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ASSEMBLEIAS DE CLASSE: espaço democrático de vida social

Por Mônica Diva Barddal Tonocchi e Danielle Mari Strapassoli

Escutar é uma ação que envolve mais do que apenas ouvir. Envolve empatia e vontade de estar com o outro mesmo nas divergências.

A escola é uma das instituições sociais que insere a criança no coletivo, deixando-a exposta a diferentes ideias, crenças, gostos e culturas, mas é também um dos espaços responsáveis por sua formação integral. Desenvolver a escuta é um dos primeiros passos para que aprenda a conviver em sociedade.

O ambiente escolar é um espaço dinâmico, há conflitos e frustrações, amizades e alegrias, ganhos e perdas. Por isso, a formação das crianças no ambiente escolar não se dá apenas por meio dos conteúdos, mas também pelo que acontece nos intervalos, nos recreios, nas brincadeiras.

Nesse sentido, é fundamental o papel da escola na formação de cidadãos responsáveis na construção de uma sociedade mais justa e, por isso, além das aprendizagens na dimensão cognitiva, as dimensões socioemocional e espiritual-religiosa precisam ser objeto de estudo e trabalho, por meio do currículo. Nesse sentido,

[...] A proposta pedagógica das Unidades Educativas Jesuítas está centrada na formação da pessoa toda e para toda a vida; trabalhamos para realizar uma aprendizagem integral que leve o estudante a participar e intervir autonomamente na sociedade: uma educação capaz de formar homens e mulheres conscientes, competentes, compassivos e comprometidos. (PEC 25, 2021, p.29).

Por isso, na perspectiva da formação integral, aprender a trocar ideias, fazer combinados, avaliar as situações e propor soluções, são atitudes importantes para o desenvolvimento da criança, assim como compreender que todos somos humanos e em constante aprendizagem.

Uma estratégia fundamental que exploramos no ambiente escolar são as Assembleias de Classe, momentos de pausa e reflexão sobre a vida em sociedade, sobre o eu e nós. Por isso, é importante organizar com as crianças, para criar essa participação ativa, a es-

Rubem Alves

cuta sensível e o protagonismo de todos os sujeitos envolvidos na turma. Porém, nem sempre significa aceitar e concordar, mas sim em aprender a respeitar e compreender o ponto de vista do outro. Segundo Paulo Freire, escutar significa

[...] a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. [...] A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. (FREIRE, 2019, p.117).

Sendo assim, nas Assembleias de Classe, adultos e crianças aprendem juntos, em um encontro democrático e afetivo, no qual todos podem e devem se expressar com respeito e seriedade. Para encaminhar esses momentos no ambiente escolar, o adulto tem um papel importante. Considerando a defesa de Freire (1999), educador é todo aquele que é capaz de orientar e interferir positivamente na formação do outro, e é papel do professor estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem, em que o educador, ao passo que ensina, também aprende.

Acreditamos na formação integral dos sujeitos, e a construção de uma sociedade mais justa e democrática exige sujeitos críticos, empáticos, capazes de ouvir e posicionar-se com respeito e eticidade. Segundo Araújo (2011, p. 9) “[...] aprender a dialogar, a construir coletivamente as regras de convívio e a fortalecer o protagonismo das pessoas e dos grupos sociais é um papel que a escola pode, e deve, exercer na luta pela transformação da sociedade.” Assim, é importante destacar que em nossa rotina de convivência há a reflexão de que,

[...] Em um momento histórico-social em que são cada vez menores os limites da liberdade, do respeito democrático à individualidade, do desafio de ir além, agravados pelo presentismo, pelas mídias implementadas como ferramentas de um conhecimen- to por vezes estéril de situacionalidade e clareza de contextos, pela exacerbação do “eu” frente ao “nós”, e pelo descompromisso com o outro, cabe ao adulto e aos educadores retomar a disciplina de trabalho, as rotinas de relações interpessoais, os compromissos de cidadania, os referenciais humano-cristãos e reconstruir horizontes coletivos. (NORMAS DE CONVIVÊNCIA, 2022, p.06).

Frente à realidade que vivemos, a citação destaca a retomada das rotinas de relações interpessoais como necessárias para a reconstrução de referenciais humano-cristãos e horizontes coletivos.

A prática das Assembleias de Classe é uma realidade que buscamos constantemente aplicar e ressignificar. As crianças aprendem desde cedo que existem momentos em que serão ouvidas, mas também deverão escutar, além de que poderão ajudar a resolver os conflitos do dia a dia, na troca com seus pares e professores. Cada grupo organiza esse momento conforme as caracte - rísticas da faixa etária, da turma e suas necessidades.

De acordo com o planejamento proposto pelos educadores, além de contemplar as demandas trazidas pelos pequenos, muitas vezes é iniciada por um tema que está permeando o dia a dia das turmas. Desta forma, eles elaboram estratégias por meio da literatura, de uma música e/ou brincadeira que sensibilize o grupo para as questões propostas.

Todas as reuniões são registradas em uma Ata, que todos os envolvidos assinam e se comprometem com os combinados que cada Assembleia encerra. Desta forma, damos concretude às discussões e soluções encontradas e assumidas por cada um, desenvolvendo o senso de responsabilidade e compromisso coletivo.

Um bom exemplo disso são as Assembleias que acontecem semanalmente nas turmas do 1º ano, onde as crianças conseguem perceber que é nesse espaço político que poderão resolver alguns conflitos, agraciar os colegas diante de suas boas atitudes e perceber os avanços da turma pelos seus esforços na busca pelo MAGIS.

No relato de uma de nossas professoras, as crianças nessa faixa etária buscam por ajuda para resolver situações cotidianas, muitas vezes esperam por esse momento para colocar a situação frente ao grupo, para que todos possam ajudar a pensar na melhor solução. Dessa forma, desenvolvemos a autonomia no pensar e agir e contribuímos para que as crianças sejam protagonistas da sua aprendizagem em todas as dimensões.

Com as crianças do 5º ano, o protagonismo nas Assembleias é bem mais perceptível e vai considerando espaços e responsabilidades maiores. Em uma das turmas, as próprias crianças elaboraram os registros, organizaram tabelas com as propostas de temas a serem discutidos, e os responsáveis por conduzi-las no grupo pensaram em estratégias a partir das discussões e, conversando com os adultos, as aplicaram pelo Colégio. É nessa faixa etária também que as vivências dessas reuniões se ampliam para a escolha dos

Indicação

representantes de turma e um diálogo maior destes com outras equipes de gestão do Colégio.

A construção da autonomia é parte integrante das atividades diárias vivenciadas no espaço escolar. Sendo um ambiente democrático e de exercício da liberdade de falar e fazer necessária a reflexão sobre as consequências dessa mesma liberdade.

A autonomia, que envolve a liberdade, desenvolve-se como um processo. É preciso aprender a tomar decisões e que essas sejam tomadas com eticidade. Freire ainda continua na defesa de que “é decidindo que se aprende a decidir. Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca” (FREIRE, 1999, p. 119).

No caso das Assembleias é fundamental a regularidade dos momentos para que as crianças compreendam que existe um lugar apropriado para as discussões coletivas na convivência social. Essa frequência faz com que a rotina da turma incorpore esses momentos de troca, enriquecendo as relações democráticas e a solução compartilhada de situações diversas.

Ao proporcionarmos às crianças espaços contínuos de assembleias para que decidam sobre as suas necessidades e formas de organização das suas próprias atividades, a escola se materializa como espaço democrático de vida social.

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Mônica Diva Barddal Tonocchi é pedagoga pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), e tem especialização em: Currículo e Prática Educativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ); Psicopedagogia pela FAE Centro Universitário; e Neuropsicologia Educacional pela Faculdade Positivo. É Mestre em Gestão Educacional pela Unisinos. Atualmente, é Orientadora de Aprendizagem do 1º , 2º e alguns 3º anos do Colégio Medianeira.

Danielle Mari Strapassoli é pedagoga pela PUC-PR, especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Currículo e Prática Educativa pela PUC-RJ e Mestre em Educação pela UFPR.

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E se fosse com você? | Sandra Saruê

Editora Melhoramentos

Este livro conta a história de Animal e sua turma, que ofendem os colegas do colégio colocando apelidos horrorosos naqueles que são considerados diferentes. A professora Nancy, no entanto, descobre um modo eficiente de acabar com isso. Além de divertida, esta obra é educativa, pois dá orientações de como coibir essa prática, nada agradável, que algumas pessoas têm de depreciar as outras.

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