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COM HISTÓRIA—WITH HISTORY Vale do Varosa

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Peso da Régua Capela de São Pedro de Balsemão

Ponte Fortificada de Ucanha

VALE DO VAROSA

O legado dos monges de Cister

The legacy of the Cistercian monks

Natureza suprema povoada de monumentos históricos que nos conduzem à fundação de Portugal e ao início da região vinícola que é hoje Património da Humanidade. Pelos caminhos que outrora foram dos monges de Cister, a rota do Vale do Varosa desvenda um notável património cultural que está agora restaurado e acessível a todos.

Na união das serras de Leomil e de Santa Helena, encontra-se o vale que se estende pela margem esquerda do rio Varosa e serpenteia toda a região até desaguar no Douro. Pelo caminho há vinhas e vinhedos verdejantes, campos com árvores de fruto que adornam a natureza, recantos e cenários soberbos, aldeias em perfeito equilíbrio nas encostas das montanhas e outras recolhidas no silêncio das pequenas planícies que as sustentam.

Quem percorre o Vale do Varosa em busca destas paisagens e da tão típica gastronomia nortenha depara-se, obrigatoriamente, com um conjunto de monumentos milenares de uma riqueza cultural e patrimonial incalculável. Neste roteiro, que nos dá a conhecer e vivenciar séculos de história, descobrimos as origens de Portugal e o princípio da transformação da paisagem que viria a resultar na região vinícola que é, desde 2001, reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade: o Alto Douro Vinhateiro. No Vale do Varosa, os monges de Cister e o ainda conde Afonso Henriques cooperaram na independência do então Condado Portucalense e na consequente fundação da nação portuguesa. Com efeito, a presença de Cister neste vale começa no século XII quando o conde Afonso Henriques concede, em 1140, carta de couto à primeira comunidade cisterciense da região. Nascia assim o Mosteiro de São João de Tarouca e, mais tarde, o vizinho Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. Monges agrónomos, com técnicas e modos de produção inovadores para a época, a comunidade cisterciense colocou todo o seu saber e conhecimento em prol do desenvolvimento vinícola da região, modificando a paisagem e começando a modelar o futuro do Douro. Durante centenas de anos a região prosperou sob o domínio da Ordem de Cister, contribuindo para a excelência que hoje lhe é reconhecida.

Mosteiro de São João de Tarouca

A supreme nature, populated with historical monuments, which leads us to the foundations of Portugal and to the very beginning of the wine-growing region, which is nowadays a World Heritage Site. Along the paths that once belonged to the Cistercian monks, the Vale do Varosa (valley) route reveals a remarkable cultural heritage that is now restored and accessible to all.

At the junction of the Leomil and Santa Helena mountain ranges, there is a valley that extends along the left bank of the Varosa river and winds through the entire region until it flows into the Douro. Along the way, there are green vineyards and winegrowers, fields with fruit trees that adorn nature, superb corners and scenery, villages in perfect balance on the slopes of the mountains and others collected in the silence of the small plains that support them. Anyone who travels throughout the Vale do Varosa (valley) in search of these landscapes and of the typical northern gastronomy, most certainly, is bound to come across a set of millenary monuments of incalculable cultural and heritage richness.

Parcialmente integrado na região do Douro Património da Humanidade, o Vale do Varosa contém no seu território não apenas as marcas da presença de Cister, mas também vestígios da herança romana e da arquitetura moçárabe. É o caso da Capela de São Pedro de Balsemão e das notáveis pinturas quinhentistas atribuídas aos designados “Mestres de Ferreirim”, no Convento de Santo António de Ferreirim. É este legado, que sobreviveu à extinção das Ordens Religiosas em 1834, que o projeto Vale do Varosa quer salvaguardar, devolvendo à fruição pública um extraordinário património histórico e arquitetónico, através do desenvolvimento sustentável de um turismo cultural de qualidade.

Preservar e divulgar um território histórico

Promovido pela Direção Regional de Cultura do Norte, em articulação com o Douro Património da Humanidade e sob gestão direta do Museu de Lamego, o projeto Vale do Varosa existe desde 2009 e foi criado para proporcionar ao público uma rede de monumentos que funcione de forma integrada, afirmando a região como um destino cultural de referência. Com esta abordagem, a região passa a ser olhada como um território histórico, detentor de um património único, que deve ser entendido e divulgado no contexto do Douro Património da Humanidade. Graças ao projeto, conseguiu-se recuperar o edificado que se encontrava degradado, foi feita a musealização do património, instalaram-se centros de acolhimento e interpretação e foi criada uma imagem personalizada. Seguiu-se a abertura ao público e a promoção do conjunto que agora funciona em rede. O roteiro começou por integrar os mosteiros cistercienses de São João de Tarouca e de Santa Maria de Salzedas e ainda o convento franciscano de Santo António de Ferreirim. Em 2014 juntaram-se ao projeto a Ponte Fortificada de Ucanha e a Capela de São Pedro de Balsemão. Um itinerário monumental apaixonante que percorre memórias milenares e cativa os visitantes da Região Duriense interior.

Mosteiro de São João de Tarouca

Localizado na encosta da serra de Leomil, hoje integrado na aldeia a que deu origem e nome, o imponente Mosteiro de São João de Tarouca conduz-nos numa viagem pelo tempo. Primeiro mosteiro masculino cisterciense edificado em território português, a sua construção iniciou-se em 1154 e as suas origens estão intimamente ligadas à fundação da nacionalidade e à figura de D. Afonso Henriques. Com dimensões invulgares para a época, o complexo monástico foi ainda largamente ampliado nos séculos XVII e XVIII, erguendo-se novos edifícios, dos quais sobressai um novo e colossal dormitório de dois pisos, único em Portugal. Com a extinção das Ordens Religiosas, a sucessiva decadência do edificado foi inevitável, mas a sua integração no projeto Vale do Varosa permitiu dar início a um longo e complexo trabalho de reabilitação. Após a sua total escavação arqueológica entre 1998 e 2007, uma das maiores realizadas em Portugal, em 2009 foi a vez da igreja do mosteiro ser requalificada, preservando a riqueza do seu interior, que é absolutamente fascinante com as suas paredes em azulejo, revestimentos de ouro e surpreendentes obras de arte, incluindo pinturas do famoso mestre Gaspar Vaz, de século XV. In this itinerary, which allows one to know and to experience centuries of history, one discovers the origins of Portugal and the beginning of the transformation of the landscape that would result in the wine-growing region, which, since 2001, is recognised by UNESCO as a World Heritage Site: the Alto Douro Wine Region. In the Vale do Varosa (valley), the Cistercian monks and the, at the time, the Count Afonso Henriques, they have collaborated in the independence of the then County of Portucale and in the consequent establishment of the Portuguese nation. Indeed, the presence of the Cistercians in this valley begins in the 12th century, when the Count Afonso Henriques grants, in 1140, a Carta de Couto (a Letter of Grant) of to the first Cistercian community in the region. Thus was born the Monastery of São João de Tarouca and, later on, the neighbouring Monastery of Santa Maria of Salzedas. Agronomist monks, with innovative techniques and methods of production for those times, the Cistercian community put all their knowledge and awareness in favour of the region's wine development, modifying the landscape and starting to shape the future of the Douro. For hundreds of years, the region has flourished under the rule of the Order of Cistercians, contributing to the excellence, which is recognised nowadays. Partially integrated into the Douro region, a World Heritage Site, the Vale do Varosa (valley) comprises in its territory, not only the mark of the Cistercian presence, but also traces of the Roman heritage, as well as Mozarabic architecture. This is the case of the Chapel of São Pedro de Balsemão and of the notable 15th century paintings accredited to the so-called Mestres de Ferreirim (the Masters of Ferreirim), in the Convent of Santo António de Ferreirim. It is this legacy, which survived the extinction of the Religious Orders, in 1834, that the Vale do Varosa project wants to safeguard, returning an extraordinary historical and architectural heritage for the public enjoyment, through the sustainable development of quality cultural tourism.

Preserving and promoting a historic territory Promoted by the Regional Directorate of Culture of the North of Portugal, in connection with the Douro World Heritage of Humanity and under the direct management of the Museum of Lamego, the Vale do Varosa project has existed since 2009. In addition, it has been created to provide the public with a network of monuments that work in an integrated way, upholding the region as a landmark cultural destination. With this approach, the region comes to be seen as a historic territory, holder of a unique heritage, which must be understood and disseminated in the context of the Douro World Heritage of Humanity. Thanks to the project, it was possible to restore the buildings, which had been degraded. The heritage was turned into a museum, reception and interpretation centres were installed and a personalised image was created. This was followed by the opening to the public and the promotion of the setting, which now works as a network. The itinerary began by integrating the Cistercian monasteries of São João of Tarouca and of Santa Maria of Salzedas, as well as the Franciscan convent of Santo António of Ferreirim. In 2014, the Ucanha

Convento de Santo António de Ferreirim Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

Em 2013 as ruínas foram transformadas em museu, e põem em evidência a grandiosidade do monumento. A Casa da Tulha, antigo celeiro monástico, acolhe o centro interpretativo, onde os visitantes podem ver a reconstituição tridimensional do mosteiro. Restituído todo o seu esplendor, o Mosteiro de São João de Tarouca, classificado como Monumento Nacional, é hoje um dos lugares mais procurados por quem visita a região do Douro e do Varosa.

Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

Grandioso e imponente, o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas emerge no centro da pequena povoação. Foi mandado erigir por Dona Teresa Afonso, esposa de Egas Moniz, o célebre tutor do primeiro rei de Portugal, que no século XII doou terra à Ordem de Cister. O início da sua construção data de 1168 e, ao longo dos séculos, o complexo monástico foi ampliado, destacando-se um novo e monumental claustro do século XVIII, com traço do arquiteto maltês Carlos Gimach. Fortified Bridge and the Chapel of São Pedro of Balsemão have joined the project. An enthralling monumental itinerary, which traverses millenary memories and captivates visitors to the inner Douro Region.

Monastery of São João of Tarouca Located on the slopes of the Leomil mountain range, nowadays part of the village it gave rise to and its name, the imposing Monastery of São João of Tarouca takes us back on a journey through time. The first Cistercian male monastery ever built in Portuguese territory, its construction began in 1154 and its origins are closely linked to the foundation of the Portuguese nationality and the figure of Dom Afonso Henriques. With unusual dimensions for the time, the

Sabia que...?

A igreja do Convento de Santo António de Ferreirim guarda no seu interior oito painéis pintados de um retábulo encomendado no início do século XVI pelo Cardeal-Infante D. Afonso, filho de D. Manuel. De acordo com documentos encontrados pelo historiador de arte Virgílio Correia, a autoria destas pinturas quinhentistas é atribuída a Cristóvão de Figueiredo, Garcia Fernandes e Gregório Lopes, denominados, por isso, “Mestres de Ferreirim”.—

Convento de Santo António de Ferreirim

A história deste convento franciscano começa em 1525, quando D. Francisco Coutinho, Conde de Marialva, faz a doação dos terrenos circundantes da sua torre senhorial para a construção do templo. De traça manuelina, da qual sobrevive o pórtico da igreja, o Convento de Santo António de Ferreirim tinha na sua composição original o claustro, entretanto desaparecido, a igreja e as dependências conventuais. Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1944, a igreja e o seu recheio foram restaurados em 2005 e a integração do monumento no projeto Vale do Varosa possibilitou a recuperação da restante área do convento, onde foi instalado o Centro Interpretativo. A intervenção criou ainda um acesso à torre, uma experiência que proporciona uma perspetiva única sobre o complexo conventual e uma vista encantadora sobre a paisagem envolvente.

Ponte Fortificada de Ucanha

É uma das passagens mais cativantes na rota do Vale do Varosa, um lugar especial que não deixa ninguém indiferente. A ponte fortificada que une as margens do rio Varosa na pequena aldeia de Ucanha foi das mais importantes vias de acesso medievais à cidade de Lamego.

No seu espólio contam-se trabalhos de alguns dos maiores nomes da pintura em Portugal, como Vasco Fernandes (Grão Vasco), Bento Coelho da Silveira ou Pascoal Parente. Hoje, essas obras encontram-se preservadas e restauradas, assim como todo o edificado. Classificado como Monumento Nacional em 1997, o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas é um dos mais belos legados do período cisterciense, de visita obrigatória. monastic complex was further expanded in the 17th and 18th centuries, with the erection of new buildings, of which stands out a new and colossal residence on two floors, unique in Portugal. With the extinction of the Religious Orders, the consecutive deterioration of the buildings was inevitable; nevertheless, its integration in the Vale do Varosa project allowed the start of a long and complex rehabilitation work. After its total archaeological excavation, between 1998 and 2007, one of the largest carried out in Portugal, in 2009 it was the turn of the monastery church to be reclassified. Preserving the richness of its interior, which is absolutely fascinating with its tiled walls, gold coating and amazing works of art, including paintings by the famous 15th-century master Gaspar Vaz. In 2013 the ruins were transformed into a museum and highlight the grandeur of the monument. The Casa da Tulha, a former monastic granary, houses the interpretative centre, where visitors can see the three-dimensional reconstitution of the monastery. Restored to all its splendour, the Monastery of São João of Tarouca, classified as a National Monument, is currently one of the most popular places for visitors to the Douro and of the Varosa regions. Monastery of Santa Maria of Salzedas Magnificent and imposing, the Monastery of Santa Maria of Salzedas emerges in the centre of the small town. It was ordered to be erected by Dona Teresa Afonso, wife of Egas Moniz, the famous tutor of the first king of Portugal, who in the 12th century donated land to the Cistercian Order. The beginning of its construction dates back to 1168 and, over the centuries, the monastic complex has been expanded, highlighting a new and monumental cloister from the 18th century, designed by the Maltese architect Carlos Gimach. Its collection includes works by some of the biggest names of paintings in Portugal, such as Vasco Fernandes (Grão Vasco), Bento Coelho da Silveira and Pascoal Parente. Today, these works are preserved and restored, as well as the entire buildings. Classified as a National Monument in 1997, the Monastery of Santa Maria of Salzedas is one of the most beautiful legacies of the Cistercian period, a must visit.

Convent of Santo António of Ferreirim The history of this Franciscan convent begins in 1525, when Dom Francisco Coutinho, Count of Marialva, donated the lands surrounding his manor tower for the construction of a temple. In the Manueline style, from which the church's portico remains, the Convent of Santo António of Ferreirim had in its original composition the church, the convent premises and the cloister, which has since disappeared. Classified as a Property of Public Interest since 1944, the church and its contents were restored in 2005 and the integration of the monument in the Vale do Varosa project made it possible to restore the remaining area of the convent, where the Interpretation Centre was placed. The intervention also created an access to the tower, an experience that provides a unique perspective on the convent complex, as well as an enchanting view over the surrounding landscape.

Did you know...?

Inside, the church has eight painted panels from an altarpiece commissioned in the early 16th century by Cardinal-Infante Dom Afonso, son of Dom Manuel. According to documents found by the art historian Virgílio Correia, the authorship of these sixteenth-century paintings is attributed to Cristóvão de Figueiredo, Garcia Fernandes and Gregório Lopes, for this reason so-called, “Masters of Ferreirim”. —

Sabia que...?

Ponte Fortificada de Ucanha

Esta foi a primeira ponte da Ibéria onde se iniciou a cobrança de portagem pela travessia de pessoas e bens. A receita revertia para o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas e a criação desse imposto esteve na origem da edificação da torre.—

Supõe-se que a primeira configuração deste monumento tenha sido realizada na segunda metade do século XII, altura em que esta parcela do território estava vinculada ao couto do Mosteiro de Salzedas. Contudo, o conjunto patrimonial que hoje conhecemos, data de época posterior, eventualmente do século XIV, período em que foi reconstruída a ponte e respetiva torre. O elemento mais original deste monumento é a coroação da ponte com uma torre, entendida como uma forma de controlo de pessoas e bens, através da cobrança de portagem para entrar no couto monástico do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. De planta quadrangular com três pisos, a torre dispunha à época de dispositivos militares nas quatro faces. Desde que a portagem foi extinta, em 1504, o monumento perdeu parte da sua função inicial e, ainda que o tabuleiro continuasse a ser o meio privilegiado de passagem na região, a torre entrou em decadência até à intervenção que restaurou o conjunto na década de 30 do século XX. A subida à torre constitui um momento único de contemplação das idílicas margens do Varosa, onde se aglomera o casario antigo da povoação de Ucanha, que em português arcaico designava uma pequena casa de pedra.

Capela de São Pedro de Balsemão

Perfeitamente integrada na pequena planície junto às margens do rio Balsemão, um afluente do rio Varosa, a Capela de São Pedro de Balsemão não goza da mesma harmonia no que toca às suas origens. Nos últimos cem anos, a historiografia divide-se em duas versões cronológicas antagónicas: a época visigótica (séculos VI-VII) e a expansão do reino asturiano (séculos IX-X). Ainda que a sua edificação tenha ocorrido num momento indeterminado da Alta Idade Média, uma coisa é incontestável: estamos Fortified Bridge of Ucanha This is one of the most captivating passageways on the Vale do Varosa itinerary, a special place that leaves no one indifferent. The fortified bridge that connects the two banks of the Varosa river, in the small village of Ucanha was one of the most important medieval access infrastructures to the city of Lamego. It is assumed that the first configuration of this monument was carried out in the second half of the 12th century, when this portion of the territory was linked to the enclosure of the Monastery of Salzedas. Nevertheless, the heritage setting that we know today, dates from a later period, possibly from the 14th century, when the bridge and respective tower were rebuilt. The most original element of this monument is the crowning of the bridge with a tower, which was understood as a way of controlling people and goods, by charging a toll to enter the monastic enclo-

Did you know...?

This was the first bridge in Iberia Peninsula where tolls were charged for crossing of people and goods. The revenue reverted to the Monastery of Santa Maria of Salzedas and the establishment of this tax was at the origin of the construction of the tower.—

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