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Da estrutura às práticas: a materialização de um projeto educativo

DA ESTRUTURA ÀS PRÁTICAS: a materialização de um projeto educativo

A proposta pedagógica e os atuais desafios da

A proposta pedagógica dos Colégios Jesuítas é aquela que objetiva formar a pessoa em sua integralidade. Ao olhar sobre a totalidade do humano, a tradição e a atualidade do modo de pensar e fazer educação, inspiradas na Pedagogia Inaciana, formam pessoas conscientes, competentes, criativas, compassivas e comprometidas, mediatizadas pelas dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa. A Rede Jesuíta de Educação, em suas 17 unidades presentes no território nacional, vivencia essa proposta com base em um currículo compreendido como evangelizador, no qual o conhecimento historicamente acumulado, bem como as vivências diárias, revertem-se em aprendizagens, as quais se materializam em vidas vividas para e com os demais. Nesse contexto, o Projeto Educativo Comum impõe o desafio da formação para a excelência.

A concretização desse projeto no Colégio Medianeira obedece à tríade sujeitos, tempos e espaços do aprender. Sem descuidar de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, a excelência da formação procura dialogar com as situações de contexto experienciadas por todos os sujeitos. Traz para o campo curricular a reflexão crítica, situada e criteriosa sobre os componentes; vincula a ação em uma perspectiva de compromisso para com a transformação individual e coletiva, e remete a uma criteriosa avaliação sobre o que temos proposto como aprendizagens sintetizantes e integradoras em nossas séries e componentes.

Somos conscientes de que trabalhamos com vidas, território sagrado e de inúmeras possibilidades pedagógicas. A utopia que nos move, bem como os valores que fundamentam a prática de todos os educadores, congregam ideais individuais e coletivas, sempre em vista do Magis, pois os conhecimentos e aprendizagens integrais aqui sistematizados, por mais incipientes que possam ser, vinculam- -se à vida de nossas crianças, adolescentes e jovens.

Em um contexto de mudança epocal cada vez mais intenso e dinâmico, por que e como pensar em projetos formativos? Qual o significado de um projeto pedagógico que forma integralmente? Onde nos apoiar e que perguntas realizar, a fim de termos segurança didática no que fazemos? Em que a tradição e atualidade da proposta pedagógica da Companhia de Jesus pode nos auxiliar a olhar para o futuro, conscientes de que o que estamos propondo possui significado para as vidas que temos em nossas mãos? O Colégio Medianeira considera que algumas das respostas para essas questões são fundamentadas em categorias estruturantes da nossa proposta pedagógica. Vamos aos diálogos:

A pessoa humana:

Se o currículo é evangelizador, a pessoa de Jesus Cristo se configura como fundamento da antropologia pedagógica que nos une. Mais do que uma soma de partes, a integralidade da proposta do Colégio é fundamentada sobre a totalidade do humano, em uma diversidade de dimensões. Tematizar o humano e pautar aprendizagens pertinentes e atuais nas dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa, alinhadas ao que há de mais atual em termos de proposta curricular, torna-se necessidade premente. Tais aprendizagens se configuram como eixo norteador do formar/aprender integral desse mesmo ser humano, compreendidas como horizonte formativo para com todos os nossos estudantes.

O conhecimento:

Novamente, mais do que uma junção de teorias e/ou conteúdos, precisamos discernir, analisar e sintetizar conhecimentos. Mais do que descrever ou explicar teoricamente, nossos estudantes são conduzidos à dimensão reflexiva. Para que esse conhecimento se transforme em aprendizagem, o mesmo precisa ser sistematizado em diferentes níveis de abstração,

desde a forma mais elementar àquela mais estruturada ao final da escolarização básica. Nossos estudantes, ao vincularem os conhecimentos produzidos às práticas de vida, aprendem a pensar, a ser, a fazer e a conviver. Tornam- -se críticos, e autores da sua própria história.

Os passos do método:

Se a sociedade atual e futura questiona sobre o lugar do humano, bem como sobre a pertinência do conhecimento, precisamos estar atentos ao método que fundamenta nossa ação. A proposta pedagógica da Companhia de Jesus, e aquela materializada no projeto pedagógico do Medianeira, compreende o método como caminho, como trilhar constante e questionador sobre a realidade. Atentos ao pressuposto da educabilidade humana, mais do que respostas prontas, preocupamo-nos com as boas perguntas. Ao questionarem e perguntarem sobre o todo, estudantes e professores sistematizam aprendizagens com fundamentos, sentidos e conexões. Compreendem que as ciências não se esvaem em si, mas se conectam em uma grande rede de sentidos. As metodologias resultantes são tanto reflexivas quanto ativas, transformando o Colégio em um grande ambiente de aprendizagem. Mais do que uma disciplina passiva e mecânica, educamos na autonomia responsável, mediada pelo aprender junto aos demais.

A sociocosmologia:

Em nosso marco situacional, o contexto é currículo. Consideramos a necessidade de educar para uma visão sobre o todo, de um pertencimento integrado e cuidadoso de uns para com os outros, com o espaço, com a cidade e com a nossa casa comum: formar seres humanos capazes de dialogar com a realidade circundante, preocupando-se e agindo localmente em um mundo consumista e de extrema descartabilidade. Além disso, olhar criticamente para o futuro da nossa gente, para “Curitiba 2035”, auxiliando nossos estudantes para que, por meio do conhecimento, sejam criativos e conscientes de seu papel social. Como dizia um dos Superiores Gerais da Companhia de Jesus, o sentido e a pertinência de um Colégio Jesuíta em uma determinada localidade está em seu diferencial: ao ser igual aos demais, perde o sentido de existir. Como Medianeira, consideramos que essa singularidade acontece no cotidiano curricular e pelo quanto formamos e transformamos localmente nesses tantos anos de história.

A ética:

Dos fundamentos às relações, a ciência da conduta que nos congrega tematiza pertencimentos, cuidados e atenção a cada um em sua individualidade. Nossa ética pedagógica traz a sacralidade da vida em sua diversidade de expressões, no respeito ao existir. Em contextos e relações cada vez mais digitais, de escanteamento do humano, de fake news e facilidades comunicacionais, garantir a centralidade de um agir ético pautado sobre a verdade, a justiça e a bondade é o princípio para a ação em nossa comunidade educativa. São demandas de extrema atualidade. A excelência almejada é uma só, desdobrada em duas dimensões – acadêmica e humana, perpassada pela coerência da ação.

As perguntas iniciais questionavam sobre sentidos e pertinências de projetos formativos, seguranças, tradição e atualidade pedagógicas. As cinco categorias elencadas (an

tropologia, epistemologia, metodologia, sociocosmologia e ética) são por nós compreendidas como alguns dos referenciais paradigmáticos mediante os quais a proposta pedagógica da Companhia de Jesus fundamenta o seu currículo. Ao olhar para o futuro, e atentos ao movimento da cultura/ contexto, a partir do espaço no qual nos situamos, tais categorias devem promover: (i) um projeto educativo com uma sólida visão antropológica, para além dos antropocentrismos reinantes, capaz de conjugar a vida em sua existência. Nossas crianças, adolescentes e jovens viverão em um mundo cada vez mais digital, com facilidades, possibilidades, incompletudes e marginalizações. A pergunta “o que é vida na atualidade?” deverá ser problematizada em nossos currículos, a fim de que horizontes compreensivos mais amplos sejam tematizados em uma perspectiva existencial integradora na relação vida-meio. (ii) Aprendizagens com sentido, em diálogo com a Base Nacional Comum Curricular, com abertura aos saberes e conhecimentos da realidade local. Mais do que saber o “o quê”, nossos estudantes precisam dominar o “porquê” das coisas, para que, seguros, possam refletir e tomar posição sobre o que estiver em jogo. (iii) O autoposicionamento com iniciativa própria sobre as situações diárias, de forma criativa e por via da comunicação com a devida assertividade. (iv) Uma postura integradora, justa e acolhedora sobre o mundo e sua realidade, agindo localmente e pensando globalmente. Formar redes, e redes de redes solidárias. Aqui, terreno fértil para um conhecimento vinculado ao mundo da vida, de modo que nossos estudantes, e futuros profissionais, impactem vidas e realidades. (v) Por fim, as relações, o sentimento de história, de pertencimento, de reconhecimento do

outro como extensão do eu. Mais do que defender posse ou porte de armas, precisaremos ensinar nossos pequenos a defender vidas, pois uma e única é a nossa regra de ouro.

Nomear alguns dos fundamentos pedagógicos que nos identificam, bem como algumas das aprendizagens decorrentes, foi o exercício aqui proposto. Atrevo-me a sintetizar tais ideias na perspectiva da formação de um cidadão global: que as cinco categorias elencadas nos provoquem a considerar a formação dos nossos estudantes naquilo que se configura como desafio para um futuro não distante – a educação de pessoas integradas, atentas a si mesmas e ao meio, e com um senso de responsabilidade para com a perpetuação da vida de todos nós. Nossa cidade e nosso país precisam de seres humanos líderes e sensíveis a tais causas. O projeto pedagógico

do Colégio Medianeira dialoga com as defesas aqui expostas, e a preocupação com a espiritualidade que nos congrega, o cuidado com os mais pobres e vulneráveis, a atenção às juventudes, bem como o olhar sobre a casa comum nos

auxiliam a preferenciar os horizontes possíveis dessa ação, a qual é experienciada desde o mais singelo projeto da Educação Infantil, até a excelência conquistada nos vestibulares em nosso Ensino Médio.

Se a verdade é um todo, como nos dizia Hegel, a educação não pode se furtar a essa tarefa. Atualmente, vemos em nosso país fabricantes de cervejas, de doces e automóveis também fazendo educação. Será esse o caminho para a educabilidade presente-futura? Estão eles certos? Em que nos diferenciamos? A proposta pedagógica da Companhia de Jesus e o projeto pedagógico do Medianeira nos conduzem ao exercício dessa busca, conscientes de que juntos – e compartilhando aprendizagens integrais – chegaremos mais longe, no direito universal a uma educação de qualidade. Pelo exercício re

Indicações

La pedagogia Ignaciana | José Alberto Mesa

flexivo das práticas coletivas, esta edição da Revista Mediação procura mostrar alguns dos caminhos que temos trilhado: das estruturas às práticas, a materialização de um projeto educativo.

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Fernando Guidini é graduado em Filosofia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus (2002). É Mestre (2010) e Doutor (2015) em Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Cursou as especializações em Formação de Assessores de Comunidades de Vida Cristã, pelo Instituto Teológico de Santa Catarina (2004) e em Comunicação e Semiótica: Teoria e Crítica da Sociedade da Informação, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2007). Atualmente, é membro de Equipe Pedagógica no Colégio Medianeira, atuando como Diretor Acadêmico.

Uma obra essencial para conhecer as origens, o desenvolvimento e o atual cenário da educação da Companhia de Jesus, apresentando textos que remontam a história de desafios e oportunidades do apostolado educacional, desde sua fundação até os dias de hoje.

The future of the professions | Daniel e Richard Susskind

Este livro prediz o declínio das profissões atualmente existentes, descrevendo o tipo de pessoas e os sistemas que as substituirão. No atual contexto de (r)evolução da Internet, médicos, professores, clérigos, consultores e muitos outros profissionais terão suas funções transformadas. Como nos compreendermos diante desse contexto?

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