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7º EPISÓDIO: MESMO TEMA, OUTRO CAMPO DE ATUAÇÃO SOCIAL VERBETE DE ENCICLOPÉDIA
Neste episódio, você vai ampliar a discussão sobre variação linguística lendo um verbete de glossário que explica, cientificamente, esse conceito. Preparado para ficar mais consciente ainda sobre “a última flor do Lácio”?
1. Leia o verbete escrito por Marcos Bagno, linguista e pesquisador da Universidade de Brasília.
Variação linguística
7o episódio: Mesmo tema, outro campo de atuação social
Verbete de enciclopédia
Marcos Bagno
Universidade de Brasília-UnB
O termo variação se aplica a uma característica das línguas humanas que faz parte de sua própria natureza: a heterogeneidade. A palavra língua nos dá uma ilusão de uniformidade, de homogeneidade, que não corresponde aos fatos. Quando nos referimos ao português, ao francês, ao chinês, ao árabe etc., usamos um rótulo único para designar uma multiplicidade de modos de falar decorrente da multiplicidade das sociedades e das culturas em que as línguas são faladas. Cada um desses modos de falar recebe o nome de variedade linguística. Por isso, muitos autores definem língua como “um conjunto de variedades” e substituem a noção da língua como um sistema pela noção da língua como um polissistema, formado por essas múltiplas variedades.
A variação linguística se manifesta desde o nível mais elevado e coletivo – quando comparamos, por exemplo, o português falado em dois países diferentes (Brasil e Angola) – até o nível mais baixo e individual, quando observamos o modo de falar de uma única pessoa, a tal ponto que é possível dizer que o número de “línguas” num país é o mesmo de habitantes de seu território. Entre esses dois níveis extremos, a variação é observada em diversos outros níveis: grandes regiões, estados, regiões dentro dos estados, classes sociais, faixas etárias, níveis de renda, graus de escolarização, profissões, acesso às tecnologias de informação, usos escritos e usos falados.
A consciência de que a língua é variável remonta à Antiguidade, quando os primeiros estudiosos da língua grega tentaram sistematizá-la para o ensino e para a crítica literária. Eles, no entanto, fizeram uma avaliação negativa da variação, que viram como um obstáculo para a unificação territorial e para a difusão da língua. Foi nessa época (século III a.C.) que surgiu a disciplina chamada gramática, dedicada explicitamente a criar um modelo de língua que se elevasse acima da variação e servisse de instrumento de controle social por meio de um instrumento linguístico. A consequência cultural desse processo histórico é que o termo língua passou a ser usado, no senso comum, para rotular exclusivamente esse modelo idealizado, literário, enquanto todos os usos reais, principalmente falados, foram lançados à categoria do erro
Com os avanços das ciências da linguagem, essa visão foi abandonada: o exame minucioso de cada variedade linguística revela que ela tem sua própria lógica gramatical, é tão regrada quanto a língua literária idealizada, e serve perfeitamente bem como recurso de interação e integração social para seus falantes. Diante disso, um novo projeto de educação linguística vem se formando: é preciso ampliar o repertório e a competência linguística dos aprendizes, levá-los a se apoderar da escrita e dos muitos gêneros discursivos associados a ela, sem contudo desprezar suas variedades linguísticas de origem, valorizando-as, ao contrário, como elementos formadores de sua identidade individual e social e como patrimônio cultural do país.
Verbetes associados
Dialeto, Gêneros discursivos; Língua; Preconceito linguístico.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2013.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. In: Glossário Ceale termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014. p. 331-332.
Neste episódio, com base na leitura de um verbete de enciclopédia, os estudantes vão continuar a refletir sobre o fenômeno da variação linguística. Como o objetivo é fazê-los compreender o verbete, as questões são de localização de informação. Além disso, os estudantes vão realizar uma pesquisa sobre os tipos de variação para compartilharem com os colegas de sala de aula.
Tempo previsto: 3 aulas
Reconstrução das condições de produção e recepção dos textos e adequação do texto à construção composicional e ao estilo de gênero: EF69LP29
Estratégias e procedimentos de leitura / Relação do verbal com outras semioses / Procedimentos e gêneros de apoio à compreensão: EF69LP32, EF69LP34
Curadoria de informação: EF89LP24
Estratégias de escrita: textualização, revisão e edição: EF69LP36
Conversação espontânea: EF89LP27.
Respostas
1.
a) Porque quando se fala em língua devemos considerar uma multiplicidade de modos de falar decorrente da multiplicidade das sociedades e das culturas em que as línguas são faladas.
b) É cada um dos modos de falar, que são heterogêneos.
c) “A variação linguística se manifesta desde o nível mais elevado e coletivo – quando comparamos, por exemplo, o português falado em dois países diferentes (Brasil e Angola) – até o nível mais baixo e individual, quando observamos o modo de falar de uma única pessoa, a tal ponto que é possível dizer que o número de ‘línguas’ num país é o mesmo de habitantes de seu território. Entre esses dois níveis extremos, a variação é observada em diversos outros níveis: grandes regiões, estados, regiões dentro dos estados, classes sociais, faixas etárias, níveis de renda, graus de escolarização, profissões, acesso às tecnologias de informação, usos escritos e usos falados”.
d) De acordo com o verbete, a gramática surgiu no século III a.C., na Grécia, quando os estudiosos da língua grega perceberam sua variedade e criaram a disciplina a fim de estabelecer um modelo de língua que estivesse acima da variação e que pudesse ser usado como instrumento de controle social por meio de um aparato linguístico.
e) A consequência foi que o termo “língua” passou a ser usado, no senso comum, para rotular exclusivamente esse modelo idealizado, literário. Os usos reais, principalmente falados, foram considerados erros.
f) Resposta pessoal.
Não é absurdo pensar que, ainda hoje, o peso da tradição gramatical ainda permeia os usos que são feitos da língua, considerando erro o que foge à normatização gramatical.
g) A ideia é que é “preciso ampliar o repertório e a competência linguística dos aprendizes, levá-los a se apoderar da escrita e dos muitos gêneros discursivos associados a ela, sem, contudo, desprezar suas variedades linguísticas de origem, valorizando-as, ao contrário, como elementos formadores de sua identidade individual e social e como patrimônio cultural do país”.
h) Porque ele não desconsidera os diferentes modos de falar, ou seja, ela não desconsidera a variação linguística que é inerente à língua.
a) Por que, de acordo com o verbete, quando se fala em variação linguística se fala necessariamente em heterogeneidade?
b) O que é variedade linguística?
c) Segundo o verbete, a variação linguística se manifesta em diferentes níveis. Quais são eles?
d) Quando a disciplina gramática surge e qual era sua função?
e) Qual foi a consequência cultural desse processo histórico?
f) Como estudante, você sente essa consequência cultural no ambiente escolar? Fale com os colegas.
g) Diante dos avanços das ciências da linguagem, um novo projeto de educação linguística está sendo proposto. O que ele diz?
h) Por que é possível dizer que esse novo projeto de educação linguística é mais democrático?
i) Em sua opinião, considerando o que foi discutido, seria mais adequado se referir à língua portuguesa como “últimas flores do Lácio”? Fale com os colegas e o professor.
2. Segundo o verbete, a variação linguística se materializa em diferentes níveis. Em função disso, ela pode ser classificada em diafásica, diacrônica, diatópica e diastrática. Para conhecer cada classificação, a turma vai realizar uma pesquisa e divulgar as informações entre os colegas. Para isso, sigam as orientações: a) Dividam-se em quatro equipes. Cada uma vai pesquisar um tipo de variação linguística. b) Usando o celular ou computadores da sala de informática da escola, informem-se sobre o tipo de variação linguística que ficou sob a responsabilidade do grupo. Lembrem-se de que sites e portais institucionais, como os de universidades públicas ou do governo, são mais confiáveis. c) Selecionem e registrem, durante a leitura, as informações mais relevantes, não se esquecendo de registrar também de onde elas foram retiradas. d) Selecionem exemplos com potencial para tornar ainda mais clara a explicação sobre a variação linguística que ficou a cargo da sua equipe. e) Organizem as informações para serem compartilhadas com os colegas em uma roda de conversa. Cada equipe vai ter de 5 a 10 minutos para realizar a exposição. i) Resposta pessoal. e) A proposta é de que os resultados da pesquisa sejam compartilhados em uma roda de conversa. Se julgar pertinente, peça aos estudantes que preparem uma apresentação oral, com apoio de material, e transforme o compartilhamento em uma situação de uso mais formal da língua. A expectativa é de que, de forma simplificada, os estudantes cheguem às seguintes informações:
Acesse https://professor.escoladigital.pr.gov.br/pesquisa_fontes_confiaveis (acesso em: 6 jul. 2022) e leia a matéria “Como pesquisar em fontes confiáveis e otimizar sua pesquisa?” para ampliar seus conhecimentos sobre como pesquisar em ambiente digital.
Esta questão visa levar os estudantes a perceberem que a língua portuguesa, de fato, não é única, mas várias. Ao pé da letra, devemos pensar no plural, já que existem diferentes modos de falar.
2. O objetivo é ampliar os conhecimentos dos estudantes sobre os tipos de variação linguística. Para realizar a pesquisa, eles serão orientados a consultarem sites, sendo uma oportunidade para que se apropriem criticamente de processos de pesquisa e busca de informação na rede.
• variação diafásica: relacionada ao contexto e ao grau de formalidade do discurso. Assim, é diferente a forma como se fala com um colega de turma (de modo mais coloquial) da forma como se fala com o diretor da escola (de modo mais formal);