Revista Abranet . edição 39 . nov/dez 2022 - jan 2023

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associação brasileira de internet abranet.org.br ano X . edição 39 . nov-dez 2022 / jan 2023

Um ótimo 2023 para todos nós – pessoas, empresas e país!

Nós, da Associação Brasileira de Internet, nos orgulhamos de estar sempre com um olhar posto no futuro, seja das tecnologias, seja dos negócios, sem deixar de lado o dia a dia como prestadores de serviços essenciais à população. Não por acaso estamos finalizando a estruturação de um Grupo de Trabalho sobre criptoativos, ideia nascida quase no final dos anos 2000 e que hoje cada vez mais desperta interesse, prometendo uma boa sacudida no mercado.

A primeira e mais óbvia utilidade dos criptoativos é como forma de investimento, muitas vezes de alto risco, mas com possibilidade de ótimo retorno financeiro. Eles também podem ser usados para fluxo internacional de valores, para proteger o dinheiro de oscilações diárias drásticas ou inflação e, quem sabe, como meio de pagamento, caso venham a ter um marco legal. Precisamos aprender sobre eles – e como aproveitar todo o seu potencial.

Com a recém-aprovação pelo Congresso do Projeto de Lei que regulamenta as operações com ativos virtuais no Brasil, nossa expectativa é que o texto entre em breve em vigor e que o regulador atue ativamente na elaboração das diretrizes mais detalhadas. É o tema da capa desta edição da Revista Abranet, apresentando um panorama e as opiniões de especialistas.

Também tratamos de um assunto muito caro a todas as empresas de internet – a inovação – e convocamos as startups para estarem ao nosso lado, com soluções que podem trazer disrupção e/ou mais eficiência. A Abranet faz uma ponte para aproximar associados e startups, encurta o caminho e mostra saídas.

Trazemos ainda um dado preocupante: no Brasil, as empresas de internet despontam no segundo lugar entre os setores que mais sofrem impactos por ransomware, atrás apenas da Saúde e, supreendentemente, à frente do Setor Financeiro. O que fazer? Quem é da área recomenda, no mínimo, manter os sistemas permanentemente atualizados.

De volta ao modelo presencial depois de dois anos de pandemia, o Futurecom 2022 foi o palco para a Abranet debater temas relevantes do segmento, desde meios de pagamentos, open finance e fusões e aquisições de empresas de internet a aplicações para casa conectada. Estivemos presentes também no IX Fórum, realizado pelo NIC.br, que mostrou que a maior parte das empresas de internet do País está na região Sudeste e 93% delas são micro ou pequenas empresas. O evento tratou ainda do impacto dos PTTs e das redes neutras e evidenciou que a adoção do IPv6 segue em ritmo abaixo do esperado.

Um novo ano, um novo governo. Muito trabalho nos espera para reforçar os pilares a partir dos quais construímos nossas empresas e fortalecer os nossos princípios pessoais. É tempo de reavaliação e também de celebração. A todos os associados e suas famílias, desejamos um ótimo 2023, com saúde e prosperidade.

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editorial

05 | abranet responde

O compliance precisa chegar à área trabalhista?

A pergunta é pertinente e a resposta é sim. Saiba o porquê.

06 | capa

CRIPtOAtIVOS: sua empresa pode e deve fazer

parte desse universo

Os ativos digitais avançam e formam um novo ecossistema financeiro que rompe vários estigmas do mercado no Brasil e no mundo. Entender esse universo é essencial para conseguir integrá-lo e tirar proveito dele.

12 | panorama

O mercado está mudando. E as empresas de internet precisam se adaptar. No IX Fórum, realizado pelo NIC.br em outubro, foi feito um diagnóstico do cenário atual do segmento. Os dados mostram que, hoje, há 12.826 empresas de internet no País, mas somente 7.007 têm declaração de acessos à Anatel. O evento tratou ainda do impacto dos PTTs e das redes neutras e evidenciou que a adoção do IPv6 segue em ritmo abaixo do esperado.

18 | negócios

Lado a lado com startups. Seguindo tendência de grandes companhias no mundo, a Abranet abre frente para trabalhar com empresas inovadoras de tecnologia da informação, internet e telecomunicações.

22 |

segurança

Contra os ataques hackers, atualize e... atualize de novo seus sistemas!

O Brasil sofreu 18,8 bilhões de tentativas de invasões de julho a setembro de 2022, um aumento de 111% em relação ao mesmo período do ano anterior. As prestadoras de serviços de internet estão entre os alvos principais. E 2023 requer muita atenção com o cibercrime como serviço (CaaS).

24 |

tendências

Futurecom: open finance, M&A e casa conectada. Diversidade de assuntos marca a participação da Abranet na edição deste ano do evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital.

26 | cone XÃ o

Brasil perde o talento de Danilo Doneda. Falta de padrões mínimos de segurança. Saúde: pouco uso de IA e big data. BC: pagamento pelo WhatsApp sem previsão. Preços caem, mas venda de PCs segue em baixa. Black Friday: vendas pela internet decepcionam. América Latina sofre 4 mil ataques de ransomware por dia. Finep e Sebrae anunciam fundo para inovação.

30 |

opini à o

A nova Nota Fiscal que substitui as notas 21 e 22

Por Bárbara Castro Alves, Gerente de processos regulatórios da VianaTel, consultoria especializada na regularização de ISPs.

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abranet responde

tem uma dúvida? q uer que um especialista da a ssociação b rasileira de i nternet responda? e screva para o a branet r esponde. o e-mail é abranetresponde@abranet.org.br

o compliance precisa chegar à área trabalhista? a pergUnta é pertinente e a resposta é sim. saiba o porqUê.

ComplianCe é a prática atual nas empresas atentas à governança, independentemente de seu tamanho e de sua receita financeira. Cada vez mais é crucial a adoção de técnicas de compliance na área trabalhista. Entre os benefícios de um programa dessa natureza, estão o compromisso com as leis vigentes, a ética e a disseminação da cultura da empresa – além de contribuir para um ambiente saudável entre os trabalhadores.

Objetivamente, compliance trabalhista é um programa de integridade pelo qual todos os trabalhadores são adequados às leis trabalhistas e à cultura da empresa. Ou seja, é um conjunto de regras e normas amplamente divulgadas, que gera transparência nas diferentes ações, como, por exemplo, na contratação e demissão.

“A adoção do compliance garante que as leis e obrigações legais de uma empresa sejam cumpridas por meio de estratégias individualizadas e que acarretam economia e lucro. Trata-se de um método diretamente relacionado à forma como a organização garante o cumprimento das normas e exigências legais e como isso é transmitido aos colaboradores e ao mercado como um todo”, explica Nitiele Genelhu, advogada da MBT Advogados Associados.

regras são conhecidas e divulgadas com transparência a todos os colaboradores.

“Tendo em vista que o ‘efeito manada’ geralmente se dá pela falta de consciência individual e a adoção de medidas genéricas, a implantação das técnicas de compliance pode minimizar esse efeito por meio de uma análise individualizada, traçando soluções e particularizando estratégias”, analisa a advogada.

Para se obter o resultado esperado, um projeto de

Compliance trabalhista garante que as leis e obrigações legais de uma empresa sejam cumpridas com transparência para os empregados e para o mercado

A adoção dessas medidas ajuda na diminuição do “efeito manada”, quando um funcionário insatisfeito contamina todo o ambiente de trabalho, uma vez que as

compliance trabalhista começa por um levantamento para entender quais são os pontos a serem trabalhados. Após esse estudo, é elaborado um programa para detalhar as medidas de forma clara e que garanta a segurança jurídica necessária para que a empresa e os empregados se sintam confortáveis e estabeleçam um relacionamento adequado mesmo em situações desconfortáveis como as demissões •

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Os ativos digitais avançam e formam um novo ecossistema financeiro que rompe vários estigmas do mercado no Brasil e no mundo. Entender esse universo é essencial para conseguir integrá-lo e tirar proveito dele.

CriPtoativos: sua empresa pode

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Roberta

A INSEGuRANçA que rodeou, no início, o bitcoin deu lugar ao surgimento de um ecossistema totalmente novo e do qual emergem modelos de negócios que desafiam a estrutura financeira tradicional. Criado em 2008, o bitcoin é o mais popular dos criptoativos e é apenas a ponta de um iceberg chamado ativos digitais. Com base em blockchain , que mantém registros de forma confiável e imutável, é um mercado que se desenvolveu de modo acelerado nos últimos anos. De acordo com a Statista 1, o número de criptoativos saltou de 66 em 2013 para 10.397 em fevereiro deste ano.

Esse mercado extrapola o universo dos criptoativos descentralizados, ainda que sejam eles os que , e as CBDCs (do inglês

nha cada vez mais força, é essencial para conseguir integrá-la e tirar proveito dela – e as possibilidades vão muito além de investimentos.

“Como toda inovação, no mercado financeiro e de pagamentos, os criptoativos têm inúmeras possibilidades de uso e oportunidades de negócio”, diz Carol Elizabeth Conway, diretora Regulatória e Institucional do Grupo UOL PagSeguro e diretora da Abranet. A primeira e mais óbvia utilidade é ser usada como forma de investimento, muitas vezes de alto risco, mas com possibilidade de ótimo retorno financeiro. “Nesses casos, conforme parecer recente da CVM [Comissão de Valores Mobiliários], os criptoativos seriam investimentos quando classificados como valores mobiliários, o que os sujeita à regulação da entidade”, detalha.

las tem suas particularidades e desempenha papéis

O fOcO da aBranEt

Outra finalidade é o fluxo internacional de valores (international flow of money). “Por ser uma área ainda muito cara e burocratizada, o uso de criptos tem exercido um importante papel. Vale lembrar que

A Associação Brasileira de Internet entende que a aprovação, em 29/11, do Projeto de Lei (PL) 4401/2021, que regulamenta as operações com ativos virtuais no Brasil, representa um avanço para o setor financeiro do país. Como já passou pelo Senado, a matéria segue para sanção presidencial ainda no governo Bolsonaro. A Abranet é favorável a esta regulamentação, já que a delimitação de conceitos e processos vai proporcionar segurança jurídica não somente ao setor de finanças, mas para toda a população brasileira.

Para a Abranet, “a aprovação do PL é um marco para o setor financeiro nacional e insere o Brasil em um grupo seleto de países que possuem uma legislação específica para regulamentar criptoativos. A expectativa da associação é de que o texto aprovado pelo Congresso entre em breve em vigor e que o regulador atue ativamente na elaboração das diretrizes mais detalhadas sobre o tema.”

A Abranet está estruturando um grupo de trabalho (GT) para discutir a criptoeconomia. A partir da formalização do GT, haverá uma ampla discussão sobre o tema. “Vamos trabalhar buscando o que é melhor para o ecossistema e, de forma isenta, fazer propostas para os reguladores e para o ecossistema”, aponta Karen Duque, head de Políticas Públicas da Bitso no Brasil e que participa da criação do GT.

É necessário também um processo de educação, que passa por desmistificar alguns pontos, como o de que cripto não é sobre pirâmide ou golpe, e mostrar como as transações usando os ativos digitais são mais baratas, mais rápidas e dão acesso à bancarização.

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1 https://www.statista.com/statistics/863917/number-crypto-coins-tokens/

no Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), está sendo implementado projeto experimental com Pix internacional, que tem potencial de ser uma iniciativa complementar e de sucesso”, aponta Conway.

A terceira utilidade dos criptoativos, segundo a diretora da Abranet, é como forma de proteger o dinheiro de oscilações diárias drásticas ou inflação. Em países que enfrentam muita volatilidade econômica e monetária, os criptoativos podem ser ativos de reserva de valor. Isso é comum por meio do uso de criptos que se baseiam no dólar.

“Uma quarta, mais polêmica, seria como meio de pagamento. Hoje, esse uso ainda traz riscos, como a desintermediação bancária e, principalmente, por não existir um arcabouço jurídico vigente no tema, que assegure PLD [Prevenção à Lavagem de Dinheiro], KYC [Conheça seu Cliente, na sigla em inglês para Know Your Customer ] e outros controles típicos do setor. Para isso ocorrer no Brasil, será necessário um marco legal, empoderamento do Banco Central do Brasil e sua atuação regulatória proporcional. Além disso, podem viabilizar as negociações remotas, como certificações NFT [si-

gla para Non-Fungible Token, ou Token Não-Fungível], contratos digitais ( smart contracts ) e outros incontáveis tipos de usos em negociações regionais e internacionais”, pondera a executiva.

divErsOs ativOs

Em uma explicação resumida, ativo digital é todo aquele ativo emitido única e exclusi-

Os passOs dO rEal digital

Do ponto de vista do Banco Central do Brasil, a CBDC (do inglês centralbankdigitalcurrency) é mais que uma nova forma de pagamento. “CBDC é um tema novo, e cada país tem uma definição diferente. Mas todos concordam que a moeda digital é expressão da moeda soberana”, afirmou Fabio Araujo, coordenador da iniciativa do Real Digital do Banco Central do Brasil (BCB), durante o Febraban Tech.

Trata-se de uma expressão do real junto com uma infraestrutura que interconecta serviços financeiros de hoje com novos serviços financeiros, do futuro, baseados em blockchain, web 3.0 e novas tecnologias. “A CBDC tem o papel de ser a expressão digital do real, controlada pelo BCB, o que reduz riscos e dá estabilidade. A CBDC é ativo fiduciário, mas na sua expressão digital, que é diferente de um criptoativo”, explicou Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e cripto da EY Brasil, também em palestra no Febraban Tech.

Na criação do real digital, uma das preocupações é com relação ao passivo nos bancos. Existe todo um arcabouço para garantir que o dinheiro depositado hoje esteja no banco para quando se quiser sacar. Ao tokenizar os depósitos bancários, registrar os depósitos em wallets, no ambiente digital, o passivo será também do banco, apontou Araujo.

Atualmente, os criptoativos têm funcionado mais como investimentos e não como meios de pagamentos. “Hoje, há o mesmo número de investidores em criptoativos que temos na B3. Caminhamos para entender que criptoativos vão ocupar espaço com muita força, mas ainda como investimentos”, ressaltou Talarico. Para ela, o fenômeno da tokenização, dando valor aos ativos para negociar e até para racionalizar digitalmente, é uma tendência forte. “Vamos caminhar para uma economia cada vez mais tokenizada e com diferentes tipos de tokens habitando este universo”, explicou a executiva.

O foco da CBDC nacional será o varejo, para que pessoas façam transações e, principalmente, contratos inteligentes,

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“Como toda inovação, no mercado financeiro e de pagamentos, os criptoativos têm inúmeras possibilidades de uso e oportunidades de negócio.”
Carol ElizabEth Conway
Diretora Regulatória e Institucional do Grupo UOL PagSeguro e diretora da Abranet

vamente em formato digital e, para sacá-la, é preciso fazer a conversão para o ativo fiduciário. Os criptoativos de livre flutuação têm no bitcoin seu principal expoente. Eles são descentralizados e o valor desse tipo de asset digital é definido, basicamente, por demanda e por procura. Por isso, ele apresenta tanta volatilidade.

Os criptoativos, relembra Karen Duque, head de Políticas Públicas da Bitso no Brasil e que na Abranet participa de um grupo de trabalho focado em cripto, decorrem de um projeto que começou a partir de uma histórica desconfiança de instituições tradicionais. “Satoshi Nakamoto, em seu famoso white paper, arruma o problema do duplo pagamento, garantindo através de uma série de marcas públicas em um livro-razão, sendo público e imutável”, conta. Nakamoto é o pseudônimo da pessoa – ou grupo – que criou o bitcoin (BTC), o primeiro criptoativo do mundo.

Para tentar eliminar o problema de volatilidade, as stablecoins nascem atreladas a um valor equivalente a um ativo fiduciário forte, como a USDC, que,

assim como a USDT, é uma stablecoin referenciada no dólar americano, sendo que a USDT é executada na blockchain Ethereum (ERC-20) e a USDC é executada em várias blockchain. Durante o Febraban Tech, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil deve lançar o real digital em 2024 (leia mais no box Os passos do real digital nesta página).

A redução do uso do papel moeda é uma das diretrizes para o real digital, que pretende tirar proveito do ecossistema de negócios de open finance. Extensão do real físico, o real digital será emitido pelo Banco Central, tendo custódia e distribuição pelo sistema de pagamentos. Tratase de um dinheiro programável que vai incentivar, entre outros, os contratos inteligentes. O BCB também espera prevenir e combater a lavagem de dinheiro.

A expectativa com relação ao real digital é seu uso para fomentar novos modelos de negócios. Diferentemente dos criptoativos, o real digital será emitido e circulado de forma centralizada como uma versão virtual da moeda soberana. “Com isso, se abre uma série de novos modelos de negócios e o estímulo ainda maior ao crescimento do va-

assinalou Araujo, do Banco Central. Ele disse que se espera também que o real digital inclua mais gente no mercado de investimentos e de crédito, como o Pix fez com transações digitais.

Ainda assim, Thamilla Talarico, da EY Brasil, diz que o foco principal não estará, a exemplo do que outros países fizeram, nas transações instantâneas – até porque o Brasil já conta com o Pix. “O BCB está olhando para a programabilidade para pagamento. A entrega contra pagamento é uma delas, tanto para ativos digitais como para ativos tokenizados. Hoje, você pode tokenizar uma debênture, uma ação, um imóvel. Os tokens representam a sua parcela naquele imóvel”, explicou Talarico.

“É a evolução natural e nossa CBDC não vai olhar para pagamento instantâneo, porque temos o Pix, mas vamos olhar para open finance, para serviços mais especializados e tendo o real digital como dinheiro programável. Com infraestrutura de programabilidade e liquidação mais eficiente de pagamentos, será possível colocarmos o primeiro pé na web 3. E é o caminho natural”, acrescentou a executiva da EY Brasil.

Fabio Araujo disse que há uma relação muito próxima entre Pix, open banking e real digital. “O Pix claramente foi a porta de entrada para as pessoas que começam a ter acesso a serviços de pagamento. Open banking é um passo adicional em direção à economia da informação, porque no open banking e no open finance você pode usar dados para ajudar a produzir serviços financeiros que possam te conhecer melhor e apontar o melhor produto”, explicou.

“Um passo além é como vou gerir o contrato, e aí entra a plataforma de liquidação inteligente, que é a CBDC. Com isso, você fecha o ciclo. Você traz as pessoas com Pix, você usa os dados para melhorar a adequação do serviços financeiros e com smart contract pode desenhar serviços adequados e oferecer dentro de ambiente DLT (sigla para DistributedLedgerTechnology ou tecnologia de livro-razão distribuído). Assim, fecha o arco de democratização financeira”, finalizou o coordenador da iniciativa do Real Digital do Banco Central do Brasil.

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rejo e consumo online”, pontua Carol Elizabeth Conway, da Abranet e do Grupo UOL PagSeguro. Ela ressalta que uma das vertentes é incluir no sistema pessoas que não são atendidas por serviços bancários.

Já Karen Duque destaca a necessidade de educar as pessoas sobre esse assunto, que não é trivial. Quando surgiu, a discussão sobre criptoativos era restrita a um grupo seleto e com foco em investimentos. Eram entusiastas e early adopters, mas hoje o círculo é muito maior. “As pessoas estão olhando não apenas para investimentos, mas como forma de proteção de investimentos versus inflação e como método de pagamento, começando a comprar coisas com criptoativo”, assinala Duque.

Citando o levantamento 2022 Global Crypto Adoption Index, a executiva da Bitso diz que o Brasil é o sétimo mercado de cripto no mundo, um salto em comparação com a 14ª posição em 2021. “Olhando para o mercado brasileiro, somente neste ano, os brasileiros investiram 200% a mais do que investiram em 2021 em cripto. Um quarto dos brasileiros está disposto a comprar serviços ou produtos usando cripto.”

No espectro mais amplo dos criptoativos, com estruturas descentralizadas, é possível esperar que a prestação de serviços de ativos virtuais tenha muitas vertentes – tais como intermediação, emissão, custódia, negociação e liquidação. “Por isso, podem gerar diversos novos negócios e beneficiar inúmeros mercados, principalmente o sistema financeiro, o sistema de pagamentos, o setor de investimentos, o setor varejista, dentre outros”, enumera Conway. Como consequência, espera-se que haja mais inclusão financeira, concorrência e eficiência.

As discussões incluem ainda identidade digital, assinatura digital, smart contracts , uso de algoritmos para automatizar processos a partir de técnicas de inteligência artificial, de aprendizado de máquina e de processamento de linguagem natural, além de metaverso. Esses são exemplos de temas inovadores que dialogam com ativos virtuais.

O que ainda está em debate é como tornar o cripto útil para ser usado além de investimentos e o que ele pode resolver na vida das pessoas. Para Ivo Corrêa, sócio da XVV Advogados e coordenador do comitê jurídico na Abranet, houve um amadurecimento muito grande do mercado, levando à compreensão desse ecossistema. “Cripto é uma

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Head de Políticas Públicas da Bitso no Brasil e integrante de grupo de trabalho na Abranet com foco em cripto

realidade que chegou para ficar; é um novo tipo de ativo que pode resolver problemas que existiam para fazer transações”, afirma.

Se antes havia muita desconfiança, hoje, o cenário é outro e a tendência é de crescimento. “Finanças descentralizadas, cripto, tokenização… tudo isso vai acontecer e as pessoas começam a compreender. Os bancos são termômetros e eles estão abrindo exchanges e lançando ativos”, completa Corrêa.

MarcO lEgal

O maior avanço dos criptoativos está diretamente ligado à segurança jurídica. Regular é um caminho para garantir que as preocupações que se tinham sejam combatidas e mitigadas. Aprovado em 29 de novembro, o projeto de lei 4401/21 deve conferir legitimidade e trazer regras específicas para o setor.

O PL estipula diretrizes para a regulamentação da prestação de serviços de ativos virtuais (criptoativos). A questão da segregação patrimonial das exchanges, a mais polêmica, foi rejeitada.

A análise que o mercado faz é de que se trata de um projeto bastante amplo, um “guarda-chuva”, trazendo definições do que são os ativos, as atividades das exchanges e o que elas podem fazer e estabelecendo que haverá um órgão do Poder Executivo para regular. Informalmente, todos apontam que o Banco Central assumirá este papel. “É um projeto geral, cuja ideia é dar um marco legal, focado nas empresas que oferecem serviços de

“Neste ano, os brasileiros investiram 200% a mais do que investiram em 2021 em cripto. Um quarto dos brasileiros está disposto a comprar serviços ou produtos usando cripto.”

ivo Corrêa

Sócio da XVV Advogados e coordenador do comitê jurídico na Abranet

compra e venda para garantir a legitimidade da atividade e a fiscalização”, resume Ivo Corrêa.

A aprovação deve aumentar a segurança para o investidor e criar um marco legal, o que atrai investidores maiores. “A expectativa regulatória e do mercado é que, quando os criptos funcionarem como meio de investimentos, serão de competência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Se forem adotados como meio de pagamento, espera-se que caberá ao BCB. Parece simples, mas há zonas cinzentas”, aponta Carol Conway.

Uma adoção maior dos criptos estava na dependência da aprovação de um marco principiológico tal qual o PL 4401/21, seguido por ato do Poder Executivo que divida as competências entre CVM e Banco Central do Brasil para, na sequência, emitirem uma regulação no tema, cada qual na sua esfera de competência. “O real digital e o Pix internacional também podem, indiretamente, afetar essas expectativas e gerar um impulso para a adoção de criptos pelos brasileiros”, pontua Conway.

Em outubro, a CVM divulgou o Parecer de Orientação 402, sobre criptoativos e o mercado de valores mobiliários. O parecer consolidou o entendimento da autarquia sobre as normas aplicáveis aos criptoativos que forem considerados valores mobiliários. Além disso, o documento apresentou os limites de atuação do regulador, indicando as possíveis formas de normatizar, fiscalizar, supervisionar e disciplinar agentes de mercado.

A caracterização de criptoativos é descrita como ativos representados digitalmente, protegidos por cripto-

grafia, que podem ser objeto de transações executadas e armazenadas por meio de tecnologias de livro-razão distribuído (DLTs, sigla para distributed ledger technologies ). Também apontou que, usualmente, criptoativos (ou a sua propriedade) são representados por tokens, que são títulos digitais intangíveis.

Outra faceta do marco legal dos criptos é que ele coloca o Brasil muito à frente de outros países, porque poucas nações regulam de maneira direta esse mercado. “O Banco Central tem tido uma postura mais aberta que outros bancos centrais e tem deixado claro que se interessa pelo tema, que tem relevância e que será útil. O BCB tem se posicionado muito abertamente sobre cripto”, avalia Corrêa.

Na mesma linha, Karen Duque, da Bitso, afirma que o PL tem a possibilidade de colocar o País na vanguarda. “Não estamos olhando aqui para a regulamentação que vai tentar modificar a tecnologia; não regular blockchain ou um ativo específico, mas, sim, a forma de atuar dos intermediários, olhando para segurança, para o funcionamento do ecossistema e não para a tecnologia”, destaca. A regulamentação vai guiar a forma como as empresas vão atuar no ecossistema dos criptoativos.

Como enfatiza Karen Duque, existe uma relação direta entre regulamentar o mercado para aumentar a confiança e massificar o uso. A comparação mais fácil e direta é com o início da internet, que, em um primeiro momento, também trouxe desconfiança, e foi preciso chancelar a legalidade da atividade. •

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“Cripto é uma realidade que chegou para ficar; é um novo tipo de ativo que pode resolver problemas que existiam para fazer transações.”
2 https://bit.ly/Parecer-de-Orientacao-40

O MErcadO Está MudandO.

E as empresas de internet precisam se adaptar

No IX Fórum, realizado pelo NIC.br em outubro, foi feito um diagnóstico do cenário atual do segmento. Os dados mostram que, hoje, há 12.826 empresas de internet no País, mas somente 7.007 têm declaração de acessos à Anatel. A maior parte – 35% – está na região Sudeste e 93% são micro ou pequenas empresas. O evento tratou ainda do impacto dos PTTs e das redes neutras e evidenciou que a adoção do IPv6 segue em ritmo abaixo do esperado.

EVENtO tRADICIONAL do segmento de internet, o IX Fórum, promovido pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e o IX.br (Brasil Internet Exchange) e que está em sua 16ª. edição, fez uma análise abrangente do mercado. Existem, hoje, 12.826 empresas de internet no Brasil, mas apenas 7.007 têm acessos declarados à Anatel. O levantamento mostra que 35% estão na região Sudeste e 93% são micro ou pequenas empresas (1 a 49 empregados). O total estimado de empresas de internet com presença em algum ponto de troca de tráfego (PTT, ou IX, na sigla em inglês para internet exchange ), passou de 1.289, em 2017, para 2.442, em 2020, segundo a mais recente pesquisa TIC Provedores.

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Roberta Prescott panorama

O IX.br proporciona a ligação direta, permitindo que muitos sistemas autônomos (AS) troquem tráfego diretamente. A interligação de diversos AS em um IX ou PTT simplifica o trânsito da internet e diminui o número de redes até um determinado destino. Isso melhora a qualidade, reduz custos e aumenta a resiliência da rede. No total, são 9.530 os ASNs (Autonomous System Number, ou Número de Sistemas Autônomos) alocados no Brasil e destes 5.633 têm conexões no IX.br, e únicos conectados no IX.br são 3.478. O IX.br, em outubro, estava presente em 35 localidades, somando 3.478 AS participantes. O tráfego gira em 26 Tbit/s por mês.

As empresas de internet vivem um momento de transição e sabem que é preciso se adequar aos novos tempos, ponderou o vice-presidente da Abranet, Eduardo Parajo. “O trabalho de desbravador feito pelas empresas de internet está chegando a um ponto de saturação. Temos de olhar quais oportunidades teremos, porque virou um ‘rouba-monte’, um conquistando o cliente do outro com algum

diferencial e serviço. O que fazer com os investimentos realizados, que estão pendurados ou enterrados?”. De acordo com Parajo, “é preciso criar uma dinâmica de mercado um pouco diferente. Sei que as pessoas [donos de provedores] consideram a rede um filho, mas temos de olhar adiante, porque tem mercado para crescer, há oportunidades.”

O vice-presidente da Abranet observou também que há uma sobra de ativos, de redes disponíveis, que podem ser oportunidade para fusões e aquisições ou novos modelos de negócios. E foi enfático: a palavra final é compartilhamento. “Não vão ter 1.200 pontos para fixar fibra ótica no poste. Sabemos que muitas operações hoje correm risco. Teremos de olhar, cada vez mais, para a forma como esse compartilhamento vai existir”, sinalizou.

É aqui que entram as redes neutras. A preocupação de muitas empresas de internet é como ficam a transparência e a concorrência em um cenário no qual companhias de redes neutras têm um cliente âncora ou incumbent. Segundo Parajo, há outros pontos a serem colocados à mesa,

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Veja a íntegra do painel “Redes Neutras”, realizado no IX Fórum 16: https://youtu.be/9k-Y_vp7Wla
“Não vão ter 1.200 pontos para fixar fibra ótica no poste. Teremos de olhar, cada vez mais, para a forma como esse compartilhamento [de redes] vai existir.”
EDuarDo Parajo Vice-presidente da Abranet
“Se o provedor não tiver cliente, a rede neutra não ganha dinheiro. A competição hoje é muito grande e você tem de ter diferencial; um deles é o atendimento.”
alEx juCius Chief Marketing Officer (CMO) da Fibrasil

como a preservação da competitividade e da concorrência e como se dará a tributação. “É locação que não tem ICMS ou é serviço de telecom que tem ICMS?”.

Ao avaliar o modelo de negócios das redes neutras, Parajo considerou que elas vão complementar a rede física que a empresa de internet tem. “Existe uma malha de infraestrutura, que não é das empresas de rede neutra, e que se precisa fazer algo com ela; é ativo que tem de ser remunerado”, destacou. Ele também defendeu que, dentro dos modelos de negócios de redes neutras, haja espaço para as empresas de internet buscarem a sua diferenciação. “A camada de IP, de backbone, a conexão com CDN, a forma como o provedor gera conteúdo é o que o diferencia. Há diferenciais em cada prestador de serviço, seja por latência ou rota escolhida; por isso, é importante deixar a porta dentro do lego que está sendo montado.”

transparência

As redes neutras começaram a ganhar notoriedade no Brasil, principalmente, com a atuação de três grandes empresas especializadas nessa oferta e oriundas da venda de ativos das operadoras: Fibrasil (Vivo/Telefônica), I-Systems (TIM) e V.tal (Oi). Do lado das empresas de internet, ainda há cautela e receio, mas encarar esse novo cenário é uma necessidade, como foi enfatizado no painel moderado

por Eduardo Parajo durante o IX Fórum.

Ficou claro que transparência deve ser a palavra-chave no relacionamento entre as empresas de internet e as de infraestrutura de fibra ótica. “Não estamos falando para os ISPs deixarem de construir nas cidades, mas, sim, para olharem as redes que existem e construir onde não tenha cobertura”, destacou Alex Jucius, Chief Marketing Officer (CMO) da Fibrasil, da qual a Telefônica é acionista. “Se o provedor não tiver cliente, a rede neutra não ganha dinheiro. A competição hoje é muito grande e você tem de ter diferencial; um deles é o atendimento”, completou.

Eduardo Grizendi, diretor de Engenharia & Operações da RNP, disse que a organização, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), firma parcerias com as empresas de internet para a construção, expansão e manutenção de redes metropolitanas dentro de alguns modelos, que podem ser de construção conjunta ou de permuta de fibras por manutenção. Ele lembrou que, dentro do Programa Amazônia Integrada e Sustentável (PAIS), a RNP construiu e compartilhou infovias de forma neutra.

O programa, segundo Grizendi explicou, prevê a construção de oito infovias na região amazônica. A RNP foi escalada e construiu uma infovia piloto para servir de modelo e boas práticas para as demais. “Implantamos a infovia 00, que ficou operacional em junho de 2022; é

ipv6: MErcadO Está atrasadO

Em 2023, celebram-se 25 anos da criação do IPv6, 15 anos do projeto IPv6.br e cinco anos da RFC 8200, que instituiu o IPv6 como padrão. Mas a adoção no Brasil caminha a passos lentos. Em sua apresentação no IX Fórum, Eduardo Barasal Morales, coordenador da área de formação de sistemas autônomos do Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologia de Redes e Operações (Ceptro.br/NIC.br), convocou a comunidade para unir esforços visando avançar no tema.

O tempo médio de espera na fila do IPv4, no LACNIC (sigla para Registro de Endereçamento da Internet para a América Latina e o Caribe), é de 661 dias e quem entrar hoje na fila de espera vai aguardar, pelo menos, cinco anos para conseguir o bloco IPv4, apontou Morales. “Estamos no fim do IPv4 em nível mundial, é esgotamento, e tem de esperar. Não tem por que não pensar em trabalhar com IPv6”, ressaltou. A recomendação é não esperar para partir para o IPv6.

Mundialmente, a adoção do IPv6 está crescendo de modo devagar, ainda que tenha havido um impulso à medida que se passaram as fases de esgotamento do IPv4. “É um crescimento linear. De um lado, é uma coisa boa, porque continua crescendo, mas não é uma coisa tão boa quanto esperávamos. Esperávamos que o IPv6 alavancasse e que nem precisaríamos estar falando dele em todos os IX Fórum”, disse Morales.

Veja esta apresentação em: https://youtu.be/XkrZjprcQaY?t=3926

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Com base em dados do APNIC, Google

e Facebook, a média de adoção mundial do IPv6 está na casa dos 40% e, segundo Morales, levaria ainda uns dois anos para chegar ao patamar dos 50%.

No Brasil, com relação à conectividade, a adoção também está em cerca de 40%, seguindo a média mundial. O crescimento no País começou em 2015, período que coincide com o esgotamento do IPv4. “O que realmente impulsionou o IPv6 foi a falta de endereços IPv4. E cada vez está faltando mais e mais.”

Grandes operadoras estão com altas taxas de implantação de IPv6 no mercado brasileiro, mas Morales ressaltou que, se essas companhias puxam a média para cima, os pequenos provedores de internet a puxam para baixo. “E esta situação não é apenas da América Latina.”

Quando se observa a adoção de IPv6 no aspecto de conteúdo, há também diferença entre os maiores e menores sites. Dentre os 500 sites mais acessados mundialmente, a implantação do IPv6 está perto dos 40%, mas, quando se aumenta o escopo para os mil sites, o percentual cai para 27%. “Estamos vendo as grandes operadoras de conteúdo colocando IPv6 e as pequenas, não. Isso é um ponto de alerta de como estimular a implantação do IPv6, também acompanhando a questão da conectividade.” No Brasil, a adoção de IPv6 no conteúdo está na casa dos 30% entre os 500 sites mais acessados.

Os números apresentados pelo NIC.br mostram que o total estimado de provedores que entregam IPv6 saltou de 922, em 2017, para 3.102 em 2020; e que a menor entrega de IPv6 está entre os provedores com menos de 300 acessos.

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“O consórcio [do PAIS] é aberto e estamos reabrindo processo para entrar novos consorciados que operem e mantenham a infraestrutura.”
EDuarDo GrizEnDi Diretor de Engenharia & Operações da RNP
“O que é novo e propomos é trazer o conceito de compartilhamento para a rede de acesso, FTTH, de conectar as nossas residências.”
DaniEl CarDoso CEO da I–Systems

um cabo fluvial que conecta Santarém/PA a Macapá/AP. O consórcio é aberto e estamos reabrindo processo para entrar novos consorciados que operem e mantenham a infraestrutura”, detalhou.

Daniel Cardoso, CEO da I–Systems, que tem a TIM como acionista, enfatizou que o conceito de rede neutra não é novo e que o compartilhamento já existe, seja no backbone, seja nas torres das móveis. “O que é novo e propomos é trazer o conceito de compartilhamento para a rede de acesso, FTTH, de conectar as nossas residências”, ressaltou. O executivo apontou que, no Brasil, existe uma dicotomia: entre 15 milhões a 20 milhões de endereços precisam ser conectados e não há fibra (ou ela é insuficiente) e muitos outros lugares têm fibra demais, levando a desperdício de recursos.

A neutralidade de rede se garante, segundo Rafael Marquez, diretor de Marketing da V.tal, empresa oriunda da Oi, pelo controle, pela gestão e pela existência de um comitê. Ele ressaltou que a Oi, apesar de deter 35% das ações, não

ruMO à MOdErniZaçãO

participa das decisões e não compõe o time executivo da V.tal. “Por conceito e por contrato, temos cláusula de não competição; somos atacadista puro”, ressaltou.

rEtEnçãO dE cliEntEs

A palavra de ordem para as empresas de internet é retenção de clientes, já que muitas praticamente esgotaram o número de casas passadas e aumentar a base significa captar assinantes de outras empresas. “Hoje, o provedor de internet está instalando menos, porque acabaram os assinantes. Virou ‘toma, toma’. Falta poste, há uma guerra de preço; precisa-se de mudança de rota e retenção é a palavra mágica”, ressaltou Lacier Dias, diretor-técnico da Solintel, assessoria especializada na obtenção de outorgas em telecomunicações.

Para Dias, a rede neutra talvez seja uma saída elegante deste processo e um caminho que pode ser trilhado por alguns ISPs. “Não adianta ficar nadando contra a corrente, tem muita rede subutilizada no País. É importante pensar em maneiras mais inteligentes de usar esta capacidade”, disse. No entanto, ele enfatizou que, por parte dos ISPs, ainda existe muito medo de o fornecedor de redes neutras se tornar concorrente. “As redes neutras não podem vender acesso”, frisou.

Segue em curso o movimento de modernizar os pontos de troca de tráfego no Brasil. Julio Sirota, gerente de Engenharia e Infraestrutura do IX.br (Brasil Internet Exchange), reiterou que ainda é atual a meta de implantar EVPN (sigla para EthernetVirtualPrivateNetwork) principalmente, em São Paulo, onde “pelo tamanho da rede, é importante ter este tipo de tecnologia.”

Segundo ele, houve avanços em 2022 e existe a possibilidade de testes e pilotos em 2023. A implantação em São Paulo vai demandar um tempo, cerca de dois anos, para adequação do parque de equipamentos e migração. De forma simplificada, uma arquitetura EVPN-VXLAN suporta conectividade de rede de camada 2 e camada 3 com escala, simplicidade e agilidade, ao mesmo tempo que reduz os custos de OpEx.

Sirota ressaltou que não haverá freezing operacional durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar, entre novembro e dezembro, mas há previsão para a Black Friday e a véspera, nos dias 24 e 25 de novembro. O freezing operacional permite dar a maior estabilidade possível nos pontos de troca de tráfego do IX.br durante períodos de grande movimento do tráfego internet e significa que as manutenções e configurações estão suspensas.

Veja esta apresentação em: https://youtu.be/XkrZjprcQaY?t=1816

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“Acreditamos no modelo de compartilhamento para evoluir. Se tiver de se apegar, se apegue a seu cliente e não ao roteador, porque é melhor se apegar ao que gera valor para o seu negócio. Para um país do tamanho do nosso, não existe uma única bala de prata para tudo”, enfatizou Cardoso, da I-Systems.

Alex Jucius, da Fibrasil, disse que os modelos de negócios foram feitos ouvindo os provedores. “Fizemos uma rede fixa virtualizada, repassando os ganhos de escala para o provedor. É um lego que o provedor monta como quiser. Durante muitos anos foi época de tirar pedido de internet; hoje não é mais. Provedor tem de ser inteligente para entender que o mercado, que a dinâmica mudou.” •

“Por conceito e por contrato, temos cláusula de não competição; somos atacadista puro.”

rafaEl MarquEz Diretor de Marketing da V.tal

“O provedor de internet está instalando menos, porque acabaram os assinantes. Falta poste, há uma guerra de preço; precisa-se de mudança de rota e retenção é a palavra mágica.”

OpenCDN busca descentralizar conteúdo na internet brasileira

A ENtRADA em operação em Manaus (AM) do OpenCDN, uma iniciativa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) para compartilhamento de infraestrutura visando aproximar CDNs de pontos de troca de tráfego (PTTs), beneficiou diretamente os usuários da região amazônica. O OpenCDN fica em datacenter da empresa de internet Bemol e começou a operar em maio de 2021.

“Começamos, no ano passado, com as caixas da Globo. com sendo as primeiras a chegar. Estávamos conectados ao PTT, fizemos acesso de redundância e nos tornamos um IX. Todo mundo pergunta qual é o nosso objetivo. Nós nos beneficiamos, mas o principal é gerar impacto social. Quando você consegue impactar as cidades onde está, fica mais fácil galgar novos passos”, relatou Jesaias Arruda, head of IT & Operations na Bemol e diretor na Abranet.

Com o OpenCDN, é possível levar mais conteúdo, entregar mais qualidade e de forma mais rápida, além de o projeto atender a qualquer tamanho de empresa. Depois da Globo.com, chegaram Netflix e Google, e a Akamai deve ser instalada em breve. Segundo Arruda, há conversas também com a Meta, dona do Facebook e Instagram.

“O OpenCDN teve um ponto primordial, que foi o de entregar internet na cidade e a pessoa poder assistir o filme dela na Netflix com 5 milissegundos de resposta. Isso é revolução”, atestou.

O impacto do OpenCDN em Manaus pode ser medido pelo tamanho da região. São, aproximadamente, 18 milhões de habitantes, distribuídos em 450 municípios, sendo que 79% dos domicílios e 83% dos usuários têm acesso à internet, dos quais 18% exclusivamente via rede móvel e 20% somente por Wi-Fi. A região amazônica é abastecida por apenas três rotas de internet que atendem os estados do Amazonas e Roraima.

O projeto OpenCDN tem como objetivo descentralizar o conteúdo na internet brasileira, e outras localidades devem receber o sistema em breve. “Nosso projeto é levar para 30 PTTs. Aos poucos, estamos ampliando”, disse Antonio Marcos Moreiras, gerente de Projetos e Desenvolvimento do Ceptro.br/NIC.br.

Atualmente, o projeto está em Salvador e Brasília, além de Manaus. Recife pode ser a próxima localidade. “Estamos tentando costurar acordos para outros OpenCDNs em cidades como Belém e Cuiabá,” relatou Moreiras. •

Veja a apresentação de JEsaias arruda em: https://youtu.be/uju8KvazO9g?t=543

Veja a apresentação de antOniO MarcOs MOrEiras em: https://youtu.be/uju8KvazO9g?t=2396

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startups Lado a lado com

A BuSCA PELA inovação e pela agilidade, enquanto o core business segue rodando, tem levado diversas empresas a se associarem a startups. Mais velocidade na hora de testar e implementar soluções é um dos objetivos dessas associações, seja por meio de parceria para coinovação, seja por meio de aquisição parcial ou total. A Abranet, seguindo essa tendência, está abrindo uma frente para trabalhar com startups de tecnologia da informação, internet e telecomunicações.

Telmo Teramoto, startup hunter na Liga Ventures, ingressou na entidade justamente com o desafio de levar aos associados a visão de inovação aberta e de como as startups podem ajudar nesse processo. “Por conta das transformações, que estão muito mais rápidas, muitas instituições têm procurado se relacionar com startups”, diz Teramoto, que assumiu como diretor de Inovação e Startups na Abranet.

As startups, segundo o executivo, podem agregar velocidade na implan-

18 abranet.org.br novembro-dezembro 2022 / janeiro 2023

tação de tecnologias porque têm expertise específica e também estrutura mais ágil. “Outro benefício é a startup enxergar modelos de negócios que a empresa tem dificuldade de enxergar ou de implantar. O caso mais conhecido é o da Kodak, que tinha desenvolvido uma câmera digital, mas isso significava canibalizar a venda de filmes. Existe essa dificuldade ou receio de implantar, porque pode matar uma parte do negócio”, acrescentaTeramoto.

cOMO EscOlhEr a startup?

A parceria ideal vai atender aos anseios da empresa. Por isso, é fundamental que ela saiba o que realmente quer ao se aliar a uma startup, o que vai desde escolher uma inovação mais disruptiva ou outra que aumente a eficiência. Saber qual dor se quer resolver é o primeiro passo.

Depois, existem caminhos a serem percorridos para encontrar a parceria ideal. “Algumas empresas criam áreas de inovação aberta que ficam

responsáveis por buscar as startups; outras usam organizações como a Liga Ventures, que tem o conhecimento específico e relacionamento com um grande número de startups”, relata Teramoto.

Também não há um modelo fixo de como a parceria vai se dar. Pode ser por meio de uma contratação tradicional, tendo a startup como fornecedor. Outras vezes, corporação e startup se unem para cocriar uma solução – e isso se dá, principalmente, quando a startup tem algo que vai na linha do que a corporação quer, mas sentam juntas para desenvolver algo específico. Uma terceira opção é investir, fazendo um aporte financeiro na startup ou até adquirindo-a.

Para o diretor de Inovação e Startups, as associadas podem se beneficiar da aproximação da Abranet

negócios
Roberta Prescott
Seguindo tendência de grandes companhias no mundo, a Abranet abre frente para trabalhar com empresas inovadoras de tecnologia da informação, internet e telecomunicações.

com as startups, uma vez que “a entidade está abrindo caminhos para que as empresas de internet conheçam novas tendências e se relacionem com startups de modo a endereçarem dores que estejam passando”, diz. A ponte que a Abranet está fazendo encurta o caminho e mostra saídas, com variadas frentes de inovação.

É importante, conforme ressalta Telmo Teramoto, observar alguns aspectos com relação à startup, como seu modelo de negócios e a expertise do time, o tamanho de mercado que está mirando para entender se ela vai conseguir ir em frente e qual seu estágio, para checar se ela está madura ou muito iniciante para construir algo em conjunto.

A seguir, algumas das startups abertas a trabalhar com os associados à Abranet.

“A Abranet está abrindo caminhos para que as empresas de internet conheçam novas tendências

BEEgOl: para melhorar a conexão

A PLAtAFORMA de inteligência artificial e machine learning para monitoramento e gerenciamento de redes de internet existe há cerca de quatro anos. Um de seus objetivos é ajudar as empresas a ter visão fim a fim dos problemas de suas redes, conforme explica Daniel Garcia, diretor de Marketing e Vendas da Beegol. A startup de software para melhorar conexões de internet recebeu em janeiro deste ano um aporte de R$ 11 milhões, em uma rodada liderada pela Indicator Capital, gestora brasileira de capital de risco, e a expectativa é que esse valor seja complementado em até 18 meses com mais R$ 11 milhões, chegando a um total de R$ 22 milhões.

A pandemia da Covid-19, quando muita gente passou a trabalhar de suas casas, somada ao avanço de streaming, sinalizou com muita ênfase a necessidade de alto desempenho do serviço de internet. “Algumas coisas que passavam batidas ficaram evidentes”, aponta Garcia. “As operadoras, por sua vez, têm alcance limitado para saber o que está acontecendo no acesso do cliente, na rede dentro da casa; não conseguem enxergar tudo integrado”, completa.

A startup enxergou nessa brecha uma oportunidade de negócio e criou uma plataforma baseada em aprendizado de máquina para monitorar e melhorar a qualidade da banda larga e do wi-fi do cliente. “Temos um agente em-

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e se relacionem com startups de modo a endereçarem dores que estejam passando.”
tElMo tEraMoto Diretor de Inovação e Startups da Abranet

barcado no modem e monitoramos o que está acontecendo no modem do cliente. Assim, quando algo acontece, a operadora já vê isso de forma integrada”, explica o diretor.

A Beegol tem parceria com a maior parte dos fabricantes de produtos de redes. Dessa forma, quando a operadora ou o provedor a contrata, ela aciona os fabricantes para incorporar o sistema no dispositivo, que já sai com o software embarcado. “O software manda informações para os servidores de machine learning e com IA fazemos as análises. Tanto as áreas técnicas podem receber alarmes com o que está acontecendo, como os clientes podem receber alarmes preditivos. Isso também pode ser posterior”, detalha. O software faz varredura no dispositivo para entender o problema e o comportamento.

A Beegol tem trabalhado com Claro, Tim e Algar, no Brasil, e há projetos no exterior, por exemplo, com a Deutsche Telekom e deployment nos Emirados Árabes. Com os associados da Abranet, a ideia é oferecer este mesmo serviço de monitoramento. “As startups têm tanto a configuração quanto o mindset e a agilidade para poder trazer as soluções que conseguem acelerar a inovação, porque elas têm liberdade para isso”, aponta.

Olhando para o futuro, a startup está começando a endereçar dispositivos de Internet das Coisas, vislumbrando um enorme mercado que se abre a partir da implantação de redes 5G. •

OctágOra: assistência visual remota

DE uMA CONVERSA entre amigos de longa data nasceu a ideia de criar uma solução de assistência visual remota, que combina recursos audiovisuais, inteligência artificial

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e sistema de gestão de atendimento. A tecnologia que a Octágora desenvolveu é usada pelos atendentes de call centers, possibilitando um atendimento interativo e visual por vídeo, evitando desperdício de recursos, viagens desnecessárias e visitas técnicas improdutivas.

“Todas as vezes que os clientes entram em contato com o pessoal do 0800, o atendente do call center não está vendo o que o cliente está vendo. Nosso software possibilita ao atendente, através da câmera do celular do cliente, enxergar isso”, conta Marcelo Izumi, diretor de Negócios da Octágora. Funciona da seguinte forma: o software dispara um link para o cliente por SMS ou WhatsApp, o cliente clica e habilita o sistema, autorizando o funcionamento da câmera. Quando isso é feito, o atendente consegue enxergar o que o cliente está vendo e o atendimento segue usando realidade aumentada.

Assim, o atendente pode instruir o procedimento, fazendo, por exemplo, marcações na tela, como uma seta, ou circulando algum cabo para mostrar o que tem de ser feito. Tais marcações aparecem na tela do celular do cliente. “O atendente vai instruindo, guiando o que pode ser feito, adicionando uma camada visual e interativa. Com isso, pode resolver o problema na primeira chamada, sem precisar abrir uma chamada técnica que gera custo e transtorno”, aponta Izumi.

Segundo ele, a Claro foi o primeiro case e, hoje, a startup tem a telco como cliente. “Eles validaram a solução colocando no atendimento do Net Virtua”, conta Izuma, um dos três sócios-fundadores. Os outros dois – Daniel Cussi e Celso Rosa – trabalharam juntos por cerca de dez anos e viviam diariamente as dores de uma central de atendimento. Foi quando decidiram pensar em novas formas para melhorar a experiência e a satisfação dos clientes e chamaram Marcelo Izumi, executivo experiente na área comercial e apaixonado por inovação e tecnologia.

O projeto começou entre 2017 e 2018, e a ferramenta foi lançada no mercado no começo de 2020. “Pouco tempo depois, semanas, explodiu a pandemia. E o confinamento, sem querer, impulsionou o crescimento da startup. Entramos para o portfólio de alguns fundos que nos apoiaram para escalar, pensando em um mercado

“As startups têm tanto a configuração quanto o mindset e a agilidade para poder trazer as soluções que conseguem acelerar a inovação, porque elas têm liberdade para isso.”
DaniEl GarCia Diretor de Marketing e Vendas da Beegol

muito promissor”, relata Izumi.

Sobre o relacionamento com a Abranet, o diretor da Octágora aponta que todos os provedores, sem exceção, têm algo em comum, que é a necessidade de melhorar o indicador de taxa de resolução de problema no primeiro contato.

First call resolution é o principal indicador e impacta em custo”, diz Izumi, fazendo referência ao fato de que, se o problema é prontamente resolvido, não é necessário arcar com os custos de se enviar (e pagar) técnico para se deslocar até o cliente, sem levar em conta o impacto para a experiência do usuário. “Temos interesse em estar perto da Abranet e dos provedores para eles usufruírem, aproveitarem a tecnologia que está chegando e muitos não conhecem ainda”, finaliza Izumi. •

fiEld cOntrOl: gestão da equipe em campo

FRutO DA insatisfação de clientes com atrasos em agendamentos e da falta de controle de algumas empresas na organização de suas equipes de campo, a Field Control foi criada pelos sócios Eduardo Santos e Luiz Freneda. Eles idealizaram a startup em 2017, pensando em uma ferramenta por meio da qual empresas com prestadores de serviços externos tivessem o total controle de seu time e aumentassem sua produtividade, eliminando gastos exagerados com papel.

“Muitas vezes, a experiência não é muito agradável. Nossa startup foi criada para melhorar a gestão das equipes em campo,

acompanhando os técnicos e criando rotas mais otimizadas; e isso facilita quem tem equipe trabalhando na rua”, conta Eduardo Santos, cofundador da Field Control, que já atende vários provedores de internet.

A Field Control fez parte de programa de aceleração dentro do polo de tecnologia da USP de Ribeirão Preto e também participou de programa junto com o Sebrae. “De lá para cá, crescemos bastante”, ressalta Santos. Hoje, são atendidas cerca de 2 mil empresas e a Field Control soma 80 colaboradores. “Somos a principal plataforma digital para serviços em campo e comercializamos como serviço. Você pode, por exemplo, acompanhar no mapa o horário previsto de chegada do técnico”, explica.

Santos avalia que se trata de um segmento promissor, uma vez que os consumidores estão cada vez mais exigentes com a experiência que terão. “Eles estão habituados a ter boa experiência do usuário em aplicativos de comida, de transporte. O consumidor está mais exigente e isso não vai ser diferente para o setor de internet”, pontua. Para ele, o benefício das empresas de internet ao adotarem a solução é ter mais competitividade e apresentarem um diferencial de mercado.

E como as startups podem ajudar as corporações? “Muitas vezes, as empresas, principalmente, as mais consolidadas estão presas ao seu modo e à sua cultura; isso envolve processos bem definidos. Quando fazem conexões com startups, ganham flexibilidade, o que permite uma cultura de inovação na organização. Para nós, é uma oportunidade de fazer mais negócios, desenvolvimento e levar soluções em que acreditamos como sociedade”, assinala. •

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“Temos interesse em estar perto da Abranet e dos provedores para eles usufruírem, aproveitarem a tecnologia que está chegando e muitos não conhecem ainda.”
MarCElo izuMi Diretor de Negócios da Octágora
“Quando fazem conexões com startups, [as empresas] ganham flexibilidade, o que permite uma cultura de inovação.”
EDuarDo santos Cofundador da Field Control

O Brasil sofreu 18,8 bilhões de tentativas de invasões de julho a setembro de 2022, um aumento de 111% em relação ao mesmo período do ano anterior. As prestadoras de serviços de internet estão entre os alvos principais. E 2023 requer muita atenção com o cibercrime como serviço (CaaS).

cOntra Os ataQuEs hacKErs,

atualize e... atualize de novo seus sistemas!

SOMENtE ENtRE julho e setembro, o Brasil sofreu 18,8 bilhões de tentativas de invasões, o que representa um incremento de 111% na comparação com o trimestre anterior e um acumulado de 50,3 bilhões de ataques no ano, de acordo com dados do último relatório do FortiGuard Labs, laboratório de inteligência em ameaças da Fortinet.

Atrás do Brasil, o México aparece na segunda posição, com 7,2 bilhões de tentativas de ataques no terceiro trimestre, seguido por Colômbia e Peru, com cerca de 4 bilhões cada, e, em terceiro lugar, Argentina e Chile, cada um com 3 bilhões. No total, a América Latina sofreu 43,2 bilhões de tentativas de ataques entre julho

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e setembro, um aumento de 93% com relação ao período anterior, quando foram registrados 22,3 bilhões.

De acordo com o gerente sênior de Inteligência Avançada da Fortinet, Douglas Santos, “o aumento das tentativas de ataques se deve, em grande parte, à exploração de vulnerabilidades conhecidas no Server Message Block (SMB), protocolo de bloco de mensagens do servidor Windows, da Microsoft, como a Double Pulsar.”

O FortiGuard Labs aponta que foram mais de 3 bilhões de detecções no país de exploração do SMB –que é usado para distribuir ransomware –, representando 25% do total registrado na América Latina. “A ex-

Prescott s egurança
Roberta
“A exploração de vulnerabilidades no Server Message Block (SMB) ocorre majoritariamente em máquinas com versões mais antigas do Windows.”
DouGlas santos Gerente sênior de Inteligência Avançada da Fortinet

alErta MáXiMO EM 2023

A Fortinet divulgou as tendências e previsões de seus especialistas do FortiGuard Labs para 2023. Segundo o relatório, de ataques alimentados pelo cybercrime-as-a-service (CaaS) a novas explorações de alvos não tradicionais – como dispositivos de borda de rede ou mundo virtuais –, o volume, a variedade e a escala das ameaças cibernéticas manterão as equipes de segurança em alerta máximo em 2023.

Um dos expoentes dessas novas explorações é o ransomwareas-a-service (RaaS), que irá disponibilizar um número crescente de vetores de ataque na dark web para alimentar o CaaS. Além da venda de ransomware e outras ofertas de malware-as-a-service, surgirão novos serviços à la carte, prevê o estudo. Outra projeção é que os operadores de ameaças devem contratar detetives na dark web para coletar informações sobre alvos específicos antes de lançar um ataque.

No Brasil, as empresas de internet despontam no segundo lugar entre os setores mais atacados, atrás apenas da Saúde, em que 1 a cada 42 organizações foi impactada por ransomware, um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Já entre as empresas de internet, 1 em cada 43 foi impactada, o que acende o sinal amarelo e faz com que o segmento tenha de se preocupar com medidas preventivas de segurança. Em terceiro lugar, aparece o setor financeiro (1 em cada 49 organizações foi afetada por ransomware, um aumento de 17% em relação ao ano passado).

ploração de vulnerabilidades no SMB ocorre majoritariamente em máquinas com versões mais antigas do Windows, sem patch de atualização.”

Ainda conforme Santos, no período, houve também um grande número de detecções de negociação de cifra SSL (Secure Sockets Layer) anônima e de varreduras de serviços DNS vulneráveis, com o objetivo de promover ataques distribuídos de negação de serviço (DDoS).

EXtOrsãO: riscO ElEvadO

O Brasil é um dos 10 países com maior incidência de ransomware no mundo. Alexandre Armellini, diretor de Red Team da Chipher, atribui o cenário à evolução tecnológica e à criatividade do brasileiro. “O cartão por aproximação, o pagamento via celular e wearables (dispositivos como relógios digitais, chips implantados etc.), por exemplo, vieram para ajudar as pessoas a ganharem mais tempo e mobilidade. Mas

não demorou para criminosos abrirem empresas com contas bancárias válidas, somente para obter máquinas de pagamento por aproximação que são utilizadas para roubar as pessoas em um ônibus ou metrô”, assinala. A Chipher sustenta que, em 2022, nos 10 primeiros meses, os casos de invasões cresceram 600% no mundo. Apenas nos Estados Unidos, a média de ataques diários ficou em 4 mil. Também adverte que identificar e rastrear cibercriminosos se torna cada vez mais uma tarefa muito difícil. “A polícia especializada se desenvolveu muito nos últimos anos, porém, a tecnologia e engenharia social utilizadas pelos hackers do mal evoluem na mesma medida das melhorias anticrime. A ousadia dos criminosos chega ao nível de criarem programas de recompensa para melhoria de seus ‘produtos’, tática conhecida como Bug-Bounty do Mal”, observa Armellini.

Para ele, ter profissionais bons e capacitados e seguir o mantra da segurança cibernética – atualizar-se e atualizar tudo sempre – é a principal receita para as companhias preservarem a segurança de seus dados. Ele também recomenda manter equipamentos bem dimensionados, políticas de segurança eficazes, testes de segurança, e monitoramento periódicos.

Antes de qualquer teste de segurança, ele enfatiza que devemos nos preocupar com as pessoas. “Realizar campanhas de conscientização e educação nas empresas, escolas e demais organizações é o primeiro passo para o sucesso da segurança cibernética, porque, na prática, o crime é organizado, e a segurança, nem sempre”, alerta. •

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“A ousadia dos criminosos chega ao nível de criarem programas de recompensa para melhoria de seus ‘produtos’.”
alExanDrE arMEllini
Diretor de Red Team da Chipher

Futurecom: OpEn financE, M&a E casa cOnEctada

Diversidade de assuntos marca a participação da Abranet na edição deste ano do evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital.

DE VOLtA ao modelo presencial depois de dois anos de pandemia, o Futurecom 2022 foi o palco para a Abranet debater temas relevantes do segmento, desde meios de pagamentos, open finance e fusões e aquisições de empresas de internet a aplicações para casa conectada, nicho que ganhou nova dinâmica com a possível evolução dos dispositivos usando o espectro do Wi-Fi 6.

“Temos acompanhado os prestadores regionais de telecomunicações,

Entrevista de EduardO nEgEr: https://youtu.be/tE4Oy9hegWi

Entrevista de EduardO paraJO: https://youtu.be/cnavdalve4w

que têm apresentado crescimento em várias regiões do País, mas chegou um momento em que esse crescimento não é infinito. Então, começamos a observar o movimento de fusões e aquisições”, avaliou o presidente da Abranet, Eduardo Neger.

De acordo com ele, a tendência é haver uma consolidação no mercado, formando empresas que atuem não só em âmbito local e municipal, mas também regional. “Assim, conseguem ganho de escala, de produtividade e condições financeiras para expandir os sistemas”, acrescentou.

Com mais de 12 mil empresas de internet no País, as fusões e aquisições vão seguir em alta. “As operações têm de ser rentáveis, e a escala é tudo neste jogo. Sempre vai haver espaço para empresas que atuam em nichos específicos”, observou o presidente da Abranet.

Mudanças cOM O 5g

O alcance do mercado de prestadores de serviços de telecom no Brasil está estimado em 60 milhões de

Futuro conectado só tem valia com impacto social

A CASA CONECtADA foi a protagonista do painel “Dispositivos ‘muito além de computadores’: bem-vindo à era da casa conectada, dos devices as a service, dos wearables, dos drones e do que mais está por vir”, realizado no Futurecom 2022, com mediação do presidente da Abranet, Eduardo Neger.

Completando três anos no Brasil, a assistente de inteli-

gência artificial Alexa, da Amazon, vem tornando o dia a dia das pessoas mais confortável, pontuou Talita Taliberti, country manager da Alexa Brasil. “Ela veio para promover conveniência e diversão no dia a dia das pessoas por meio de comando de voz, em uma linguagem natural, sem a menor necessidade de conhecimento em tecnologia. A Alexa não só trouxe conveniência, como também foi um agente transformador na vida de pessoas com necessidades especiais”, acrescentou Taliberti.

O debate contou ainda com a participação de Ricardo Takeyama, gerente de TI de CX Latam da Eletrolux; Jesus Barrios, Sales Engineering Manager, Home Networks Customer Experience Latin America, da Commscope; e Sérgio Cabral, executivo de Vendas da C-Data.

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Prescott t endências
Roberta

casas atendidas, tendo se expandido especialmente durante a pandemia. Com a volta do trabalho presencial e híbrido, houve um recuo da expansão, agravado pela fragilidade econômica que comprometeu grande parte da renda do consumidor.

O vice-presidente da Abranet, Eduardo Parajo, alertou para um período de transição, mas seguido por recuperação com a melhora da economia. Ele avaliou que haverá, certamente, uma consolidação nesse mercado, com muitas fusões e aquisições. Porém, para aproveitar essa onda, os pequenos prestadores precisam estar atentos à profissionalização e se mostrarem atraentes diante das grandes operadoras.

Em sua análise, ainda tem muito chão para a implementação do 5G de forma massiva, e, portanto, haverá tempo suficiente para que os prestadores revejam suas estratégias e façam acordos de mix de produtos com as operadoras, unindo fixo e móvel. “O mercado de empresas de internet não vai morrer”, avisou Parajo. •

MuitO chãO a pErcOrrEr

O open finance chega à sua quarta e última fase, que permite às instituições financeiras compartilharem informações sobre serviços e clientes, mediante autorização prévia. Segundo relatório do Banco Central (BC), atualmente, participam mais de 800 instituições e há 6,7 milhões de consentimentos ativos.

A evolução do open banking segue seu curso em direção ao open finance, mas ainda são necessários ajustes importantes. A preocupação gira em torno de questões que envolvem pontos críticos como regulação, educação e confiança, apontados por Priscila Faro, conselheira do Comitê de Meios de Pagamento da Associação Brasileira de Internet (Abranet) e representante da associação no Conselho de Open Finance do Banco Central.

Embora a implementação do open finance esteja acontecendo em quatro fases, o que dá fôlego ao consumidor para aprender sobre o novo cenário financeiro, ainda restam dúvidas e reticências. “Precisamos de mais divulgação. É preciso educar para trazer mais confiança, e, ainda assim, precisa ser bem divulgado para entrar na cultura do brasileiro. Com a conclusão das fases, tudo ficará mais claro e teremos uma evolução”, enfatizou a conselheira.

Para Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), mais do que educação financeira, em meio a essas inovações no setor, é preciso “atitude financeira”. E isso, segundo ele, vem da confiança consequente do conhecimento e da segurança no novo sistema.

“Open finance é um fenômeno muito mais amplo, que vai além de serviços financeiros e do popular Pix. Na prática, fazer com que o open finance tenha sucesso significa ampliar o crédito – e, assim, melhorar a qualidade dos serviços e a experiência do consumidor. Trata-se de uma mudança profunda e estrutural”, alertou Boanerges Ramos Freire, sócio-presidente da Boanerges & Cia. Na avaliação de Eduardo Prota, CEO da N26, o open finance tem muito chão a percorrer para gerar mais confiança.

Takeyama destacou a preocupação da Eletrolux em transformar a vida das pessoas. “Temos uma linha de eletrodomésticos conectados, que podem ser programados e com uma pegada forte de sustentabilidade. O refrigerador pode configurar a refrigeração de acordo com o tipo do alimento, por meio de app e a lavadora para uma melhor performance de acordo com o tipo de roupa, trazendo economia de tempo e de energia. Mas para tudo isso precisamos de infraestrutura de telecom”, destacou.

O executivo de vendas da C-Data, Sérgio Cabral, enfatizou a relevância da rede de fibra óptica. “O futuro promete muitos benefícios para pessoas e empresas, especialmente no agronegócio e logística, em cidades inteligentes, serviços públicos, mobilidade. E o 5G vai fortalecer todas

essas aplicações, mas não vai eliminar a fibra óptica, trabalharão em parceria.”

Barrios, da Commscope, destacou a importância dos sistemas de Wi-Fi nesse futuro altamente conectado, mas alertou sobre a necessidade de novos serviços que garantam ao mesmo tempo altas velocidades e muita segurança.

O presidente da Abranet, Eduardo Neger, disse que a entidade está envolvida na evolução para o Wi-Fi 7, que requer uma jornada regulatória. “Toda essa conveniência que discutimos, com sofisticação tecnológica, precisa ser popularizada, porque vai muito além do ‘luxo’, traz um impacto social, transformador que pode evoluir muito para incluir as pessoas com necessidades especiais, melhorando sua qualidade de vida por meio da tecnologia”, finalizou. •

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Brasil perde o talento de Danilo Doneda

O BRASIL PERDEu, no dia 4 de dezembro, o advogado, professor e diretor do Centro de Direito, Internet e Sociedade do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (Cedis/IDP) e membro do Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade, Danilo Doneda.

Doneda foi um profissional brilhante, que sempre buscava o consenso e o diálogo, mesmo em tempos áridos. Falava sobre os temas que estudava com um brilho sem igual nos olhos, desde o Marco Civil da Internet, passando pela Lei Geral de Proteção de Dados e, por

fim, em seu último trabalho, a elaboração do Marco Legal da Inteligência Artificial.

Que o seu legado, seu talento e seu esforço por regras transparentes e favoráveis à sociedade na privacidade e proteção de dados se transformem em missão para o Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade, com papel relevante junto à Autoridade Nacional de Proteção de Dados. A Abranet lamenta profundamente a perda desse profissional talentoso e íntegro •

Falta de padrões mínimos de segurança

NIC.br examinou 2.911 servidores de e-mail e apenas 49 estavam com padrões de segurança em dia

O DADO é impressionante em tempos de ataques hackers em massa. A ferramenta TOP, lançada há um ano pelo NIC.br para analisar se os serviços estão aderentes aos parâmetros técnicos internacionais mais modernos, revelou que menos de 1% dos 2.911 servidores analisados estão adequados.

O restante possui brechas de vulnerabilidades perigosas. Na prática, contou Milton Kashiwakura, diretor de projetos do NIC.br, apenas 49 servidores estavam adequados. Kashiwakura participou do Cyber Telecom, fórum de segurança cibernética, realizado pela Network Eventos e pelo Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).

“É um número extremamente preocupante. Muitos desses servidores estão sendo usados por cibercriminosos sem que as empresas saibam, por falta de controle de padrão”, destacou. E não são apenas os servidores de e-mail que estão em risco. Os próprios domínios de internet estão vulneráveis. Dos 10.643 sites avaliados, apenas 302 passaram no teste de conformidade, o que significa pouco menos de 3%. “É um risco enorme que

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precisa ser combatido o quanto antes. É uma baita brecha de vulnerabilidade para os hackers”, acrescentou o coordenador de projetos do NIC.br, Gilberto Zorello.

Lançada há pouco mais de um ano, a ferramenta TOP analisa se os serviços de internet estão aderentes aos parâmetros técnicos internacionais mais modernos, que aumentam a confiabilidade e permitem o crescimento da rede. Após as verificações, a ferramenta fornece um diagnóstico detalhado, além de orientações sobre quais medidas podem ser tomadas caso a empresa precise melhorar os serviços ofertados. O acesso é gratuito: https://top.nic.br/

No teste de sites, é possível identificar se eles são acessíveis via endereço IP moderno (IPv6), se os nomes dos domínios são assinados, se a conexão é confiável e se as opções de segurança de aplicação estão configuradas. O mesmo ocorre com a opção que testa serviços de e-mails, que mostra se há proteção contra phishing. Já para os serviços de conexão, a ferramenta avalia se a operadora ou o provedor de internet, por exemplo, já aderiu ao IPv6 e usa DNSSEC, que assegura o conteúdo do DNS, prevenindo ataques como roubo de informações de terceiros ou alteração de dados em compras eletrônicas. •

cone XÃ o

Saúde: pouco uso de IA e big data

A NOVA EDIçãO da pesquisa TIC Saúde, lançada em dezembro, investigou o uso de novas tecnologias pelos estabelecimentos do setor. A análise de big data continua sendo um recurso usado por um número reduzido de estabelecimentos, cerca de 6% do total, com aplicações concentradas no setor privado.

Em um universo de 120 mil estabelecimentos investigados pela pesquisa, cerca de 7.600 utilizam esse recurso, sendo que, destes, em torno de 5.700 são estabelecimentos privados. A principal fonte de informações são os dados dos estabelecimentos, tanto os provenientes de fichas cadastrais, formulários e prontuários (76%) quanto os provenientes de dispositivos inteligentes e sensores (74%).

Já recursos de Inteligência Artificial são utilizados por cerca de 3.500 dos estabelecimentos de saúde. Essa tecnologia também está mais presente nos estabelecimentos privados (cerca de 3.200), enquanto a robótica é utilizada por cerca de 4.700 (em torno de 3.300 são privados).

A pesquisa foi conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). As entrevistas ocorreram entre abril e outubro de 2022 com 2.127 gestores de estabelecimentos de saúde localizados em todo o território nacional. A pesquisa também entrevistou 1.942 profissionais de saúde . •

BC: pagamento pelo WhatsApp sem previsão

O BANCO C EN t RAL do Brasil (BCB) autorizou a alteração no regulamento dos arranjos de pagamento da Mastercard como parte do processo de implementação dos pagamentos de pessoas para lojistas via WhatsApp. O regulador afirmou, no entanto, que o processo de liberação da nova funcionalidade segue em andamento e não há previsão de quando isso deve ocorrer.

A mudança nos regulamentos das bandeiras é apenas uma das etapas necessárias para a implementação dos pagamentos de compras por meio do aplicativo. No mês passado, o BCB já havia liberado a alteração no regulamento da Visa. Ainda há discussões regulatórias em curso e, em paralelo, o WhatsApp vem realizando testes com diferentes credenciadoras.

Segundo o BCB, a mudança nos regulamentos foi “um primeiro passo”, mas o serviço de pagamento “continua sobrestado até que outros requisitos regulatórios aplicáveis, especialmente aqueles relacionados a aspectos concorrenciais e não discriminatórios no credenciamento, tenham seu cumprimento comprovado pelas instituições envolvidas”. O órgão disse ainda que “não há previsão para tal liberação visto que esses requisitos dependem de ações a serem adotadas pelas instituições envolvidas”.

Quando liberada, a função de pagamentos de pessoas para lojistas por meio do WhatsApp se juntará à realização de transferências de recursos entre usuários, autorizada em março de 2021. Fontes a par das discussões afirmam que o BCB quer se assegurar de que todas as credenciadoras possam participar igualmente do processo. Quando as transferências entre pessoas entraram em funcionamento, o WhatsApp havia fechado uma parceria com a Cielo. A opção de pagamentos para empresas, no entanto, deve ter início já com concorrentes operando . •

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Preços caem, mas venda de PCs segue em baixa

O MERCADO brasileiro de PCs se manteve em baixa no terceiro trimestre de 2022. Durante os meses de julho, agosto e setembro foram vendidos cerca de 2,18 milhões computadores, uma queda de 5% em relação ao mesmo período de 2021 e de 10% frente ao segundo trimestre deste ano.

Do total, 585 mil desktops foram comercializados no período, o que representou uma alta de 35% sobre o terceiro trimestre do ano passado, mas que não foi suficiente para compensar a queda de 14% em notebooks, que só venderam 1,59 milhão na mesma comparação. Os dados são do IDC Brasil.

Segundo o estudo, os resultados do mercado corporativo foram positivos, com crescimento de 12% em relação ao terceiro trimestre de 2021 e 1,06 milhão de

Black Friday: vendas pela internet decepcionam

AS VENDAS DA Black Friday 2022 decepcionaram o comércio online brasileiro: segundo dados da Neotrust, o faturamento durante o período foi de R$ 3,9 bilhões, uma queda de 25% em relação a 2021, quando bateu os R$ 5,2 bilhões.

Já nos Estados Unidos, onde a data surgiu, as vendas pela web bateram recorde: chegaram a US$ 11,3 bilhões – o equivalente a quase R$ 60 bilhões. Os dados da Adobe Analytics, que monitora transações na internet, apontaram uma alta de 5,8% em comparação ao ano passado.

O cartão de crédito esteve entre as formas de pagamentos mais usadas pelos consumidores

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unidades vendidas. Porém, o varejo sofreu com uma queda de 17% e fechou o período com 1,12 milhão de máquinas comercializadas. Quanto aos preços, no terceiro trimestre os custos médios dos desktops e notebooks diminuíram e foram similares, de R$ 3.420 e R$ 3.470, respectivamente.

Entretanto, mesmo com os computadores de mesa 2% mais baratos e os laptops custando 22% a menos do que no terceiro trimestre do ano passado, as reduções não foram suficientes para elevar as vendas. A receita total do mercado de computadores no terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 7,55 bilhões, cerca de 23% menor em relação ao mesmo período do ano passado.

Para a IDC Brasil, a queda de 5% no 3º trimestre indica uma leve retração do mercado de PCs no restante do ano em relação a 2021. “A deterioração econômica global pressiona muito o Brasil, impactando principalmente os juros e a inflação. Há também de se pesar o contexto das eleições, que mobiliza a sociedade e impacta as decisões de investimento das empresas”, completa o gerente de pesquisa da IDC Brasil, Reinaldo Sakis. •

brasileiros (54,2%), seguido pelo Pix (15,7%) e boleto bancário (13,8%). Os dados da Neotrust indicam que as TVs de 50 e 55 polegadas foram as responsáveis por 46% do faturamento de televisores. A categoria de telefonia perdeu 4,6 pontos percentuais de participação em faturamento de e-commerce comparado ao mesmo período do ano anterior. Ao mesmo tempo, beleza e perfumaria tiveram alta.

A performance ruim é justificada. “O Brasil está passando por um processo de transição de governo e incertezas sobre o futuro econômico. Além de alta nas taxas de juros, queda na renda, nos salários e uma Copa do Mundo em novembro – tudo no mesmo ano, coisa que nunca aconteceu e pode afetar tudo”, assinala o professor do Insper e especialista em varejo, Silvio Laban . •

faturaMEntO da BlacK fridaY
2021 R$ 5,2 bilhões 2022 R$ 3,9 bilhões

América Latina sofre

4 mil ataques de ransomware por dia

uMA MéDIA de 4 mil ataques de ransomware são registrados por dia na América Latina, de acordo com os dados da Kaspersky, relativos aos primeiros oito meses do ano. Essa quantidade representa um decréscimo de 28% em relação ao mesmo período de 2021, e o Brasil está na lista de países que registram essa tendência de queda. Para os especialistas da empresa, os criminosos

estão focando cada vez mais em ataques direcionados e lucrativos e no desenvolvimento local de ransomware voltados a atacar instituições latinoamericanas dos setores público e privado.

O estudo mostra também que os criminosos latinos estão criando seus próprios ransomware, e o ChileLocker é o principal destaque desta tendência –ganhou o nome do primeiro país que registrou ataques dele, em agosto de 2022. Essa família de ransomware latino tem a capacidade de roubar credenciais salvas em navegadores, mapear servidores e dispositivos na rede para criptografá-los e evitar a detecção do antivírus por meio de uma função que permite o agendamento da execução do ransomware •

Finep e Sebrae anunciam fundo para inovação

A F INANCIADORA de Estudos e Projetos (Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) e o Sebrae anunciaram o Fundo Garantidor focado em inovação, o FAMPE Inovacred. Voltado para os financiamentos descentralizados da Finep/ MCTI, o fundo tem patrimônio inicial de R$ 160 milhões, sendo R$ 80 milhões da Finep/MCTI e R$ 80 milhões do Sebrae.

O FAMPE (Fundo de Aval à Micro e Pequena Empresa) Inovacred vai operar de forma descentralizada através de agentes financeiros. Segundo o superintendente da Área de Crédito da Finep, Miguel Haum, levantamentos realizados pela Finep em parceria com o Sebrae apontaram que mais de 60 mil pequenos negócios no País querem inovar em produtos e processos, mas têm grande dificuldade no acesso a crédito, principalmente pela exigência da apresentação de garantias.

Por meio do Fundo, os interessados poderão adquirir a garantia de que necessitam dos agentes financeiros Finep a um custo máximo de concessão de 5% da operação. Em contrapartida, o Fundo cobrirá até 10% da inadimplência das operações (o chamado stop-loss ). Serão apoiadas empresas com faturamento de até R$

4,8 milhões, em projetos de até R$ 1,5 milhão. As operações poderão ter prazo de até 10 anos.

dEManda das EMprEsas dE intErnEt

Além de ter como foco um grande número de pequenas e médias empresas que precisam investir em inovação, a existência de fundos garantidores tem sido uma demanda das empresas de internet e dos pequenos prestadores de serviços de telecomunicações nos últimos anos. Esse mercado já contou com fundo garantidor emergencial proposto pelo MCTI e com linhas do BNDES lastreadas no Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações).

A inexistência de um fundo garantidor foi durante anos um obstáculo para esse mercado. A Finep, por sua vez, tem procurado atender os provedores regionais com linhas de financiamento, tendo em vista a necessidade intensiva de capital para expansão nessa área. Em setembro, a financiadora anunciou uma nova linha de crédito voltada para este mercado, com o valor de crédito começando em R$ 150 mil para a compra de equipamentos de infraestrutura produzidos no Brasil. • (Fonte: portal Tele.Síntese)

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opini à o

Bárbara Castro Alves

Gerente de processos regulatórios da VianaTel, consultoria especializada na regularização de ISPs

a nova nota Fiscal qUe sUbstitUi as notas 21 e 22

A adoção do modelo 62, que se torna obrigatória em 2024, mas já pode ser homologada a partir de 2023, elimina etapas para as prestadoras de serviços de telecomunicações e traz mais transparência.

é CuRIOSO que dois dos setores que mais avanços tecnológicos apresentaram nas últimas décadas ainda sejam tributados a partir de uma legislação que permaneceu inalterada por quase 20 anos. A prestação de serviços de comunicações e telecomunicações envolve, respectivamente, a emissão das notas modelos 21 e 22, regidas pelo convênio ICMS 115, de 2003. Datada, a norma passa por ajustes, trazidos pelo Sinief nº 07/2022, de abril, que cria, em substituição às duas, a Nota Fiscal Fatura Eletrônica de Serviços de Comunicação, modelo 62. Embora só vá se tornar obrigatória a partir de 2024, as prestadoras de serviços de telecomunicações já podem iniciar a homologação do novo modelo para usá-lo no início de 2023, o que, além de possibilitar a adequação antecipada à mudança, traz uma série de benefícios.

Há tempos discutia-se a necessidade de se alterar o convênio 115 que, por diversos fatores, gerava situações inusitadas. Criado há 19 anos a partir da resolução do Conselho de Política Fazendária (Confaz), teve adesão parcial. Desta forma, sua implantação foi realizada em diferentes momentos – e de diferentes formas – pelas unidades da Federação. Algumas só o fizeram no final da década de 2010. O último estado a aderir foi Pernambuco, em 2017.

O anacronismo do convênio gerava também uma sé-

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rie de dúvidas às prestadoras de serviços de telecomunicações. Uma era a definição do que eram serviços de comunicações e de telecomunicações, sem o que não era possível saber se a nota a ser emitida era a 21, a 22 ou ambas, caso se prestasse mais de um tipo de serviço. A Lei Geral de Telecomunicações (9.472/1997) define, em seu artigo 60, telecomunicação como “a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza”. No entanto, a caracterização dos serviços cabia a cada secretaria da Fazenda, o que gerava interpretações distintas e impediam a adoção de um entendimento único válido para todo o País.

Em São Paulo, por exemplo, para fins tributários, a definição não se baseia nas características de cada atividade, mas sim em como se dá a cobrança. Para serviços que têm valores predefinidos, o modelo a ser utilizado é o 21 (comunicação), sendo que a nota deve ser emitida antecipadamente. Já o 22 (telecomunicações) aplica-se a casos em que a definição do que será cobrado só se dá após a prestação. O modelo 62 desfaz a dúvida, já que é válido para ambas, que passam a receber a mesma classificação tributária.

Outra vantagem da adoção antecipada do modelo 62 pelas prestadoras de serviços de telecomunicações é que ele elimina etapas de trabalho e aumenta a transparência. Embora sejam emitidas no momento da prestação dos serviços, os envios de notas às secretarias da Fazenda nos modelos 21 e 22 ocorrem em lotes, de uma só vez, permitido até o último dia do mês subsequente. No modelo 62, não há necessidade de envio. As notas ficam disponíveis para a consulta online a partir de sua emissão, o que possibilita ao tomador verificar sua autenticidade. •

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Divulgação
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