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21 minute read
POETIZANDO
Roteiro
Neste projeto artístico-literário, você vai: ler a obra Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina; discutir temas como memória, identidade, relações familiares e sociais, crítica social etc.; reconhecer efeitos de sentido produzidos por determinadas figuras de linguagem; realizar um sarau com leitura de poemas, dança, música e outras manifestações artísticas. Vamos de poesia!
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A cidade de Goiás (GO) foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2001 por sua arquitetura barroca, tradições culturais e natureza exuberante.
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Motiva O Cantando A Pr Pria Terra
Alguns escritores representaram a terra natal em suas histórias e ficaram conhecidos também por isso. Ao terem acesso às suas obras, os leitores passam a conhecer os nomes das ruas, dos estabelecimentos comerciais, do tipo de arquitetura das casas e dos prédios, a história da cidade etc.
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1. Observe os escritores e os lugares mostrados nas fotografias e converse com os colegas: quem são esses escritores e de que maneira eles se relacionam com esses lugares?
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Motiva O
Cantando a própria terra
As atividades desta seção visam motivar os estudantes para a leitura, inicialmente, do poema “Minha cidade”, do livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, por meio de atividades lúdicas que levem os estudantes a entrarem no universo temático da obra que lerão.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção: EF69LP44.
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Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Respostas
1. O escritor fluminense Machado de Assis ficou conhecido por retratar em seus romances e contos a cidade do Rio de Janeiro. O escritor baiano Jorge Amado é reconhecido por representar a Bahia e principalmente a cidade de Ilhéus em suas obras. Já o amazonense Milton Hatoum ambienta suas histórias na cidade de Manaus.
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Chave Mestra
Para ajudá-lo a relacionar os locais a seus respectivos escritores, leia os trechos a seguir.
Halim havia melhorado de vida nos anos do pós-guerra. Vendia de tudo um pouco aos moradores dos Educandos, um dos bairros mais populosos de Manaus, que crescera muito com a chegada dos soldados da borracha, vindos dos rios mais distantes da Amazônia. Com o fim da guerra, migraram para Manaus, onde ergueram palafitas à beira dos igarapés, nos barrancos e nos clarões da cidade. Manaus cresceu assim: no tumulto de quem chega primeiro.
Tempo houve (dirá ele) em que o primeiro Frontão da Rua do Ouvidor descendo, à esquerda, perto da Rua de Gonçalves Dias, era uma confeitaria, Confeitaria Pascoal. Este nome, que nenhuma comoção produz na alma do rapaz nascido com o século, acorda em mim saudades vivíssimas. A casa da mesma rua, esquina da dos Ourives, onde ainda ontem (perdoem ao guloso) comprei um excelente paio, era uma casa de joia, pertencente a um italiano, um Farani, Cesar Farani, creio, na qual passei horas excelentes. Fora, fora memórias importunas!
Como poderia São Jorge ficar indiferente a tanta aflição? Vinha ele dirigindo, bem ou mal, os destinos dessa terra, hoje do cacau, desde os tempos imemoriais da Capitania. O donatário, Jorge de Figueiredo Correia, a quem o rei de Portugal dera, em sinal de amizade, essas dezenas de léguas povoadas de silvícolas e de pau-brasil, não quisera deixar pela floresta bravia os prazeres da corte lisboeta, mandara seu cunhado espanhol morrer nas mãos dos índios. Mas lhe recomendara pôr sob a proteção do santo vencedor dos dragões aquele feudo que o rei seu senhor houvera por bem lhe regalar. Não iria ele a essa distante terra primitiva mas lhe daria seu nome consagrando-a a seu xará São Jorge. Do seu cavalo na lua, seguia assim o santo o destino movimentado desse São Jorge dos Ilhéus desde cerca de quatrocentos anos. Vira os índios trucidarem os primeiros colonizadores e serem por sua vez trucidados e escravizados, vira erguerem-se os engenhos de açúcar, as plantações de café, pequenos uns, medíocres as outras. Vira essa terra vegetar, sem maior futuro, durante séculos. Assistira depois à chegada das primeiras mudas de cacau e ordenara aos macacos juparás que se encarregassem de multiplicar os cacaueiros. Talvez sem objeto preciso, apenas para mudar um pouco a paisagem da qual já devia estar cansado após tantos anos. Não imaginando que, com o cacau, chegava a riqueza, um tempo novo para a terra sob sua proteção. Viu então coisas terríveis: os homens matando-se traiçoeira e cruelmente pela posse de vales e colinas, de rios e serras, queimando as matas, plantando febrilmente roças e roças de cacau. Vira a região de súbito crescer, nascerem vilas e povoados, vira o progresso chegar a Ilhéus trazendo um bispo com ele, novos municípios serem instalados - Itabuna, Itapira -, elevar-se o colégio das freiras, vira os navios desembarcando gente, tanta coisa vira que pensava nada poder mais impressioná-lo.
[...]
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas [...]
2. Veja que não só os escritores, mas outros artistas também descreveram terras e povos em suas obras. Identifique as cidades retratadas nos trechos de canção a seguir. a) b)
SAMPA. Compositor: Caetano Veloso. Intérprete: Caetano Veloso. In: Veloso, Caetano. Muito (Dentro da Estrela Azulada) Rio de Janeiro: Philips Records, 1978. LP. Faixa 7. Disponível em: www.letras.mus.br/caetano-veloso/41670. Acesso em: 6 ago. 2022.
Quem é que sobe a ladeira do Curuzu
E a coisa mais linda de se ver?
É o Ilê Aiyê
O Mais Belo Dos Belos
Sou eu, sou eu
Bata no peito mais forte
E diga: Eu sou Ilê
O MAIS belo dos belos. Compositor: Adailton Poesia, Guiguio, Valter Farias. Intérprete: Daniela Mercury. In: Mercury, Daniela.
O canto da cidade Rio de Janeiro: Sony Music, 1992. CD. Faixa 7. Disponível em: https://immub.org/album/o-canto-da-cidade. Acesso em: 6 ago. 2022.
Talvez perca o emprego
Talvez a sua resposta seja não
Quero dar um jeito
De conseguir pagar a prestação
De passear na grama do Parcão
De respirar deitar ao sol que brilha [...] b) A ladeira do Curuzu se localiza em Salvador. c) O termo “Parcão” é o apelido do Parque Moinhos de Vento, que fica na cidade de Porto Alegre. b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a procurarem informações sobre a história da região. No site do Governo de Goiás (www.goias.gov.br/ index.php/conheca-goias/historia; acesso em: 26 jul. 2022), há informações gerais que podem ajudar os estudantes a entenderem de forma mais geral a história da região. a) O que você conhece sobre essa escritora? b) Pelo título, é possível inferir que os poemas estão relacionados à região de Goiás. O que você sabe sobre essa região e de que maneira a história dessa cidade se relaciona à história do Brasil?
GIRASSÓIS. Compositor: Duca Leindecker. Intérprete: Cidadão Quem. In: Cidadão Quem. Girassóis da Rússia Porto Alegre: Orbeat Music, 2002. Disponível em: www.vagalume.com.br/cidadao-quem/girassois.html. Acesso em: 6 ago. 2022.
3. Converse com os colegas: o lugar onde você vive aparece em letras de música? Quais? E em relação à literatura, os escritores de sua região ambientam suas histórias ou fazem versos sobre o lugar onde moram? Você já leu suas obras?
2. a) A esquina da rua Ipiranga com a avenida São João se refere à cidade de São Paulo.
Os estudantes podem usar o título “Sampa” como dica.
3. Respostas pessoais.
Incentive os estudantes a comentarem sobre escritores e compositores da região. Convide-os a recitarem ou cantarem trechos de letras e poemas que eles conhecem e de que mais gostam, a dizer o que sentem e o que lembram quando escutam ou leem esses textos.
4. a) Resposta pessoal.
O pontapé da história de Goiás se deu com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo, em busca de ouro, no final do século XVII e início do século XVIII. O contato entre nativos indígenas, negros e os bandeirantes foi fator decisivo para a formação da cultura do Estado, deixando como legado as principais cidades históricas, como Corumbá de Goiás, Pirenópolis e Goiás, antiga Vila Boa e primeira capital de Goiás.
O nome do Estado tem origem na denominação da tribo indígena “guaiás” que, por corruptela, se tornou Goiás. Vem do termo tupi “gwaya”, que quer dizer “indivíduo igual, gente semelhante, da mesma raça”.
De acordo com a história, Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como o Anhanguera, foi o primeiro bandeirante a ocupar Goiás. Entretanto, o Estado era conhecido e fazia parte da rota dos Bandeirantes já no primeiro século da colonização do Brasil. As primeiras Bandeiras eram de caráter oficial e destinadas a explorar o interior em busca de riquezas minerais, e outras empresas comerciais de particulares organizadas para captura de índios.
A Bandeira saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. O caminho já não era tão difícil como nos primeiros tempos. Três anos depois, os bandeirantes voltaram triunfantes a São Paulo, divulgando a descoberta de cinco córregos auríferos, minas tão ricas quanto as de Cuiabá, com ótimo clima e fácil comunicação.
Pouco tempo depois, os bandeirantes organizaram uma nova expedição para a exploração do novo território, tendo Bartolomeu, agora como superintendente das minas, e João Leite da Silva Ortiz, como guarda-mor. A primeira região ocupada foi a do Rio Vermelho, onde foi fundado o arraial de Sant’Ana, posteriormente chamado de Vila Boa e mais tarde de Cidade de Goiás.
HISTÓRIA. Governo de Goiás. Goiás, 27 nov. 2019. Disponível em: www.goias.gov.br/ index.php/conheca-goias/historia. Acesso em: 23 jul. 2022.
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INTRODUÇÃO QUEM É A ESCRITORA?
Olá! Eu sou Cora Coralina, autora de Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Contei muitas histórias em meus poemas, com muita poesia.
1. Leia as informações sobre a poeta Cora Coralina.
Cora Coralina é um dos marcos recentes de nossa literatura. Nascida em Goiás, teve uma trajetória literária peculiar. Embora escrevesse desde moça, tinha 76 anos quando seu primeiro livro foi publicado, e quase noventa quando sua obra chegou às mãos de Carlos Drummond de Andrade – responsável por sua apresentação ao mercado nacional. Desde então, sua literatura vem conquistando crítica e público.
Cora Coralina não se filiou a nenhuma corrente literária. Com um estilo pessoal, foi poeta e uma grande contadora de histórias e coisas de sua terra. O cotidiano, os causos, a velha Goiás, as inquietações humanas são temas constantes em sua obra, considerada por vários autores um registro histórico-social deste século.
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Carlos Drummond de Andrade escreveu a Cora Coralina:
Cora Coralina
Rio de Janeiro, 14 de julho, 1979
Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina.
Todo o carinho, toda a admiração do seu Carlos Drummond de Andrade.
ATALHO
Você sabe quem foi Carlos Drummond de Andrade? Ele foi um dos maiores escritores do Modernismo brasileiro, movimento artístico-cultural do século XX, e é referência para muitos poetas ainda hoje. Nasceu em 1902, em Itabira, interior de Minas Gerais, e faleceu em 1987, no Rio de Janeiro. Ele, como Cora Coralina, fala sobre sua mineiridade e sobre sua terra natal, como no poema “Confidência do Itabirano”, em que as características da cidade se misturam às dos itabiranos: “Noventa por cento de ferro nas calçadas. / Oitenta por cento de ferro nas almas”.
Quem é a escritora?
As atividades desta seção visam introduzir a obra a ser lida, ou seja, as condições de produção, com foco na autoria da obra e nos paratextos.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Respostas
1.
a) O fato de publicar seu primeiro livro de poemas aos 76 anos e ficar conhecida faz com que acreditemos que a idade não é empecilho para a realização de sonhos; Cora Coralina é um exemplo de perseverança.
b) Resposta pessoal.
Os estudantes podem destacar o fato de os versos de Cora fazerem o poeta se lembrar de sua terra natal ou os muitos elogios que ele faz ao livro da poetisa ou à sua pessoa.
c) Resposta pessoal.
Os estudantes devem pesquisar informações como filiação, quando e onde ela começou a escrever, ano em que saiu de Goiás e para lá voltou, profissões que teve além de poetisa e cronista, filhos que teve, dificuldades enfrentadas etc. Eles devem perceber quão batalhadora e inspiradora foi Cora Coralina.
Se possível, assista ao documentário completo “Cora Coralina – De Lá Pra Cá – 21/09/2009”, publicado no canal da TV Brasil. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=oQj6wB_HGK4 (Episódio 1); www. youtube.com/watch?v=C0jCwXqTvtk (Episódio 2). Acessos em: 14 jul. 2022.
a) O que há de inspirador na trajetória de Cora Coralina?
b) O que você achou de mais elogioso nas palavras de Carlos Drummond de Andrade sobre a escrita da poetisa?
c) Foram apresentadas poucas informações sobre a vida de Cora Coralina. Faça uma pesquisa e descubra dados sobre sua vida pessoal.
Atalho
Leia a transcrição do trecho de um documentário em que Cora Coralina explica o porquê de seu nome artístico.
“Quando eu comecei a escrever, com muita vaidade e muita ignorância, nesta cidade havia muita Ana. Santana é a padroeira daqui, e, quando nascia uma menina numa casa, davam de logo o nome de Ana; nascia outra era Ana, de modo que a cidade era cheia de Ana, Aninha, Anica, Niquita, Niquinha, Nicota, Doca, Doquinha, Doquita. Tudo isso era Ana. Você ia procurar saber era Ana.”
Cora Coralina (1/2). De Lá Pra Cá. TV Brasil, 21/09/2009. Brasil: TV Brasil. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=oQj6wB_HGK4. Acesso em: 27 jul. 2022.
2. Agora leia “Este Livro”, “Ao Leitor” e “Ressalva”, que se encontram no início de Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina.
Este Livro
Este livro pertence mais aos leitores do que a quem o escreveu.
Que o saiba sempre em brochura, ao alcance de crianças, jovens e adultos, que mãos operárias repassem estas páginas e sintam-se presentes, junto a mulher operária que as elaborou.
Que possa ultrapassar as cidades e alcançar a alma sertaneja, levando minha presença-terra aos enxadeiros e boiadeiros que tanto me ensinaram.
Que entre em casas de mulheres marcadas de luz vermelha e leve a elas esta Mensagem do Evangelho: a) O que você entende pela frase “Este livro pertence mais aos leitores do que a quem o escreveu”? b) Quem a escritora deseja ter como leitor de sua obra? c) Você acha que a escritora ficaria feliz tendo você como leitor? Comente com um colega. d) Leia o trecho a seguir.
Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes entrarão na vossa frente no reino de Deus.
Possa ser lido nas prisões e levar ao presidiário a última página deste livro num apelo de regeneração e na minha oferta de fraternidade humana.
Tenha ele sempre uma apresentação simples e sugestiva e, por muito tempo, possa viver fora das encadernações de luxo entre lombadas hieráticas e dourados bonitos.
Possa valer pelo seu conteúdo, sempre encontrado em bancas populares e em balcões de livrarias – seu preço ao alcance de um leitor modesto.
Com o tempo, lido, relido e trelido, rabiscado, amassado, arrancadas suas folhas, seja, num dia de faxina geral, num auto de arrumação e limpeza, lançado numa fogueira e calcinado no holocausto das chamas.
Vai, meu pequeno livro. Que possa sobreviver à Autora e ter a glória de ser lido por gerações que hão de vir de gerações que vão nascer.
• Você concorda com essa afirmação? Explique.
• Como ela se caracteriza?
• A escritora também comenta como imagina ser a confecção do livro. De que maneira essa escolha se relaciona ao tipo de leitor que busca atingir?
Ao Leitor
Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do Passado antes que o Tempo passe tudo a raso. É o que procuro fazer para a geração nova, sempre atenta e enlevada nas estórias, lendas, tradições, sociologia e folclore de nossa terra.
Para a gente moça, pois, escrevi este livro de estórias. Sei que serei lida e entendida.
• Com qual objetivo a escritora escreve sua obra?
e) Leia o poema a seguir.
Ressalva
Este livro foi escrito por uma mulher que no tarde da Vida recria e poetiza sua própria Vida.
Este livro foi escrito por uma mulher que fez a escalada da Montanha da Vida removendo pedras e plantando flores.
Este livro: Versos... Não. Poesia... Não. Um modo diferente de contar velhas estórias.
• No poema, a escritora faz três ressalvas. Quais são elas?
2. a) A escritora aponta para a importância da experiência da leitura e da ideia de que o autor escreve para ser lido.
• Resposta pessoal.
b) A escritora deseja ser lida por pessoas simples e excluídas socialmente, trabalhadores da cidade e do campo e prisioneiros, sejam crianças, jovens e adultos.
• Cora se caracteriza como uma “mulher operária”, uma trabalhadora.
• Ela imagina que seu livro tenha uma edição simples e um preço acessível, pois seu público-alvo são pessoas com baixo poder aquisitivo.
c) Resposta pessoal.
d) • O objetivo da escritora é eternizar o passado, ou seja, repassar histórias, lendas, tradições de sua terra para as novas gerações. Por isso, o leitor passa a ter grande responsabilidade.
e) • A primeira ressalva (primeira estrofe) feita é de que o livro foi escrito por uma mulher mais velha e que seus poemas falam sobre sua própria vida; a segunda (segunda estrofe) é sobre o fato de a escritora ter enfrentado dificuldades e sobrevivido a elas; a terceira (terceira estrofe) é de que os poemas não são poesias, mas histórias.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE I)
A sensibilidade mágica
Nesta seção, os estudantes farão a leitura do poema “Minha cidade”, do livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina.
Tempo previsto: 1 aula
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos: EF69LP48
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Produção de textos orais / Oralização: EF69LP53.
Estratégias de leitura / Apreciação e réplica: EF89LP33
Figuras de linguagem: EF89LP37
Coesão: EF09LP11
RESPOSTAS
1. Resposta pessoal.
• Resposta pessoal. Espera-se que, a partir das atividades realizadas na seção anterior, os estudantes possam identificar elementos que serão citados no poema, como o fato de Cora Coralina se chamar Ana e de morar do lado do Rio Vermelho.
2. Escolha estudantes para que preparem a leitura do texto e leiam para os colegas. Você pode fazer uma lista e, a partir dela, eles podem seguir lendo as estrofes.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE I) A SENSIBILIDADE MÁGICA
Como você vê sua cidade? O que ela representa para você? Cantar a minha cidade é uma das coisas que faço em meus poemas...
1. Se fosse falar sobre sua cidade e seus moradores, quais lugares e características você destacaria?
• No poema “Minha cidade” que você vai ler, a poetisa fala sobre a cidade dela. O que você conhece sobre a relação de Cora Coralina com sua cidade?
2. Leia o poema em voz alta para os colegas.
MINHA CIDADE
Goiás, minha cidade... Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras. Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha.
Eu sou aquela mulher que ficou velha, esquecida, nos teus larguinhos e nos teus becos tristes, contando estórias, fazendo adivinhação. Cantando teu passado. Cantando teu futuro.
Eu vivo nas tuas igrejas e sobrados e telhados e paredes.
Eu sou aquele teu velho muro verde de avencas onde se debruça um antigo jasmineiro, cheiroso na ruinha pobre e suja.
Eu sou estas casas encostadas cochichando umas com as outras. Eu sou a ramada dessas árvores, sem nome e sem valia, sem flores e sem frutos, de que gostam a gente cansada e os pássaros vadios.
Eu sou o caule dessas trepadeiras sem classe, nascidas na frincha das pedras: Bravias.
Renitentes Indomáveis. Cortadas. Maltratadas. Pisadas. E renascendo.
Eu sou a dureza desses morros, revestidos, enflorados, lascados a machado, lanhados, lacerados Queimados pelo fogo. Pastados. Calcinados e renascidos. Minha vida, meus sentidos, minha estética, b) As casas cochicham porque estão coladas, encostadas umas às outras. A proximidade entre elas leva a uma ideia de pouca intimidade e reserva de quem vive tão próximo ao vizinho. c) A ideia de que os ramos das árvores servem de refúgio, descanso a pessoas e pássaros. todas as vibrações de minha sensibilidade de mulher, tem, aqui, suas raízes.
Calcinados: queimados.
Frincha: greta, fresta, fenda.
Lacerados: danificados, despedaçados.
Renitentes: persistentes, obstinadas.
3. O eu poético vê a cidade como integrante de sua própria história e personalidade, como lugar de memória e de afeto, além de material de sua própria poesia: “Minha vida, / meus sentidos, / minha estética, / todas as vibrações / de minha sensibilidade de mulher, / tem, aqui, suas raízes.” • Resposta pessoal.
Espera-se que os estudantes afirmem que o olhar do leitor é guiado pela representação que o eu poético faz da sua cidade.
4. O eu poético fala com sua cidade, Goiás. • O intuito é mostrar para a cidade quem é o eu poético, para que a cidade o reconheça como parte dela.
5. As ruas, a ponte da Lapa, os larguinhos, os becos, as igrejas, os sobrados com seus telhados e paredes, os muros e as casas, as ramadas das árvores, as gentes, os pássaros, os caules das trepadeiras nas frinchas das pedras, os morros.
6. As ruas estreitas, curtas, indecisas, entram e saem umas das outras; os becos tristes; o muro velho e verde de avencas onde se debruça um antigo jasmineiro; a ruinha pobre e suja; as casas encostadas cochicham umas com as outras; a ramada de árvores sem nome, sem valia, sem flores e sem frutos; gente cansada; os pássaros vadios; o caule de trepadeiras sem classe, bravias, renitentes, indomáveis, cortadas, maltratadas, pisadas e renascendo; a dureza dos morros, revestidos, enflorados, lascados a machado, lanhados, lacerados, queimados pelo fogo, pastados, calcinados e renascidos.
7. a) A caracterização das ruas como indecisas está relacionada com a organização delas, com o fato de uma rua entrar e sair na outra.
Eu sou a menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha.
CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais Salvador: LDM, 2018. p. 33-35.
3. Como o eu poético vê a cidade? Quais versos sintetizam essa relação entre ele e a cidade?
• E você, como vê a cidade com base no poema?
4. Com quem o eu poético conversa?
• Com que intuito ele dialoga?
5. Quais elementos da cidade são citados?
6. Como o eu poético caracteriza esses elementos?
7. Observe os trechos em que aparecem algumas caracterizações.
I. [...]
Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras. [...]
II. [...] Eu sou estas casas encostadas cochichando umas com as outras. [...]
III. [...]
Eu sou a ramada dessas árvores, sem nome e sem valia, sem flores e sem fruto, de que gostam a gente cansada e os pássaros vadios. [...]
IV. [...] Eu sou o caule dessas trepadeiras sem classe, nascidas na frincha das pedras: [...] a) No trecho I, as ruas são caracterizadas como indecisas. Por quê? b) No trecho II, o que você entende por “casas cochichando umas com as outras”? c) No trecho III, por que a gente cansada e os pássaros vadios gostam dos ramos das árvores? d) No trecho IV, por que as trepadeiras são caracterizadas como sem classe?
8. Ao mesmo tempo que o eu poético fala da cidade, também fala de si. Como ele se caracteriza e de que maneira a caracterização de si e da cidade se misturam?
9. Releia os versos que aparecem na primeira e na última estrofe:
“Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.”
“Eu sou a menina feia da ponte da Lapa.”
• O pronome "aquela" e o artigo "a" são usados para caracterizar "menina feia da ponte da Lapa". Qual a diferença entre o uso de um ou outro termo?
10. Qual estrutura se repete ao longo do poema? Qual é a função dessa repetição?
11. Há outras repetições no poema. Identifique-as e explique seu efeito de sentido.
12. Por que há muitos adjetivos no poema? Quais recursos são usados para ligá-los entre si sintaticamente?
• Há diferença entre os recursos usados? Explique.
13. Pensando no que você leu sobre a biografia da poeta Cora Coralina, é possível dizer que o eu poético e a poetisa se confundem no poema? Por quê?
14. Sobre a estrutura do poema, responda: a) Há quantas estrofes? b) Há regularidade na quantidade de versos em cada estrofe? c) Há rimas? d) Os versos são metrificados, ou seja, têm o mesmo tamanho, mesma medida? e) Veja o que Cora Coralina fala sobre os recursos usados nas poesias e relacione sua fala com o que você identificou nos itens anteriores. f) Se a poetisa não se preocupa com a metrificação e a rima, de que maneira ela parece organizar seus versos? c) Há algumas rimas internas e externas, como em “enflorados”, “lascados”, “machado”, “lanhados”, “lacerados”, “queimados”, “pastados”, “calcinados”, e em “revestidos”, “renascidos” e “sentidos” na sétima estrofe, mas não há regularidade, esquema rímico. d) Não. Na sétima estrofe, por exemplo, o primeiro verso tem 9 sílabas poéticas e o segundo tem 3.
Eu nunca consegui formar uma quadra. Só depois que a poesia se libertou da rima e da métrica foi que eu também me libertei das minhas dificuldades, mas como eu não podia escrever versos, eu passei para a prosa automaticamente.
Cora Coralina (2/2). De Lá Pra Cá. TV Brasil, 21/09/2009. Brasil: TV Brasil. 1 vídeo (17 min). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=C0jCwXqTvtk. Acesso em: 14 jul. 2022.
15. Quais versos do poema você destacaria? Por quê?
Não será necessário fazer a escansão dos versos, pois visivelmente eles têm tamanhos diferentes, mas explique aos estudantes que há tipos de poemas em que a métrica é importante, como em sonetos e cordéis, que possuem forma fixa. Esclareça, ainda, que a contagem dos versos se dá a partir da contagem das sílabas poéticas, que não é exatamente como as sílabas gramaticais. e) O poema de Cora Coralina é livre de regras fixas de rimas e métricas, ou seja, os versos não são organizados a partir das rimas e da métrica. Foram os poetas modernistas do início do século XX que “libertaram” a poesia da rima e métrica e, assim, poetas como Cora Coralina se sentiram à vontade para produzir poesia, antes se aventurando apenas na prosa. Explique aos estudantes que quadra é um tipo de poema popular, composto por quatro versos com rimas geralmente no 2º e no 4º verso. A linguagem é simples e é recorrente a presença do humor. d) As trepadeiras são sem classe porque nascem desordenadamente, em lugares improváveis e são rudes e resistentes. b) Não. As estrofes têm tamanhos diferentes, por exemplo, há uma estrofe com 3 versos e outra com 15 versos. f) Os versos são construídos a partir do destaque que se quer dar a determinado sentido, ritmo ou sonoridade. Por exemplo, na penúltima estrofe, os versos curtos – em que aparecem, muitas vezes, apenas uma palavra –destacam e reforçam as características apresentadas.
8. O eu poético se identifica como uma mulher amorosa, a antiga menina feia da ponte da Lapa, a Aninha. Ela ficou velha e esquecida – era a que contava estórias e fazia previsões para o futuro da cidade –e vive nas igrejas, nos sobrados e em todos os lugares (“e telhados e paredes”). Ela se identifica com elementos que lhe dão características: é o muro onde o jasmineiro se debruça, as casas encostadas cochichando, as ramadas das árvores em que pessoas e pássaros descansam, ou seja, ela é solidária, amiga, companheira; é o caule das trepadeiras que nascem nas pedras e a dureza dos morros, ou seja, ela é resistente, brava, indomável, sofrida e persistente. Ela também diz que sua vida, seu modo de sentir e sua poesia têm como referência a própria cidade.
9. O uso do pronome “aquela” na primeira estrofe mostra que o eu poético está falando de um tempo passado. Já o artigo “a” se refere a alguém já conhecida.
10. A estrutura “Eu sou …” permite ao eu poético se caracterizar como alguém que possui características que se confundem às da própria cidade. É uma identificação profunda com seu próprio lugar.
11. A repetição da expressão “cantando teus…” em “Cantando teu passado”; “Cantando teu futuro”; a repetição da conjunção “e” em “e sobrados”, “e telhados”, “e paredes”; a repetição do termo “sem” em “sem nome e sem valia”, “sem flores e sem frutos”. As repetições dão musicalidade aos versos, assim como ajudam a reforçar ideias ou dar ideia de adição.
12. Os adjetivos são usados para que o eu poético caracterize os elementos da cidade e se caracterize. Eles se ligam ora por vírgulas, ora pela conjunção “e”, ou até mesmo por ponto-final.
• Sim. O ponto-final destaca mais as informações se comparado ao uso da vírgula. Já a conjunção “e” adiciona uma característica a outra.
13. Sim. O eu poético se caracteriza como Aninha, assim como a poetisa. Além disso, há outras referências à poetisa, como a ponte da Lapa, a cidade de Goiás, o fato de ela cantar em seus poemas a sua cidade.
14. a) 8 estrofes.
15. Resposta pessoal.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE II)
Mais conversas poéticas de Cora Coralina Nesta seção, os estudantes farão a leitura do restante do livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais
Tempo previsto: 3 a 4 aulas
Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção / Apreciação e réplica: EF69LP44
Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos: EF69LP48
Adesão às práticas de leitura: EF69LP49
Produção de textos orais / Oralização:
EF69LP53
Relação entre textos: EF89LP32
Estratégias de leitura / Apreciação e réplica: EF89LP33
Figuras de linguagem: EF89LP37
RESPOSTAS a) A repetição do verso “Vive dentro de mim” revela os sentimentos do eu poético de identificação e de solidariedade com mulheres excluídas socialmente: a cabocla velha, a lavadeira, a cozinheira, a proletária, a roceira, a mulher da vida. b) O poema revela elementos de um tempo em que se faziam bolos com “testo de borralho em cima”, em que tudo era muito regrado. A imagem da criança, que “não valia mesmo nada”, assim como a relação entre gerações (a irmã que mandava), é destacada no poema. A educação era feita por meio de castigos físicos e a criança não tinha
1. Exercício procedimental.
2. Exercício procedimental. Reserve um tempo durante os intervalos para que os estudantes compartilhem os trechos destacados.
3. As atividades podem ser feitas em pequenos grupos e depois com a turma toda, pois os estudantes podem se sentir mais à vontade para se expressarem em grupos menores.