R$ 19,50 R$ 19,50 9
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ISSN 1980-3206
771980 ISSN 1980-3206
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J.P J.P F E VE R EFI RO E V E2021 REIRO N. 2168 0 2 1 N. 1 6 8
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CHARME CHARME E PROPÓSITO E PROPÓSITO
JOJO JOJO TODYNHO TODYNHO ELA ELA EXTRAPOLA EXTRAPOLA
MAIS MAIS HUMOR, HUMOR, POR POR FAVOR FAVOR O ESTILO O ESTILO DEDE THAI THAI DE MELO DE MELO BUFREM: BUFREM: SAL, SAL, PIMENTA PIMENTA E MUITA E MUITA ALEGRIA ALEGRIA UM UM NOVO NOVO OLHAR OLHAR A IMPORTÂNCIA A IMPORTÂNCIA DASDAS HABILIDADES: HABILIDADES: O QUE O QUE TORNA TORNA UMA UMA MULHER MULHER BONITA BONITA DE VERDADE DE VERDADE CABEÇAS CABEÇAS PENSANTES PENSANTES MÃE MÃE DODO MÚSICO MÚSICO CRIOLO, CRIOLO, A FILÓSOFA A FILÓSOFA MARIA MARIA VILANI VILANI TENTA TENTA TRANSFORMAR TRANSFORMAR A A PERIFERIA PERIFERIA COM COM EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO E ARTE E ARTE E MAIS: E MAIS: COMO COMO ATRAVESSAR ATRAVESSAR 20212021 COMCOM RESILIÊNCIA, RESILIÊNCIA, A GINGA A GINGA E O BOROGODÓ E O BOROGODÓ DE LÉODE SANTANA, LÉO SANTANA, GUIA GUIA DEDE SAMBA SAMBA PARA PARA O MÊS O MÊS SEMSEM CARNAVAL CARNAVAL E OS DESTINOS E OS DESTINOS POSSÍVEIS POSSÍVEIS PARA ESTES PARATEMPOS ESTES TEMPOS
JOYCE PASCOWITCH
Carol Sganzerla
GERENTES MULTIPLATAFORMA Laura Santoro Maria Luisa Kanadani Roberta Bozian
Luciana Franca
Ana Elisa Meyer
David Nefussi
Aline Belonha Juliana Carvalho Tânia Belluci
Jefferson Gonçalves Leal
Carla Uchôa Bernal Claudia Fidelis (tratamento de imagem)
Carlos Melo (Diretor) Clayton Menezes Heberton Gonçalve
Meire Marino (gestora)
Hércules Gomes
Wildi Celia Melhem (produtora gráfica)
Renato Vaz
Inácio Silva (revisão) Luciana Maria Sanches (checagem) Adriana Nazarian, Bruna Barros, Chico Flores, Denise Meira do Amaral, Fernanda Grilo, Fernando Torquatto, Giovanna Loss, Isabelle Tuchband, Isabella Glock, Jaquelini Cornachioni, Kiki Garavaglia, Mauricio Prada, Max Weber, Nando Santos, Nina Rahe, Paulo Freitas, Paulo von Poser, Pedro Dimitrow, Peu Campos, Rapha Mendonça, Roberta Sendacz, Rodrigo Penna, Shmuel Lemle, Ticiana Villas Boas, Zô Guimarães
Distribuída por RAC Mídia Editora Ltda. ME – 11-98145-7822 Coan Indústria Gráfica. Norma Catão - tel. (31) 99604-2940 Aurileide Veras - tel. (85) 99981-4764 Lucas Pontes - tel. (51) 99309-1626 Rua Cônego Eugênio Leite, 282, Jardim América, São Paulo, SP CEP 05414-000. Tel. (11) 3087-0200
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CHARME E PROPÓSITO
NESTE NÚMERO 4 EDITORIAL 5 MÊS BOM PARA 8 J.P ENTREGA 10 J.P ADORA 12 SE JOGA
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Por Rodrigo Penna 41 42
Jojo Todynho conquistou o Brasil com seu jeito despachado e irreverente 22
QUESTÃO DE HABILIDADES
O que faz uma mulher bonita são suas atitudes e não uma dádiva divina
FOTOS FERNANDO TORQUATTO; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO
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COMO SERÁ O AMANHÃ?
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J.P VIAJA CABALA
Filha de Carla Perez e Xanddy, Camilly Victória estreia como cantora
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HORÓSCOPO ENTRE LENÇÓIS
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AGRADECIMENTOS ÚLTIMA PÁGINA
FERNANDO TORQUATTO
CORPO E ALMA O MUNDO DE THAI
Por Shmuel Lemle
Por Roberta Sendacz
O que inspira Chico Salgado, o “personal trainer das estrelas”
TEMPO DE CRIAR
J.P DE OLHO O SERTÃO VIROU LAR
A ilustradora Bruna Barros saiu de São Paulo para morar na Ilha do Ferro, em Alagoas
Ô ABRE ALAS
Quem não gosta de samba, bom sujeito não é
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Teresa Fittipaldi encontrou na cerâmica o caminho para ter alegria e envelhecer bem
DESABROCHAR
Mãe do músico Criolo, a cearense Maria Vilani mudou a cena cultural do Grajaú com a criação de um centro de arte
RADIOGRAFIA ELA TAMBÉM TEM TCHAN
Sucesso no Instagram, a fashionista Thai de Melo Bufrem abre seu apartamento em Curitiba
COM AMOR, RESISTIMOS
Para o escritor Clóvis de Barros Filho, a melhor maneira de ser feliz é viver o presente
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O cantor e compositor Léo Santana encarna um lutador
Isabella Heine desvela o que diz o céu de 2021 28
TRÊS PONTINHOS
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NATUREZA VIVA
O paisagista Mauricio Prada encontrou refúgio em um chalé à beira da represa, em Bragança Paulista
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POR AÍ
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AMAZÔNIA A BORDO
Por Kiki Garavaglia A apresentadora Ticiana Villas Boas passou um dos melhores fins de ano de sua vida navegando pelo rio Negro
JOJO TODYNHO Foto Pedro Dimitrow, styling Rapha Mendonça, beleza Max Weber. Capa Walério Araújo, body Plié Lingerie, pulseira Jack Vartanian, anéis Neuza Pinheiro e bolsa Gucci
O conteúdo desta revista na versão digital está disponível no SITE +glamurama.com.br/ revista-jp
NA REDE: facebook.com/revistajp @revistajp @revistajp
FEVEREIRO Comprar para seu parceiro, amigo ou whoever uma camisa de manga curta da Camisa da Bahia, marca local de Salvador que tem entre seus clientes elegantes e descolados do eixo Rio-São Paulo
Seguir os passos da enteada mais famosa dos Estados Unidos, Ella Emhoff, a filha fashionista do marido de Kamala Harris
Escolher um tema para se dedicar durante o Mergulhar no ano: pode ser filosofia, literatura, história ou romance de estreia coisas do gênero de Lorena Portela, Primeiro Eu Tive Fazer uma lista de tudo que aprendeu nesse ano passado tão difícil e tentar aplicar as Que Morrer, que lições a partir de agora tem Jericoacoara como cenário. Com Eleger uma causa para defender e enredo complexo, trabalhar por ela, visto que isso é mais que mas de narrativa fundamental neste século 21 leve, o livro foi lançado de forma Fazer uma playlist com o melhor do axé e botar independente o bloco na sala de estar – a seleção de músicas do Bloco do Apego no Spotify é um bom começo
Ir atrás dos poemas de Amanda Gorman, a jovem americana que roubou a cena na posse do Joe Biden
Experimentar todas as toasts Colocar em prática algo novo só para sentir do café da loja Amoreira – novo o frio na barriga da primeira vez canto ao ar livre e rodeado de Viajar para Nova York – sem sair do lugar verde em São Paulo – e descobrir uma nova cidade pelo olhar da Trocar, com segurança, o escritora Fran Lebowitz em Pretend It’s a treino de sempre por aulas de City, série documental da Netflix dirigida por Martin Scorsese beach tennis e vôlei de praia em espaços pé na areia que estão se Se render ao frescor do pét-nat, ou pétillant multiplicando em São Paulo naturel, espumante natural e leve que não precisa de uma grande ocasião para ser aberto Começar a planejar os detalhes de seu casamento dos sonhos, especialmente se for em outro destino, com quem entende do assunto. A assessora Roberta Calfat é especialista em destination weddings em Trancoso, Caraíva e Arraial d’Ajuda Propagar e difundir entre as pessoas a seu redor a importância e necessidade de se tomar vacina contra a Covid-19
Matar a saudade de espetáculos como Donna Summer Musical, que retorna com todos os protocolos de segurança ao palco do Teatro Santander, no Complexo JK Iguatemi, em São Paulo
Perder o fôlego com o duque de Hastings da série Bridgerton, da Netf lix, interpretado pelo ator britânico Regé-Jean Page
J.P INDICA
EQUILÍBRIO NATURAL
À base de plantas medicinais, o BRYOPHYLLUM ARGENTO CULTUM ajuda a resgatar o bem-estar no dia a dia Argento cultum. Segundo o farmacêutico Rodolfo Schleier, o medicamento é indicado para ansiedade, angústia e irritação. “Observamos um efeito muito rápido, em poucos minutos após ser tomado. É um revitalizante geral do organismo e pode até mesmo ser usado por gestantes e crianças pelo seu efeito de segurança.” Criado com processos exclusivos de cultivo e produção, e enriquecido no plantio com a prata, o Bryophyllum Argento cultum é feito com ingredientes naturais, sem relatos de dependência e interação com outros medicamentos. Mas não é de hoje essa crescente busca por produtos naturais em geral. Não apenas medicamentos, mas também alimentos, vestuário, calçados, utensílios domésticos. A preocupação muito necessária com nosso planeta tem aumentado o consumo de orgânicos, ambientalmente corretos e de comércio justo. Produtos que não deixam resíduos no meio ambiente e que garantem renda para os trabalhadores envolvidos em toda a sua cadeia de produção. E esse é um dos pilares da Weleda, ressalta Maria Claudia Villaboim Pontes, CEO da marca. “Desde sua fundação, a Weleda carrega no DNA os três princípios da sustentabilidade – ambiental, social e econômica –, conceito que só entrou em voga no mercado nos últimos anos. Para nós, é imprescindível dar uma vida adequada para as pessoas hoje, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Por essa razão, além do uso correto das matérias-primas e dos recursos naturais, investimos no desenvolvimento econômico e social de fornecedores.” +WWW.WELEDA.COM.BR | @WELEDABRASIL BRYOPHYLLUM ARGENTO CULTUM – Bryophyllum calycinum argento cultum D2. USO ORAL – USO ADULTO E PEDIÁTRICO. MS 1.0061.0085. INDICAÇÕES: Indicado no tratamento auxiliar dos distúrbios do sono, fraqueza, esgotamento, ansiedade, irritação, angústia, consequências do choque e distúrbios histeriformes1. CONTRAINDICAÇÕES: Bryophyllum Argento cultum é contraindicado para pessoas com hipersensibilidade aos componentes da fórmula. Este medicamento CONTÉM ÁLCOOL. BRYOPHYLLUM ARGENTO CULTUM É UM MEDICAMENTO. SEU USO PODE TRAZER RISCOS. PROCURE O MÉDICO E O FARMACÊUTICO. LEIA A BULA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Registrado por: Weleda do Brasil Laboratório e Farmácia Ltda – R. Brigadeiro Henrique Fontenelle, 33, São Paulo / SP – CNPJ: 56.992.217/000180. Indústria Brasileira. SAC 0800 55 32 66. Referência: 1.Bula do produto. Data de veiculação: 02/2021
FOTOS DIVULGAÇÃO
Falta de ar, nervosismo, irritabilidade, angústia... Quem não se identifica com esses sintomas no decorrer da vida? Segundo o site de buscas Google, entre janeiro e julho de 2020, os brasileiros procuraram três vezes mais pelo tema ansiedade na internet do que a média dos últimos 16 anos. Desde que o isolamento social foi decretado, tivemos de nos adaptar a novos comportamentos e rotinas. Diante de tantas mudanças, é normal que o nosso corpo e nossa mente sintam tal impacto. Junto com o atual cenário veio uma grande procura por um meio alternativo de tratamento, como a medicina antroposófica, medicina integrativa que busca tratar o indivíduo com um todo – corpo, emoções e mente –, por meio de elementos da natureza. “É uma ciência que estuda as relações entre o ser humano e a natureza, uma vez que o homem guarda um parentesco com os reinos mineral, vegetal e animal. Assim, vê o ser humano como um todo e enxerga na natureza processos semelhantes aos do organismo humano. A partir daí, elabora os medicamentos”, explica o médico antroposófico e consultor da Weleda, doutor Fabrício Dias. A marca de origem suíça, fundada em 1921 como um laboratório farmacêutico com seu próprio jardim de plantas medicinais, hoje é líder mundial de medicamentos antroposóficos feitos com ingredientes naturais. Um de seus tesouros é, inclusive, um achado nessa atual busca pelo equilíbrio: o Bryophyllum
Fanzine erótico para se divertir, um grande espaço de cultura em Salvador, novos casais no pedaço e mais lei a outr a s descoberta s em gl a mur a m a .com/nota s
GRANDE ANGULAR
CONSUMO por ana elisa meyer
FEVEREIRO
J.P ADORA
PENDENTE
Para celebrar os dez anos de sucesso em suas carreiras individuais, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia formaram, em 1976, o Doces Bárbaros. Com muita brasilidade, festa e celebração – no tom, nas roupas, nas músicas –, o quarteto baiano rodou o Brasil na época com um show que unia diversas referências de cada um, em um repertório diferente de seus trabalhos individuais e quase inteiramente inédito.
FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO
Salinas R$ 346
Eliurpi para Farfetch R$ 3.311
DOCES BÁRBAROS
Cris Bertolucci R$ 3 mil
BIQUÍNI
CHAPÉU
BRINCO
Bottega Veneta preço sob consulta
BOLSA
Miu Miu R$ 8.900
ÓCULOS
Fendi preço sob consulta
VASOS
Vasap Design preço sob consulta
RASTEIRA
Aquazzura R$ 3.650
10 J.P FEVEREIRO 2021
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por luci a na fr a nca fotos pedro dimitrow st y ling r a ph a mendonça belez a m a x w eber
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Q
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uando tinha 5 ou 6 anos, Jordana era cordeirinho de Cristo na igreja evangélica perto de sua casa, em Bangu, subúrbio carioca, e foi convidada para cantar no culto de domingo. Ficou dias ensaiando uma música da cantora gospel Cassiane, de quem sempre gostou. Mas na hora em que pegou o microfone, cantou “Vou Passar Cerol na Mão”, hit do início dos anos 2000 do Bonde do Tigrão. “Passei o dia ouvindo funk, meu pai adorava. Nem imaginava que eu estava lá cantando funk. Na minha cabeça, estava cantando o louvor que eu tinha ensaiado”, relembra, aos risos. O pastor achou melhor não interromper a apresentação para não constranger a criança – e a plateia aplaudiu. Cheia de personalidade e com alma de artista desde sempre, Jojo era o centro de qualquer reunião de sua família festeira, dançando e sambando. No colégio, quando um professor faltava, ela juntava as amigas para suas performances. As meninas eram juradas e Jojo fazia as vezes de cantora e apresentadora. Ela criou um sobrenome artístico naquela época, se apresentava como Jojo Maronttinni, nome que usa até hoje para assinar suas composições. Mas gosta mesmo é do codinome Todynho, só não o usa oficialmente porque Toddynho é marca registrada do famoso leite achocolatado. Como boa parte dos artistas de sua geração – Jojo faz 24 anos este mês –, a fama chegou pela internet. Começou a postar vídeos em suas redes sobre assuntos variados, de empoderamento feminino a novela, que logo viralizaram. Fã de Bibi, personagem de Juliana Paes em A Força do Querer, trama de 2017 que está sendo reprisada atualmente na Globo, acabou sendo convidada pela produção para fazer uma participação. Logo depois, fez um teste vocal com o DJ Batata, começou a gravar suas próprias músicas, participou do clipe de Anitta “Vai Malandra” e, então, explodiu com o hit “Que Tiro Foi Esse?”. Tudo no mesmo ano. Conta que paralelamente à música, gostaria de atuar. Já carreira internacional não faz parte de seus esforços. “Se acontecer, aconteceu, mas eu não busco isso, não. Deixo para a Anitta, que já virou uma explosão mundial”, diz, sobre a amiga famosa. Outro plano da funkeira é fazer faculdade de psicologia. “Sempre fui conselheira de todo mundo, gosto de cuidar”, justifica ela, que faz terapia para controlar suas emoções. Na conversa com J.P, ela fala sobre sua personalidade forte que foi mostrada para todo o Brasil durante a 12ª edição de A Fazenda, da Record. “Fui criada com muita sinceridade, muita verdade, e busco isso nas pessoas. Se esse meu jeito de falar parece arrogância, prepotência, que pareça. Se ser falso é sinônimo de educação, que eu seja mal-educada. Não faço questão de agradar ninguém. Não tenho dificuldade nenhuma em falar não.” Se Jojo gosta de palpitar sobre a vida alheia quando as amigas pedem, não gosta que ninguém se meta na sua. Aliás, disse que aprendeu a se empoderar seguindo o conselho da avó: “Faça qualquer coisa sozinha, você se basta, não precisa de ninguém para ir a lugar nenhum”. Jojo prefere fazer compras no shopping sem ninguém para dar pitaco em suas escolhas e viaja desacompanhada, como fez no último Réveillon. Dias depois de ganhar o reality show,
passou a virada do ano solitária em uma pousada em Paraty (RJ). Precisava refletir sobre o ano que terminara, com um turbilhão de emoções: sua exposição na TV e a perda de pessoas queridas. Quanto ao prêmio, Jojo é grata a ele, mas lembra que a quantia não mudou sua vida. “Eu não entrei no reality sem dinheiro, porque sempre trabalhei, já tinha o meu nome. Dura, eu não sou, o prêmio veio para acrescentar”, diz ela. “Saiu [uma notícia]: ‘Jojo Todynho compra mansão’. Que mansão a pessoa compra com R$ 1,5 milhão? Eu já tinha comprado a minha casa e, quando saí do programa, fui lá e quitei. Não comprei uma mansão, é uma casa grande, confortável, na Taquara [zona oeste do Rio], e agora minha avó vai morar comigo.”
Antes só do que mal-acompanhada tem sido sua bandeira também na vida amorosa. “Eu vivo solteira, não quero ninguém, não tenho paciência. Já fui casada, o que não me falta é macho, mas sou pássaro, gosto de viver livre, não gosto de dar satisfação em casa. Não me vejo com esse comprometimento.” Para o passarinho livre chamado Jojo, o céu é o limite. Aliás, foi a música “Sky’s the Limit”, do rapper americano The Notorious B.I.G., que a cantora pediu para tocar quando começou a posar para as fotos desta capa. Ela tem o título do rap tatuado no pulso. Entre as outras marcações pelo corpo, a frase “Prosperei com o suor do meu trabalho” ocupa a coxa esquerda. Dois lemas que justificam todo seu sucesso. n
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COMPORTA MENTO
por nina rahe
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ente, tô devendo resposta pra vocês, mas, por favor, compreendam: estou curtindo minha beleza, já me volto pros compromissos”, foi o que postou em seu Instagram a atriz e escritora Taísa Machado, criadora do projeto Afrofunk Rio, que utiliza a potência do rebolado como forma de empoderamento feminino. Curtir a beleza, no entanto, nem sempre foi fácil. “É um trabalho diário ir encontrando essa beleza que está no seu corpo, mas que alguém – muitos ‘alguéns’, na verdade – disse que não está”, ela explica. Desde a adolescência, Taísa se lembra de como os padrões impostos às mulheres foram, aos poucos, minando sua autoconfiança. A sensação de se sentir bonita, ela conta, durou até os 7 anos, quando foi percebendo que em nada se parecia com os ídolos que eram cultuados, entre Xuxa, Angélica e Eliana, todas loiras e magras. Foi nas páginas de uma revista adolescente também que Taísa se deparou com uma declaração do cantor Rodriguinho, do grupo Os Travessos, de quem era fã, sobre o peito que uma mulher deveria ter para ser considerada bonita. Desprovida dos atributos contidos na descrição, o jeito encontrado por Taísa para se enquadrar nela foi conversar com os outros sempre com os braços pressionando os seios, em uma tentativa de torná-los aparentemente mais firmes e empinados. Nessa mesma época, o filme mais visto por ela era Uma Linda Mulher, no qual a atriz Julia Roberts interpreta uma prostituta que é contratada para ser acompanhante do personagem vivido por Richard
Gere, um homem de negócios, e os dois acabam se apaixonando. “Ela já era bonita e foi escolhida para se tornar mais bonita porque um homem poderoso disse que ela podia”, resume a atriz e escritora. Quando leu o livro Mulheres e Deusas (HarperCollins), do filósofo e pesquisador Renato Noguera, Taísa se identificou com a noção de beleza da mitologia iorubá, na qual uma mulher é considerada bonita a partir de suas realizações. É por isso que, no Afrofunk Rio, seu desejo é trabalhar contra essa cultura hegemônica que tira a autoestima e a capacidade das mulheres desenharem sua própria beleza. Ali, não há coreografias e a dança é feita em cima da improvisação, construindo o que é belo a partir “da coragem e habilidade de mexer o corpo”. A ideia que temos até hoje da beleza como uma dádiva divina, de acordo com Noguera, vem da mitologia grega. O concurso entre Hera, Afrodite e Atena para determinar qual das três era a mais bela, por exemplo, está baseado em uma competição na qual não há nenhum treinamento ou esforço para vencer, já que a beleza está calcada apenas na genética e na juventude. “Mitos poderosos sustentam a ideia naturalizada que faz da mulher um ser humano de segunda categoria”, escreve o autor no livro, que também conta como as representações das divindades ajudam a construir uma ideia de feminilidade em desvalia, baseada na crença de que “mulher precisa de um homem que lhe dê o nome”; “mulher tem instinto materno natural e está ligada à natureza (uma di-
Mary Del Priore
mensão que deve ser dominada pelo homem)”; e “mulher precisa atender minimamente aos padrões de beleza”. Entre os mitos femininos gregos que são destacados, há desde Hera – ela encarna a mulher fiel, recatada e discreta, que releva os deslizes do esposo (Zeus) sem atacá-lo e reafirma o patriarcado ao eleger outras mulheres como rivais – até Medusa, que deveria se manter casta e, quando é violentada por Poseidon, acaba desacreditada e destituída de sua beleza e da condição de deusa imortal. O último, conforme argumenta Noguera, aponta para as bases do sexismo no Ocidente: “Em uma sociedade patriarcal, a beleza é uma qualidade praticamente ditatorial: as mulheres não têm direito à feiura, sob o risco de serem rejeitadas, o que constitui, por si só, uma estratégia perversa de dominação e controle”. Reescrever essa história, nesse sentido, tem se mostrado cada vez mais urgente para redefinir o papel feminino. Em Nós, Mulheres – Grandes Vidas Femininas (Todavia), a escritora espanhola Rosa Montero reúne mais de 90 biografias, com protagonistas de 2700 a.C até a atualidade. Nomes como Agatha Christie, Frida Kahlo e Simone de Beauvoir estão ao lado de outros menos conhecidos, como Merit-Ptah, médica-chefe no Antigo Egito, primeira mulher na história da ciência, e Valentina Tereshkova, operária em uma fábrica têxtil que se tornou não só a primeira mulher, mas o primeiro civil a viajar ao espaço. “São modelos tão diversos que, naturalmente, me sinto mais próxima de algumas do que de outras, e de al24 J.P FEVEREIRO 2021
gumas que são tremendamente egocêntricas, passivas ou assassinas, sinto-me distante”, conta Rosa. “Uma das maravilhas que esse livro mostra é que as mulheres podem ser tudo, corajosas e covardes, pessoas boas e muito más, assim como os homens. E isso é magnífico, porque não aspiro que as mulheres sejam santas, mas livres.” Como ela, a escritora e historiadora Mary Del Priore também optou por um recorte diferente dentro dessa narrativa. Em seu mais novo livro Sobreviventes e Guerreiras (Planeta), por exemplo, ela decidiu fugir do que chama de “coitadismo” e resolveu que deveria refletir sobre as formas que a mulher brasileira encontrou de resistir ao patriarcalismo. “Nós ficamos com essa ideia permanente de que as mulheres foram sempre subservientes e o que os documentos históricos mostram é que não, que elas desde sempre foram à luta”, diz. “As mulheres começam a se tornar letradas desde o início do século 19 e vão escrever para jornais, abrir escolas, participar da política e depois, com o desenvolvimento cultural, partem para a vida pública e vão ser nacionalmente conhecidas”, argumenta. A própria escritora é um exemplo de protagonismo feminino. Como tantas outras mulheres, ela se casou cedo e se dedicou à maternidade antes de seguir uma carreira profissional. “Nasci em um ambiente social no qual o casamento era o mais importante para a mulher e saí do colégio interno diretamente para o altar, com 19 anos. Não havia projeto de trabalho e nenhum pai nem mãe dizia que você
COMPORTA MENTO precisava se formar para ter uma carreira.” Foi somente em 1980, com quase 30 anos, após o casamento e três filhos, que Mary ingressou na faculdade para estudar história. No caso da arquiteta e urbanista Tainá de Paula, vereadora em exercício no Rio de Janeiro, foi justamente o nascimento da filha Aurora que configurou uma mudança de chave. “Antes disso, eu tinha uma trajetória muito marcada pelos movimentos sociais de esquerda, mas não conseguia fazer o recorte de ser mulher como marcador político. E isso faz toda diferença porque você acaba entendendo as nuances de machismo e misoginia no seu cotidiano de forma clara e acaba diminuindo o impacto disso na sua produção, sua vida e seu contexto”, explica. Tainá lembra que, enquanto na arquitetura sempre precisou produzir mais e melhor para ter reconhecimento no seu campo, na política há uma tendência a compartimentar a atuação das mulheres. Durante a campanha eleitoral, ela lembra que todos os candidatos do Partido de Trabalhadores, ao qual pertence, diziam que as candidatas não precisavam de mais recursos porque não teriam votos suficientes, o que gerou um movimento para retirar seu fundo eleitoral. Contra posturas como essa, Tainá diz que sua tática é reunir ao seu redor o máximo de mulheres possível para dividir
o exercício, além de evitar pensar apenas em políticas com recorte de gênero. “As mulheres ainda se sentem incomodadas de chegar ao poder e eu quero ser uma mulher negra que chega ao poder, sim. É preciso dar um passo à frente e trabalhar nas decisões reais da sociedade e acho que essa é uma virada importante para todas nós.” Na política, no meio acadêmico ou na dança, o caminho é de ocupação de espaços e de desconstrução de antigos padrões. “Sou uma mulher que me sinto muito bruta, marrenta, grandona, mas quando danço paro de achar tudo isso ruim. A dança cria uma fenda que torna tudo bonito”, explica Taísa, que acabou assumindo a alcunha de “chefona mermo”. O apelido, que começou como uma brincadeira, vem ganhando novos sentidos para a atriz e roteirista, que vê na escolha do nome a afirmação de uma liderança. “Ser reconhecida no meu trabalho é o que me ajuda a me achar mais bonita. Ver possibilidades na minha vida profissional e me sentir mais independente, tudo isso conta. Ser chamada de ‘chefona’ era primeiro uma piada interna, mas cada dia mais percebo que você não nasce chefona, torna-se chefona”, ela dá risada, fazendo uma referência à clássica frase de Simone de Beauvoir (não se nasce mulher, torna-se mulher). E a brincadeira não é sem um fundo de verdade. n
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Tainá de Paula
FEVEREIRO 2021 J.P 25
FUTURO
COMO SERÁ O AMANHÃ?
A astróloga Isabella Heine desvenda o que diz o céu de 2021: o desafio sempre vem com oportunidades e inovação é uma palavra importante para este momento. Apesar do desconforto, o mais perigoso é não mudar POR ISABELL A HEINE
FOTO ZÔ GUIMARÃES
Para entender melhor 2021 precisamos voltar ao ano passado. Em 2020, a energia de Capricórnio predominou no céu por conta do encontro de alguns planetas nesse signo ao longo do ano. Tivemos que rever nossas estruturas, transformar nossos alicerces e enxergar os bastidores da realidade. 2020 nos ensinou a amadurecer. Em dezembro passado, Júpiter e Saturno saíram de Capricórnio e entraram em Aquário mudando o tom do céu. Desde então, a energia predominante é a aquariana e é para lá que devemos olhar para entender o nosso atual momento. Aquário é o signo do futuro, do novo, do senso de comunidade. Estamos quebrando padrões e enxergando outras perspectivas. Mas viver o novo não significa aceitar tudo só por ser novo, isso é infantilidade, e não passamos por uma grande lição de amadurecimento à toa. Com Saturno em Aquário até 2023, o importante é compreender que estamos construindo esse novo. Por isso, a pergunta agora é: Qual futuro queremos construir? É para lá que devemos seguir. A energia aquariana é questionadora, isso é fundamental para não ser cooptado pelo grupo, já que Aquário é o signo das massas. De um lado, o perigo de se perder na multidão aqua-
26 J.P FEVEREIRO 2021
“Estamos quebrando padrões e enxergando outras perspectivas. Mas viver o novo não significa aceitar tudo só por ser novo, isso é infantilidade, e não passamos por uma grande lição de amadurecimento à toa”
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“Devemos ficar atentos com as polarizações que podem se acirrar com a quadratura de Urano e Saturno, que começa em fevereiro e vai até o fim do ano. Há duas forças brigando para se impor”
riana, do outro, a possibilidade de se levantar para não ser pisoteado por ela. As duas situações são aquarianas e para que se mire na segunda e não na primeira, é preciso fortalecer a energia de Leão, o signo oposto complementar a Aquário. Para vivermos a energia positiva do grupo é preciso firmar as identidades. Uma vez que fizermos isso, será mais fácil viver a força do coletivo criando uma rede e conectando diversas pessoas. Aquário também é o signo das rebeliões e revoltas, então este ano poderá caminhar nesse sentido. Devemos ficar atentos com as polarizações que podem se acirrar com a quadratura de Urano e Saturno, que começa em fevereiro e vai até o fim do ano. Quadratura é um aspecto desafiador na astrologia. Há duas forças brigando para se impor, no caso a de Urano e de Saturno. Urano é o regente de Aquário, o planeta que rompe com os padrões antigos e nos direciona para as mudanças. Saturno é o regente de Capricórnio, e nos dá estrutura e segurança para construir caminhos sólidos. De um lado a necessidade de romper, do outro, a importância de assegurar que esse movimento não será infantil e sem direcionamento. A ideia de tradição e de futuro estará em uma queda de braço para que caminhemos para o “novo com estrutura”. Enquanto Saturno está em Aquário, Urano está em Touro, mexendo com as nossas estruturas financeiras. É preciso ter cautela ao lidar com as finanças este ano, porque qualquer passo em falso pode nos levar a uma crise. Este mesmo aspecto aconteceu nos anos 2000, os da bolha da internet. Há um desafio, mas ele sempre vem com oportunidades. Inovação é uma palavra importante para este momento. Aquário nos leva para o futuro, para a tecnologia, para o digital. Estamos mudando as nossas relações com o mundo. Não é o primeiro momento que isso acontece na história, nem será o último. Estamos vendo a história acontecer na nossa frente. Antes do novo assentar, iremos experimentar muitas coisas. Algumas farão sentido, outras não. Há um desconforto, mas, em um momento de mudança, o mais perigoso é não mudar.
“É preciso ter cautela ao lidar com as finanças este ano, porque qualquer passo em falso pode nos levar a uma crise. Esse mesmo aspecto aconteceu nos anos 2000, os da bolha da internet”
“Estamos vendo a história acontecer na nossa frente. Antes do novo assentar, iremos experimentar muitas coisas. Algumas farão sentido, outras não. Há um desconforto, mas, em um momento de mudança, o mais perigoso é não mudar”
FEVEREIRO 2021 J.P 27
ENTR E V ISTA
Para o escritor e professor de ética Clóvis de Barros Filho, toda forma de amor, especialmente pelo outro, é um fator fundamental da resiliência neste momento de pandemia. E, segundo ele, a melhor maneira de ser feliz é viver adequadamente o presente e não esperar do mundo mais do que ele pode nos proporcionar naquele instante por denise meira do amaral ilustrações nando santos
ENTR E V ISTA
“Quanto menos pensarmos sobre o futuro e quanto mais o presente imediatamente vivido esgotar nossa atenção e tiver valor por ele mesmo, mais o futuro será melhor” tem um momento de abatimento e só precisa se ocupar de si mesmo, aceita com mais naturalidade estender essa fase de melancolia do que se tiver alguém precisando comer às suas custas.” J.P: Como falar em felicidade em tempos de pandemia? CLÓVIS DE BARROS FILHO: Podemos falar de felicidade em qualquer época. Quando temos um instante de vida feliz, é muito pouco provável que tenhamos condições mentais de pensar sobre a felicidade. A teorização sobre felicidade acontece como uma busca ou como uma falta. Quando você se dá conta de que há felicidade, é justamente porque ela está acabando. Um instante pleno de vida feliz é um instante que dispensa essa percepção porque uma das trações da felicidade é uma plenitude de alma na interação com o mundo vivido. Quando essa interação com o mundo é real, não há espaço para ficar constatando nada. Um matemático resolvendo um teorema, superfocado, não vai parar no meio da equação e falar: “Nossa, como estou feliz resolvendo esse teorema”. No programa do Jô [Soares], quando o entrevistado era espetacular, a plateia falava ao final: “Ahhh”. Você está 100% entretido com a entrevista e só se dá conta de que era boa quando termina. O flagrante da felicidade é voltado para o passado, para o que já aconteceu. Ele nunca é gerúndio, é pretérito perfeito. J.P: É possível ser otimista nos dias atuais? CBF: O “ismo” é um sufixo que aponta para o que vem antes. Para um comunista, a comunidade é o que há de mais importante, para um anarquista, é a falta de poder. Para o otimismo, o ótimo é o mais importante. O que se entende no senso comum como um otimista? Um cara que pensa que o amanhã será melhor que o
hoje, que entende que o que está por vir tem um valor positivo ao que está sendo imediatamente vivido. Nesse sentido, poderíamos dizer que o otimista é um esperançoso, uma pessoa que é capaz de pensar o amanhã com contentamento. A esperança é um momento de potência. Eu penso que é sempre possível fazer do tal do otimismo um hábito. O otimismo pode ser resultado de um treinamento. Você pode se exercitar para criar o hábito de pensar o futuro de uma maneira auspiciosa e agradável. Há inúmeros treinamentos de psicologia cognitiva que fazem isso. Por outro lado, a melhor maneira de se preparar para o futuro é viver adequadamente o presente. É a nossa melhor contribuição para o futuro. Quanto menos pensarmos sobre o futuro e quanto mais o presente imediatamente vivido esgotar nossa atenção e tiver valor por ele mesmo, mais o futuro será melhor. Uma pessoa que fica imaginando seu futuro 100% está se preparando mal para o amanhã. Inversamente, uma pessoa que vive a imediatidade da vida, tende a ter um amanhã superior ao primeiro caso. J.P: Como diria o poeta Paulo Leminski, distraídos venceremos? CBF: Sim, é maravilhoso. Você pode passar cinco anos na faculdade só pensando em quando entrar no mercado de trabalho ou você pode passar a faculdade vivendo o presente. A vida é sempre melhor vivida na sua plenitude. J.P: A falta de vínculos afetivos e a perda da coletividade, prejudicados mais na quarentena, afetam a sanidade mental? CBF: Tenho dificuldade em ter clareza sobre o que é o saudável e o que é patológico. Quem é saudável mentalmente? Quem define a saúde mental? Essa definição é politicamente e historicamente construída, é uma questão de poder. Se
PERFIL
DESABROCHAR
Muito antes de seu trabalho ganhar visibilidade com o sucesso do filho, o músico Criolo, a filósofa e poeta cearense Maria Vilani já promovia arte, educação e empatia para crianças e adolescentes do Grajaú, periferia paulistana onde mora há 40 anos. Autodidata, aprendeu a ler sozinha e hoje tem seis livros publicados POR CAROL SGANZERLA
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FOTOS FELIPE GABRIEL/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM
E
m meados dos anos 1970, época que Maria Vilani saiu de Fortaleza para tentar a vida em São Paulo, o Grajaú era um bairro de ruas de terra na zona sul da cidade, com poucos orelhões. “Tinha muita dificuldade, mas existia acolhimento, um ajudava o outro”, relembra. “Quem ouvisse o telefone tocar, ia bater no vizinho. As pessoas eram mais próximas, hoje estão mais reservadas. Acho que a vida moderna chamou o homem para o individualismo. Sabe, farinha pouca, meu pirão primeiro?”, solta. A conversa com essa cearense de 70 anos corre pontuada por ditados e pela sabedoria de quem a vida cobrou muito cedo. De origem humilde, perdeu o pai aos 8 e ficou aos cuidados de um casal de tios. “Por ser menina, eles entenderam que eu não precisava ir à escola. Tinha que aprender a lida doméstica porque ia casar um dia. Para mim, era natural retribuir com trabalho, não achava que estava sendo explorada, mas sim acolhida”, conta. Embora nunca tivesse frequentado a escola, a sede por conhecimento foi uma herança deixada por seu pai. “Ele era um homem que estava à frente de seu tempo. Não tinha diplomas, mas era muito culto, era artesão, lia todas as noites para nós. Essa é a lembrança mais sublime da minha infância”, conta. Outra herança que deixou foi ensiná-la a identificar as letras de seu nome, o que fez com que, com o tempo, aprendesse a ler sozinha. Até hoje, não esquece do primeiro poema que conseguiu ler na íntegra. “Foi uma emoção muito grande. Era Barcos de Papel, de Guilherme de Almeida.” O gosto pela leitura se intensificou e, aos 18 anos, ainda em Fortaleza, começou a escrever contos.
Acima, Maria Vilani com o filho, o músico Criolo; e autografando o livro Abscesso, de 2019
“Quando acontecia algo que me chocava, escrevia. Mas como nunca imaginei que um dia publicaria, jogava fora. A poesia transbordou quando já estava em São Paulo, uma forma de “colocar para fora a revolta de tanta coisa que via e não concordava”. No Grajaú, onde criou seus cinco filhos, participava ativamente da rotina escolar das crianças até que um professor leu seus escritos e notou o potencial. Quando viu, estava dando aulas informais de literatura antes mesmo de cursar o magistério – sua segunda graduação; a primeira foi filosofia, aos 42 anos. Sempre com a casa cheia de crianças e prezando pelo coletivo, do convívio com as mães veio a ideia de promover uma feira de artesanato, onde elas puderam expor suas criações, e esse evento deu ori-
“Sou sempre a favor de aprender pelo afeto, pelo amor, sou contra aprender pela dor. Temos que oferecer poesia às pessoas para recuperar a empatia” gem ao Caps, o Centro de Arte e Promoção Social, em 1990. Promover encontros de poetas anônimos era uma das atividades. “Também montei um grupo de circo e comecei a fazer teatro na rua. Acho que a rua é a extensão da casa da gente. Meus filhos participavam, o Criolo era o apresentador, minhas filhas, contorcionista e trapezista”, relembra. “Sou sempre a favor de aprender pelo afeto, pelo amor, sou contra aprender pela dor. Temos que oferecer poesia às pessoas para recuperar a empatia”, diz. Com seis livros publicados, entre eles Varal (2012), acaba de finalizar o próximo, ainda sem título definido. Professora do ensino médio por mais de duas décadas, há 30 anos trabalha para mudar a cena cultural da periferia. Quando Criolo estourou com o disco Nó na Orelha, em 2011, Maria ganhou visibilidade. “Ele fala muito sobre mim, e, sem querer, fiquei conhecida. O que faço hoje, minha filha, sempre fiz e estão me vendo agora. Minha vida segue igual, continuo militante cultural. Publicava um trabalho e as pessoas não viam; depois dele, o povo quer saber o que quero dizer. Então, junta a fome com a vontade de comer.” n
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ALMANAQUE
Ô ABRE ALAS
Em fevereiro não tem Carnaval, mas vai ter samba, sim senhor. Malvisto no início e associado à vadiagem, o gênero se misturou com a história do Brasil e conquistou todas as classes sociais. Afinal, quem não gosta de samba, bom sujeito não é POR A NA ELISA M E Y ER
“O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se canta, todo mundo bole, quando se canta, todo mundo bole (...).” Uma coisa é certa: Dorival Caymmi sabia o que estava dizendo quando compôs a música “Samba da Minha Terra”. Estilo de música muito característico do povo brasileiro, a história do samba é uma mistura de ritmos e tradições. Com influências africanas – dos batuques trazidos pelos negros que vieram como escravos para o Brasil –, o samba surgiu na Bahia no século 19. Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que instituíam entre os africanos uma espécie de comunicação ritual por meio da música, da dança, da percussão e dos movimentos do corpo. 34 J.P FEVEREIRO 2021
ALMANAQUE A PROIBIÇÃO O processo de popularização do gênero não foi fácil. O preconceito contra os negros fez com que os locais de samba, no século 19, fossem muito malvistos, considerados perigosos, sujos, “de perdição”. Só o fato de tocar e cantar um samba era motivo para ser preso no Brasil. Ser sambista era sinônimo de ser vadio e, por associação, bandido. João da Baiana, por exemplo, foi abordado pela polícia por estar com seu pandeiro na mão andando pelas ruas do Rio. Em outra ocasião, um agente apreendeu seu instrumento musical entendendo ser esse uma prova concreta da vadiagem do compositor. A criminalização dos sambistas permaneceu presente até 1930, na primeira presidência de Getúlio Vargas. Durante o período denominado Estado Novo, Vargas passou estrategicamente a valorizar os elementos da cultura brasileira e transformou o samba em um símbolo do país, reforçando o nacionalismo e o populismo, bandeiras de sua longa gestão, de 1930 a 1945. LITERATURA Grande estudioso das raízes do samba, além de também sambista, compositor e radialista, Henrique Foréis Domingues (1908-1980), o Almirante, foi um dos grandes nomes da cena musical carioca na década de 1930. Com Noel Rosa – que nos legou uma verdadeira crônica do seu tempo por meio de sambas bem-humorados, que refletiam o espírito alegre do povo brasileiro –, integrou o grupo Bando de Tangarás, criado na Vila Isabel. Almirante construiu sua carreira apoiado em três pilares: a música, os meios de comunicação e a pesquisa. Como radialista, contribuiu para a profissionalização do meio e diversificação da programação, e foi pioneiro na documentação da música popular brasileira. Com uma biografia de Noel Rosa, No Tempo de Noel Rosa, lançada em 1963, relaciona o samba urbano do Rio de Janeiro com as diversas influências de outros ritmos musicais existentes no Brasil. Nesse mesmo período, nomes como Cartola, Wilson Batista, Ismael Silva, Candeia e Nelson Cavaquinho já eram referências importantes.
L E I T U R A
Uma História do Samba – As Origens, de Lira Neto
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Desde que o Samba É Samba, de Paulo Lins
O Enredo do Meu Samba, de Marcelo de Mello
Quelé, a Voz da Cor: Biografia de Clementina de Jesus, de Raquel Munhoz
DISCOS
FOTOS ACERVO ITAÚ CULTURAL; REPRODUÇÃO ARQUIVO NACIONAL; REPRODUÇÃO; FREEPIK; DIVULGAÇÃO
Jorge Ben Jor – Samba Esquema Novo (1963) Paulinho da Viola – Foi um Rio que Passou em Minha Vida (1970) A Velha Guarda da Portela – Portela – Passado e Glória(1970) Adoniran Barbosa (1974) Cartola (1976) Candeia – Axé! (1978) Nelson Cavaquinho (1973) Os Originais do Samba – O Samba É a Corda... Os Originais a Caçamba (1972) Zeca Pagodinho (1985) Clara Nunes – Claridade (1975)
PLAYLIST • “Carinhoso”, Pixinguinha • “O Batuque da Cozinha”, João da Baiana • “Mulher Exigente”, Almirante • “Preciso Me Encontrar”, Cartola • “O Mundo é um Moinho”, Cartola • “Eu Bebo Sim”, Elizeth Cardoso • “Com que Roupa?”, Noel Rosa • “Fita Amarela”, Noel Rosa • “Trem das Onze”, Adoniran Barbosa • “Saudosa Maloca”, Adoniran Barbosa • “Sonho Meu”, Dona Ivone Lara • “Pelo Telefone”, Donga • “Marinheiro Só”, Clementina de Jesus
Acima, Cartola em 1970. Ao lado, Noel Rosa em imagem da década de 1930
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TRÊS PONTINHOS
Foi no fim da década de 1990 que o nome Chico Flores começou a circular em Salvador. O pseudônimo foi sugestão de um amigo como alternativa para o artista que queria mostrar sua obra sem se expor publicamente. Logo, as pinturas que retratam os personagens da capital baiana e a cultura do candomblé ultrapassaram as fronteiras da cidade e passaram até mesmo a integrar coleções particulares nos Estados Unidos, México e Alemanha. Sem formação acadêmica, Chico descobriu na obra do sergipano Bispo do Rosário, que usava em seus trabalhos objetos como canecas de alumínio, botões, colheres e calçados, uma possibilidade de seguir o caminho da arte, com pinturas que começaram em papelão e depois ganharam como suporte madeiras de demolição. “Pessoas como o Bispo têm uma visão do mundo que é diferente da minha e da sua, e o Chico tem esse olhar”, explica o artista, que se refere a ele próprio em terceira pessoa. “Imagina abrir a janela e começar a ver o mundo de outra forma. É difícil, mas possível.” (por Nina Rahe)
“Cresci sem poder fazer coisas que outras crianças faziam e dividia meus pais com muita gente. Hoje entendo que tudo isso é porque eles são queridos, representam muito para os fãs, que querem estar perto”
FOTOS ANDRÉ RAMOS/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM
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esde pequena, Camilly Victória acalentava o sonho de ser artista, certamente influenciada pelos pais, Xanddy, do Harmonia do Samba, e Carla Perez, ex-dançarina do É o Tchan. No entanto, sua infância foi mais resguardada dos holofotes, e só agora, aos 19 anos, Camilly decidiu apostar na carreira musical. Cantora de voz suave, ela lançou recentemente seu primeiro single, “On the Low”, que tem parceria com o namorado, o rapper americano Red Rum, e cujo clipe já contabiliza um milhão de views no YouTube. “Cresci em um ambiente musical e entendi desde cedo como muita coisa funciona e hoje posso aplicar no meu trabalho: viagens, shows, estúdios, TVs, sessões de foto...”, conta ela, sobre o bônus de ter pais famosos. “O lado ruim são as privações. Cresci sem poder fazer muitas coisas que outras crianças faziam. Não tive tanta liberdade e em momentos de lazer dividia meus pais com muita gente. Hoje entendo que tudo isso é porque eles são queridos, representam muito para os fãs, que querem estar perto”, completa Camilly, que soma mais de 700 mil seguidores no Instagram e já sente na pele a troca com seus próprios admiradores. A escolha por estrear cantando em inglês não foi à toa. A garota soteropolitana mora há quatro anos em Orlando, nos Estados Unidos, onde foi
terminar o ensino médio e hoje cursa produção musical. “O Brasil nunca deixou e nem deixará de ser a minha casa. Vou ao país pelo menos três vezes por ano, além das férias, mas ainda tenho planos aqui nos Estados Unidos, a começar pela minha música. Porém, o futuro deixo sempre nas mãos de Deus”, diz ela, que não descarta a possibilidade de gravar em português. Eclética, se abastece de R&B a hip-hop, passando por pop, samba e pagode, e se inspira em Brandy, Kehlani, Ariana Grande e Beyoncé – musas que cantam e arrasam na coreografia. Filha da loira do Tchan, Camilly tem o requebrado no DNA e assume que leva jeito. “Danço desde pequena. Fiz balé até os 14 anos e um pouco de hip-hop.
Camilly Victória em famíla: com o namorado, Red Rum, o irmão caçula, Victor Alexandre, a amiga Jarline Batista e os pais, Carla Perez e Xanddy
Quando tem churrasco e a família se reúne, todo mundo cai na dança e sempre tem o momento do pagodão com É o Tchan, Harmonia do Samba e vários outros... Rolam muitas coreografias, pode acreditar”, conta, aos risos. Com uma turma dessa, não teria como ser diferente. n
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fernando torquatto
COR PO E A LM A Depois de tanta exposição ao sol e mergulhos no mar e na piscina, é hora de apostar em hidratação total, da cabeça aos pés P O R LU CI A N A F R A N C A
NO CHUVEIRO
Nada mais prático do que cuidar da pele durante o banho. O Sabonete Líquido Renovação, da AlkhemyLab, à base de lavanda, pau-rosa e laranja, faz uma higienização hidratante, calmante, antiinflamatória e cicatrizante no rosto e no corpo. Pode até ser usado em queimaduras do sol. (R$ 66/350 ML). E que tal um delicioso creme de banho espumante inspirado em uma tigela de açaí? Proposta fresca e umectante da marca Feito Brasil, à venda na Sephora. (R$ 168) @ALKHEMYLABOFICIAL @SEPHORABRASIL
REFRESCO
Para aliviar o calor e dar um boost imediato na hidratação do rosto: esse é o papel da nova bruma HYALUAGE ACQUA , da DERMAGE , enriquecida com ácido hialurônico em alto peso molecular (R$ 57,90/150 ML). Uma noite tranquila na cama também ajuda a recompor a pele. O body splash da linha Cuide-se Bem Boa Noite, de O Boticário, proporciona frescor e relaxa com sua fragrância floral musk. (R$ 52,90/200 ML) @DERMAGEBRASIL @OBOTICARIO
Como uma poção mágica, o Momo Hair Potion, que faz parte da linha Essential Haircare da Davines, faz milagres no cabelo ressecado após exposição aos raios solares. Com um potente poder de hidratação, o leave-in contém extrato de melão amarelo e é rico em água, vitaminas e sais minerais. Os ingredientes e as embalagens são produzidos de forma sustentável, pilar da marca italiana. (R$ 233,60/150 ML) @DAVINESBRASIL
PELE ELÁSTICA
Com uma lista de ingredientes que inclui óleos – de oliva, rosamosqueta e castanha-do-pará– e manteiga de murumuru, a marca de cosméticos orgânicos Souvie apresenta o Hidratante After Sun 25/45, perfeito para colocar na rotina pós-férias. Como o próprio nome sugere, o produto com textura fluida e fragrância de capim-limão ameniza os efeitos da exposição solar no corpo todo (R$ 108). @SOUVIE_ORGANICA
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FOTOS DIVULGAÇÃO
FIOS FORTES
MASSAGEM E MEDICINA Em entrevista a Renata França, criadora da massagem mais desejada pelos famosos, médicos falam de suas especialidades e dos benefícios da massagem para a saúde
Oncoendocrinologista, chefe da endocrinologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, membro titular da Oncologia D’Or e médica associada da Clínica OncoStar
Qual é o maior desafio de trabalhar na especialidade de tumores endócrinos? Tumores endócrinos tendem a ser raros e muitas vezes não são conhecidos pelos médicos generalistas, o que retarda o diagnóstico e o início do tratamento. Manter-se atualizado em relação à fisiopatologia e aos novos tratamentos também é um desafio, pois são muitos os avanços. Por isso, a endocrinologia conta com o oncoendocrinologista, um especialista em tumores endócrinos. Quais são as neoplasias mais comuns na endocrinologia? O câncer de tireoide é o mais frequente. No país, são aproximadamente 15 mil casos novos por ano. Depois, tumores de paratireoide, neuroendócrinos do pâncreas, intestino, pulmão, tumores das glândulas adrenais e os tumores hipofisários. A complexidade é tanta que o Instituto do Câncer conta
com grupos que tratam especificamente cada tipo de tumor. Qual é a sua opinião sobre pacientes oncológicos que incluem drenagem no tratamento? A drenagem linfática, muitas vezes, melhora a dor, a mobilidade, a qualidade de vida do paciente. Pode ser utilizada como uma terapia complementar, principalmente no pós-operatório ou em pacientes muito edemaciados. A indicação, entretanto, deve ser individualizada. O paciente deve conversar com seu médico para saber se ela trará benefício e não uma complicação. Que benefícios a massagem pode trazer a pacientes em tratamento de câncer? São vários. A massagem é relaxante e, assim, reduz a ansiedade, que é tão comum ao paciente com câncer. Ela ainda pode reduzir a dor, principalmente das costas, que, muitas vezes, ocorre em razão
da tensão da musculatura paraespinhal. Melhora, sem dúvida, a qualidade de vida dos pacientes, mas é importante que se receba de um profissional experiente em pacientes oncológicos. A massagem bem-feita traz benefícios, mas a malfeita pode trazer mais transtornos ao paciente. Em que pós-operatório ela pode ser recomendada? O paciente que faz cirurgia plástica se beneficia quase que universalmente da massagem e da drenagem linfática. Mesmo em outros tipos de cirurgia, massagens relaxantes restritas aos membros inferiores e até reflexologia podem ser consideradas. A indicação deve ser feita pelo médico, dependendo do tipo de cirurgia e se o paciente tem ou não comorbidades. Para a versão completa da entrevista, acesse +sparenatafranca.com
R A IO X
Desconhecida há um ano e hoje um sucesso no Instagram com seu humor e estilo, a jornalista e ex-vendedora Thai de Melo Bufrem abre o apartamento em Curitiba e compartilha seus gostos e reflexões texto luciana franca fotos isabella glock
O MUNDO DE THAI
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ILUSTRAÇÕES FREEPIK
T
hai de Melo Bufrem surgiu como uma lufada de ar fresco durante a pandemia, quando ficamos isolados, ainda mais conectados e cansados de tantos filtros e fakes nas redes sociais. As postagens que mostram seu estilo apurado, autenticidade e humor – com caras e bocas do cinema mudo e um twist de Almodóvar –, conquistaram mais de 90 mil seguidores no Instagram. Aos 34 anos, a boa-vistense que mora em Curitiba também chama a atenção de muitas marcas, principalmente de moda. Foi a moda, inclusive, a responsável por revelar seu talento na internet. “Há cinco anos, trabalhava como vendedora e, para vender, comecei a fazer alguns vídeos [dentro do provador, com peças de roupas da loja] no meu Instagram que, até o ano passado, era fechado e com 300 seguidores”, conta ela, formada em jornalismo. “Passei a fazer vídeos sobre as coisas do dia a dia e questionamentos sobre a maternidade. Foi então que minhas amigas falaram que eu tinha que abrir meu Instagram. Era uma brincadeira que virou coisa séria.” Thai é mãe de dois meninos, Marcelo e Lorenzo, que muitas vezes estão em cena com ela e ambos são chamados pelo codinome MarceLorenzo. Já o marido, Marcelão, quase nunca dá as caras nas redes. “É muito tímido e desavisado porque casou comigo, que tenho 1,80 metro de altura e, por isso, sempre tive uma vida pública”, brinca.
Thai usa vestido Alix, sandália Miu Miu, bolsa Allmost Vintage e brinco Thai para Lool. No alto, detalhe das bolsas Waiwai (preta) e Prada. Na pág. ao lado, ela veste macacão Forlegs e blazer Alix
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R A IO X
HUMOR SALVA? Humor facilita. Humor vem do que não dá certo. É um bálsamo que deveria fazer parte da rotina de skincare. NA MINHA GELADEIRA SEMPRE TEM… muitas pessoas, sentimentos e pensamentos que não fazem mais sentido. MEU AMULETO É… a moda. É impressionante o poder que o vestir tem sobre meu dia, sobre meu humor, sobre como me percebo e, por fim, me expresso.
PARA PREENCHER A ALMA... ioga, sempre. AS PESSOAS SE SURPREENDEM COMIGO QUANDO… descobrem que eu faço meus roteiros, tenho minhas ideias sozinha, gravo meus vídeos e faço as legendas do meu Instagram. Elas geralmente acham que eu tenho uma equipe para isso. HÁ UM ANO EU… não imaginava que estaria aqui, respondendo essa pergunta, nesta revista que gosto muito! Eu estava trabalhando como gerente em uma loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo, e meus filhos e marido morando em Curitiba. DAQUI UM ANO EU... continuarei vivendo o resultado das minhas escolhas, assim como faço hoje. Se estiver viva, claro! Gosto de lembrar que sou finita todos os dias. Me ajuda a viver de forma mais consciente e aproveitar o agora.
À esq., com os filhos Marcelo e Lorenzo, Thai usa look Farm e sapatos Gucci. Acima, tênis Vans e sandálias Miu Miu para descer do salto
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Acima, detalhe da coleção de batons vermelhos, sua marca registrada. À dir., de quimono Loop Vintage.
NO MEU ESTILO PESSOAL NÃO PODE FALTAR… sapato sem salto ou com pouquíssimo salto. Acho muito elegante “descer do salto”.
ILUSTRAÇÕES FREEPIK
OBJETO QUE NUNCA VOU ME DESFAZER… “nunca” é muito tempo, e acho que tudo na vida tem um tempo de início, meio e fim.
MEU SEGREDO DE BELEZA É… viver da forma que me faz sentido hoje e não da forma que as pessoas querem que eu viva. E uma boa dermatologista, claro.
MAIOR CONSELHO QUE RECEBI NA VIDA: Meu pai me falava: “Quem manda é quem assina o cheque”. Ele tinha razão. A liberdade financeira proporciona muitas outras liberdades.
DESTINO INESQUECÍVEL: Trancoso sempre está nas minhas memórias mais felizes. Casei lá há 11 anos e, desde então, vou anualmente.
MEU APPS FAVORITOS SÃO… Spotify e Shazam, para descobrir músicas que escuto em algum lugar e quero identificar de quem é. Amo música!
LUGAR ONDE MAIS GOSTO DE ESTAR: como uma boa leonina, eu amo o centro: da cidade, das atenções e, principalmente, estar no meu centro.
MÚSICA QUE TENHO OUVIDO NO REPEAT: “Meia Lua Inteira”, do Caetano Veloso
NÃO PERCO UM EPISÓDIO DE: The Crown. TENHO UMA COLEÇÃO DE… boas histórias!
MEUS FILHOS SE PARECEM COMIGO QUANDO... Filhos? Eu não tenho filhos. Tenho clones!
MELHOR LIVRO DE TODOS OS TEMPOS: A Coragem de Ser Imperfeito, de Brené Brown.
BATOM VERMELHO... Sempre que tenho vontade – e quase sempre tenho vontade.
ME DESLIGO QUANDO... enfrento uma barra. Seja na vida, ou na de Access.
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ARTE
por nina rahe fotos paulo freitas
E
m uma entrevista de 2004, Teresa Fittipaldi contou que havia trancado a matrícula na Faculdade de Artes Plásticas da Faap pela segunda vez. “Não tem pressa”, ela dizia à época, com 44 anos. Não à toa, entre todas as disciplinas do curso de artes visuais, Teresa se apaixonou mesmo pelas aulas de escultura em argila. “Amassar o barro te acalma e você cria uma conexão. Nos dias em que eu tinha aula, dormia melhor e fui me simpatizando”, ela conta hoje, aos 62. “Fazia trabalhos bem diferentes e meu professor já falava que eu tinha jeito. Nada como agora, mas ele achava que eu tinha um ‘donzinho’.” Quando resolveu cursar artes plásticas na Faap, em 2002, Teresa tinha acabado de voltar para São Paulo após 15 anos morando em Miami, onde acompanhava Emerson Fittipaldi, seu então marido e piloto, com quem teve dois filhos, em viagens por todo o país. “Eram mais de 12 corridas por ano e não dá para ficar em casa com seu marido guiando um carro a 350km/h”, lembra. Pouco habituada às regras e demandas de trabalho de uma universidade, ela acabou abandonando o curso, mas manteve o prazer da cerâmica sempre presente. É na sala
do seu apartamento, uma cobertura de 180 m2 nos Jardins, que mantém seu ateliê. Ali, acompanhada de música clássica e de Nina, uma jack russell que dorme todos os dias ao seu lado, cria com calma as peças que vende nas lojas Pinga e Casual. “Achava que ia estragar o layout, aqui é pequeninho, não dá para ter forno, mas minha filha, que mora em Nova York, falou tanto que comecei a mexer mesmo”, explica. “Com esse ateliê na minha casa, podendo fazer o que me dá alegria, acho que vou envelhecer bem.” Desde que começou a trabalhar com a argila, com professores como Florian Raiss, Teresa nunca gostou de produzir utilitários e viu nos pratos de parede e nas esculturas a forma de canalizar sua criação. O sucesso dos pratos, segundo ela, está também nas mensagens estampadas
em cada um deles, como a frase “Come si chiama quando tutto va bene? Allucinazioni” [Como se chama quanto tudo está bem? Alucinações] e a palavra “Sirigaita”. “As pessoas podem colocar onde quiserem, na parede da cozinha, na copa, no quarto, mas não pode ser uma frase pesada ou aquela filosofia heavy”, diz. Dos que estavam pendurados no seu apartamento, muitos acabaram migrando para as mãos dos amigos. Atualmente, ela está trabalhando em sua primeira luminária. Com o design concluído, a peça ainda deve passar pelas queimas e Teresa não se decidiu com qual cor e de que maneira irá esmaltá-la. “A mão é a mesma, mas cada obra é única. Nada sai idêntico”, revela. Quando ouve das amigas que deve montar uma exposição com suas criações, no entanto, “já dá nervoso”. “Gosto de me sentir livre e a inspiração não é algo que vem toda hora”, explica. Mas quem comprou um de seus pratos recentemente, Teresa conta, foi a galerista Luciana Brito. “Fiquei supercontente e também me veio na cabeça: ‘Ai, quem sabe uma exposição’”, confessa. “Sinto que encontrei meu caminho e estou deixando fluir naturalmente.
FAUNA BRILHANTE
Foi a partir da necessidade de procurar novos caminhos profissionais, mas sem deixar de lado o amor pelo reino animal e mineral, que a designer de joias e bióloga Silene Nogueira Menezes, 38 anos, criou sua marca. Inspirada pela natureza, história da humanidade e simbologia ancestral, Silene desenha joias únicas, não tradicionais – como escaravelho, louva-a-deus, drosófila –, que são verdadeiros amuletos. “Acredito que as joias são parte de um processo maior do que apenas a composição de um look bacana. São importantes adornos corporais, usados como formas de expressão de personalidades individuais.” @SILENE_IOLE
MODA ARTE
FOTOS GENILSON COUTINHO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
DESIGN PRAIANO
Depois de conhecer a carioca SENTA, criada no fim de 2019 pelos amigos Natália Coutinho e Victor Lemos, você nunca mais vai enxergar uma cadeira de praia como antes. As tramas feitas manualmente com cordas, criando desenhos e combinações de cores que saltam aos olhos, transformam a simples cadeira em uma peça de design, que pode ser usada em qualquer ambiente. Sucesso entre a turma descolada, a marca lança no fim deste mês um site com pronta entrega. @SENTA.SENTA.SENTA
Os lenços e panneaux funcionam como telas em branco para as criações da mineira Hana Khalil. A vontade de criar algo novo, o amor pelas artes plásticas e o apoio e ensinamentos da avó materna foram o que a motivou a lançar sua marca homônima, em 2017. “Tudo pode ser uma fonte de inspiração, e tenho a arte como guia. A arte permeia tudo”, diz a designer de 26 anos. Com estampas exclusivas desenvolvidas por artistas, ilustradores e designers parceiros, a marca cria pequenas coleções que trazem peças artsy com formas orgânicas e cheias de movimento, que transitam facilmente da praia para um evento social. @HKHANAKHALIL
MODO DE VIDA
O SERTÃO VIROU LAR
A pandemia levou muita gente a experimentar um novo jeito de viver. A ilustradora Bruna Barros foi uma delas: saiu de São Paulo para morar no calor do sertão de Alagoas, na Ilha do Ferro. Enquanto se adapta aos dias quentes e ao relógio que corre devagar, ela divide as alegrias e agruras de quem fez uma mudança radical. Em forma de carta a uma amiga que tomou decisão parecida, mas trocou de país – neste caso Cajón del Maipo, no Chile –, Bruna conta como tem sido a experiência
Querida amiga, Me senti profundamente acompanhada nessa jornada de seguir tendo no sonho a fonte máxima de inspiração para a vida. Fiquei pensando em você e imaginando a sua família vivendo ao pé da Cordilheira dos Andes. A pandemia e todas as crises que ela trouxe nos colocam, sem dúvidas, numa fase dura, mas também nos deixam descobrir que a vida pode ser vivida de outras formas.
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Eu e o Allen [seu companheiro que é músico] resolvemos prolongar a nossa estadia na Ilha do Ferro por outros seis meses. A casinha que tínhamos alugado foi vendida e agora arrumamos uma outra, de pau a pique e com vista para o rio São Francisco. De barro por fora e paredes caiadas por dentro, os cômodos são todos interligados e o ar fresco, quando chega, consegue atravessar todos os ambientes. A casa foi comprada na tentativa de preservar a memória do vilarejo. Como
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
TEXTO E ILUSTRAÇÕES BRUNA BARROS
MODO DE VIDA
na Pompeia (o bairro onde eu morava em São Paulo), o espírito da modernização passa como um trator por cima da história, destruindo deliciosas platibandas com a promessa grotesca de um futuro glorioso de cimento, muros e brilho – muito brilho. Passamos as últimas semanas cuidando da reforma da casa. Várias pessoas estão envolvidas nas adaptações que estamos fazendo. É tudo muito divertido e me sinto o tempo inteiro aprendendo. Foram dias intensos de entra e sai de gente. Eles dão pitacos, oferecem mudas, revivem memórias. Pessoas passam e nos contam dos antigos moradores, de seus sonhos recorrentes com a casa, dos pés de pinha que havia no quintal e das noites memoráveis de cantoria junto ao artista e músico que viveu e morreu aqui. Nos mudamos há dois dias. Escrevo embaixo de uma varandinha com teto de palha e tomo uma garrafa de água atrás da outra. Vejo barcos que chegam e partem. Os urubus sobrevoam as catingueiras. Às vezes, paro para entrar debaixo do chuveirão. O calor ainda é o nosso maior desafio. Quase não consigo trabalhar, tenho desenhado muito menos e a leitura é um passatempo impossível. De uma às quatro da tarde o tempo não passa. Tudo fica parado e só crianças e desavisados transitam pelas ruas. O meu computador às vezes trava e agora mesmo tive que deixá-lo por alguns minutos dentro da geladeira para poder seguir escrevendo. Pensando no cenário onde vocês estão na Cordilheira dos Andes, quase morri de inveja. Logo imaginei o friozinho gostoso vindo das pontas nevadas dos picos. Ontem eu ri quando
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Allen me disse que da próxima vez que sentir frio vai escorrer uma lágrima dos olhos. Agora, pensando nos cumes brancos das suas montanhas, eu também me emocionei. Vivi uma sensação de aconchego, uma lareira, um livro... talvez até uma cobertinha de tricô. No sertão só encontro aconchego quando mergulho no rio ao meio-dia. A suavidade da água fresca abre meus poros e me sinto como uma cobra com a pele endurecida pela inclemência do sol. Ao meio-dia a água é transparente e posso ver claramente as algas que formam pequenas florestas molhadas. Nelas habitam peixes de todos os tamanhos. No rio as crianças brincam enquanto as mães lavam roupa. Cachorros se esfriam, homens refrescam cavalos e trabalhadores se lavam depois de uma manhã empoeirada.
MODO DE V IDA
NATUREZA VIVA Um chalé à beira da represa em Bragança Paulista, interior de São Paulo, é o refúgio do paisagista Mauricio Prada, que o decorou com referências do Peru, sua terra natal por luciana franca fotos paulo freitas
H
á cinco anos, o paisagista Mauricio Prada estava com a filha pequena, Helena, em um parque de São Paulo quando pediu que a menina tirasse os tênis para pisar na grama. Ela começou a chorar, desesperada. “Aí percebi que algo estava errado com uma criança que não gostava de pisar na grama”, lembra ele. Algumas semanas depois, ainda com essa história martelando na cabeça, um amigo que estava indo morar fora perguntou se Mauricio não queria comprar sua lancha antiga de madeira, mesmo sem ele nunca ter andado ou pilotado uma.
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O paisagista resolveu ver a embarcação, se apaixonou à primeira vista e acabou comprando, mas também se encantou pelo lugar onde ela estava: uma represa em Bragança Paulista, a 1h20 da capital, em um pequeno condomínio de chalés. O lugar, que era uma antiga pousada, aliás, tem um fascínio extra. O proprietário, o arquiteto Ricardo Gomes, teve a ajuda de um amigo com quem estudou para desenhar os chalés, ninguém menos que Sergio Rodrigues, um dos grandes mestres do design brasileiro que acabou imprimindo sua marca também por lá.
O paisagista Mauricio Prada pilota lancha na represa em frente ao chalé. Na pág. ao lado, deck com rede e balanço, totalmente integrado à natureza. Abaixo, objetos decorativos no canteiro
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MODO DE V IDA
“Fui atrás e consegui uma casinha de três quartos, sem nada. Comecei a fazer o jardim, logicamente, para dar um charme e começamos a utilizar a casa. Em pouco tempo, virou meu refúgio, vou muito, até durante a semana, para passar o dia, fazer um churrasco para mim mesmo, ver meus projetos, e volto no fim da tarde ou durmo de um dia para outro”, conta ele. A decoração ganhou um toque peruano, origem de Mauricio, com objetos típicos, como os tapetes feitos à mão de Cusco e duas fotos na sala do conterrâneo Mario Testino. Quando a temperatura cai, a família gosta de ficar assistindo à TV com a lareira acesa ou no quintal, em torno do fogo de chão. “É incrível aquele céu estrelado, parece que você pode tocar as estrelas. Gosto tanto do lugar que comprei agora um terreno na frente e penso em construir uma casa”, diz Mauricio. Já Helena, aquela menininha que não gostava de pisar na grama, hoje, com 7 anos, não calça os sapatos quando está em seu refúgio preferido, vive cheia de lama, anda de quadriciclo e, na represa, dá um show nas aulas de wakeboard.
POR AÍ
Quando voltarmos a ir e vir por aí sem restrições, renda-se aos encantos da ilha italiana menos conhecida pelos turistas Na Costa Amalfitana, no golfo de Nápoles, na Itália, o grande sucesso turístico no mundo (antes da pandemia, claro) era a ilha de Capri... Cheia, lotada de excursões com turistas horrendos de bermuda, meia e sandálias Birkenstock, que vão passar o dia e voltam ao entardecer. Ao lado, tem a ilha “irmã” de Capri, Ischia, pouco conhecida dos turistas, mas muito procurada pelos italianos. Antigamente, os romanos iam lá se curar de seus males nas águas termais desta ilha vulcânica. São mais de 50 nascentes de águas térmicas e 56 spas! Aliás, dizem que foi em Ischia que inventaram esse conceito de spa e há uma lenda que o primeiro deles foi a fonte das ninfas Nitrodi. Ischia, no entanto, não é só curas e fontes rejuvenescedoras. Se tornou um local turístico lindo – cheio de árvores de buganvilles coloridas com mar turquesa transparente – e com a baía cheia de iates e seus tripulantes chiquérrimos! Quando eu era pequena, morei com minha família em Roma por quatro anos e lembro que papai adorava ir de carro até lá passar o fim de semana. Claro, não tinha os restaurantes e as butiques chics que tem agora, mas tinha o lindo mar e o hotel Mezzatorre, que nos séculos 16 e 17 era uma torre/farol no alto de um rochedo, para controle das embarcações, e virou um hotel muito bom, mas bem mais simples. Hoje em dia, tornou-se um luxuosíssimo hotel no topo desse rochedo com sua própria baía particular envolvendo o mar turquesa. Portanto, se um dia estiver nessa parte da Itália, mesmo que não tenha um iate, dê um pulo de carro, ou ônibus, nessa ilha mágica. Vá à varanda no alto do hotel, onde tem os ombrelones, e, com um copo de Aperol borbulhante na mão, pare um minuto para apreciar toda a beleza dessa pequena baía deslumbrante, lembre-se de mim e agradeça a Deus por estar lá.
VIAGEM
A apresentadora e empresária Ticiana Villas Boas passou um dos melhores fins de ano de sua vida navegando pelo rio Negro: mergulhou nas ilhas do arquipélago de Anavilhanas, provou de tambaqui a matrinxã e se deslumbrou com a sabedoria dos ribeirinhos que criam seus filhos brincando na natureza em depoimento a carol sganzerla
VIAGEM
montava toda uma estrutura, com almofadas e tendas na praia, churrasqueira, bebidas geladas e música. Fizemos um luau inesquecível. Uma outra coisa que não fazia ideia, e adorei, é que o rio Negro não tem mosquitos! A imagem que eu tinha da Amazônia era de um calor imenso e um monte de mosquitos, mas o rio tem uma brisa gostosa e suas águas escuras são por causa da grande quantidade de matéria orgânica – é um rio de água com pH ácido –, o que faz com que não tenha insetos. Voltamos sem nenhuma picada e nem precisamos passar repelente. As crianças simplesmente enlouqueceram. Tenho certeza de que nunca esquecerão. Entrar na floresta foi uma aventura, ainda mais à noite. Lá, eles chamam de focagem de jacaré: capturam os animais para vermos de perto e depois os devolvem ao rio. Imaginem como os pequenos ficaram? Sair naquela escuridão só com o guia em um barquinho para “caçar jacaré” na floresta amazônica? Esta foi a minha terceira ida para a Amazônia. A primeira vez fui a trabalho como repórter do Jornal da Band para cobrir uma cheia histórica, em 2009, experiência que passou longe do turismo... Foi inesquecível, uma visão real das dificuldades que o povo de lá enfrenta, mas na viagem de agora e na do ano passado, quando fiquei hospedada no Mirante do Gavião Amazon Lodge, tive oportunidade de conhecer a estrutura de hotéis e me surpreender com o serviço. No Mirante, nós chegamos de hidroavião. Pousamos na água do rio Negro, bem em frente ao hotel, que fica
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FOTOS ARQUIVO PESSOAL; PEU CAMPOS; FREEPIK; JEAN DALLAZEN/DIVULGAÇÃO; SITAH/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
Acima, o barco Untamed Amazon, onde Ticiana e a família navegaram pelo rio Negro; ao lado, prato de peixe matrinxã em almoço na embarcação; macaco-caiarara e as crianças correndo ansiosas para ver os botos
JP V I A JA
CABALA shmuel@casadakabbalah.com.br
TER CONSCIÊNCIA A matéria está perdendo poder. Dificilmente pegamos dinheiro nas mãos. Quase todas as transações financeiras são virtuais. Aulas deixaram de ser presenciais e passaram a ser pelo vídeo. Em vez de nos deslocar de um lugar ao outro, somos capazes de nos teletransportar usando a tecnologia. A questão não é ter – quanto você tem, quanto você ganha. A questão é o que você está fazendo com sua vida, em que está investindo sua energia, seu tempo, seu pensamento. Afinal, o que é a vida? Estamos aqui para viver, lutar, sofrer, ter momentos felizes e um dia deixar tudo para trás e acabou? Você é uma alma eterna, uma consciência que nunca morre. A consciência que é seu verdadeiro eu existe independentemente do corpo e do cérebro. O propósito da vida é a elevação da consciência. Elevar significa sair do egoísmo do eu e passar a pensar mais nos outros. Desenvolver amor ao próximo. A consciência está ganhando poder. Busque sabedoria e conhecimento. Busque a compreensão da figura completa. A vida é uma oportunidade única, mas sem saber as regras do jogo nunca cumpriremos o objetivo.
HORÓSCOPO
Mesmo que um pouco parado, este mês é importante para os nativos de Áries. Como o ano será repleto de transformações, fevereiro o preparará para entrar em sua própria energia para que você encontre sua paz. Será um período tranquilo e a intuição falará alto para trazer à tona sua força interior. Este caminho o levará a ser um ariano focado, animado e seguro de si. Cuidado para não ser exigente demais este mês, taurino. Em fevereiro, é possível que você tenha ideias sobre iniciar algo novo e deseje colocá-lo em prática. O lado negativo é que você estará tão racional que não terá certeza sobre como iniciar seus projetos por pensar demais em cada mínimo detalhe – possíveis brigas também podem ocorrer por esse motivo. É preciso que você relaxe um pouco e escute conselhos dos mais velhos, que poderão te guiar. Chega de tristeza! Este mês, a vontade de recuperar sua felicidade emocional plena falará alto. Você
está cansado de hábitos que o colocam para baixo e começará a refletir sobre como trazer harmonia de volta a sua vida. Isso o deixará animado, ativo e com garra para ultrapassar qualquer desafio que venha a sua frente. A pouca movimentação na vida, que o deixa com a sensação de estar num limbo, agora faz com que você sinta falta da expectativa de boas oportunidades surgindo. Em fevereiro, você sentirá a necessidade de refletir sobre como se desprender deste sentimento que o controla. A boa notícia é que a mudança de sorte virá neste período e você, finalmente, encontrará novidades chegando com rapidez. Ótimo período para investir na carreira, leonino! Novas portas se abrem em fevereiro e você terá diversas oportunidades para melhorar seu lado financeiro. Por esse motivo, se sentirá animado e pronto para tudo, com a confiança
em alta. Consequentemente, você terminará este mês com o sentimento de desejo realizado. Aproveite! É muito importante que você não deixe que a preocupação o domine este mês, virginiano. Em fevereiro, a vida parece colocar barreiras e será difícil controlar a ansiedade. Você pode encontrar oportunidades perdidas na carreira e em projetos que queira iniciar. Por isso, tome cuidado ao falar sem pensar, gerando discussões, e lembre-se de que a felicidade pode ser encontrada dentro de si – fora do mundo material. Em fevereiro, é preciso que você entenda suas desconfianças. A felicidade dará o ar da graça em sua vida este mês e será também um ótimo período para relacionamentos. O problema é que, por traumas passados, você sente que não pode confiar em momentos felizes. É preciso acalmar e escutar sua
intuição para que não sabote as oportunidades que aparecem para você. Aprenda a confiar. Em fevereiro, o escorpiano sentirá a necessidade de investir no trabalho e construir a carreira com maior estabilidade. Mesmo com a vontade de crescer, ainda não será neste período que você encontrará portas abertas e, por isso, se sentirá decepcionado. Permita-se ter novas ideias e reflita sobre o que você pode aprimorar em seu currículo para buscar oportunidades melhores. Todo foco estará em você mesmo em fevereiro, sagitariano! Sua preocupação, este mês, será apenas voltada para sua própria independência, estabilidade e empoderamento pessoal. Desta forma, a atenção para relacionamentos fica em segundo plano. Por outro lado, sem que perceba, a vida está o encaminhando para relações e parcerias que lhe farão muito bem. Você está no caminho certo. Você estará focadíssimo em alcançar seus desejos, capricorniano! Sua garra, porém, o deixará um pouco cego para as pessoas a seu redor e possíveis discussões podem ocorrer por não pensar no outro. É importante ouvir outras ideias e opiniões – principalmente dos parceiros de trabalho – para manter a harmonia nas relações. A necessidade de guardar dinheiro ocupará sua mente em fevereiro. O motivo, porém, não é dificuldade financeira e, sim, a vontade de investir em sua casa. Você estará mais caseiro e responsável, o que aumentará
a consciência de ter uma vida estável. Aproveite este mês para investir em suas ideias e, assim, buscar oportunidades para conquistar seus objetivos. Suas expectativas estarão altas este mês para buscar novas
oportunidades profissionais. Há uma enorme vontade de crescer com rapidez no trabalho. Por conta de sua ansiedade para conquistar os planos profissionais, você pode acabar sendo impulsivo e com pouco foco. Antes de dar qualquer passo, reflita e invista em estratégias.
ENTRE LENÇÓIS A Virgem Maria de Godard
AGRADECIMENTOS
J.P NAS REDES
Ú LT I M A PÁ G I N A
por fernanda grilo
“Chico, tem como eu ficar com o corpo da fulana ou do sicrano?” Não, infelizmente não tem. Se olhe no espelho, se ame do jeito que você é, se aceite. Aí, sim, poderei buscar sua melhor versão. Treinar jiu-jítsu com a academia lotada até não aguentar mais, com 30 pessoas no mínimo (risos). Sempre fui atleta de jiu-jítsu e meu professor de luta me inspirou a cursar educação física. Meu primeiro aluno foi o Bruno Gagliasso, nos conhecemos há uns 13, 14 anos. Ele precisava perder peso e o auxiliei nessa missão. Me apaixonei por dar aulas e não parei mais. Sim. A única coisa que rola é que uma aula de uma hora acaba virando três por conta dos bate- papos, brincadeiras com a minha afilhada Titi (filha de Gagliasso).
Aí você quer me quebrar. Sem nomes, por favor (risos). Sim. O comprometimento, a entrega e a vontade de mudar foram fundamentais. Tê-lo ajudado a virar essa chave interna para a atividade física é um orgulho muito grande. A maioria é imediatista. Acha que vai treinar um ou dois meses e conseguir o tão sonhado físico definido. Essa mudança não é da noite para o dia. Atividade física. Não só pela saúde e estética, mas pela questão fisiológica. A endorfina é o hormônio responsável por promover a sensação de recompensa e bem-estar depois dos exercícios. É um vício bom, mas preciso me policiar para não passar dos limites. Meu ponto fraco é comida japonesa. A persistência. Quando quero uma coisa, vou até o fim.
Sim, me arriscaria de
novo. Já atuei nos filmes Tropa de Elite 1 e 2, na novela Fina Estampa com o Dudu Azevedo, era sparring nas cenas de luta, e fiz um lutador americano em Malhação. O que me tira do sério é não conseguir fazer meu treino. Chego em casa e minha esposa já sabe: “Está com essa cara porque não treinou”. Sou preguiçoso para aprender coisas novas, ainda mais na parte tecnológica. Às vezes, sinto que meu filho de 7 anos já mexe melhor no celular do que eu, e olha que trabalho com isso. Tenho a referência de tantas mulheres fortes e incríveis. Minha esposa, Cíntia Rosa, que cresceu na comunidade do Vidigal (no Rio) e, graças à educação e apoio que recebeu, foi à luta e desenhou a história dela. Angélica é uma mulher incrível, supermãe e superprofissional. Grazi veio de Jacarezinho (PR) atrás do seu sonho, agarrou as oportunidades... Da minha profissão, transformar a vida das pessoas por meio da atividade física é minha missão. Pegar meu filho e dar um mergulho no mar à tarde, quando algum aluno meu me dá “bolo”.
Revista J.P venceu o 34° Prêmio Veículos de Comunicação na categoria Revista Mercado de Luxo
Luxo mesmo é levar informação, charme e propósito aos leitores. Obrigada a todos que nos ajudaram a conquistar esse prêmio. /revista-joyce-pascowitch
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