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ENTRANDO NO JOGO

Prepare o fôlego porque o que vem a seguir pode fazer você perder o ar, gritar ou chorar… de tanto rir! O que vale é não perder o bom humor!

Portal 1

1. Observe e compare as duas obras reproduzidas.

Paródia: gênero que recria, de forma cômica, uma obra já existente, geralmente com a finalidade de despertar uma reflexão crítica.

a) Você já conhecia a obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci? E a paródia da pintura?

b) Você achou a paródia da pintura divertida?

c) Observe o estilo da maquiagem, das unhas e da pose da modelo no segundo quadro. Ele é familiar para você?

d) Observe que o gênero da pintura original é o retrato. Como você acha que o artista da paródia explora esse aspecto?

O nome Mona Lisa significa “Senhora Lisa” em italiano. Já o outro título do quadro, A Gioconda, pode ter dois significados: o primeiro é o de “esposa do senhor Giocondo”, nobre contemporâneo de Leonardo da Vinci. O segundo é “a risonha” ou “a sorridente”. Giocondo(a) significa “alegre” ou “brincalhão” em italiano. Em português, a palavra “jocoso” é bem parecida e tem o mesmo significado, mostrando um vestígio da proximidade dessas duas línguas.

d) Espera-se que os estudantes percebam que a paródia dialoga com o gênero “retrato” na pintura e com o estilo “selfie” na fotografia, compreendendo ambos como uma maneira de registrar ou descrever alguém.

Para ampliar essa comparação, comente com os estudantes que os retratos, na época do Renascimento, costumavam ser desenhos ou pinturas encomendadas, como foi provavelmente o caso do retrato de Mona Lisa. Ao longo do tempo, essa forma de registro ganhou múltiplas possibilidades e, na atualidade, as selfies são uma forma bastante propagada de autorretrato. Assim, a escolha da obra de Da Vinci para a paródia dialoga com o gênero da obra original e propõe a atualização dele para a contemporaneidade no formato de uma selfie

2. As fotografias a seguir mostram diferentes contextos. No entanto, todas têm algo em comum. Observe.

Portal 2

Neste portal, a discussão sobre o humor, seus elementos e suas funcionalidades, iniciada no portal 1, será ampliada. A atividade propõe uma conversa sobre o que os estudantes entendem por humor e o que eles pensam sobre essa forma de interação.

Respostas

2. a) A expectativa é de que os estudantes apontem a presença do sorriso e do estado de relaxamento como ponto em comum entre as imagens. Ainda que não se considere que os cães estejam sorrindo, por exemplo, é possível identificar que a expressão sugere descontração. Além disso, nas fotografias em que há grupos, as pessoas estão próximas de forma familiar.

b) Resposta pessoal. Algumas possibilidades que podem surgir como resposta são o contágio das sensações despertadas pelas imagens, como alegria e relaxamento, e a memória de alguma situação semelhante às representadas.

a) O que há em comum entre as fotografias?

b) Qual é sua sensação ao olhar essas cenas?

c) Em sua opinião, por que as pessoas riem?

d) Você acha que o riso é uma reação específica dos seres humanos?

Rir é coisa séria e tem muita gente que pesquisa esse tipo específico de vocalização associada a expressões faciais e a movimentos torácicos. O que se sabe até o momento é que a risada se relaciona à experimentação de emoções fortes. A alegria, com certeza, mas também o choque, a confusão, o nojo ou o susto podem ser sucedidos de uma boa gargalhada. Do ponto de vista social, o riso sinaliza para quem está perto que as intenções são boas e que ninguém vai se machucar na interação. Do ponto de vista individual, essa reação é uma forma que o corpo encontrou para aliviar o estresse e se recompor. Do ponto de vista evolutivo, os sons da risada estão mais próximos de vocalizações primitivas do que da fala do dia a dia. Comparativamente, o riso é diferente nos humanos, mas não restrito a eles, já que essa habilidade também foi observada em diversos outros mamíferos e em certas aves. Em todos esses casos, rir se mostrou de grande utilidade para a criação ou para a manutenção de laços afetivo-sociais.

c) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a buscarem em suas experiências as situações de riso que costumam vivenciar e o que os faz rir. Peça a eles que pensem nos detalhes dessas situações: eles estão sozinhos ou em grupo? Estão confortáveis ou desconfortáveis? Vale lembrar que não há limitações para essas respostas. Algumas possibilidades que podem surgir como respostaé que as pessoas riem porque:

• alguém falou algo engraçado;

• presenciaram ou se lembraram de uma cena cômica;

• foram surpreendidas por algo; d) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a expressarem suas concepções a respeito da possibilidade de outros seres também rirem em situações semelhantes às que fazem os seres humanos reagirem assim. Pergunte se alguém gostaria de compartilhar uma experiência relacionada a esse tema.

• não sabem o que fazer ou dizer em alguma situação.

Jogando

1o episódio: Eu, leitor de crônica de humor

Neste episódio, o objetivo é a introdução ao estudo do gênero crônica de humor com a leitura e a reconstrução compreensiva do texto “Eloquência singular”, de Fernando Sabino. Além disso, os estudantes refletirão sobre aspectos do contexto apresentado na obra, sobretudo os relacionados à arte da oratória.

Para expandir as possibilidades de trabalho com o gênero crônica, leia o capítulo 1 da dissertação de mestrado “Crônica de humor: objeto de ensino-aprendizagem na perspectiva do interacionismo sociodiscursivo”, escrita por Catiana Santana, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras Profissional em Rede (PROFLETRAS), da Universidade Federal de Sergipe, Unidade de Itabaiana, disponível em: https://ri. ufs.br/bitstream/riufs/6909/2/CATIANA_ SANTOS_CORREIA_SANTANA%20.pdf (acesso em: 6 maio 2022). O texto apresenta um breve histórico do gênero crônica de humor, assunto que pode vir a ser tema nas aulas, e amplia o debate acerca do hibridismo taxonômico, além de justificar a adequação da escolha desses textos para o trabalho de leitura e produção em sala de aula.

Tempo previsto: 3 aulas

Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44, EF69LP45

Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos: EF69LP47

Adesão às práticas de leitura: EF69LP49

Relação entre textos: EF89LP32.

Estratégias de leitura / Apreciação e réplica: EF89LP33

Respostas

1.

a) Resposta pessoal. Estimule os estudantes a refletirem e a se posicionarem sobre a perspectiva expressa na frase.

b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a revelarem as posturas assumidas com mais frequência nas diversas situações da vida. Esclareça que o que está sendo pedido não é uma frase sintética do argumento, como a que acabaram de ler, e sim a apresentação de um argumento que defenda a posição adotada por cada um. Dessa forma, estimule-os a debaterem e defenderem seus pontos de vista sobre o assunto.

Nolivr O N O Escreva

Neste jogo, pode acontecer de sua barriga doer, suas bochechas tremerem e lágrimas escorrerem dos seus olhos, já que você está prestes a dar um passo definitivo rumo ao terreno do humor. Respire fundo e esteja atento, porque o riso poderá surpreender você nas entrelinhas!

1º EPISÓDIO: EU, LEITOR DE CRÔNICA DE HUMOR

Você prefere um discurso espontâneo ou uma fala decorada? Pense bem… ou não pense muito, afinal, como você verá neste episódio, seu pensamento pode jogar contra você.

1. A crônica que você vai ler foi escrita por Fernando Sabino, autor de contos, romances, roteiros para cinema e frases marcantes. Leia esta frase que ele costumava dizer e, depois, converse com os colegas sobre as questões propostas.

“Eu sou otimista porque o otimista erra tanto quanto o pessimista, mas ele sofre muito menos, ele só sofre uma vez, e o outro sofre duas, sofre antes e depois.” a) Você conhecia essa frase? Já tinha pensado dessa maneira ou de forma semelhante? b) Você costuma ser mais otimista ou mais pessimista? Qual argumento você costuma utilizar para justificar sua posição? c) A temática do otimismo está presente na obra de Fernando Sabino. O autor costumava dizer “tudo no fim dá certo, se não deu, é porque ainda não chegou ao fim” e até colocou o título “No fim dá certo” em um de seus livros. O que você pensa sobre essa crença? Ela é otimista ou pessimista? d) A crônica que você lerá a seguir tem como título “Eloquência singular”. Agora que você já sabe um pouco mais sobre o autor Fernando Sabino e sua obra, e levando em consideração o título, o que você espera ler nesse texto? c) Resposta pessoal. Estimule os estudantes a expressarem seus pontos de vista acerca da maneira de pensar em questão. Uma possibilidade de ampliar o debate é abordar a função motivacional da frase de Fernando Sabino. Na segunda questão, espera-se que os estudantes percebam que essa é uma crença ligada ao otimismo, já que expressa a ideia de que a satisfação certamente será alcançada em algum momento. d) Resposta pessoal. Este é o momento de levantar hipóteses e explicitar as expectativas construídas antes da leitura. Por isso, estimule os estudantes a revelarem as ideias preconcebidas a respeito do texto que lerão.

SABINO, Fernando, 1989 apud SILVA, 2015, p. 71. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/ bitstream/1/6790/1/Vivian%20Bezerra%20da%20Silva%20Dissertacao%20CEHB.pdf. Acesso em: 9 maio 2022.

Para responder, considere que “eloquência” significa falar bem e de modo a provocar o envolvimento do público.

2. Leia silenciosamente a crônica “Eloquência singular” e responda às perguntas.

Eloquência singular

Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:

— Senhor Presidente: eu não sou daqueles que…

O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular:

— Não sou daqueles que…

Não sou daqueles que recusam… No plural soava melhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas da linguagem — que recusa? — ele que tão facilmente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou daqueles que… Resolveu ganhar tempo:

— … embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades como representante do povo nesta Casa, não sou…

Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia ter pensado em plural? Era um desses casos que os gramáticos registram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvida. Idiotismo de linguagem, devia ser.

— … daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa…

Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pretendia usar:

— Não sou daqueles que…

Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atravessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical em que sua oratória lamentavelmente se havia metido de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo servia, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou no plural:

— Não sou daqueles que, dizia eu — e é bom que se repita sempre, senhor presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada…

Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aquela concordância. Ambas com aparência castiça. Ambas legítimas. Ambas gramaticalmente lídimas, segundo o vernáculo:

— Neste momento tão grave para os destinos da nossa nacionalidade.

Ambas legítimas? Não, não podia ser. Sabia bem que a expressão “daqueles que” era coisa já estudada e decidida por tudo quanto é gramaticoide por aí, qualquer um sabia que levava sempre o verbo ao plural:

— … não sou daqueles que, conforme afirmava…

Ou ao singular? Há exceções, e aquela bem podia ser uma delas. Daqueles que. Não sou UM daqueles que. Um que recusa, daqueles que recusam. Ah! o verbo era recusar:

— Senhor presidente. Meus nobres colegas.

A concordância que fosse para o diabo. Intercalou mais uma oração e foi em frente com bravura, disposto a tudo, afirmando não ser daqueles que…

— Como?

2. Sugere-se que a leitura seja feita de forma individual. Caso avalie como pertinente, essa forma de acessar a crônica pode variar em função de seus objetivos pedagógicos.

Casa: outro nome para designar o Parlamento, local de trabalho dos parlamentares.

Castiça: correta.

Cônscio: que tem consciência de suas responsabilidades.

Embatucou a) A personagem principal é o orador e as secundárias são os colegas parlamentares e o presidente da Câmara. Eles se encontram em uma sessão plenária. b) Porque ele fica em dúvida sobre a concordância a ser usada na sequência da frase iniciada: “Eu não sou daqueles que…”. Ao não conseguir se decidir, ele também não consegue avançar no discurso e fica atrapalhado. c) Os colegas ficam envolvidos na situação, ansiosos por saber como o discursista solucionará a questão e, ao mesmo tempo, discutem, também em busca da resposta para a dúvida que paira. d) O orador sofre de um crescente espanto pelo fato de não se recordar da regra de concordância. Ele passa por diferentes fases: inicialmente, determinado a não cair em “armadilhas” da linguagem, depois, irritado com o pequeno encalço sobre o qual julgava ter domínio e que o impede de prosseguir; e, por fim, desesperado por uma saída que acabe com sua agonia. e) Primeiro, ele busca as respostas em sua memória. Depois, já pressionado pelo tempo, desvia o discurso para fugir da concordância duvidosa. Sem sucesso, ele busca “tempo” por meio da interrupção por algum colega da Casa. Por fim, desiste de prosseguir na busca e encerra sem escolher nenhuma concordância. f) Porque, finalmente, o orador conseguiu superar o desafio e deu um desfecho para o discurso. Ainda que não tenha completado a ideia inicial, o mais importante para a situação era o orador achar uma solução para a confusão linguística em questão. Isso é alcançado pela postura resolutiva com a qual o discursista pronuncia as últimas frases. g) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes contem suas impressões sobre a solução final encontrada pelo orador. Para chegar a essa conclusão, é importante estimulá-los a refletirem se as expectativas geradas ao longo do texto foram sanadas no final. É possível que se perceba uma quebra de expectativas em relação ao desenvolvimento de um discurso tradicional, que geralmente é construído com o encadeamento de ideias, e o desfecho brusco do orador, que conclui a fala sem ter comunicado nada.

(embatucar): perder a fala, atrapalhar-se.

Lídimas: o mesmo que legítimo ou autêntico.

Oratória: arte de discursar com eloquência.

Pinguela: o mesmo que armadilha.

Questiúnculas: questão de menor importância ou, neste caso, questão muito específica.

Vernáculo: gramaticalmente correto.

2.

Apura (apurar): averiguar, buscar.

Arrematar: ato de encerrar, concluir.

Bilac: Olavo Bilac, poeta brasileiro representante do Parnasianismo.

Cívica: que está de acordo com os interesses e os deveres do cidadão.

Orador: aquele que discursa para um público, geralmente, de modo eloquente.

Peremptoriamente: de modo categórico, enfático, absoluto.

Plenário: local de reunião dos parlamentares, assembleia.

Por obséquio: por favor.

Acolheu a interrupção com um suspiro de alívio:

— Não ouvi bem o aparte do nobre deputado.

Silêncio. Ninguém dera aparte nenhum.

— Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais alto, que não ouvi bem — e apontava, agoniado, um dos deputados mais próximos.

— Eu? Mas eu não disse nada…

— Terei o maior prazer em responder ao aparte do nobre colega. Qualquer aparte.

O silêncio continuava. Interessados, os demais deputados se agrupavam em torno do orador, aguardando o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde.

— Que é que você acha? — cochichou um.

— Acho que vai para o singular.

— Pois eu não: para o plural, é lógico.

O orador seguia na sua luta:

— Como afirmava no começo de meu discurso, senhor presidente…

Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa. Vontade de aproveitar-se do gesto e pedir ajuda ao próprio presidente da mesa: por favor, apura aí pra mim, como é que é, me tira desta…

— Quero comunicar ao nobre orador que o seu tempo se acha esgotado.

— Apenas algumas palavras, senhor presidente, para terminar o meu discurso: e antes de terminar, quero deixar bem claro que, a esta altura de minha existência, depois de mais de vinte anos de vida pública…

E entrava por novos desvios:

— Muito embora… sabendo perfeitamente… os imperativos de minha consciência cívica… senhor presidente… e o declaro peremptoriamente… não sou daqueles que…

O presidente voltou a adverti-lo que seu tempo se esgotara. Não havia mais por onde fugir:

— Senhor presidente, meus nobres colegas!

Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o peito e desfechou: h) Resposta pessoal. Uma possibilidade de resposta é associar a perseverança do deputado em encontrar uma saída e o arremate, com a ideia de que “no fim tudo dá certo”. Nesse caso, o deputado pode ser tido como um otimista. a) Quem são as personagens da história, principal e secundárias, e em qual situação se encontram? b) Por que o orador se atrapalha no início do discurso? c) Qual é a reação dos presentes diante da dificuldade do orador? d) Como o orador lida com o conflito que o surpreendeu? e) Quais estratégias o discursista utiliza para superar o desafio em que se encontra? f) Por que os colegas suspiraram aliviados no final da crônica? g) Você considera o final da crônica surpreendente? h) Como você relaciona a postura do protagonista com a discussão sobre otimismo e pessimismo? a) Em sua opinião, por que o orador da crônica é tão receoso em relação à concordância verbal? b) Por que você acha que o protagonista da crônica pensa em pedir ajuda, mas não o faz? c) Para uma boa oratória, a assertividade é essencial. Isso implica expressar uma ideia com convicção e segurança. Nessa perspectiva, a saída que o discursador deu para a situação vivenciada contribui ou não para sua imagem de bom orador? a) Ao longo da crônica, a palavra “singular”, que aparece no título, assume mais de um sentido. Quais são eles? b) Com base nos sentidos construídos para a palavra “singular”, formule uma explicação para o título da crônica. a) Em seu caderno, reconstrua a jornada do orador enumerando de 1 a 6 as experiências do protagonista, de acordo com a ordem dos acontecimentos.

— Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.

Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as palmas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vivamente cumprimentado.

SABINO, Fernando. Eloquência singular. In A companheira de viagem Rio de Janeiro: Sabiá, 1965. p. 151-155. Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/16304/ eloquencia-singular. Acesso em: 7 maio 2022.

3. Sobre a eloquência do protagonista, responda às questões.

4. Para aprofundar sua compreensão sobre a crônica, responda às perguntas.

5. O autor da história que você leu é conhecido por ser um excelente “contador de causos”. Isso significa que a maneira como ele narra é importante para o efeito desejado. Veja como seria diferente se essa mesma história tivesse sido contada sem os recursos da linguagem empregados por Fernando Sabino. Para isso, faça o que se pede.

I. Considera pedir ajuda.

II. Julga e analisa alternativas em sua mente.

III. Age desesperadamente em busca de qualquer solução para o embaraço.

IV. É surpreendido por uma dúvida.

V. Encontra uma saída inesperada.

VI. Busca tempo para pensar melhor.

3. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes façam uma associação com a ideia expressa no boxe Atalho e reflitam sobre a forma como o prestígio do político está, entre outros aspectos, ligado à arte da oratória, a qual inclui o domínio da norma-padrão. Essa ideia, levada ao extremo, como é o caso da crônica, implica que um desvio gramatical pode desmerecer a mensagem e a figura do orador.

Nos discursos políticos, a maneira como o orador se expressa é importante para que a comunicação seja efetiva. Isso porque, nesse ramo, é fundamental que o falante seja compreendido pelos ouvintes e, mais ainda, que estes sejam convencidos da ideia veiculada. Essa arte de falar bem é chamada oratória e inclui escolhas linguísticas e gestuais, o tom de voz e a postura. Em alguns contextos, “eloquência” e “oratória” assumem o mesmo significado; já em outros, a primeira pode ser entendida como um dos aspectos da oratória, ligada à organização da fala, à clareza, à assertividade e à entonação. 161 b) Resposta pessoal. Alguns motivos podem ser elencados, como a tentativa de sustentar a imagem de alguém que domina a norma é capaz de conduzir um discurso com eloquência, sem titubear; a possível inadequação de interromper o momento de debate de ideias para averiguar uma questão linguística; o estado de confusão em que se encontra e que o impede de tomar qualquer decisão. c) Uma possível análise inclui a retomada do final do texto, em que os colegas aplaudem e cumprimentam “vivamente” o orador. Essa cena pode indicar que o discursador teve sucesso na arte de usar as palavras a seu favor, superando o desafio inicial gerado pela dúvida de concordância. Pode-se, também, pensar que a ideia em si havia se tornado menos importante do que a capacidade de retomar o domínio da palavra com segurança. Isso é feito no final, com o uso da expressão “tenho dito”, a qual expressa forte convicção sobre algo. b) Pode-se compreender o título com base na ideia de singularidade ou de autenticidade na forma como o orador organiza seu discurso. A singularidade da eloquência do protagonista é consolidada ao final, quando ele, sem ter desenvolvido ideia alguma, afirma categoricamente sua posição e é aplaudido pelos companheiros. Paralelamente a essa compreensão, a dúvida sobre o “singular”, no sentido da concordância verbal, percorre todo o texto e limita o desenvolvimento da eloquência do orador. b) Os estudantes têm liberdade para recontar de diferentes modos; o importante é buscar os principais elementos que dão o sentido de início, desenvolvimento e fim. Uma possibilidade de resposta é: assim que começa seu discurso na plenária, um deputado se atrapalha com uma conjugação verbal, o que o impede de prosseguir com a fala. Sem condições de ultrapassar esse obstáculo e desenvolver sua argumentação, vê o tempo se esgotar. Por fim, pressionado pelo presidente, é obrigado a concluir o discurso sem ter conseguido expressar nenhuma ideia. c) O efeito da história, seja ela humorística, fantástica, seja de outro gênero, é gerado não só pelo enredo, mas pela linguagem utilizada na narrativa. Sendo assim, as expressões selecionadas, as pausas, as digressões e outras estratégias linguísticas, como intertextualidade, figuras de linguagem ou pontuação, contribuem para a construção do efeito desejado. Conclui-se que uma história de humor não depende apenas de um fato potencialmente engraçado. b) Pode-se destacar a quebra de expectativa gerada pelo final inesperado. Esse é um elemento importante na construção do humor do texto, considerando que, de um orador, espera-se um bom desenvolvimento de ideias. Todavia, isso não ocorre no texto, ao contrário, o discurso é encerrado com pompa, mas sem nenhuma substân- b) Reconte de maneira sintética e objetiva o enredo da crônica. c) Comparando as duas formas de contar a mesma história, o que você pode observar a respeito da influência dos recursos da linguagem no efeito gerado?

4. a) Em uma primeira análise, “singular” assume o papel de qualificar o substantivo “eloquência”, ofertando-lhe o sentido de “excepcional”, “único” ou, ainda, “estranho”. Ao longo da crônica, o termo “singular” passa também a se referir ao problema central que envolve o protagonista: a escolha entre a concordância no singular ou no plural. É importante perceber que esse segundo sentido só é percebido após a primeira leitura, sendo mais bem compreendido nas releituras que os estudantes fizerem.

5.

6. Enredo: a crônica narra a experiência de um deputado que se atrapalha ao iniciar um discurso, porque não lembra a conjugação adequada de um verbo em uma estrutura gramatical específica. Essa situação vai se prolongando e intensificando à medida que o tempo de fala se esgota, até que, por fim, o parlamentar encontra uma surpreendente saída para seu embaraço.

Personagens: o orador, o presidente da Câmara e os demais deputados.

Espaço: a Assembleia Legislativa, de acordo com a referência à “Casa”.

Tipo de narrador: narrador onisciente, pois ele narra em 3ª pessoa e, ao mesmo tempo, tem acesso ao universo psicológico do protagonista.

Tempo: tempo cronológico, visto que a passagem do tempo se dá em igual maneira para todas as personagens.

7. a) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a relatarem a impressão que tiveram sobre a leitura.

Atalho

A crônica é um gênero híbrido, situado entre o campo literário e o campo jornalístico. Isso porque ela apresenta características de ambos, ora mescladas, ora distintas, a depender da situação comunicativa. Um aspecto que contribui para essa fusão é o fato de que muitos autores de crônicas são também jornalistas e escrevem esses textos para serem publicados em jornais. Na literatura, esse gênero se assemelha ao conto, tanto no tamanho, pois ambos são predominantemente curtos, quanto no núcleo central do enredo, geralmente único nos dois. Há, entretanto, diferenças no tratamento dado aos elementos literários de personagens, espaço e enredo: no conto, esses elementos são construídos de forma mais aprofundada e minuciosa do que na crônica, a qual dá tratamento tendencialmente genérico ou não dedica muitas linhas a eles. Quanto ao tema, as crônicas podem abordar fatos e acontecimentos do momento, do mesmo modo que as notícias, os comentários, os artigos, as colunas, entre outros gêneros jornalísticos. Todavia, não está restrita às matérias do cotidiano e pode eleger como temática um aspecto da vida, como a escolha dos nomes dos filhos pelos pais, ou situações que podem ocorrer a qualquer um, como é o caso da crônica escrita por Fernando Sabino.

6. Em seu caderno, descreva os elementos literários da crônica “Eloquência singular”: enredo, personagens, espaço, tipo de narrador e tempo.

7. O gênero crônica pode ser classificado em diversos subtipos, a depender do enredo e da intencionalidade de produção. Nesse conjunto, encontram-se as crônicas de viagem, de esporte, reflexivas, líricas, entre outras. A crônica lida nesta missão pode ser identificada como crônica de humor. Com base nessas informações, responda: a) Você achou essa história bem-humorada? b) O tom humorístico de um texto depende da conjunção de alguns fatores, como enredo, linguagem ou veículo de circulação. Nesse texto, quais elementos humorísticos você pode destacar? c) Na sua percepção, com qual intenção comunicativa o autor escreveu essa crônica? d) Você consegue imaginar uma situação em que a narração da angustiante experiência do deputado, tal como foi desenvolvida na crônica, não seria recebida com bom humor?

8. Leia o trecho de um texto informativo a respeito de um tipo de fobia que ocorre com diversas pessoas. Em seguida, responda às perguntas.

Como superar o medo de falar em público Grupo de debates da Universidade de São Paulo explica técnicas que podem ser utilizadas para vencer essa fobia social

O suor excessivo nas mãos, coração mais acelerado, gagueira momentânea, perda da linha de raciocínio: esses são alguns dos sintomas mais frequentes da glossofobia, mais conhecida como medo de falar em público. Essa fobia social afeta 32% das pessoas, segundo estudo publicado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Como consequência, o problema pode interferir no desempenho de relações profissionais ou acadêmicas. Porém, existem técnicas para superá-lo.

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Muitos não se sentem à vontade para discursar em público, fator que pode estar diretamente relacionado à falta de segurança. Uma maneira de melhorar essa sensação é evitar, durante uma apresentação, procurar cia. Além disso, também se pode considerar o tom jocoso com o qual a situação é narrada, visto que a aflição da personagem, embora não desmerecida, é tratada de maneira leve. Outro aspecto a ser observado é a temática em si, já que a exposição de alguém em apuros é comumente utilizada com viés humorístico. c) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a escolherem entre os diversos tipos de intencionalidades comunicativas, como informar, discutir, entreter, convencer, pedir, enfim, aquela que julgar mais adequada para a crônica em questão. É esperado que surjam respostas como “entreter”, “divertir”, “fazer rir”, visto que essa é a situação comunica- tiva em que o texto se encontra. Para ampliar a discussão a respeito dessa questão, vale destacar que existem crônicas de humor, as quais têm como função principal provocar o riso. Paralelamente, existem crônicas que têm outra função central, como relatar, mas cuja linguagem tem traços de humor. d) Resposta pessoal. O importante nesta questão é a reflexão sobre a interferência do contexto comunicativo na recepção do texto e sobre como esse aspecto pode ser determinante para a produção do humor. Incentive os estudantes a buscarem possibilidades em que a angústia e o desfecho do texto não provocam riso. Como exemplo, imagina-se uma situação na qual o partido do deputado dependia daquela o apoio de pessoas que estão ouvindo o discurso, essa é a avaliação de Fabiano Belloube diretor comercial do USP Debate e também aluno da FFLCH. “Buscar na plateia indícios de aprovação negativa ou positiva é um erro comum. O respeito por parte da audiência é uma consequência da relação consigo mesmo. Não podemos depositar a nossa autoconfiança em interpretações subjetivas”, afirma.

[...]

Além disso, outro exercício recomendado para superar o medo de falar em público é tentar explicar as ideias para alguém da família ou amigo próximo. Nesses casos, os ouvintes precisam respeitar o processo lógico de formação do raciocínio individual, sem zombar dos erros durante o ensaio. “É normal gaguejar. Até mesmo o Barack Obama faz isso em determinados momentos”, explica Jessika [...]

Essa visão também é defendida por Fabiano. “Ninguém vai lembrar de você gaguejando, mas sim do conteúdo presente no seu discurso”, comenta. Para o estudante, a linguagem corporal contribui para uma boa comunicação. “Manter a cabeça erguida e os ombros baixos estimula o cérebro a criar uma confiança maior durante a fala”.

Principais dicas para perder o medo de falar em público

• Prestar atenção nas falas de outras pessoas durante a conversa;

• Treinar discursos sozinho;

• Pedir para algum conhecido escutar o seu discurso;

• Entender que gaguejar é normal; a) Qual é o nome dado ao medo excessivo de falar em público? b) Você conhecia esse nome ou essa condição? c) Você pode imaginar algum outro sintoma gerado pelo medo de falar em público além dos enumerados no texto? d) Você reconhece algum desses sintomas no protagonista da crônica de Fernando Sabino? e) Você tem alguma dificuldade para falar em público? f) Você segue alguma das dicas fornecidas pelo texto ou outras para se preparar para situações de exposição oral? g) Algumas das dicas fornecidas no texto poderiam ter ajudado o orador da crônica de Fernando Sabino, enquanto outras não seriam de tanta valia. Por quê? h) Como o debate em questão pode ser relacionado com a postura otimista defendida pelo escritor Fernando Sabino, discutida na questão 1? fala em específico para avançar em pautas políticas. Nesse caso, a ausência de progressão argumentativa é um fator de descontentamento, em vez de humor. b) Resposta pessoal. Os estudantes podem dizer que, apesar de não conhecerem o nome, já tinham ideia de que pessoas podem ser acometidas por enorme insegurança ao serem expostas em público. c) Resposta pessoal. Além de suor excessivo nas mãos, coração mais acelerado, gagueira momentânea, perda da linha de raciocínio, podem surgir, entre as respostas, sintomas como boca seca, náuseas ou vômitos, tremores no corpo e dificuldade para respirar. d) Espera-se que os estudantes comparem a reação do protagonista e observem a correspondência de alguns dos sintomas citados na matéria com a angustiante experiência descrita na crônica. Essa correspondência pode ser observada nas passagens “Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pretendia usar”, “Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa” ou “Idiotismo de linguagem, devia ser”, as quais revelam perda momentânea de memória, sudorese excessiva e certa confusão mental, respectivamente. Nesta questão, é preciso deixar claro que não se pretende diagnosticar a personagem com nenhuma patologia específica, apenas relacionar a glossofobia ao evento ocorrido com o protagonista, de modo a ampliar as possibilidades de compreensão do texto. e) Resposta pessoal. Se os estudantes se sentirem confortáveis, podem contar à turma o que sentem e como lidam com a dificuldade. f) Resposta pessoal. Esta questão abre espaço para que os estudantes falem de suas experiências e extrapolem o texto reproduzido. posta no momento da plenária, essa estratégia perde a viabilidade. Nesse caso, investir em segurança pessoal e em boas fontes de informação teria maior eficácia geral, embora não sanasse a dificuldade do protagonista. h) Esta não é uma questão com resposta fechada. Estimule os estudantes a refletirem sobre os ganhos e as perdas que a postura otimista e a pessimista podem gerar em uma situação de exposição oral. Uma possibilidade é imaginar que, se por um lado o otimismo pode favorecer o orador, visto que permite maior relaxamento e, com isso, mais conexão com o momento e com os ouvintes, pode ser que o otimista menospreze o treinamento e o prévio preparo para a situação. g) Compreender a normalidade de se atrapalhar durante um discurso poderia ser uma estratégia de relaxamento para o protagonista e de permissão para o livre fluxo de ideias. Além disso, sabendo que a dificuldade do orador da crônica foi gerada por uma dúvida gramatical, caso o discurso dele tivesse sido previamente treinado, esse obstáculo teria sido descoberto e sanado com antecedência. Todavia, se o discurso é feito de improviso ou em resposta a alguma questão

• Se manter informado sobre assuntos variados.

STARLLES, Wender. Como superar o medo de falar em público. Guia do Estudante, [s. l.], 24 mar. 2021. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/como-superar-o-medo-de-falarem-publico. Acesso em: 18 maio 2022.

8. a) Glossofobia. Palavra composta da junção dos termos gregos glosso (língua) e fobia (medo).

Já no caso do pessimista, é possível que o receio de errar o leve a trabalhar duro antes de se expor; em contrapartida, sua espontaneidade e capacidade de improviso podem ficar comprometidas no momento do discurso.

9. Resposta pessoal. Essa questão abre espaço para que os estudantes expressem seus pontos de vista acerca do conteúdo literário, de forma a exercitarem a habilidade de apreciação estética e de fruição e a compreenderem o texto como uma manifestação artístico-cultural em língua portuguesa.

2o episódio: Nosso centro de análise de usos da língua

Tempo previsto: 2 aulas

Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44

Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos: EF69LP47

Recursos linguísticos e semióticos que operam nos textos pertencentes aos gêneros literários: EF69LP54

Estratégias de leitura / Apreciação e réplica: EF89LP33

Modalização: EF08LP16.

Relação entre textos: EF89LP32

Morfossintaxe: EF08LP06

Figuras de linguagem: EF89LP37

Neste episódio, os estudantes vão refletir sobre os usos de alguns recursos linguísticos e gramaticais e os efeitos de sentido que atribuem à construção de sentidos do conto.

RESPOSTAS

1. Exposição de pontos fracos ou de falhas, descrição exagerada, imprecisão de sentidos, sentidos indiretos ou implícitos.

Pode ser que os estudantes deem respostas diferentes das apresentadas. O importante é que eles justifiquem as escolhas com elementos do texto. Valide essas escolhas. O objetivo desta atividade é que os estudantes percebam que há várias possibilidades linguísticas para a composição humorística de um texto.

9. Você apreciou a leitura da crônica? Compartilhe suas impressões com os colegas.

B Nus

Você já assistiu ao filme O Discurso do Rei? Esse é um longa-metragem britânico que encena o drama pessoal de um membro da monarquia inglesa, pai da rainha Elizabeth II, o rei Jorge VI, que tinha grandes dificuldades em expressar suas ideias por meio da fala. Dá para imaginar quão difícil é ser um rei que não consegue falar em público? Empenhado em superar essa delicada dificuldade, o rei Jorge procura um terapeuta especialista no assunto e é nesse ponto que começa a história do filme: uma jornada corajosa, cheia de momentos de aflição, mas também de muito humor. Lançado em 2010, escrito por David Seidler e dirigido por Tom Hooper, o filme recebeu os prêmios de direção, roteiro e atuação no Oscar 2011. O ator britânico Colin Firth, que faz o rei, revelou que esse foi um dos papéis mais difíceis de sua carreira.

Ficha técnica: O discurso do rei (2010). Reino Unido, biografia, drama.

2º EPISÓDIO: NOSSO CENTRO DE ANÁLISE DE USOS DA LÍNGUA

Você se descontraiu com uma história divertida escrita por Fernando Sabino. Agora, vai analisar alguns recursos linguísticos usados por esse autor na construção do humor na crônica.

Ironia é uma figura de linguagem em que se afirma o contrário do que se deseja expressar. Por exemplo: dizer “Que dia lindo para uma boa caminhada!” em um dia de tempestade é uma ironia.

1. Você já viu que o humor de um texto é estabelecido pela conjunção de diferentes elementos. Agora verá que há mais de uma maneira de despertar o riso. Identifique entre as estratégias a seguir aquelas que foram usadas na crônica “Eloquência singular”.

autoironia inversão de papéis sociais atribuição de duplo sentido a palavras ou imagens inversão da ordem esperada em uma situação autocrítica da personagem exposição de pontos fracos ou falhas inversão de palavras colagem ou justaposição de sentidos de palavras ou de imagens descrição exagerada imprecisão de sentidos, sentidos indiretos ou implícitos a) Identifique por que o travessão foi usado.

2. Observe o uso do travessão ao longo da crônica. Depois, responda às perguntas.

Ativa O De Conhecimentos

O travessão é um sinal de pontuação utilizado para marcar o discurso direto, ou seja, abrir espaço para que a personagem fale em 1ª pessoa. Usado com essa finalidade, é comum que esteja posicionado antes da fala e, em certos casos, também após, para marcar o fim da fala direta e o retorno à narrativa em discurso indireto. Além disso, esse sinal também pode ser usado para isolar ou intercalar trechos do texto, de modo a fazer um aparte ou dar ênfase a algum aspecto. Nesse caso, é usado no início e no fim do trecho selecionado.

b) Explique o efeito de sentido gerado no texto pelo uso do travessão nos casos a seguir.

• Para introdução de discurso direto.

• Para intercalar trechos.

3. Releia este trecho da crônica.

Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:

— Senhor Presidente: eu não sou daqueles que…

O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular:

— Não sou daqueles que… a) Identifique os verbos nesse trecho e os respectivos tempos. b) Em seu caderno, sinalize as vozes das personagens e do narrador nesse trecho e identifique se os enunciados indicam fala ou pensamento. c) De que forma o tempo verbal é utilizado para diferenciar os enunciados que você identificou no item b? d) Por que se pode afirmar que a passagem do tempo é um elemento importante para a compreensão do humor na crônica?

Conquista

O tempo verbal é fundamental na intensificação do drama e, dessa forma, do aguçamento do humor. Pode-se compreender o tempo como uma das personagens da crônica, uma personagem cujo esgotamento interfere diretamente na oratória do protagonista.

em que o tempo de fala do deputado se inicia. Nessa direção, a leitura mostra que a agonia do deputado é amplificada pela contagem do tempo que ainda resta e que ela só terminará quando o cronômetro apontar o esgotamento do intervalo reservado à fala do orador. Essa jornada contra o tempo é indicada em algumas passagens, como “Resolveu ganhar tempo” e “seu tempo se esgotara. Não havia mais por que fugir”.

2. a) Exceto no trecho “No plural soava melhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas da linguagem — que recusa? — ele que tão facilmente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte”, que intercala pensamentos e destaca a pergunta, todos os usos do travessão no texto indicam início do discurso direto.

b) • Nesse caso, o sinal de pontuação confere dinamicidade e verossimilhança à narrativa, já que intercala diferentes vozes e descola os acontecimentos da voz do narrador, fazendo parecer que o leitor assiste diretamente aos acontecimentos.

• Usado para intercalar ou isolar os pensamentos do protagonista, o efeito gerado pelo travessão é de dar destaque à pergunta, descolando-a das outras reflexões.

3. a) Sou: presente.

Embatucou: pretérito perfeito.

Ia, indicava, podia ser: pretérito imperfeito.

Iniciara: pretérito mais-que-perfeito.

b) Narrador: “Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou”.

Fala da personagem oradora: “Senhor Presidente: eu não sou daqueles que...”.

Pensamentos da personagem oradora: “O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular”.

Fala da personagem oradora: “Não sou daqueles que...”.

165 c) A escolha do tempo verbal auxilia na diferenciação de cada um desses enunciados, já que, de maneira geral, o tempo presente é observado nas falas que o orador direciona ao público; os passados perfeito e mais-que-perfeito são observados mais acentuadamente nas falas do narrador e organizam acontecimentos passados já finalizados; e o passado imperfeito é marcadamente observado nos pensamentos do orador, nas reflexões e nas perguntas que ele faz a si mesmo sobre a maneira usual de se empregar a concordância procurada. d) Desde o início da crônica, a passagem do tempo é apresentada como um elemento importante, já que o autor começa o texto com o enunciado “Mal iniciara”, com o sentido de que o desenrolar do drama começa no instante b) Por se tratar de um texto literário, isto é, de leitura aberta, a exploração da polissemia permite que transitemos entre os significados de “agonia” na mesma cena. Ao mesmo tempo que a compreendemos como sofrimento, também podemos pensar em fim, em morte, em desejo desesperado. Dessa forma, a compreensão do texto foi ampliada pela polissemia. a) Quais são esses elementos? b) Como o autor explora a polissemia?

4. a) Os elementos agonizantes são o protagonista, que sofre enorme aflição por não conseguir dar continuidade ao discurso, e o tempo, que se esvai paralelamente à luta do orador.

5. a) O trecho em questão é “Interessados, os demais deputados se agrupavam em torno do orador, aguardando o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde”, que faz referência ao verso de Olavo Bilac.

4. Considerando os sentidos da palavra “agonia”, há mais de um elemento agonizante na crônica.

Atalho

Agonia é uma palavra polissêmica. Ela pode indicar forte aflição e sofrimento; momento imediatamente anterior à morte; melodia tocada em sinos para indicar o falecimento de alguém; algo que se acaba. Os sentidos de “pressa” e de “desnorteio”, assim como o de “desejo que consome em ansiedade”, foram adquiridos por extensão e são comumente usados.

Polissemia é o termo que define a multiplicidade de sentidos de uma palavra. A depender do contexto, a palavra “agonia” possui sentidos diferentes, embora relacionados.

5. Na passagem mais angustiante da crônica, o narrador faz referência a outro texto da literatura brasileira.

a) Identifique o trecho em que essa referência é feita.

b) Leia o trecho do poema de Olavo Bilac.

O Ca Ador De Esmeraldas Iii

Fernão Dias Paes Leme agoniza. Um lamento Chora longo, a rolar na longa voz do vento.

Mugem soturnamente as águas. O céu arde.

Trasmonta fulvo o sol. E a natureza assiste, Na mesma solidão e na mesma hora triste, À agonia do herói e à agonia da tarde.

BILAC, Olavo. O caçador de esmeraldas. In Poesias Rio de Janeiro: H. Garnier, 1902. p. 262. Disponível em: https://digital.bbm.usp. br/view/?45000018677&bbm/3912#page/270/mode/2up. Acesso em: 18 maio 2022.

Atalho

Fernão Dias Paes Leme é um famoso explorador paulista, conhecido como “O caçador de esmeraldas”, por ter empreendido expedições em busca de pedras e metais preciosos, sobretudo esmeraldas. Integrou um movimento que ficou conhecido na História como “Bandeirantismo”.

Fulvo: de cor avermelhada.

Soturnamente: de maneira triste ou melancólica.

Trasmonta (trasmontar): passar por cima ou por trás dos montes.

• O trecho do poema de Bilac registra o momento de agonia e morte tanto do explorador como da tarde, a qual logo dará lugar à noite, visto que o sol já se põe, vermelho, por trás dos montes. Nessa cena, há uma cumplicidade entre o bandeirante e a tarde, uma vez que ambos se desvanecem. Assistindo a esse fim, a natureza também participa, triste, porém impossibilitada de mobilizar qualquer interferência no desfecho dos dois evanescentes. Com base nisso, faça o que se pede.

c) Compare os elementos do verso com as personagens da crônica. Copie a frase a seguir seu caderno e complete-a adequadamente.

• A agonia do herói, a agonia da tarde e a natureza estão para o poema de Bilac, assim como a agonia do , a agonia do e dos demais estão para a crônica de Sabino, respectivamente.

d) Qual é o efeito de sentido gerado pela referência ao poema de Olavo Bilac?

6. Os discursos feitos em uma sessão plenária são marcados por formulações e termos específicos, os quais podem ser chamados de “jargões políticos”.

a) Entre as expressões do quadro, selecione e escreva em seu caderno aquelas associadas ao meio político.

Senhor presidente

Declaro peremptoriamente

Quero deixar bem claro que

Os imperativos de minha consciência cívica

Terei o maior prazer em responder ao aparte

Como representante do povo nesta Casa

Vossa Excelência d) O efeito gerado pela referência ao poema e à agonia de outra personagem é a intensificação do drama vivenciado pela personagem da crônica. A comparação do orador com um herói já conhecido e imortalizado na literatura canônica brasileira coloca aquele em posição de quem suporta desespero semelhante ao do bandeirante. b) Por que os parlamentares utilizam formulações como essas? c) Qual expressão, pertencente ao jargão político ou não, utilizada pelas personagens da crônica sinaliza: d) Que efeitos são pretendidos pelo cronista com o uso dessas expressões? d) O cronista pretende construir efeitos de humor. O uso, pelo orador, de “Tenho dito” para indicar convicção e segurança no encerramento de seu discurso contrasta com o fato de ele não ter dito, de fato, nada de relevante. O uso, pelo orador, de “A concordância que vá para o diabo”, quando estava refletindo consigo mesmo sobre continuar o discurso sem se importar com a concordância, contrasta com o fato de que, na verdade, ele não conseguiu ignorar essa concordância. O uso, pelos deputados, de “Muito bem”, ao final do discurso do ora- dor, como se ele tivesse falado de forma brilhante, contrasta com o fato de que, na verdade, ele não disse nada. b) Essas expressões demonstram hierarquia e respeito entre os colegas, além de serem jargões que servem para demonstrar conhecimento do contexto e pertencimento ao grupo. Ademais, são formulações que contribuem com a eloquência do discurso, visto que intensificam a formalidade e, sendo muitas delas vocativos, apelam para a atenção e para o envolvimento dos ouvintes. c) • Ao final, a expressão “Tenho dito” expressa convicção e segurança de posicionamento, determinando a assertividade e a eloquência do discurso. Além disso, o uso da conjunção conclusiva “em suma” contribui para a impressão de que o parlamentar é hábil no encadeamento de ideias, aspecto também importante para a assertividade.

5. c) A agonia do herói, a agonia da tarde e a natureza estão para o poema de Bilac assim como a agonia do orador, a agonia do tempo de fala e dos demais deputados estão para a crônica de Sabino, respectivamente.

6. a) Senhor presidente; vossa excelência; terei o maior prazer em responder ao aparte; como representante do povo nesta Casa; nobres colegas; Os imperativos de minha consciência cívica. É importante destacar para os estudantes que, embora algumas das expressões acima não sejam comumente utilizadas no cotidiano, também não estão preferencialmente relacionadas ao contexto político, e sim a uma situação de maior formalidade. Também é válido considerar que as expressões marcadas como comuns ao meio político não se restringem a ele, apenas são encontradas com maior frequência lá.

• a conquista da assertividade do seu discurso?

• uma possível mudança de postura diante do desafio enfrentado?

• o cumprimento e o reconhecimento do sucesso do parlamentar por parte dos colegas deputados?

• A expressão “Muito bem” demonstra o cumprimento e o reconhecimento dos colegas, depois que, finalmente, o orador se livra da confusão linguística.

Se avaliar como pertinente, comente com os estudantes que a expressão “Muito bem” funciona como interjeição, ou seja, como uma expressão que traduz as emoções dos deputados ao final da agonia do orador.

• No momento em que o deputado utiliza a expressão “A concordância que fosse para o diabo”, ele sinaliza estar farto de refletir sobre o assunto e que dará sequência ou novo rumo ao discurso, ainda que isso não tenha ocorrido. Isso porque tal formulação expressa, de forma raivosa ou impaciente, o desinteresse do parlamentar em continuar a investigação gramatical.

3o episódio: Do texto para a língua

Orações subordinadas adverbiais pdf?sequence=1&isAllowed=y (acesso em: 18 maio 2022); O livro didático “Português linguagem” e o ensino de gramática: trabalhando a oração subordinada adverbial, escrito por Gerlúcio Medeiros de Araújo, desenvolvido no programa de mestrado profissional em Letras - PROFLETRAS, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, disponível em: https://repositorio.ufrn.br/ jspui/handle/123456789/24919 (acesso em: 18 maio 2022).

Neste episódio, o foco são as orações subordinadas adverbiais e seus efeitos de sentido. Para ampliar a compreensão sobre o assunto e sobre a abordagem direcionada ao atendimento dos pressupostos da BNCC, leia os seguintes trabalhos de mestrado, sobretudo os capítulos que propõem atividades para o Ensino Fundamental, bem como as justificativas para as abordagens propostas e as contribuições para o ensino: Orações subordinadas adverbiais: as relações de sentido a partir dos pressupostos saussurianos, escrito por Carla de Camargo Veseloski, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Letras e Cultura da Universidade de Caxias do Sul, da Universidade de Caxias do Sul, disponível em: https://repositorio. ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/6798/ Disserta%c3%a7%c3%a3o%20 Carla%20de%20Camargo%20Veseloski.

Tempo previsto: 4 aulas

Variação linguística: EF69LP56.

Morfossintaxe: EF08LP06, EF08LP10, EF08LP11, EF08LP12, EF08LP13

Respostas

1. a) Espera-se que os estudantes identifiquem a estratégia de ganhar tempo intercalando frases de forma a adiar a necessidade da conjugação verbal.

b) Não é necessário que os estudantes identifiquem todos os enunciados requeridos na questão. O objetivo é que eles reconheçam alguns e percebam como ajudaram o orador a se desviar do problema que enfrentava. Esses enunciados podem ser identificados em: “embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades como representante do povo nesta Casa, não sou”; “daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa”; “Não sou daqueles que, dizia eu — e é bom que se repita sempre, senhor presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada”; “Neste momento tão grave para os destinos da nossa

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