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CRÓNICA—CHRONICLE Inês Meneses

PERFIL: Nasceu em Lisboa, mas é em Mindelo, Vila do Conde que guarda as memórias de infância. Aos 16 anos, iniciou um percurso na rádio, que concilia hoje com a escrita. Há 14 anos que conduz o programa “O amor é” ao lado do psiquiatra Júlio Machado Vaz. PROFILE: She was born in Lisbon, but her childhood memories are of Mindelo, Vila do Conde. At the age of 16, she began a career in radio, which she now combines with writing. For the last 14 years she has been leading the radio show “O amor é” alongside psychiatrist Júlio Machado Vaz.

INÊS MENESES

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Porto, um mapa afectivo

Porto, an affective map

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia. The author writes according to the old spelling.

O meu Porto está cheio de nostalgia, mas, ao mesmo tempo, veste-se de alegrias várias: sei bem que chão piso, os amigos com que conto, as mesas que se estendem com a conversa longa em toalhas bordadas com brindes ao amor, à saúde e à beleza. Ao Porto do presente tenho, ainda assim, de ir buscar passado: os passeios ao Bolhão de mão dada com o meu pai, entre o cheiro das flores, dos tremoços e das azeitonas. Os cestos em cascata na Rua de Alexandre Braga. Sá da Bandeira traz-me de volta tardes de chuva e uns croissants que só no Porto se fazem assim: são húmidos como a cidade. A humidade que se veste de calor humano a cada esquina. O Porto aonde sempre regresso ainda me lembra o tempo em que íamos comprar livros escolhidos a dedo e que nos enchiam as mãos, a cabeça e os sonhos. A Lello há muito tempo que era nossa, sem pressas. Salto neste mapa afectivo lembrando-me de quando eu e a minha mãe subíamos a 31 de Janeiro à procura dos sapatos difíceis, porque ainda só estavam desenhados na minha cabeça. O Porto é a minha infância. São os meus pais. Agora, mais do que nunca, são ruas redescobertas cheias de amigos. Uma caminhada para o futuro, onde sei que eles nunca me irão faltar. O Porto é um postal que trago no bolso e no coração. É meu. Não sou turista acidental. Sou intensa nesta relação – e possessiva. O Porto deixa (e sorri). •

My Porto is full of nostalgia, but, at the same time, it is dressed in various joys: I know well which floor I walk on, the friends I count on, the tables that are spread out with long conversation on tablecloths embroidered with toasts to love, health and beauty. To the Porto of the present I must, even so, go back to the past: the walks to Bolhão hand in hand with my father, among the smell of flowers, lupins and olives. The cascading baskets in Rua Alexandre Braga. Sá da Bandeira brings me back rainy afternoons and croissants that are only made like that in Porto: they are moist like the city. The humidity that is dressed with human warmth at every corner. The Porto I always return to still reminds me of the time when we used to go and buy handpicked books that filled our hands, our heads and our dreams. The Lello has long been ours, without haste. I jump on this affective map remembering when my mother and I used to go up the 31st January street looking for those difficult shoes, because they were still only sketched in my head. Porto is my childhood. It is my parents. Now, more than ever, it is rediscovered streets filled with friends. A walk towards the future, where I know I will never be lacking them. Porto is a postcard that I carry in my pocket and in my heart. It is mine. I am not an accidental tourist. I am intense in this relationship – and possessive. Porto allows (and smiles). •

The 327

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