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UMA HISTÓRIA PARA SONHADORES
Neste projeto artístico-literário, você vai:
ler A vida no céu: romance para jovens e outros sonhadores, de José Eduardo Agualusa;
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discutir a importância dos textos distópicos e de ficção científica para a tomada de decisões no presente; trabalhar com os conceitos de verossimilhança, polissemia, tempo cronológico e psicológico, espaço físico, social e psicológico;
produzir um livro de minicontos e uma instalação.
Você costuma olhar para o céu? Sabe identificar as nuvens, principalmente as de tempestade? Se você fosse morar no céu, como seria essa nova vida?
Motiva O Extin O E Aquecimento Global
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Você se preocupa com as questões ambientais com frequência? O que sabe sobre o aquecimento global e a relação dele com a extinção das espécies? Veja de que maneira escritores unem preocupação ambiental e imaginação.
1. Responda às perguntas com base na observação do infográfico.
Motiva O
Extinção e aquecimento global
As atividades desta seção visam motivar os estudantes para a leitura, inicialmente, do capítulo 1 do romance A vida no céu: romance para jovens e outros sonhadores por meio de atividades lúdicas que levem os estudantes a entrarem no universo temático da obra que lerão. Ressalte aos estudantes que Elizabeth Kolbert fala sério e não está usando imaginação, como é o caso de Agualusa.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Respostas
1.
a) A autora mostra que a atividade humana está levando o planeta para a sexta extinção.
b) Resposta pessoal.
É possível que os estudantes citem a ararinha-azul como um animal que entrou em extinção. Ela foi, inclusive, protagonista da animação Rio, produção estadunidense ambientada no Rio de Janeiro. Embora ela tenha sido vista na natureza, pela última vez, em 2000, ainda pode ser encontrada em cativeiro. Uma boa notícia é que oito delas foram reintroduzidas à natureza recentemente (em 11 de junho de 2022) em Curaçá, região do Vale do São Francisco. Os animais extintos são classificados em três categorias: extintos na natureza, regionalmente extintos ou extintos.
Caso os estudantes não saibam responder à pergunta, incentive-os a fazerem uma pesquisa em um site de busca. No link disponível em www.peritoanimal.com.br/animaisextintos-no-brasil-23719.html (acesso em: 14 jun. 2022), por exemplo, eles podem conhecer espécies brasileiras extintas e espécies ameaçadas, como boto-cor-de-rosa, lobo-guará, ariranha, pica-pau-amarelo, mico-leão-dourado, onça-pintada, anta, tamanduá-bandeira etc. Há, ainda, a explicação de motivos que levaram à extinção de cada espécie. Por exemplo, a causa da extinção do tubarão-dente-de-agulha no Brasil foi possivelmente a pesca descontrolada, assim como a caça excessiva e a perda de seu hábitat natural são consideradas causas para a extinção da ave maçarico-esquimó.
a) De acordo com Elizabeth Kolbert, quem será responsável pela sexta extinção que está em andamento?
b) Você conhece espécies brasileiras que foram extintas ou estão ameaçadas na sua região? Sabe o motivo da extinção ou do perigo que enfrentam?
2. O aquecimento global é um tema bastante debatido pela comunidade científica internacional. Veja o que James Lovelock, cientista inglês, previu em 2007:
AQUECIMENTO GLOBAL É INEVITÁVEL E 6 BI MORRERÃO, DIZ CIENTISTA
James Lovelock, renomado cientista, diz que o aquecimento global é irreversível - e que mais de 6 bilhões de pessoas vão morrer neste século
Aos 88 anos, depois de quatro filhos e uma carreira longa e respeitada como um dos cientistas mais influentes do século 20, James Lovelock chegou a uma conclusão desconcertante: a raça humana está condenada. “Gostaria de ser mais esperançoso”, ele me diz em uma manhã ensolarada enquanto caminhamos em um parque em Oslo (Noruega), onde o estudioso fará uma palestra em uma universidade. […]
Na visão de Lovelock, até 2020, secas e outros extremos climáticos serão lugar-comum. Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. “Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria”, sentencia Lovelock. “O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável.” Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes - Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica.
[…]
Se tais previsões saíssem da boca de qualquer outra pessoa, daria para rir delas como se fossem devaneios. Mas não é tão fácil assim descartar as ideias de Lovelock. Na posição de inventor, ele criou um aparelho que ajudou a detectar o buraco crescente na camada de ozônio e que deu início ao movimento ambientalista da década de 1970. E, na posição de cientista, apresentou a teoria revolucionária conhecida como Gaia - a ideia de que nosso planeta é um superorganismo que, de certa maneira, está “vivo”. Essa visão hoje serve como base a praticamente toda a ciência climática. Lynn Margulis, bióloga pioneira na Universidade de Massachusetts (Estados Unidos), diz que ele é “uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade”. Richard Branson, empresário britânico, afirma que Lovelock o inspirou a gastar bilhões de dólares para lutar contra o aquecimento global. “Jim é um cientista brilhante que já esteve certo a respeito de muitas coisas no passado”, diz Branson. E completa: “Se ele se sente pessimista a respeito do futuro, é importante para a humanidade prestar atenção.”
Lovelock sabe que prever o fim da civilização não é uma ciência exata. “Posso estar errado a respeito de tudo isso”, ele admite. “O problema é que todos os cientistas bem intencionados que argumentam que não estamos sujeitos a nenhum perigo iminente baseiam suas previsões em modelos de computador. Eu me baseio no que realmente está acontecendo.”
[...] a) Você já havia lido alguma dessas previsões? b) O que você acha do conteúdo da reportagem? c) Caso James Loveck e Elizabeth Kolbert tenham razão, o que pode ser feito para reverter ou retardar o que está acontecendo? d) De que maneira os escritores podem se valer dessas informações para construir suas histórias? Você conhece alguma obra que tem como cenário um mundo diferente do que vivemos hoje? Converse com os colegas. a) Pelo título, qual será o cenário da história? Por que será que ela se passa nesse local? b) Observe o subtítulo. Por que o escritor considera que os jovens são sonhadores? Você é? c) Por que será que o livro se destina a jovens e outros sonhadores? b) Resposta pessoal. Os estudantes devem se posicionar diante do texto. Para isso, eles precisam relacionar partes do texto com seus conhecimentos prévios. No final do texto, por exemplo, James Loveck afirma que os cientistas se baseiam em modelos de computadores e ele no que está acontecendo. Os estudantes podem, por exemplo, comentar isso e apresentar argumentos para concordar ou não com essa afirmação. c) Resposta pessoal. Comente com os estudantes que James Lovelock não acredita no desenvolvimento sustentável. Ainda na reportagem, ele diz que há somente duas saídas: “podemos retornar a um estilo de vida mais primitivo e viver em equilíbrio com o planeta como caçadores-coletores ou podemos nos isolar em uma civilização muito sofisticada, de altíssima tecnologia.” d) Resposta pessoal. Os estudantes devem ativar seus conhecimentos prévios sobre as histórias de ficção científica. É possível que alguns já tenham ouvido falar de Isaac Asimov, importante escritor de ficção científica. b) Resposta pessoal. Os estudantes podem dizer que os jovens são caracterizados geralmente como sonhadores, idealistas, porque são novos, têm uma vida inteira pela frente e, por isso, têm mais disposição para sonhar e lutar pelos sonhos. c) Resposta pessoal. Os estudantes devem levantar hipóteses a respeito do conteúdo do livro a partir do subtítulo. É possível que eles digam que a obra vai apresentar um mundo idealizado, utópico, ou mesmo fará uma crítica ao mundo atual, por isso é direcionada a sonhadores, pessoas que acreditam em outras possibilidades de existência.
GOODELL, Jeff. Aquecimento global é inevitável e 6 bi morrerão, diz cientista. Rolling Stone, 8 nov. 2007. Disponível em: https://rollingstone.uol.com.br/edicao/14/aquecimento-global-e-inevitavel-e-6-bi-morrerao-diz-cientista. Acesso em: 2 maio 2022.
3. Observe a capa do livro.
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3. a) Resposta pessoal. Os estudantes podem interpretar o termo “céu” de forma literal e responder que os humanos foram morar no céu. No entanto, podem pensar de forma figurada e dizer que a história se passará em um mundo melhor, idealizado.
Introdu O
Quem é o escritor?
As atividades desta seção visam introduzir a obra a ser lida, ou seja, as condições de produção, com foco na autoria da obra.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Respostas
1. a) Ele é de família luso-brasileira e é apaixonado pelo Brasil. Viveu no Rio de Janeiro e no Recife entre 1998 e 2000. Além disso, seus livros falam das relações interculturais entre os países de língua portuguesa, incluindo o Brasil.
b) Sim, pois ele é um escritor premiado, consagrado como uma das mais importantes vozes da literatura em língua portuguesa. Além disso, seus livros foram publicados em mais de 20 idiomas.
c) Romance, conto e teatro. É interessante que os estudantes retomem o conceito de romance, pois eles lerão um.
2. Os estudantes fizeram uma pesquisa sobre Angola e as guerras de independência na África no projeto literário do volume 6.
INTRODUÇÃO QUEM É O ESCRITOR?
Olá! Eu sou José Eduardo Agualusa, escritor do livro A vida no céu: romance para jovens e outros sonhadores. Talvez você não me conheça, porque sou angolano. Antes de ler meu livro, inteire-se um pouco sobre a minha história e a do meu país.
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1. Leia as informações sobre José Eduardo Agualusa.
Nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Cursava Silvicultura e Agronomia em Lisboa, mas abandonou os estudos para dedicar-se ao jornalismo e à literatura.
De família luso-brasileira, Agualusa imprime em sua obra as relações culturais entre os países de língua portuguesa por meio da fusão das influências de cada um deles.
Apaixonado pelo Brasil, viveu no Rio de Janeiro e no Recife entre 1998 e 2000.
Membro da União dos Escritores Angolanos, escreveu dez romances e oito livros de contos (quatro deles para crianças), além de peças de teatro. Suas obras estão traduzidas em mais de 20 idiomas.
O romance Nação Crioula o consagrou como uma das mais importantes vozes da literatura em língua portuguesa.
Estão entre os prêmios recebidos por Agualusa o Grande Prêmio Gulbenkian de Literatura para Crianças (2002) e o XII Prêmio Independente de Ficção Estrangeira do Reino Unido (2007), com o romance
O Vendedor de Passados a) Segundo o texto, qual é a relação do escritor com o Brasil? b) O escritor foi reconhecido por se dedicar à literatura? Como isso pode ser comprovado? c) Que gêneros ele escreve? Você sabe a diferença entre eles?
2. Você sabe onde fica Angola? Sabe quais países africanos têm a língua portuguesa como a oficial? Leia o boxe a seguir e faça as atividades.
ATALHO a) Verifique no mapa os países que pertencem ao Palop. b) Faça uma pesquisa sobre Angola e socialize com os colegas. Dividam-se em grupos. Cada um deve procurar subtemas diferentes, como história, geografia, comidas, festas, pontos turísticos, esportes mais praticados, religião etc. Depois, converse com os colegas: o que Angola tem de mais parecido e de mais diferente com o Brasil? b) Exercício procedimental. Como Angola é um país extenso e diverso, outra possibilidade de fazer a pesquisa, é escolhendo apresentar os elementos destacados -- culinária, história, geografia, festas etc.-- a partir de determinada região ou município. Angola se subdivide em províncias (são no total 18), municípios (há 164) e comunas (são 518). Os estudantes podem também fazer uma visita virtual, no Google Maps, a esses municípios, em busca de parques, museus e outros pontos turísticos.
Palop? O que é isso?
Palop é a sigla para a expressão Países Africanos de Língua Portuguesa, que são Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Assim como o Brasil, todos eles foram colônias de Portugal e, mesmo depois da independência, a língua portuguesa continuou sendo o idioma presente nos documentos oficiais, ensinado nas escolas e usado por muitos escritores na literatura desses países.
Mapa ilustrativo da Africa demarcando os PALOP. Disponível em: https://2.bp.blogspot.com/-MoAX_YHY2KQ/T43Hm6mloZI/AAAAAAAAAR4/1RoWbCs-DkM/s320/600px-Palop_svg.png. Acesso em: 5 ago. 2022.
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2. a) Sugira aos alunos que pesquisem para saber algo mais sobre os países que pertencem ao Palop.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE I)
Depois do dilúvio... o céu!
Nesta seção, os estudantes farão a leitura de parte do capítulo 1.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos: EF69LP47
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Produção de textos orais / Oralização:
EF69LP53
Estratégias de leitura / Apreciação e réplica: EF89LP33
RESPOSTAS
1. Escolha estudantes para preparar a leitura do texto e realizá-la para a turma. Você pode fazer uma lista e, com base nela, eles podem seguir lendo os parágrafos.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE I) DEPOIS DO DILÚVIO… O CÉU!
Eduardo Agualusa
Você está prestes a ler a história de Carlos Tucano. Com esse sobrenome, você já viu que ele tem algo a ver com o Brasil. Confira!
1. Leia o texto em voz alta com os colegas.
1º CAPÍTULO
Ascendem (ascender): sobem, elevam.
Dirigíveis: aeronaves mais leves que o ar que podem ser controladas.
Intrincadas: misturadas, emaranhadas.
CÉU: todo o território onde a vida é mais leve do que o ar. Para os mais velhos, um lugar desprovido de passado, como existir o canto de uma ave sem que exista a ave. O lugar para onde ascendem os sonhos, inclusive os maus. Depois que o mundo acabou, fomos para o céu.
O Grande Desastre – o Dilúvio – aconteceu há mais de 30 anos. O mar cresceu e engoliu a terra. A temperatura na superfície tornou-se intolerável. Em poucos meses fabricaram-se centenas de enormes dirigíveis. Entre os maiores estão o Xangai, com 50 mil habitantes, o Nova York, o São Paulo e o Tóquio, cada qual com 20 mil. As famílias mais pobres, sem meios para comprar apartamentos nessas cidades flutuantes, construíram balões, a que chamamos balsas, muitos deles rudimentares.
Apenas 1% da humanidade conseguiu ascender aos céus, escapando do inferno, lá embaixo. Uns 6 milhões de navegantes. A maioria das balsas resistiu, infelizmente, pouco tempo. Caíram. Afundaram-se no mar. Dez anos depois do Dilúvio, já só permaneciam entre as nuvens uns 2 milhões de pessoas.
Os balseiros arquitetaram aldeias suspensas, ligando os balões uns aos outros através de redes de cabos fosforescentes, que brilham à noite, e de intrincadas pontes de cordas.
Também se construíram dezenas de grandes navios-cidade. Obter a energia necessária para manter uma temperatura suportável no interior dessas cidades foi sempre um problema. A degradação das condições levou a tumultos. Bandos de marginais tomaram o controle dos navios, hoje em ruínas, à deriva, embora em alguns deles (segundo se diz) ainda resista uma meia dúzia de sobreviventes.
Chamo-me Carlos Benjamim Tucano e nasci há 16 anos, numa aldeia, Luanda, que junta mais de 300 balsas. No conjunto, ocupa uma área bastante vasta. Aldeias grandes são lentas e difíceis de manobrar. Uma balsa isolada, embora menos rápida que um dirigível, consegue evitar tempestades, correndo à frente das nuvens.
O meu pai, Júlio Tucano, desapareceu durante um temporal. Caiu enquanto tentava socorrer uma balsa, incendiada por um raio. Mal o céu serenou, pedimos auxílio a um balão-pesqueiro, o Paraty, na esperança, um tanto absurda, de que meu pai tivesse escapado vivo à queda.
A família Paraty pesca à linha, com rede e mergulhando. Em qualquer dos casos, são forçados a descer a balsa até escassos metros das águas. Mergulham atados a cordas. Muitas espécies de peixes não sobreviveram ao aumento da temperatura e à crescente acidez dos oceanos. Entre os peixes que resistiram estão os tubarões. A população de tubarões aumentou muito. O calor é o primeiro perigo que os pescadores-mergulhadores enfrentam. Na superfície da água, o ar torna-se quase irrespirável. Durante o dia, o mar fica coberto por uma névoa densa. A reduzida visibilidade é, portanto, o segundo perigo. Muitos pescadores chocam-se, ao saltar, contra detritos flutuantes. O terceiro perigo evidentemente – são os tubarões.
Os pescadores sobrevoaram o mar durante vários dias e não encontraram sinais do meu pai. Em Luanda todos se convenceram de que morrera na queda – o mais provável. E, se não na queda, logo depois, afogado, ou sufocado, ou comido por tubarões.
Todos, menos eu:
2. a) Ao mundo como o nosso, em que os humanos viviam na terra.
• O mar engoliu a terra, por causa do aquecimento global. Além disso, a temperatura na superfície ficou insuportável para os seres vivos.
O pai não morreu – disse à minha mãe.
Deixa-me ir à procura dele. O pai tem mais vidas do que um gato.
Eu conhecia a expressão, mas na verdade nunca vira um gato. Os ricos, nos dirigíveis, criam gatos e cães. Nas balsas, porém, isso é impossível. Não há comida suficiente. Despedi-me da família e dos amigos e transformei-me num navegador solitário. A Maianga é um balão com três andares, muito elegante. Na terra, o meu pai era arquiteto. Foi ele quem desenhou a nossa balsa. Júlio nasceu em São Gabriel da Cachoeira, uma pequena cidade no norte da Amazônia, mas cresceu no Rio de Janeiro. Após concluir o curso, deslocou-se para Angola, para colaborar no desenho de uma nova cidade, e aí conheceu a minha mãe, Georgina, bibliotecária. Nunca mais saiu de Luanda. Ou melhor, saiu de Luanda, na terra, para a Luanda, no céu, sempre na companhia da minha mãe.
Os grandes dirigíveis evitam o mau tempo. Raramente enfrentam as quatro estações – muito menos tempestades. Flutuam plácidos e indiferentes, seguindo o sol do verão, ao longo de uma rota conhecida como a Estrada das Luzes. É um nome apropriado. O esplendor das grandes cidades chega, ao longo dessa rota, a desafiar o brilho das estrelas.
Pesquisando na internet as rotas dos grandes dirigíveis, descobri que um deles, o Paris, se afastara da Estrada das Luzes, passando muito próximo da nossa aldeia durante a tempestade. O mais estranho é que passara não acima da tempestade, para escapar à turbulência, como é regra, mas a uma centena de metros por baixo de nós. [...]
AGUALUSA, José Eduardo. A vida no céu: romance para jovens e outros sonhadores São Paulo: Melhoramentos, 2018. p. 14-18.
2. Releia a primeira frase do capítulo: “Depois que o mundo acabou, fomos para o céu.” a) A que mundo ele se refere? b) Segundo o texto, qual o significado da expressão “fomos para o céu”? b) A expressão é usada de forma literal, ou seja, depois que o mar engoliu a terra, os seres humanos que sobreviveram foram morar no céu. terra e nasceu em São Gabriel da Cachoeira, no norte da Amazônia, mas cresceu no Rio de Janeiro. Depois foi para Angola, onde conheceu a mãe de Carlos, Georgina, que é bibliotecária.
• Por que ele se acabou?
• Essa expressão geralmente é associada a outros sentidos? Quais?
3. De que maneira a definição de céu apresentada no início do capítulo se relaciona à história?
• Há algo nessa definição que se relacione a outras ideias? Comente com os colegas.
4. Como se configura o mundo em que as personagens da história vivem: como se organizam, quais os desafios enfrentados etc.?
5. Há uma imagem descrita pelo narrador que faz referência à internet. Identifique-a.
6. Quem é o narrador da história? Que informações sobre ele e sua família aparecem no texto?
7. Qual o primeiro conflito da história?
8. O que o narrador chama de Estrada das Luzes?
9. Com que objetivo Carlos pesquisa na internet as rotas dos grandes dirigíveis? Que informações ele encontra?
10. Como você acha que esse conflito será resolvido?
• Geralmente, a expressão “ir para o céu” é usada para dizer que alguém morreu ou até mesmo para indicar algo de grande felicidade ou prazer.
3. Quando é dito que, para os mais velhos, o céu é “um lugar desprovido de passado”, relaciona-se ao fato de eles terem suas memórias ligadas a coisas da terra. Também é dito que é o lugar dos sonhos bons e maus, pois é lá que todos os humanos vivem – e sonham em voltar para a terra. Comente possíveis significados do termo “leve”.
• Resposta pessoal.
4. As pessoas mais ricas vivem em apartamentos nos dirigíveis e as mais pobres vivem em balões ou balsas. Depois de dez anos do Dilúvio, restam, nas nuvens, em torno de 2 milhões de pessoas no total. Esses balões se interligam para formar aldeias. Luanda, por exemplo, tem 330 balsas. Há balões-pesqueiros que pescam à linha, com rede e mergulhando. Eles descem perto das águas e mergulham atados a cordas. Muitas espécies de peixes não sobreviveram por causa da crescente acidez dos oceanos. Os que pescam enfrentam dificuldades devido ao calor; à reduzida visibilidade, pois, durante o dia, o mar fica coberto por uma névoa e os mergulhadores podem se chocar com detritos flutuantes; e aos tubarões. Não há comida suficiente para todos e obter energia para manter uma temperatura suportável no interior das cidades é um problema. Comente com os estudantes quantos habitantes há atualmente mundo. Em 2022, a quantidade é em torno de 7,8 bilhões de habitantes.
7. Carlos decide ir em busca do pai, Júlio, pois acredita que ele esteja vivo (ele se transforma em um navegador solitário). O pai caiu quando tentava ajudar uma balsa que fora incendiada por um raio durante um temporal.
8. É uma rota frequentada geralmente pelos grandes dirigíveis, que flutuam indiferentes às tempestades e ao mau tempo, sempre seguindo o sol.
9. Ele pesquisa essas informações em busca de um possível paradeiro do pai. Ele descobre que, durante a queda de Júlio, passava embaixo de Luanda o dirigível Paris.
10. Resposta pessoal.
Os estudantes devem discutir se acreditam que Carlos vai encontrar o pai ou não. Além disso, caso acreditem que o pai esteja vivo, devem levantar hipóteses sobre o que pode ter acontecido a ele. É importante, ainda, que eles expliquem quais elementos do texto utilizaram para fazer tais previsões.
5. “Os balseiros arquitetaram aldeias suspensas, ligando os balões uns aos outros através de redes de cabos fosforescentes, que brilham à noite, e de intrincadas pontes de cordas.” (p. 15)
6. O narrador é Carlos Benjamim Tucano, de 16 anos, nascido em uma aldeia flutuante, Luanda. Seu pai se chama Júlio Tucano e desapareceu em um temporal. Todos pensam que ele morreu, menos o narrador. A família vivia em um balão chamado Maianga, de três andares, construído pelo pai. Ele era arquiteto na