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XI Extrema-unção

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II Da Fé

II Da Fé

esposa cristã não é uma simples mortal; é um ente extraordinário, misterioso, angélico; é a carne da carne, o sangue do sangue de seu esposo. O homem, unindo-se-lhe, recobra uma parte da sua substância; alma e corpo são incompletos sem a mulher; a ele a força, a ela a formosura: ele combate o inimigo e lavra o campo da pátria, mas nada entende de miudezas domésticas; a mulher é-lhe urgente para lhe preparar a refeição, e os cômodos domésticos. Se o avexam tristezas, adoça-lhas a companheira de seus dias; correm-lhe aziagos e torvos os dias; mas nos braços consoladores da esposa, que se lhe abrem, encontra refrigério. Sem a mulher, acabrunhá-lo-ia a grosseria, a rudeza, a misantropia. A mulher engrinalda-o com as flores da vida, à maneira dos festões das florestas que vestem os troncos dos carvalhos com suas grinaldas olorosas. Enfim, os esposos cristãos vivem, revivem e morrem juntos; juntos criam os frutos de seu consórcio; ao pó se volvem juntos, e juntos se reúnem além das raias sepulcrais.

XI Extrema-unção

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Em presença do túmulo, silencioso vestíbulo de um outro mundo, é que o cristianismo ostenta sua sublimidade. Se o maior número dos antigos cultos consagraram a cinza dos mortos, nenhum se desvelou em preparar a alma para as regiões desconhecidas, de onde se não torna mais.

Vinde ver o mais egrégio espetáculo que pode haver na terra; vinde ver como morre um justo. Este homem já não é do mundo, já não pertence ao seu país; quebraram-se todos os liames que o prendiam à sociedade. Acabou para ele o cálculo do tempo; o seu datar já principia pela grande era da eternidade. Consola-o um sacerdote sentado à cabeceira do seu leito. O santo ministro conversa com o agonizante acerca da imortalidade da alma; e a magnífica cena, que a antigüidade toda uma só vez apresentou no primeiro de seus filósofos moribundos, renova-se quotidianamente no humilde grabato do último dos cristãos que expira.

Chegou, enfim, o instante supremo; um sacramento descerrou a esse justo os áditos do mundo; outro sacramento vai fechá-los; a religião acalentou-o no berço da vida; com maviosos cantares, e com sua mão maternal a religião o adormece no leito da morte. Apresta-lhe o batismo deste segundo nascimento; mas não é com água; é o óleo, o emblema da celeste incorruptibilidade. O sacramento libertador rompe pouco a pouco as ligações do justo; meio já desatada do corpo, sua alma quase visível se

lhe torna no rosto. Já ouve os concertos dos serafins; já se sente prestes a volitar para as regiões onde o chama a esperança divina, filha da virtude e da morte. Em tanto, baixa, ao justo o anjo da paz, toca-lhe as pálpebras flácidas com seu cetro de ouro, e as cerra à luz, entre delícias. Morre, e o hálito derradeiro não se lhe ouviu; e morre, e muito já depois que se feneceu, seus amigos permanecem mudos em derredor do leito, cuidando que ele dorme ainda: tamanha fora a serenidade do seu trespasse!

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