Pessoas com necessidades especiais. Faz parte da prática diária de um profissional de saúde o encontro com doentes com deficiência ou com necessidades especiais. Reparemos que nem todas as pessoas com necessidades especiais são deficientes - palavra de que não gosto, pois carrega uma conotação negativa quer do ponto de vista objetivo, quer emocional. Uma criança ou uma grávida, a título de exemplo, são seres com necessidades especiais sem serem pessoas com deficiência. Mas uma pessoa com deficiência carece igualmente de um estatuto de pessoa, tal como outra qualquer, sem se sujeitar a exclusões humilhantes, como aleijado, deficiente, mudo, cego ou tolinho. Manuel Mário Sousa Se facilmente aceitamos em teoria e à face da Lei a sua inclusão na sociedade como seres humanos com direitos iguais a todos os outros, esta aceitação deve começar, porém, na prática, em nós próprios e na cultura das nossas empresas e instituições. Muitas vezes condicionados nos
Presidente Conselho Clínica ACeS E/G mmfsousa@arsnorte.min -saude.pt
desempenhos pessoais e laborais pela qualidade e intensidade das suas limitações físico-psíquicas, as pessoas com deficiência podem desencadear no nosso íntimo um conjunto de reações negativas. O esforço de empatia é maior sempre que nos relacionamos com pessoas com deficiência e necessidades especiais, face às suas diferenças relativamente a nós. Nós pertencemos à grande “massa da gente”, somos parte do conceito de massificação; eles são pessoas diferentes, às vezes muito diferentes nos seus trejeitos espásticos ou atáxicos, ou na sua surdez ou claudicação, cegueira ou gaguez. E como cidadão - e particularmente como profissional de saúde - questiono-me: será que mesmo involuntariamente eu faço algum tipo de discriminação contra eles? Será que compreendo realmente as suas limitações e de forma empática me coloco à sua disposição para os ajudar? Será que respondo às suas necessidades em saúde num ambiente relacional de diálogo, de compreensão mútua, de capacitação e sem a benevolência condescendente do padrão paternalista? Ou na minha mente eu os encaixei de antemão em grupos com necessidades já identificadas, outra forma de massificação, em vez de admitir e aceitar que cada um é pessoa diferente dos outros, como qualquer um de nós é diferente dos outros? E será que a cultura da minha organização se adaptou a encarar as pessoas com deficiência como pessoas apenas diferentes, mas com um papel social igualmente definido?
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