QUINTA-FEIRA 12 DE MAIO DE 2022 CORREIO DA VENEZUELA /# 891
18 | DIÁSPORA
18 milhões para o Ensino do Português no Estrangeiro CORREIO / LUSA
“Movimento associativo na diáspora diminuiu um terço e precisa de apoio” CORREIO / LUSA O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) alertou para a necessidade de o movimento associativo na diáspora ser apoiado, perante a diminuição de quase um terço das associações nos últimos tempos, para a qual contribuiu a pandemia de covid-19. Fernando Campos Topa, emigrante português na Venezuela, falava na cerimónia de encerramento da reunião das comissões temáticas do CCP, que se realizou segunda e terça-feira, na qual estiveram representadas cerca de duas dezenas de elementos dos países com maior número de portugueses ou lusodescendentes residentes. Na conferência que se realizou no Ministério dos Negócios estrangeiros, em Lisboa, este elemento do CCP alertou para as dificuldades que estas asso-
ciações têm atravessado, nomeadamente durante o confinamento imposto pela pandemia de covid-19, que impôs o cancelamento de muitas atividades. Para atenuar este impacto, Fernando Campos Topa defendeu a formação de líderes associativos nos países de acolhimento, para ajudar as comunidades a estarem informados, nomeadamente sobre as leis em vigor nesses países. “Está em causa a continuidade destas associações, que passaram de cerca de 3.000 para 2.000. É preciso analisar muito bem o que se está a passar”, disse. E defendeu: “São mil associações que desapareceram. Temos de envolver os emigrantes de segunda, terceira e quarta geração nestes movimentos”. Por seu lado, o presidente do CCP, Flávio Martins, enalteceu a diversidade de Portugal, classi-
ficando-a como a sua “grandeza”, sublinhando a importância dos contributos destes encontros do CCP. Presente no encerramento do encontro, tal como na abertura, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, reiterou a importância do movimento associativo na diáspora e sublinhou o contributo do CCP. A este propósito, afirmou que é prioridade do seu mandato “valorizar o Conselho” das Comunidades Portuguesas, defendendo que a melhor forma de o fazer é “depois do diálogo e da negociação passar aos compromissos”. “Precisamos de dar passos para a valorização do CCP. Há questões fáceis, e que irão seguramente ser concretizadas, e outras que dependem de outras pastas e eu comprometo-me a influenciar os meus colegas [do Governo] nesse sentido”, disse.
O instituto Camões inscreveu 18 milhões de euros no Programa de Recuperação e Resiliência destinados, “fundamentalmente”, à rede paralela do Ensino do Português no Estrangeiro e o seu presidente manifesta-se “triste” com as acusações de desinvestimento. “Posso dizer que o maior programa do PRR que está no Ministério dos Negócios Estrangeiros é dedicado a uma coisa chamada ‘digitalização do EPE’, fundamentalmente direcionada para a rede paralela. Para se perceber o cuidado e atenção que demos a isso, são 18 milhões de euros que vamos investir nos próximos tempos, e já em 2022 com uma fatia”, revelou João Ribeiro de Almeida. O presidente do Camões referia-se, em declarações à Lusa, às verbas consignadas no programa europeu de 16,6 mil milhões de euros conhecido como ‘bazuca’ europeia. O grande esforço do processo de digitalização, prosseguiu o diplomata, “vai passar [pela aquisição de] computadores e ajudar os alunos, e é sobretudo focado na rede paralela”. “Portanto, fico um bocadinho triste quando dizem que está a haver um desinvestimento do Estado português na rede paralela, porque não é verdade”, afirmou o dirigente do organismo responsável pela gestão do EPE. O regime oficial do EPE tem inscritos no ano letivo em curso 68.542 alunos, em 1.406 escolas de 18 países. Reparte-se por três abordagens distintas, a do regime integrado, em que os países adotam o português como língua curricular, e as dos regimes de ensino nas redes paralela e apoiada. Na rede paralela, os alu-
nos, sobretudo portugueses, aprendem a língua de forma extracurricular, em escolas geralmente distintas das que frequentam habitualmente. Já na rede apoiada, a funcionar nos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália e Venezuela, as estruturas de ensino desses países põem o português à disposição de quem pretender aprender a língua, e são apoiadas pelo Estado português através do Camões, sobretudo com manuais. Uma das maiores críticas dos emigrantes nacionais, como expresso pelo presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa, Pedro Rupio, em declarações à Lusa no final do ano passado, é que o Camões tenha “cada vez mais” como “objetivo” assumido “ensinar português para estrangeiros, o que se confirma no ensino integrado, em detrimento do ensino paralelo, com cada vez menos alunos”. A consequência, disse na altura Pedro Rupio, é “o afastamento do público português e lusodescendente da rede oficial do EPE”, resultante do facto dos governos dos últimos anos considerarem “mais interessante para Portugal investir num estrangeiro do que num português”. João Ribeiro de Almeida não contestou à Lusa a estratégia política da tutela. “Obviamente que o objetivo de qualquer dirigente máximo do Camões ou do Ministério dos Negócios Estrangeiros é ter a língua portuguesa, o máximo possível, na rede oficial. Ou seja, serem os países a entenderem que é do interesse deles terem o português como língua curricular, dentro do próprio sistema de educação. Este é o nosso objetivo”, reconheceu.