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V Da encarnação
V Da encarnação
A encarnação nos apresenta em um redil o soberano dos céus, o que impele raios, envolto no linho das faixas, o maior que o universo, circunscrito ao seio de mulher. A antigüidade tiraria desta maravilha grandiosas imagens. Homero e Virgílio, que magníficos painéis nos deixariam da natividade de um Deus em um presépio, pastores rodeando o berço, magos guiados pela estrela, anjos baixando ao deserto, uma virgem mãe adorando o seu recém-nascido, mescla de inocência, encantamento e majestade!
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Não falando já no essencial e sacramental de nossos mistérios, há aí arrebatadoras verdades da natureza que, por entre véus, se deixam enxergar. Esses segredos do céu, à parte o misticismo deles, são, talvez, o tipo das leis morais e físicas do mundo: julgá-lo assim, não desdoura a glória de Deus; desse modo de ver poderia inferir-se o porquê lhe aprouve manifestar-se nesses mistérios, com preferência a qualquer outro meio que poderá ter escolhido. Jesus Cristo, ou o mundo moral, por exemplo, nascendo do seio de uma virgem, nos ensinaria o prodígio da criação física, e mostraria o universo formando-se no seio do amor celeste. As parábolas e figuras deste mistério seriam gravadas logo em cada objeto que nos rodeia. Na verdade, o que em tudo vemos é nascer a força da graça: o rio sai da fonte; o leão amamenta-se de um leite semelhante ao que o cordeirinho sorve; e, entre nós, o Onipotente prometeu a glória do céu aos que praticam as humilíssimas virtudes.
Fazem lástima os que só descobrem na casta rainha dos anjos mistérios impuros! Muito, cremos nós, se poderia dizer, afetuoso o sublime desta mulher mortal, desta mãe imortal de um Deus redentor; MARIA, mãe e virgem ao mesmo tempo, os dois mais divinos estados da mulher; última vergôntea do patriarca Jacó, que vem ao encontro das desgraças humanas, e sacrifica um filho para salvar a raça de seus pais. Aquela terna medianeira entre nós e o Eterno, franqueia, por meiga virtude de seu sexo, um coração a trasbordar piedade às nossas angustiadas confidências, e desarma as irritações de um Deus: maviosíssimo dogma que adoça a terribilidade divina, erguendo-se formosa entre o nosso nada e a majestade de Deus.
Os cantares da Igreja figuram a bem-aventurada Maria, posta em trono de mais fulgida candura que a neve; nesse trono brilha como rosa misteriosa, ou como estrela matutina, precursora do sol da graça; servem-na os mais donosos anjos; em torno lhe