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LEITURA E INTERPRETAÇÃO (PARTE II) MAIS CONVERSAS POÉTICAS DE CORA CORALINA
Os poemas que você vai ler têm muito mais a falar da minha, da sua, da nossa vida!
1. Com a orientação do professor, montem o cronograma de intervalos para conversar sobre o livro. As atividades a seguir podem ser realizadas depois da leitura dos poemas selecionados e têm o objetivo de ajudá-los a refletir sobre o que estão lendo.
1o INTERVALO
Todas as Vidas
Antiguidades
Vintém de Cobre (Freudiana)
Estória do Aparelho Azul-Pombinho
Frei Germano
A Escola da Mestra Silvina
O Prato Azul-Pombinho
Nota
Rio Vermelho
Velho Sobrado
Becos de Goiás
2o INTERVALO
Do Beco da Vila Rica
O Beco da Escola
Caminho dos Morros
O Palácio dos Arcos
O Jaó do Rosário
Evém Boiada!
Trem de Gado
Pouso de Boiadas
Cântico de Andradina
Cidade de Santos
Oração do Milho
Poema do Milho
Minha Infância (Freudiana)
2. Durante a leitura dos poemas, anote em seu caderno:
• o significado de termos desconhecidos;
• versos ou estrofes marcantes que merecem comentários;
• os temas discutidos;
• sentimentos e emoções experimentadas.
3o INTERVALO
As Tranças da Maria
Ode às Muletas
Ode a Londrina
Mulher da Vida
A Lavadeira
O Cântico da Terra
A Enxada
A Outra Face
Menor Abandonado
Oração do Pequeno Delinquente
Oração do Presidiário a) No poema “Todas as Vidas”, o que o eu poético revela a partir da repetição dos versos “Vive dentro de mim”? b) Em “Antiguidades”, o eu poético começa com os versos “Quando eu era menina / bem pequena”, remetendo a um tempo passado, de sua infância. De que maneira as memórias da infância revelam informações sobre a cultura do seu tempo e lugar? c) Cora Coralina diz que não escreve poemas, mas histórias. Quais histórias ela conta em “Estória do Aparelho Azul-Pombinho” e “O Prato Azul-Pombinho”? voz. Também se destaca a hospitalidade do povo goiano, em que as visitas “...eram queridas, / recebidas, estimadas, / conceituadas, agradadas!”. O eu poético cita também os assuntos das conversas – “de licores e pudins” –, a presença das fofocas, os hábitos da casa e dos vizinhos. c) Em “Estória do Aparelho Azul-Pombinho”, o eu poético narra uma história contada por sua bisavó: a do aparelho de jantar de 92 peças (“Pintado, estoriado, versejado, / de loiça azul-pombinho”) que tinha sido encomendado por meio de uma carta – levada ao correspondente na Corte, no Brasil, que passou para Lisboa, que passou para Luanda e, por fim, para Macau e os mercadores chineses – por um senhor cônego de Goiás para o casamento do sobrinho e afilhado com a avó do eu poético. Para pegar o aparelho de jantar em São Paulo, saiu um carro de boi de Goiás que levou quase um ano e meio para chegar. Ele chegou em São Paulo em um veleiro embarcado no porto de Macau. O casamento, realizado com
3. A sequência de atividades propostas a seguir deve ser realizada no primeiro intervalo de leitura.
• O eu poético assume o ponto de vista da criança, e não do adulto. De que maneira essa escolha é importante para a construção do poema?
• Nos poemas, há menção sobre o período da escravatura no Brasil. Como o eu poético se coloca diante do que conta?
• O poema se inicia e termina com um episódio lembrado pelo eu poético de quando era criança – de quando tinha bolo em casa – e dos sentimentos e emoções experimentados a partir dele – o desejo imenso de comer todo o bolo; a raiva que sentia das visitas que podiam comer o bolo; a decepção de tentar esperar as visitas irem embora para finalmente comer o bolo, mas não conseguir, traída pelo sono etc.
Atalho
d) Em “Vintém de cobre”, esse objeto é o gerador de que tipo de lembranças? O que esse objeto representa?
• Quais objetos você usaria para remeter metonimicamente à sua infância? Por quê?
• No poema, qual é a importância da repetição de versos e expressões?
e) Em “Frei Germano”, qual é o efeito de sentido produzido pelas anáforas (repetição de palavras no início dos versos) na primeira estrofe?
• Qual imagem o eu poético tem dos frades e principalmente do Frei Germano?
• O que o poema mostra em relação à presença da religião na vida da cidade e do eu poético?
f) Em “A escola da mestra Silvina”, qual representação a escola tem para o eu poético?
• O poema é construído com imagens do passado e do presente. Identifique exemplos que mostre esses dois tempos.
• Qual relação você vê entre a escola descrita no poema e a que você frequenta?
• Qual estratégia a poeta usa para relembrar seus colegas?
g) Em “Nota”, a estrutura destoa dos outros textos. Por quê?
• No primeiro parágrafo, a narradora diz se parecer com a menina Jesuína da história contada pela bisavó. Por quê?
• Quais informações sobre o contexto histórico do Brasil aparecem na história narrada?
• Você diria que a narradora é irônica quando fala de D. Jesuína? Por quê?
h) Em “Rio Vermelho”, “Velho Sobrado” e “Do Beco da Vila Rica”, a imagem da cidade natal da poeta e dos moradores volta a ser tematizada.
• No poema “Rio Vermelho”, há uma mistura de vida pessoal da poeta, história da cidade e poesia. Como a poeta mistura esses elementos?
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luxo e fartura, conta ainda a bisavó, foi motivo de libertação de dois homens mais velhos escravizados e outro bebê que nasceu junto com o filho dos recém-casados. Já em “O Prato Azul-Pombinho”, o eu poético começa contando mais uma história da bisavó: agora de um prato, última peça do aparelho antigo de 92 peças. A bisavó contava “a lenda oriental / estampada no fundo daquele prato”: era a história da princesa chinesa Lui, prometida por seu pai a um príncipe todo-poderoso, Li, e que fugiu com um plebeu para um quiosque. O pai da princesa mandou incendiar o quiosque, mas o casal já havia fugido, pois havia sido avisado pela ama da princesa por meio de um pombo-correio. O eu poético termina contando que o prato apareceu quebrado e a bisavó ficou muito triste e chorou muito. Como não apareceu o culpado, o eu poético, que era uma criança com antecedentes não muito bons – “Tinha já quebrado – em tempos alternados, / três pratos, uma compoteira de estimação, / uma tigela, vários pires e a tampa de uma terrina.” – e, tachada de “inzoneira, buliçosa e malina”, acabou levando a culpa. Em vez de levar chineladas, como era de costume, foi condenada a usar, amarrado no pescoço, um caco do prato quebrado, para servir de exemplo a todos, e proibida de sair de casa.
• O eu poético não parece fazer nenhum comentário sobre a época. Ela apenas descreve as cenas em que comenta existirem homens e mulheres escravizados.
e) As anáforas, além de produzirem musicalidade, ajudam a construir uma imagem em movimento: os frades dominicanos parecem se movimentar, pois o eu poético os vê passar pela porta, pela rua, pela ponte.
• Os frades pareciam causar certo fascínio no eu poético que os descreve (na segunda estrofe), relembra seus nomes (na terceira), seus sotaques (na quarta estrofe), suas ideias religiosas (quinta estrofe). Frei Germano aparece a partir da sexta estrofe e é descrito como um religioso bastante rígido.
• O poema mostra a presença marcante da religião católica na cidade – Frei Germano ensina a doutrina na escola de Mestra Silvina – e na vida do eu poético – “E até hoje, guardião de minha fé, / vai me levando pela vida / Frei Germano.” f) O eu poético tem saudades da escola e dos colegas e vê a mestra com uma professora séria e boa.
• Presente: “Sempre que passo pela casa / me parece ver a Mestra, / nas rótulas.”
Passado: “Lia alto lições de rotina: / o velho abecedário, / lição salteada.” d) A expressão “vintém de cobre” se refere a uma moeda antiga de valor de 20 réis e é tratada no poema metonimicamente como dinheiro ou a falta dele. A lembrança da moeda dá lugar às memórias dos tempos de menina pobre, de roupas poucas e tecidos reaproveitados de roupas velhas dos mais velhos, da tentativa inútil de juntar dinheiro e melhorar de vida, de um contexto histórico, social e econômico contraditório, de ideias preconceituosas e retrógradas, de desigualdades. h) • A descrição do rio Vermelho está repleta de imagens poéticas, como a ideia do rio como vidraça do céu, das nuvens e das estrelas, que tira retrato da Lua, que veste a cidade de branco. O rio é descrito como testemunha de várias cenas que acontecem na cidade, como os namoros, os enterros, os banhos dos banhistas, a enchente que levou o sino da igreja para as pedras, e em sua vida, como quando o atravessou tarde da noite para sair da cidade em busca de outra vida.
• Resposta pessoal.
Espera-se que os estudantes percebam semelhanças e diferenças entre os materiais usados, as didáticas, os rituais, a relação entre professor e estudante etc.
• Resposta pessoal.
Os estudantes podem pensar em objetos que remetam à abundância ou à ausência de algo.
• A repetição reforça ideias (como o fato de o eu poético ter “um timão de restos de baeta” e “um mandrião de uma saia velha de minha bisavó”) e dá noção de circularidade, de recorrência, característica da própria memória.
• A lista de chamada, procedimento rotineiro em escolas, mas que não era usado na sala da Mestra Silvina, é usada para relembrar os colegas. g) Este texto é em prosa e os outros são em verso.
• A narradora conta no poema “O prato azul-pombinho” que recebeu um castigo semelhante ao da menina Jesuína, só que no seu caso não era um colar de cacos quebrados no pescoço, mas apenas um caco.
• A história é ambientada no período da escravização, em que pessoas eram obrigadas a trabalhar de graça e eram tratadas de forma desumanizada, como mercadorias: “Tinha seus escravos de serviço e de aluguel, entre eles a escrava de dentro, de nome Prudência. Está no completo. Nas medidas exigentes do tempo. Sem preço.” (p. 79). Pela história, é possível perceber que a menina Jesuína, embora alforriada, isto é, livre, não era tratada como uma pessoa livre, pois continuava a servir e receber castigos de D. Jesuína, inclusive sua morte está ligada a um castigo recebido.
• Espera-se que os estudantes digam que sim. Ela diz, por exemplo, que D. Jesuína era boa, mas apresenta informações que mostram o contrário, ou seja, que ela era rígida demais e pensava principalmente em aumentar seus lucros.
• Na primeira estrofe, por exemplo, há uma descrição objetiva do sobrado e, por meio dela, é possível visualizá-lo. Já os dois primeiros versos da segunda estrofe (“Abandono. Silêncio. Desordem. / Ausência, sobretudo.”) são impressões do eu poético diante do sobrado.
• O eu poético olha o sobrado e se lembra do passado, de quando o lugar era movimentado, habitado pela sociedade goiana em bailes e saraus. Esse vai e vem do passado e do presente dão movimento ao poema. Além disso, há versos em que aparecem também a ideia de movimento, como em “A es- a) Faça a leitura guiada do poema “A jaó do Rosário”. De que trata esse poema?
• Em “Velho Sobrado”, de que maneira a descrição subjetiva, aquela realizada a partir do olhar particular com suas impressões e sensações, se entrelaça à descrição objetiva?
• É possível, ainda, perceber a ideia de movimento na descrição do sobrado. De que maneira isso acontece?
• Em qual(is) poema(s) aparece(m) uma preocupação ambiental do eu poético? Explique.
4. Compartilhe com os colegas como foi a experiência de ler pela primeira vez os poemas deste intervalo.
5. As atividades a seguir devem ser realizadas no segundo intervalo de leitura.
Atalho
O jaó é uma ave brasileira ameaçada de extinção. Era comumente encontrada no centro-oeste e norte do Brasil. Seu pio longo é ouvido durante todo o ano e caracteriza-se por ser um pouco melancólico. O assobio do pássaro parece dizer “eu sou jaó”. Neste vídeo é possível ouvir o canto do jaó: www.youtube.com/ watch?v=r_EENVwgboY (acesso em: 22 jul. 2022).
b) Releia o poema, silenciosamente, atentando-se para a presença de rimas, para a sonoridade criada pela escolha vocabular, pela pontuação e pelos intervalos entre as estrofes. Qual é o efeito gerado pelo uso das reticências na primeira estrofe?
c) De que modo os verbos no gerúndio, na quarta estrofe, compõem o cenário do poema?
d) Qual é o sentido construído pelas frases curtas na quinta estrofe?
e) Ao longo do poema, o eu poético constrói a ideia de que o canto do pássaro integra o ritual de louvor. Qual estrofe evidencia a ideia de participação ativa da ave na missa? Qual recurso linguístico é usado para isso?
f) Junto com a turma, leia o poema em voz alta. Cada colega pode ler um verso ou uma estrofe. Nesta leitura, explorem a sonoridade do texto, dando ênfases diferentes às sílabas, fazendo pausas e entonações, de modo a evidenciar os significados explorados na análise anterior. Façam essa leitura mais de uma vez, a fim de ganharem familiaridade com a declamação.
Conquista
Como escreveu Manoel de Barros, “A poesia está guardada nas palavras” e para descobri-la é necessário mergulhar nos versos. Isso porque os significados de um texto poético são revelados ao longo de diversas leituras, pois é comum, nesse gênero literário, a exploração da polissemia, bem como a de significados não evidentes à primeira vista. Assim, a cada leitura, uma nova camada do poema se revela. A primeira leitura, mais intuitiva, revela muito sobre o texto. É a partir dela que o leitor descobrirá a temática, a linguagem e alguns sentidos. Outras leituras permitirão análises mais aprofundadas e a identificação dos recursos formais utilizados na construção dos significados. Por fim, a familiaridade contribuirá com a leitura para a fruição e a apreciação estética. Por isso, não se limite a ler apenas uma vez os poemas que chegarem até você: eles são um universo de camadas a serem descortinadas.
cadaria de patamares / vai subindo... subindo… / Portas no alto. / À direita. À esquerda. / Se abrindo, familiares.” a) Reúnam-se em grupos de 3 estudantes e, coletivamente, elejam um conjunto de poemas para realizar as leituras guiadas a seguir.
• No poema “Rio Vermelho”, essa preocupação aparece nos versos: “Rio – mestre de Química. / Na retorta das corredeiras, / corrige canos, esgotos, bueiros, / das casas, das ruas, dos becos / da minha terra.” ou “Rio, meu pobre Jó… / Cumprindo sua dura sina. / Raspando sua lazeira / nos cacos dos seus monturos. / Rio, Jó que se alimpa, / pela graça de Deus, Virgem Santa Maria, / nas cheias de suas enchentes / que carregam seus monturos”. No poema “Becos de Goiás”, a preocupação ambiental se mistura à social, em que o eu poético denuncia a pobreza, a falta de saneamento da cidade e o preconceito.
4. Incentive os estudantes a compartilharem a experiência, revelando se foi fácil ou difícil, o que compreenderam dos poemas depois da primeira leitura, se releram por própria conta, a fim de ampliar a compreensão, se puderam perceber e explorar os aspectos sonoros e outros elementos que envolvem a leitura de textos poéticos.
5. No segundo intervalo, os seguintes poemas serão discutidos: “Do Beco da Vila Rica”, “O Beco da Escola”, “Caminho dos Morros”, “O Palácio dos Arcos”, “O Jaó do Rosário”, “Evém Boiada!”, “Trem de Gado”, “Pouso de Boiadas”, “Cântico de Andradina”, “Cidade de Santos”, “Oração do Milho”, “Poema do Milho” e “Minha Infância (Freudiana)”.
6. Com a leitura dos poemas de Cora Coralina realizada até este momento, você já iniciou a sua jornada de fruição. Agora faça o que se pede.
Primeiro conjunto
Do Beco da Vila Rica
O Beco da Escola Minha Infância
Terceiro conjunto Evém Boiada!
Trem de Gado
Pouso de Boiadas
Segundo conjunto Caminho dos Morros
O Palácio dos Arcos
Quarto conjunto Cântico de Andradina
Cidade de Santos
Oração do Milho b) Assim como foi feito com o poema “A jaó do Rosário”, analise os poemas do conjunto escolhido. Releiam os textos, observando a estrutura, o uso de figuras de linguagem, a pontuação, a escolha e a repetição de palavras e estruturas, o tom, as temáticas em comum etc. Escolham uma pessoa do grupo para registrar as discussões e socialize posteriormente com a turma. c) Chegou a hora de explorar a sonoridade por meio da declamação do poema. Para isso, leiam em voz alta os textos – cada grupo pode escolher um poema do conjunto para ler. Procurem observar os sons vocálicos e os consonantais, as rimas e as pausas. Verifiquem que há poemas que possibilitam a participação de um coro no refrão, assim o grupo pode se dividir entre uma voz que canta os versos e as outras vozes que cantam o refrão. a) O poema “As tranças de Maria” pode ser classificado como um poema narrativo, já que canta o que aconteceu com Maria, jovem que desaparece repentinamente do povoado onde mora.
7. A sequência de atividades propostas a seguir deve ser realizada no terceiro intervalo de leitura.
• Identifique e registre no caderno os elementos narrativos do poema: narrador, personagens, espaço e tempo.
• Releia os versos do poema e compare-os com os de “Variação”, outro texto da autora.
Poema do Milho […] podem ganhar entonação e vocalização diferente, à semelhança do que fazem os padres nas missas. Permita que a turma participe criativamente da organização dessa leitura, atividade que contribuirá para o Projeto do sarau ao final deste Avatar Literário. a) Exercício procedimental. b) Oriente os estudantes nesta exploração, visitando cada grupo e ajudando-os a fazerem a análise. Os estudantes podem iniciar a análise a partir da identificação dos aspectos formais dos poemas: quantidade e tamanho das estrofes, presença ou não de rimas e métrica. Em seguida, devem observar os recursos linguísticos empregados e as temáticas exploradas. No primeiro conjunto, por exemplo, os estudantes podem destacar a ideia de as mulheres e as meninas, no tempo do eu poético, serem proibidas de circularem em espaços públicos. Isso fica bem marcado nos poemas “Minha infância” e “Do Beco da Vila Rica”. A presença dos costumes na vida das mulheres também aparece b) O uso das reticências evidencia um sentimento de admiração e nostalgia, como se o eu poético se recordasse da ave e das paisagens cantadas. c) O sentido construído por este modo verbal é o de continuidade e repetição, compondo, assim, a imagem do movimento que vai crescendo dentro da igreja antes do início da missa. d) As frases curtas são um recurso utilizado para a descrição do cenário, como um olhar fotográfico que registra e nomeia tudo o que vê. Este recurso reforça a ideia de movimento, também presente na quarta estrofe, do tempo, dos diferentes momentos da missa e das personagens. e) Nos versos “[...] e continua / louvando a Deus / aquela jaó.”, evidencia-se a participação ativa do pássaro no ritual de louvor, por meio da personificação. O uso da figura de linguagem constrói a ideia de que o pássaro canta em ato de devoção, atitude comumente humana. É possível ampliar a leitura com a lembrança de que os animais e outros componentes da natureza são, muitas vezes, percebidos como manifestação divina; assim, o canto do pássaro ao longo da missa compõe a atmosfera mística do rito. f) Antes de começar a leitura, organize a divisão dos versos do poema para cada estudante. Como há versos repetidos, é possível deixá-los com um mesmo declamador, de modo a reforçar o sentido da repetição. É possível que os estudantes precisem de ajuda para ler os versos em latim, os quais no poema “Beco da Escola”, quando o eu poético fala das professoras. O tom melancólico para se referir ao passado marca os três poemas e a presença das reticências e a repetição de versos, estruturas e palavras ajudam a construir esse sentimento. Há vários outros elementos possíveis de serem observados. O objetivo da atividade é levar os estudantes a fazerem suas próprias análises a partir dos recursos linguísticos que conseguirem destacar nos textos. A seleção dos conjuntos dos poemas foi feita levando em conta a proximidade das temáticas. No primeiro conjunto, a memória, a lembrança do passado relacionada ao tempo presente (os costumes do passado, os tempos da escola, da infância) estão presentes nos poemas “Do Beco da Vila Rica”, “Beco da Escola” e “Minha Infância”. No segundo conjunto, aparecem histórias de figuras folclóricas ligadas à história da região e crítica social, como a do Preto velho/Negro velho que morreu sem dizer para os brancos gananciosos da cidade onde encontrar ouro no morro do Zé Mole, e a do soldado carajá, criado na cidade e que trabalhava de guarda no Palácio dos Arcos, que repentinamente, em dia de chuva, retorna às suas origens, livrando-se de seu uniforme de soldado e correndo em direção ao Araguaia, em “Caminho dos Morros” e “O Palácio dos Arcos”. No terceiro conjunto, os poemas “Evém Boiada”, “Trem de Gado” e “Pouso de Boiadas” fazem referência aos boiadeiros a guiar os bois no interior do país. Já no quarto conjunto, os poemas “Cântico de Andradina” e “Cidade de Santos” tratam da formação das cidades, e “Oração do Milho” e “Poema do Milho” exaltam a importância do cultivo do milho, e, consequentemente, do trabalhador do campo. c) Construa um ambiente para que esta atividade seja motivadora. Se possível, leve os estudantes a outro local para que tenham liberdade e espaço para explorarem a sonoridade do poema. Após a execução desta etapa por cada grupo, é interessante que os estudantes possam compartilhar as descobertas feitas por meio da seleção de um ou outro poema para declamar para a turma.
E Maria... Aonde foi Maria?
Na garupa de um vaqueiro desconhecido dali buscando boi de arribada.
6. Tanto a atividade anterior como esta preparam os estudantes para a participação no sarau, ao final do Avatar Literário. Assim, incentive-os a se apropriarem dos poemas e das formas de ampliar as leituras, de modo que estejam familiarizados com esta prática na organização e apresentação do sarau.
5. a) Leia com os estudantes o boxe Atalho e, se possível, reproduza o vídeo que mostra o canto da ave, para que os estudantes conheçam melhor a referência feita no poema. O vocabulário do texto é repleto de termos do universo católico, de modo que é interessante verificar se os estudantes compreendem termos como “liturgia”, “amito”, “Epístola”, “Ablução”, “manustérgio”, entre outras palavras utilizadas no poema. Além disso, certifique-se de que a turma compreendeu os nomes “Ceres”, “Rialma” e Montes-Belos” como referentes a cidades do estado de Goiás, possivelmente onde se encontravam muitos jaós. Para sistematizar a compreensão do poema, é possível dizer que o texto exalta o canto da ave, o qual se destaca aos ouvidos dos fiéis durante uma missa. O assovio, que se repete do início ao fim do culto, parece compor o ritual de devoção a Deus.
7. No terceiro intervalo, os seguintes poemas serão discutidos: “As Tranças da Maria”, “Ode às Muletas”, “Ode a Londrina”, “Mulher da Vida”, “A Lavadeira”, “O Cântico da Terra”, “A Enxada”,
Varia O
Paráfrase a) • O narrador pode ser classificado como observador, visto que narra o que conheceu do caso, como se transmitisse o que lhe foi contado. As personagens principais são Maria, seu noivo, Izé da Badia e seus pais. Além disso, há outras personagens do vilarejo, com destaque para a velha Ambrosina e os caçadores de onça. O espaço da história é o vilarejo onde morava Maria e os arredores. Sendo parte das estórias contadas no livro de Cora Coralina, presume-se se tratar de uma lenda contada na região. O tempo é cronológico, pois a história é contada sem a interferência subjetiva do narrador. Há uma outra possibilidade de classificação, denominada tempo metafísico, utilizada para se referir a um elemento mítico ou coletivo, próprio de lendas e estórias como a cantada no poema.
O mar rolou uma onda. Na onda veio uma alga. Na alga achei uma concha. Dentro da concha teu nome.
Pisei descalça na areia toda vestida de algas. Tomei o mar entre os dedos. Ondas peguei com as mãos. O mar me levou com ele.
Palácio vi das sereias. Cavalo-marinho montei, crinas brancas de seda, cascos ferrados de prata, escumas de maresia.
Na garupa do meu cavalo, levo meu peixe de ouro. Comando a rosa dos ventos e não me chamo Maria.
Na serenata do sonho ouvi um sonido de estrelas. Discos de ouro rolando trazendo impresso teu nome. Você passava, eu sorria escondida na janela, cortinas me disfarçando. Num tempo era menina. Num instante virei mulher. Queria ver sem ser vista. Ser vista fingindo não ver.
“A Outra Face”, “Menor Abandonado”, “Oração do Pequeno Delinquente” e “Oração do Presidiário”. As atividades deste intervalo podem servir de base para a organização do sarau tanto em relação à apropriação dos textos pelos estudantes, por meio da ampliação da leitura, quanto à expansão do universo de Cora Coralina para diálogos com outros escritores e artistas.
Fugi tanto que o encontrei no relance de um olhar. Pelos caminhos andamos no tempo de semear.
A vida é uma flor dourada tem raiz na minha mão. Quando semeio meus versos, não sinto o mundo rolando perdida no meu sonhar nos caminhos que tracei.
Meus riscos verdes de luz, caminhos dentro de mim. Estradas verdes do mar, abertas largas sem fim.
Por esses caminhos caminho levando feixes nas mãos. Trigo, joio – não pergunto o fim do meu caminhar. Cirandinha vou cirandando, marinheiro de marinhar, o mar é longo sem fim. Meu barqueiro, meu amor, bandeiras do meu roteiro. Meu barco de espuma do mar. Onda verde leva e traz, cantigas de marinhagem.
Vou rodando. Vou dançando, tecendo meu pau de fita. Sementes vou semeando nos campos da fantasia. Vou girando. Vou cantando e… não me chamo Maria.
• É possível fazer um paralelo entre as duas Marias e associá-las a uma só figura lendária, visto que no primeiro verso em que este nome aparece, em “Variação”, há a referência à garupa do vaqueiro ou garupa do cavalo, assim como no verso repetido em “As tranças de Maria”.
• Em sua opinião, é possível dizer que ambos os poemas tratam da mesma “Maria”? Como você chegou a essa conclusão?
• Além do nome “Maria”, identifique outros elementos que aproximam os dois textos.
B Nus
As Tran As De Maria
Baseado no conto-poema homônimo de Cora Coralina. Maria (Patrícia França) é uma moça muito jovem, de temperamento insubordinado e grande beleza cabocla, com suas longas tranças. O pai (José Dumont) e o patrão decidem casá-la com Izé (Ilya São Paulo), moço vaqueiro de fama. Na paisagem exuberante do cerrado goiano, conta-se então a história de um profundo mergulho no mistério das almas simples e na sensibilidade feminina, em um nível que só a poesia de Cora Coralina, recriada cinematograficamente, poderia alcançar.
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Disponível em: http://www.sincrocine.com.br/producao/as-trancas-de-maria.
Chave Mestra
Ode é uma palavra de origem grega cujo sentido se confunde com a própria poesia. Embora seu primeiro significado seja vasto, podendo se referir a poemas de diversas naturezas, este é um gênero de exaltação ou admiração. A linguagem usada neste tipo de lírica é formal e cerimoniosa; a forma do poema é bem definida, com estrofes marcadas e simétricas. Na Antiguidade Clássica, destacaram-se dois tipos de odes: as públicas e as privadas. As primeiras eram comumente dedicadas a guerreiros, heróis, deuses ou outra temática de cunho nobre. Já as últimas tinham caráter mais reflexivo e cantavam o mundo subjetivo e os acontecimentos do universo pessoal.
a) De que maneira os poemas de Cora Coralina se inserem no gênero lírico Ode?
b) Em quais aspectos as odes de Poemas dos becos de Goiás e estórias mais se afastam da descrição presente no boxe?
c) A qual subgênero das odes pertence o poema “Ode às muletas”? E “Ode a Londrina”?
9. A figura da mulher trabalhadora é recorrente na obra de Cora Coralina. Responda: a) Em “Mulher da Vida”, qual é o efeito de sentido gerado pela repetição da estrofe “Mulher da Vida, / Minha irmã,”? b) A linguagem não guarda extrema formalidade nem se destaca da que é utilizada em outros poemas do livro. Também a forma não é rigidamente simétrica, evidenciando uma irreverência da autora ao aspecto formal, traço modernista de sua obra. c) “Ode às muletas” pode ser classificado como uma ode privada, visto que canta acontecimentos de cunho pessoal, e não grandioso; uma reflexão e um sentimento do eu poético a respeito do objeto é o que o inspira. Já “Ode a Londrina” pode ser identificado como uma ode pública, já que elege como objeto de inspiração uma cidade e o faz em homenagem a pessoas a quem dedica estima pública. Além disso, a ode ressalta os feitos bravios dos trabalhadores que ergueram a cidade e apresenta elementos que remetem aos grandes feitos heroicos cantados na Antiguidade Clássica, como “vencedor”, “descansa” “vestindo a mortalha”. b) O eu poético recorre a passagens da Bíblia e à figura de Jesus Cristo, o Justo, para afirmar a necessidade de suspensão do juízo, bem como de acolhimento e compaixão para com “as mulheres da vida”. c) As características exaltadas na mulher do poema são sua disposição para o trabalho, evidenciado pelas mãos calejadas e pelo serviço que começa antes do nascer do sol, pela dedicação à família, pela natureza “tranquila, exata, corajosa” e temente a Deus e pela resignação a seu universo. d) As mulheres cantadas nos poemas pertencem à categoria das marginalizadas às quais o boxe Atalho se refere. O eu poético faz um movimento de inclusão e reconhecimento da alteridade dessas figuras sociais. b) A personificação ou prosopopeia ganham destaque por meio da repetição da expressão “Eu sou” seguida de referências à terra ou dos pronomes em primeira pessoa “do meu”, “de mim”, entre outros. O uso dessa figura de linguagem constrói a ideia de que a própria terra discursa, canta, fala sobre si mesma a) Resposta pessoal. O objetivo desta atividade é construir um espaço para troca de impressões sobre a leitura. Assim, incentive os estudantes a compartilharem a experiência de apreciação e fruição estético-literária, com ênfase nos sentimentos e reflexões gerados pelo enredo trágico da narrativa. É possível que eles comentem sobre o sentimento de compaixão, de revolta, de inconformismo, sobre a necessidade de justiça em situações como a representada no poema e de maior segurança para o trabalhador rural. Comente com eles que a autora foi uma grande defensora dos camponeses e da melhora das condições de trabalho no campo. b) A figura cantada neste poema é vítima de preconceito social e marginalização. Qual é o recurso utilizado pelo eu poético para afirmar a suspensão do juízo sobre a vida dessas mulheres? c) Quais são as características exaltadas na mulher em “A Lavadeira”? d) De que modo se pode relacionar a voz do eu poético nesses poemas com a teologia feminista da libertação ?
• Assim como em “As tranças de Maria”, “Variação” traz o elemento das águas como espaço em que a mulher se encontra e é transportada para outro mundo. A presença masculina, na figura do vaqueiro em um e em uma referência não descrita em outro, como deflagrante da passagem de um mundo a outro, também é comum aos dois textos. Ambos trazem a imagem do cavalo que corre, das crinas/tranças e a ideia da fuga.
8. a) Reconhece-se nos poemas a exaltação ao objeto cantado, às muletas e à cidade.
9. a) A repetição dessa estrofe e, mais ainda, a abertura do poema com esses versos aproxima imediatamente o eu poético da figura da “mulher da vida” e convida o leitor a fazer o mesmo. O efeito gerado é a construção de um estado de suspensão de juízo, viabilizado pelo reconhecimento da alteridade da mulher cantada e das semelhanças/familiaridades entre a mulher, o eu poético e o leitor.
10. a) O objetivo desta atividade é possibilitar uma experiência estético-sonora com o poema. Ao final, caso considere pertinente, explique aos estudantes que o termo “cântico” se refere a canto/poesia e também a hinos cantados em igrejas. A repetição do estribilho na voz do coro pode remeter à repetição dos refrões pelos fiéis depois da declamação dos versos pelo padre.
11. Caso considere pertinente, realize com a turma a leitura do conto “A enxada”, de Bernardo Élis, disponível para leitura on-line em https://cupdf.com/document/ a-enxada-bernardo-elis.html?page=1 (acesso em: 20 jul. 2022).
ATALHO a) Junto com os colegas, faça a leitura em voz alta desse poema da seguinte maneira: cada estrofe deve ser lida por um colega e, ao final de cada uma delas, toda a turma, em uníssono, declama o estribilho. b) Por meio da repetição da expressão “eu sou”, qual figura de linguagem se destaca na composição do poema? Qual efeito de sentido ela produz?
Teologia feminista da libertação é uma corrente cristã que une os debates do movimento feminista e da teologia da libertação de maneira crítica e propondo avanços e questionamentos para cada uma dessas correntes no que diz respeito ao corpo da mulher e aos papéis sociais experienciados por ela. Esse movimento luta contra a opressão das mulheres, sobretudo das mais pobres e marginalizadas.
10. Ao final do poema “O Cântico da Terra” encontram-se os versos do estribilho, ou seja, do refrão.
11. Em “A enxada” o leitor é informado de que o poema é uma “paráfrase de um conto de Bernardo Élis ”. Leia a respeito dele no boxe a seguir.
Atalho
Bernardo Élis foi o primeiro escritor goiano a entrar na Academia Brasileira de Letras. Em 1966, publicou o livro Veranico de Janeiro, o qual inclui o conto “A enxada”. Este texto narra a história de Piano – Supriano –, um camponês à procura de uma enxada para trabalhar, com um olhar crítico para as desigualdades do campo. A escrita do autor reflete um contexto sócio-histórico de efervescência social e transformações no espaço rural, profundamente alterado pelo projeto desenvolvimentista nacional.
a) A saga de Piano, cantada no poema, transporta o leitor para a trágica realidade brasileira dos conflitos no campo. Quais sentimentos e reflexões a leitura do poema despertou em você?
“[...] Cora Coralina sobre um palanque, bradando discursos políticos inflamados, em resposta aos quais a plateia, formada por trabalhadores da terra, levantava suas enxadas em sinal de exultação. A cena foi descrita aos biógrafos por uma amiga da poeta, dona Inês de Andrade, e aconteceu quando Cora foi candidata a vereadora em Andradina, no interior do estado de São Paulo, aos 52 anos, pela extinta União Democrática Nacional (UDN), partido ativo nos anos de 1940 e 1950.” b) Qual é a linguagem utilizada no poema? Como ela se relaciona à temática exposta? b) O poema utiliza linguagem coloquial repleta de palavras e expressões próprias do meio rural. Sabe-se que forma e conteúdo são elementos indissociáveis e que reforçam os sentidos construídos um pelo outro. Dessa maneira, a linguagem utilizada compõe e fortalece a construção do espaço e do cotidiano rural. d) O segundo quadrinho da charge apresenta outra face do problema da violência no campo. Discuta com os colegas essa outra perspectiva. e) Em “A outra face”, o eu poético também problematiza o inchaço urbano e as consequências dele. Discuta com os colegas a dicotomia entre o mundo agrário e o mundo urbano nesse poema de Cora Coralina. a) Quem são as figuras exaltadas em “Menor Abandonado”, “Oração do pequeno delinquente” e “Oração ao presidiário”? b) O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é reconhecido pelo registro de cenas impactantes e que levam à reflexão. b) • Respostas pessoais. Incentive os estudantes a observarem os elementos da fotografia, como as crianças, as grades, o muro com desenhos escritos (em árabe, pois o registro foi feito no Campo Nahel-Bared, no Líbano) e a compartilharem a experiência estética proporcionada pela composição. c) A charge e o poema têm em comum a ferramenta da enxada como simbologia do trabalho no campo. Parada, em desuso em ambos os textos, este elemento deflagra a discussão sobre as desigualdades sociais e materiais do espaço rural, visto que os trabalhadores, aqueles que produzem na terra, são expropriados dos meios dessa produção, carecem de estrutura para executarem o próprio serviço, trabalham de forma precária e não têm acesso ao fruto de seu labor: o alimento. Em contrapartida, os latifundiários são os donos das terras e dos meios de produção, mas não trabalham nela e, ao contrário, são acusados de deixarem as terras improdutivas, mesmo diante do cenário de fome e do acúmulo de trabalhadores sem-terra. d) A charge agrega à discussão a informação sobre o inchaço urbano, causado, entre outros motivos, pelas massas de trabalhadores rurais que migram para as cidades em busca de emprego. O jogo aproximativo entre as palavras “enxada” e “inchada” promove a reflexão sobre os trabalhadores desempregados tanto no espaço rural quanto no urbano. e) Esse poema aborda a dicotomia entre os valores do universo rural e urbano por meio de uma multifacetada crítica à visão neoimperialista do crescimento populacional, corporificada na teoria demográfica malthusiana. Expondo ao menos duas faces, duas concepções sobre os índices de natalidade, as consequências e as medidas tomadas frente ao fenômeno, o eu poético opõe o rural e o urbano nas imagens de fertilidade e infertilidade, respectivamente. O mundo do campo concentra os valores cristãos e os mandamentos bíblicos de crescer e multiplicar, a fartura e a abastança da terra, o ventre cheio da mãe; no urbano, teorias materialistas e imperialistas, o medo da escassez, a esterilidade, a ausência de verdes, os filhos por acaso, abandonados. Associando terra e mulher, o eu poético canta a violência a essas duas forças da natureza e as consequências, também violentas, do impedimento à vida.
CORA Coralina. Portal Sesc SP, São Paulo, 9 fev. 2012. Disponível em: https://portal.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/5678_ CORA+CORALINA. Acesso em: 20 jul. 2022.
12. Os três últimos poemas do livro seguem em tom de crítica social aos problemas do universo citadino e em súplica pelos marginalizados.
• Veja, na próxima página, uma de suas fotografias e converse com seus colegas sobre as impressões, sentimentos e reflexões despertadas por ela. Como a imagem se relaciona aos poemas finais da coletânea de Cora Coralina?
• As crianças marginalizadas do poema anterior, mas agora já praticantes de atos ilícitos, em um ciclo não interrompido de violência.
• O presidiário que, de dentro da cadeia, se volta em oração por sua própria salvação, materializadas na redenção e na retidão de seus atos futuros.
12. a) As figuras exaltadas nesses poemas são, respectivamente: c) O poema de Cora Coralina mostra uma visão idealizada do sistema prisional ao apresentar esse espaço como adequado à recuperação dos indivíduos que abriga. O eu poético revela em suas súplicas a ideia de que o ambiente proporciona meios para que a redenção ocorra, ficando a cargo do “pecador” melhorar a si mesmo e aprender as boas maneiras do convívio em sociedade. Entretanto, ao contrário do espaço cantado no poema, sabe-se que os presídios brasileiros não são “ambiente de saúde, asseio, ordem, disciplina, aprendizado e recuperação”, mas que, devido às condições precárias, acabam por agravar a situação de violência e marginalização que gerou os crimes pelos quais os encarcerados respondem. d) Fotografias, pinturas ou mesmo registros de esculturas podem ser selecionados para esta atividade. O objetivo é que cada estudante encontre uma obra. Junto com eles, na etapa de organização do sarau, elejam a melhor forma de expô-las – se por meio de projeção, de impressão ou outras possibilidades. Ajude os estudantes a encontrarem fontes e estímulos para essas buscas, recordando com eles os elementos do universo da obra de Cora Coralina: a paisagem, a natureza, a religiosidade, as figuras dos camponeses, lavadoras e outros trabalhadores, a crítica social, entre outros. c) Releia o trecho de “Oração do Presidiário” e discuta os contrastes da visão apresentada no poema com a perspectiva trazida na matéria sobre violações aos Direitos Humanos no sistema prisional. “Fazei que eu sinta a Vossa misericórdia presente me trazendo a esta reclusão que me salva de continuar no crime e me assegura a esperança da liberdade, me ajuda, me alimenta e me concede um ambiente de saúde, asseio, ordem, disciplina, aprendizado e recuperação.”
• As crianças marginalizadas nos centros urbanos, carentes de abrigo, de ensino, de alimento e de afeto; crianças que se tornarão adultos também marginalizados, perpetuando a violência urbana.
• A presença das crianças relaciona-se com os “menores abandonados e delinquentes” dos versos lidos. Há uma atmosfera de abandono e carência, assim como aquela a que os poemas de Cora remetem.
A Viola O Dos Direitos Humanos No Sistema Penitenci Rio Brasileiro
[...]
Em suma, as violações dos Direitos Humanos no sistema penitenciário brasileiro envolvem: superlotação, péssimas condições de higiene, tortura e total despreparo dos agentes promovida, mas não justificável, pela má administração, ambiente hostil e falta de segurança das estruturas prisionais.
Sem papel higiênico, sabonete, creme dental, escova de dente, privados de banhos, obrigados a comer refeições intragáveis (quando há), amedrontados pela violência, revezando-se em turnos de sono por causa do espaço e do perigo, totalmente desprovidos de assistência médica ou assistidos precariamente.
[...] d) Eleja um poema deste intervalo e procure uma obra de arte visual que dialogue com ele para ser exposto no Projeto Artístico-literário que será realizado a seguir.
A VIOLAÇÃO dos Direitos Humanos no sistema penitenciário brasileiro. Faculdade Unyleya. [S. l.], [20--]. Disponível em: https://blog. unyleya.edu.br/vox-juridica/insights-confiaveis4/a-violacao-dos-direitos-humanos-no-sistema-penitenciario-brasileiro. Acesso em: 20 jul. 2022.
PROJETO ARTÍSTICO-LITERÁRIO SARAU ESPETÁCULO
Você se recorda de que, na abertura do meu livro, eu expressei o desejo de que meus escritos alcançassem muitas pessoas?
“[...]
Que o saiba sempre em brochura, ao alcance de crianças, jovens e adultos, que mãos operárias repassem estas páginas e sintam-se presentes, junto à mulher operária que as elaborou.
Que possa ultrapassar as cidades e alcançar a alma sertaneja, levando minha presença-terra aos enxadeiros e boiadeiros que tanto me ensinaram.
CORALINA, Cora. Este Livro. In: CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais Salvador: LDM, 2018.
E se a turma levasse este livro para além da sala de aula em um sarau espetáculo, declamando e contando os poemas e estórias de minha vida e dos becos de Goiás? O sarau, esta manifestação antiga, tem o poder de espalhar a arte, assim como é o meu desejo. Vamos?
Pensando O Projeto
1. Leia o texto da revista Arara, que explica o que é sarau. Depois, responda às perguntas.
VOCÊ SABE O QUE É SARAU?
Sarau é um evento cultural onde as pessoas se encontram para se expressar e se manifestar artisticamente. É um espaço de convívio cultural, que pode envolver dança, poesia, leitura de livros, música acústica e também outras formas de arte como pintura, teatro e comidas típicas.
Quanto a origem da palavra, não há consenso. Alguns estudiosos acreditam que se trata de um derivado do francês soirée (reunião nocturna), que tem raiz no latim serotinus (tardio, pela tarde). Outros dizem que a origem reside no galego serao (anoitecer) e no catalão sarau, baile noturno popular de que já havia registo em 1537.
Este tipo de evento se popularizou no século XIX, principalmente entre grupos de aristocratas e burgueses e chegou ao Brasil em 1808, com D. João, seguindo os moldes dos salões franceses. Eram realizados inicialmente no Rio de Janeiro, mas logo fazendeiros de São Paulo resolveram aderir e já na metade do século XIX saraus com literatura, música […] espalhavam-se pelas capitais brasileiras.