores, operacionalidade de um colaborador, tarefas rotineiras, são de extrema importância porque são dados reais, em tempo real e que quase sempre não têm acréscimo de trabalho por parte dos colaboradores”.

Com a recolha de dados é possível melhorar a produção em vários aspetos. Exemplifica: “podem ser gerados relatórios semelhantes aos já existentes, mas com dados mais rigorosos, podem ser enviadas instruções/ações a operadores e máquinas e é possível saber com mais exatidão a produtividade dos recursos, e em tempo real, e assim gerar planeamentos mais assertivos”. Para além disso, é possível obter “informação detalhada sobre um dado componente, estado real/atual e podem ser criadas rotinas automáticas de trabalho, de controlo. Podemos dar ordens aos equipamentos”.

Hugo Rosa defende, ainda, que “numa fase inicial de implementação, é importante que haja uma equipa que defina quais os dados relevantes ou não com vista à sua recolha/tratamento”. No seu entender, haverá sempre dados que “inicialmente são tidos como importantes e que depois concluímos que não há necessidade de os usar”. Para isso, é necessário “filtrar pela sua relevância, pela maior ou menor dificuldade em recolher esses dados e as vantagens que podemos obter depois de trabalhar sobre eles”.

Para poder melhorar esta área nas empresas, considera que é importante que estas percebam as inúmeras vantagens da recolha e tratamento de dados reais, e de que forma isso as pode projetar.

“Para continuar esse desenvolvimento, é importante que as empresas ponham um pouco de lado os mecanismos tradicionais de avaliação e tomadas de decisão, e passem a sustentar mais as decisões baseadas em dados”, exorta. E sustenta, ainda, que, no seu entender, “a conetividade entre equipamentos, máquinas e softwares precisa de melhorar. Os equipamentos têm de possibilitar a comunicação entre eles”.

PODEM SER GERADOS RELATÓRIOS SEMELHANTES AOS JÁ EXISTENTES, MAS COM DADOS MAIS RIGOROSOS, PODEM SER ENVIADAS INSTRUÇÕES/AÇÕES A OPERADORES E MÁQUINAS E É POSSÍVEL SABER COM MAIS EXATIDÃO A PRODUTIVIDADE DOS RECURSOS, E EM TEMPO REAL, E ASSIM GERAR PLANEAMENTOS MAIS ASSERTIVOS

Lembra que “desde há alguns anos que a importância dos ‘programadores/informáticos’ tem vindo a crescer nas empresas”, concluindo que “hoje, são parte fundamental para o desenvolvimento das organizações”.

GLN: Transformar os dados em vantagem competitiva para as empresas

“O crescente volume de dados disponibilizado por processos cada vez mais digitalizados e potenciados pelas novas tecnologias não se traduz, por si só, em informação útil que permita apoiar as operações e a tomada de decisão. Por essa razão, a gestão dos dados assume um papel cada vez mais decisivo na capacidade de extrair, transformar e compilar os dados obtidos em informação pertinente e que se traduza efetivamente numa vantagem competitiva para as organizações”. É desta forma que Vítor Paulo, da empresa GLN, vê a questão da gestão de dados.

Adianta que, “conscientes de que ainda há um longo caminho a percorrer na digitalização desta indústria, o maior foco da GLN tem sido na obtenção dos dados que permitam mapear o processo produtivo, não só os que são gerados de forma automática (ex: sinais, medições e parâmetros das máquinas, moldes e equipamentos periféricos) como também os que resultam de processos manuais/humanos que integram a cadeia produtiva (ex: dados dimensionais do produto, rejeições de qualidade e a sua root cause). O armazenamento destes dados é feito de forma centralizada em bases de dados únicas, de forma a permitir o seu tratamento, correlação e integração nos sistemas de gestão da empresa (MRP e ERP)”.

Vítor Paulo – GLN

A recolha, armazenamento e tratamento dos dados do chão de fábrica permitem, no seu entender, “algo fundamental para qualquer indústria: estruturar o processo produtivo. Só desta forma é possível ter uma visão transversal do mesmo, monitorizar variáveis, criar indicadores operacionais e, não menos importante, atuar sobre os inputs para gerar os outputs que nos permitam alcançar a excelência produtiva com produção sustentável de ‘zero defeitos’, que possibilite concorrer a nível global e vencer os desafios do mercado”.

Sustenta ainda que, por outro lado, “quando se trabalha com sistemas integrados e bases de dados comuns, a disponibilidade de todos estes dados permite-nos de uma forma quase ‘natural’ proporcionar a visibilidade e os indicadores de gestão necessários às equipas diretivas e gestão de topo no apoio à tomada de decisão”.

Adianta que “todos trabalhamos para os ‘zero defeitos’ porque uma produção só é sustentável se tiver em mente essa meta. E isso começa logo no início da produção, na forma como afinamos o processo, como o monitorizamos, como olhamos para os defeitos. Tudo isto é gerador de dados que nos permitem alterar processos e corrigir parâmetros para não repetir os defeitos”.

Passo a passo

Para Vítor Paulo, a digitalização na indústria “não é uma corrida em sprint, mas sim uma maratona”. Significa isto que, por isso, “a GLN tem pautado o seu caminho por pequenas metas com objetivos bem definidos”, o que lhes permitiu chegar “ao dia de hoje com repositórios de dados onde o desperdício é mínimo”.

O responsável considera que esta é uma questão fundamental. “Ao invés de nos focarmos em trazer o máximo de dados possível para o sistema e só depois pensar no que fazer com eles, a nossa prioridade tem sido assegurar a integridade e fiabilidade dos dados carregados em sistema, sendo esse, aliás, um dos maiores desafios com que nos temos deparado ao longo do tempo, sobretudo nos processos que ainda carecem de intervenção humana/manual”.

O CRESCENTE VOLUME DE DADOS DISPONIBILIZADO POR PROCESSOS CADA VEZ MAIS DIGITALIZADOS E POTENCIADOS PELAS NOVAS TECNOLOGIAS NÃO SE TRADUZ, POR SI SÓ, EM INFORMAÇÃO ÚTIL

Adianta ainda que a questão da ‘digitalização na indústria’ faz parte de um dos PPS do projeto Tooling4G, no qual a empresa está integrada, e que “poderá dar um contributo importante para a capacitação das empresas do sector de moldes e plásticos”.

“Há dois fatores amplamente discutidos e de conhecimento geral que acreditamos serem fundamentais para o sucesso da digitalização da indústria e da eficiente recolha de dados nas organizações”, defende, adiantando que “o primeiro, refere-se à capacidade dos fabricantes de equipamentos industriais e soluções tecnológicas compreenderem a necessidade de fazer convergir esforços, na criação de produtos assentes em standards de comunicação e recolha de dados, que permitam às empresas investir em soluções de software escaláveis e indiferentes à marca ou modelo dos equipamentos, sem recear um futuro em que a incompatibilidade de protocolos ou funcionalidades seja um obstáculo ao crescimento ou que obrigue a avultados investimentos na renovação dos parques de máquinas”.

O outro fator fundamental para o sucesso das empresas, acrescenta, “passa pela aposta na formação do capital humano. De pouco servirá às organizações disporem de enormes volumes de dados obtidos por toda uma panóplia de tecnologia inteligente, se não tivermos pessoas devidamente qualificadas para saber o que fazer com toda essa informação e aplicar esse conhecimento ao serviço das cadeias de valor”. Esta é “uma mudança de paradigma e é essencial que o sector comece a preparar, o mais breve possível, esse caminho”, conclui.

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