Correio de Venezuela 849

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QUARTA-FEIRA 25 DE NOVEMBRO DE 2020 CORREIO DA VENEZUELA /# 849

16 | OPINIÃO Uma vez que emigramos e chegamos a esta terra, que sentirmos nossa porque está na nossa identidade, mas que, na verdade, é diferente do lugar onde muitos nasceram, é que começa o grande desafio… Despertamos, com a incerteza e a emoção, de residir numa localidade com segurança, com liberdades e garantias reconhecidas num estado de direito, principalmente quando se emigra de um país como a Venezuela, no estado que se encontra. Todos os cidadãos como parte de uma sociedade estão sujeitos a direitos e deveres que, a nível nacional estão consagrados na Constituição da República Portuguesa e, a nível internacional estão espalhados em diversos instrumentos aprovados pela maioria dos países do mundo. Todos os que cá residem têm os mesmos direitos, mas também têm os mesmos deveres e obrigações, para com nós próprios, para com a nossa família, os nossos amigos e a nossa comunidade. É importante ressaltar que dentro dessa universalidade e igualdade perante a lei, a constituição não faz distinção aos portugueses residentes no pais e aqueles que residem no estrangeiro, ou seja, os portugueses residentes no estrangeiro também privilegiam da proteção do Estado para o exercício dos seus direitos e, estão sujeitos aos deveres que não

A I Guerra Mundial (1914-1918) ocupa um papel preponderante no seio da historiografia nacional, porquanto além dos efeitos militares repercutiu em Portugal consequências de natureza socioeconómica e política que contribuíram decisivamente para a queda da Primeira República Portuguesa (19101926). Embora desde 1914 existissem confrontos entre patrulhas lusas e germânicas nos territórios moçambicanos e angolanos, dada a proximidade limítrofe das colónias africanas portuguesas com as colónias alemãs, e inclusive tenham perecido no decurso do conflito mais portugueses em Angola e Moçambique do que na Flandres, a entrada do país na frente europeia ocorreu em 1917. Com incontáveis dificuldades para constituir o Corpo Expedicionário Português (CEP), foram mobilizados mais de cinquenta mil soldados para as trincheiras da Flandres, região norte da fronteira franco-belga onde ocorreu a 9 de abril de 1918 a fatídica batalha de Lys em que o exército alemão destroçou o CEP. No desfecho do conflito que consagrou a vitória militar da Inglaterra, França, Estados Unidos e restantes aliados, nos quais se incluíam Portugal, a aritmética nacional era reveladora: mais de 7 mil mortos, mais

Espaço Aberto ANA CRISTINA MONTEIRO

Um grande desafio! Todos os cidadãos como parte de uma sociedade estão sujeitos a direitos e deveres que, a nível nacional estão consagrados na Constituição da República Portuguesa sejam incompatíveis com a ausência do país. O princípio da igualdade está latente em todos os direitos garantidos aos cidadãos, porque todos têm a mesma dignidade social, e são iguais perante a lei, e ninguém poderá ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual. Acontece que quando vivemos num pais que durante os últimos anos tem vindo a limitar as liberdades e garantias de todos os cidadãos e até seus mais básicos direitos fundamentais,

acabamos por esquecer que, todos nós como cidadãos do mundo usufruímos não só daqueles direitos reconhecidos constitucionalmente como o direito à vida e à integridade moral e física das pessoas; direito ao ensino; direito à igualdade de oportunidades; a saúde; a habitação; a eleições livres; a liberdade e segurança; como também aqueles que poderíamos chamar de atitudes e comportamentos que devemos ter para com os outros e que os outros devem ter para connosco, como o de respeitar e ser respeitado, sem importar o género, idade, nacionalidade e origens culturais; estabelecer os nossos próprios limites e respeitar os limites da outra pessoa; dizer Não, quando seja necessário, e aceitar a opinião do outro, principalmente

quando essa é diferente da nossa; decidir e escolher livremente; permitir que a outra pessoa também faça escolhas, sem pressões; não ser agredidos nem agredir a outros quer seja psicológica, emocional, física ou sexualmente. Mais, o facto de sermos iguais perante a Lei significa que, os direitos garantidos a um cidadão também os são garantidos aos outros, por tanto, os nossos direitos acabam quando começam os direitos dos outros. De modo que, hoje mais do que nunca devemos valorizar os direitos que nos são garantidos fora das fronteiras Venezuelanas, sem esquecer que temos uma grande responsabilidade frente aos que nos recebem e acolhem nesta grande terra.

Palavras Literárias DANIEL BASTOS

Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial, Frente Europeia - 1917/1918

Houve vários cativos lusos, com menos de 30 anos, que morreram em campos de internamento e de trabalhos forçados de 7 mil feridos, quase 6 mil desaparecidos e quase 9 mil incapazes. As raízes da emigração portuguesa no território francês remontam precisamente a este período, quando milhares de soldados lusos não regressaram a Portugal, optando por se tornarem emigrantes em terras gaulesas. Ainda hoje, existem descendentes destes soldados e emigrantes lusos que preservam a sua memória e zelam o cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, um cemitério militar exclusivamente português, que reúne um total de 1831 militares mortos na frente europeia. É o caso da nonagenária Felicia Assunção Pailleux, filha do soldado e depois

emigrante João Assunção, um minhoto de Ponte da Barca, que fez parte da 2ª Divisão do CEP e que como outros compatriotas que optaram no final do conflito bélico por não regressar a Portugal, onde grassava uma profunda crise política, económica e social, fixou-se na zona onde combateu, no Norte-Pas de Calais, uma zona de minas de carvão que absorveu muita mão-de-obra. Ao longo das últimas quatro décadas, Felicia Paileux tem sido a porta-estandarte da bandeira de Portugal nas cerimónias evocativas da Grande Guerra no cemitério de Richebourg e no monumento aos soldados lusos em La Couture, no Norte-Pas de Calais, honrando a memória do seu pai, soldado e

emigrante português falecido em 1975, que muito antes da emigração massiva dos anos 60 escolheu como muitos outros antigos companheiros de armas a França para viver, trabalhar e constituir família. Há poucos anos, a investigadora Maria José Oliveira, autora do livro “Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial, Frente Europeia - 1917/1918”, difundiu um novo olhar e importante contributo para a história da participação portuguesa na frente europeia da Grande Guerra, através da elaboração de uma lista inédita de 259 prisioneiros onde é revelado além do nome, data de nascimento e morte, a causa do falecimento e, em 178 casos, o local da sepultura.

EL CORREIO DA VENEZUELA NO PUEDE SER CONSIDERADO RESPONSABLE Y/O PROMOTOR DE LAS OPINIONES DIFUNDIDAS EN ESTE ESPACIO


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