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Zoroastro e Orfeu
Um dos aspectos mais tipicos da Renascen~a foi a 0s equivocos aproximacso revivesc@ncia da componente helenistica-orientalizante, cheia de resson8ncias magico-teurgicas e difundida em alguns escri- dos gregos tos que a antiguidade tardia havia atribuido a antiquissimos +§ 1 deuses ou profetas e que na realidade eram falsificaqbes (o Corpus Hermeticum, os Oraculos Caldeus, os Hinos drficos). * Ora, os Humanistas, que descobriram a critica filologica do texto, cairam todavia no erro clamoroso de tomar como autknticas as obras atribuidas aos Pro- fetas-Magos Hermes Trismegisto, Zoroastro e Orfeu, e assim o complexo sincretismo entre doutrinas greco-pagss, neoplato-
Hermes, nismo e cristianismo, tao difundido na Renascenqa, baseou-se em
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Zoroastro e Orfeu + 3 2-4 larga medida sobre esse equivoco colossal. Atingiu particularmen- te os homens da Renascenga o aceno ao Filho de Deus, apresen- tad0 como Logos divino destinado a encarnar-se, contido no XI1 tratado do Corms Hermeticum. Zoroastro, depois, considerado o autor dos Oriiculos Caldeus, fo'i apresentado at6 como anterior a Hermes. Orfeu, por fim, e considerado o anel de conjun@o entre Hermes e Platao: Hermes, Orfeu e Platao foram assim liaados em uma conexao aue sustentou a construci30 do platonismo renascentise, que resultou, portanto, completamente diferente do platonismo medieval.
Oconhecimento C\ist6vico-critico diferente que os humanistas tiveram da tvadic~o Iatina em veIaG&o 21 gvega
Antes de tudo devemos esclarecer uma quest50 importante: como foi possi- vel que os humanistas, que descobriram a critica filol6gica do texto e que chegaram a identificar gritantes falsificaq6es (corno, por exemplo, o ato de doaq5o de Constan- tino) corn base no exame da lingua, tenham caido em erros t50 flagrantes, tomando co- mo autinticas as obras atribuidas aos pro- fetas-magos Hermes Trismegisto, Zoro- astro e Orfeu, que sio falsificaqoes tio evidentes para n6s hoje? Como C que dei- xaram de aplicar a elas o mesmo mCto- do? Como C possivel observar tHo grande falta de sagacidade critica e credulidade t5o desconcertante em relaq5o a esses docu- mentos?
A resposta i quest50 C bastante clara i luz dos estudos mais recentes. 0 trabalho de pesquisa dos textos lati- nos, que comegou com Petrarca, consolidou- se antes que ocorresse o impact0 com os tex- tos gregos. Portanto, a sensibilidade e a capacidade tCcnica e critica dos humanistas se agugaram muito antes em relaqiio aos tex- tos latinos do que em relaqiio aos textos gre- gos. AlCm disso, os humanistas que se apro- ximaram dos textos latinos tinham interesses intelectuais mais concretos do que aqueles que se ocuparam predominantemente dos textos gregos, que tinham interesses mais abstratos e metafisicos. 0s humanistas que se ocuparam predominantemente de textos latinos interessaram-se sobretudo pela lite- ratura e pela histbria, ao passo que os huma- nistas que se ocuparam de textos gregos in- teressaram-se sobretudo pela teologia e a filosofia. AlCm disso, as fontes e tradiq6es usadas como referincia, pelos humanistas
que se ocuparam de textos latinos eram bem mais limpidas do que as utilizadas pelos humanistas que se ocuparam de textos gre- gos, as quais se revelam extraordinariamente carregadas de incrustaqoes multisseculares. Por fim, foram os pr6prios gregos doutos que sairam de Biziincio para a Italia que, com sua autoridade, avaliaram uma sirie de convicq6es destituidas de fundamentos his- toric~~. 0 que dissemos, portanto, explica per- feitamente a situaqiio contraditoria que se criou: enquanto, por um lado, humanistas como Valla denunciavam como falsificaq6es documentos latinos pluriconsagrados, por outro lado, ao contrario, humanistas como Ficino reafirmavam a "autenticidade" de flagrantes falsificaqoes gregas tardio-antigas, com resultados de grande alcance para a historia do pensamento filosofico, como veremos agora.
tlermes Trismegisto e o "Corpus tlermetic~m"
tlermes e o "Corpus tlermeticum" na realidade hist6rica
Comecemos por Hermes Trismegisto e pel0 Corpus Hemeticum, que tiveram a maior importiincia e celebridade na Renascenqa.
Hoje sabemos com certeza o que iremos expor. Hermes Trismegisto i figura mitica, que nunca existiu. Essa figura mitica indica o deus Thoth dos antigos egipcios, conside- rado inventor das letras do alfabeto e da escrita, escriba dos deuses e, portanto, revelador, profeta e intirprete da sabedoria divina e do logos divino.
Quando tomaram conhecimento des- se deus egipcio, os gregos acharam que ele apresentava muitas analogias com seu deus Hermes (= o deus Mercurio dos romanos), intirprete e mensageiro dos deuses, qualifi- cando-o entiio com o adietivo "Trisme- gisto", que significa "trCs vezes grande".
Na antiguidade tardia, particularmen- te nos primeiros siculos da ipoca imperial (sobretudo nos sics. I1 e I11 d.C.), alguns te- ologos-filosofos pagiios, em contraposiqiio ao cristianismo que se expandia, produzi- ram uma sirie de escritos que eles apresen- taram sob o nome desse deus, com a evi- dente intenqiio de contrapor is Escrituras divinamente inspiradas dos cristiios outras escrituras, a~resentadas tambCm como "re- velaq6es" divinas.
As pesquisas modernas determinaram, sem qualquer sombra de duvida, que sob a mascara do deus egipcio ocultam-se diver- sos autores e que, nesses textos, siio bastan- te escassos os elementos "egipcios". Na rea- lidade, trata-se de uma das ultimas tentativas de ressurgimento do paganismo, amplamen- te baseada em doutrinas do platonismo da
Entre os numerosos escritos atribuidos a Hermes Trismegisto, o grupo claramente mais interessante constitui-se de dezessete tratados (o primeiro dos quais leva o titulo
c~orrt3s/x~t~ilorlt(~ iro Hrrrrz~~s grqo c iro Mc~i~irio YOIIZLIIIO. 0s (Sintos 'I 1 3 1 ~ i/tr;l~ui(ios (tot7zizdos t~zlrito f'rtrzosos) silo firlsrficirpic~s cfc cnr iriz/)cvi~l.
de Pimandro), mais um escrito que s6 che- gou ati nos apenas em urna versiio latina (que, no passado, era atribuido a Apuleio), intitulado Asclipio (talvez elaborado no sCc. IV d.C.). E precisamente esse grupo de es- critos que se denomina Corpus Hermeticum (= corpo dos escritos postos sob o nome de Hermes).
A antiguidade tardia aceitou todos es- ses escritos como autinticos. 0s Padres cris- tiios, que neles encontraram acenos a doutri- nas biblicas (corno veremos), ficaram muito impressionados e, conseqiientemente, con- vencidos de que eles remontavam ?i Cpoca dos patriarcas biblicos, pensando assim que fossem obra de urna espicie de profeta pa- g2o. Foi assim que pensou Lactsncio, por exemplo, como tambtm, em parte, santo Agostinho. Ficino consagrou solenemente essa convicqiio e traduziu o Corpus Herme- ticum, que se tornou texto basilar do pen- samento humanista-renascentista. Assim, por volta de fins do sic. XV (1488), Her- mes foi solenemente acolhido na catedral de Siena, com urna efigie no pavimento com a inscriqiio: "Hermes Mercurius Trismegistus, contemporaneus Moysi" . 0 sincretismo entre doutrinas greco- pagiis, neoplatonismo e cristianismo, tiio difundido no Renascimento, baseia-se em grande medida nesse equivoco colossal. Desse modo, muitos aspectos doutrinirios da Renascenqa, considerados estranhamente paganizantes e estranhamente hibridos, apre- sentam-se agora sob justa luz.
Na complexa concepqiio hermitica, considerada mais ou menos tiio antiga quan- to os mais antigos livros da Biblia, os ho- mens do Renascimento niio podiam deixar de ficar impressionados com os acenos ao "filho de Deus", ao Logos divino, que lem- bra o Evangelho de Joiio. 0 tratado XI11 do Corpus Hermeticum contCm at6 urna espk- cie de "Sermiio da montanha" e afirma que a obra de "regeneraqiio" e salvaqiio do ho- mem deve-se ao "filho de Deus", definido como "um homem por vontade de Deus".
Ficino chegou a considerar o Corpus Hermeticum at6 mais rico que os proprios tex- tos de MoisCs, no sentido em que ele previ a encarnaqiio do Logos, do Verbo, dizendo que a "Palavra" do Criador C o "Filho de Deus".
Essa estupefaqiio diante do profeta pa- giio (tiio antigo quanto MoisCs), que fala do "Filho de Deus", levou aceitaqiio, pel0 me- nos parcial, da estrutura astrologica e gnos- tica da doutrina. E niio apenas isso: como o Asclepius tambCm fala expressamente de praticas magicas, Ficino e outros encontra- ram em Hermes Trismegisto urna espCcie de justificaqiio e legitimaqiio da propria magia, embora entendida em novo sentido, como veremos.
A complexa visiio sincretista de plato- nismo, cristianismo e magia, que constitui urna das marcas do Renascimento, encon- tra assim em Hermes Trismegisto, "priscus theologus", urna espCcie de modelo ante litteram ou, pelo menos, urna significativa sCrie de estimulos extremamente nutrientes. Portanto, sem o Corpus Hermeticum niio C possivel entender o pensamento renascen- tista.
Um documento que apresenta muitas analogias com os escritos hermtticos t cons- tituido pelos chamados Oraculos caldeus, obra em hexsmetros da qua1 numerosos fragmentos chegaram at6 nos. Com efeito, podemos encontrar em ambos os escritos a mesma mistura de filosofemas (extraidos do mtdio-platonismo e do neopitagorismo), com acentuaqiio do esquema triidico e tri- nitario e com representaqdes miticas e fan- tisticas, apresentando um tip0 analog0 de religiosidade confusa de inspiraqiio oriental, caracteristica do paganism0 tardio, conju- gada com aniloga pretensiio de transmitir urna mensagem "revelada".
Nos Oraculos, aliis, o elemento migi- co predomina ainda mais claramente do que no Corpus Hermeticum e o componente especulativo se enfraquece e se submete a objetivos praticos religiosos, a ponto de per- der toda a sua autonomia.
Estes Oraculos, mais do que a sabedo- ria egipcia (a qua1 os escritos hermiticos tambtm se referem), se vinculam a sabedo- ria babilhia. Com efeito, a heliolatria cal- dCia (o culto do sol e do fogo) desempenha papel fundamental nesses escritos.
Como sabemos, seu autor Juliano (que viveu no sic. 11) foi denominado (ou se fez
denominar) "o Teurgo". A "teurgia" C a "sabedoria" e a "arte" da magia utilizada para finalidades mistico-religiosas. E sio precisamente essas finalidades mistico-reli- giosas que constituem o dado caracteristico que distingue a teurgia da magia comum. 0s estudiosos modernos observaram que, enquanto a magia vulgar utiliza-se de nomes e formulas de origem religiosa com objetivos profanos, a teurgia, ao contrario, faz uso das mesmas coisas com fins religio- sos. E esses fins, como sabemos, sio a liber- taqio da alma em relaqio ao corporeo e a "fatalidade" a ele ligada e a conjunqio com o divino. 0s renascentistas, porCm, niio pensa- vam assim, induzidos que foram a grave erro por abalizado douto bizantino, Jorge Gemis- to (cerca de 1355-1450), nascido em Cons- tantinopla, que se fez denominar Pleton. Este considerou ser Zoroastro o autor dos Ora- culos Caldeus e, indo para a Itilia por oca- siio do Concilio de Florenqa, ministrou li- q6es sobre Plat50 e sobre as doutrinas dos Oraculos, acreditando-os como express50 do pensamento de Zoroastro e suscitando notavel interesse pelos mesmos.
Zoroastro foi, portanto, considerado profeta ("priscus theologus"), e por vezes apresentado at6 como anterior a Hermes ou como primeiro por cronologia e dignidade com ele. Na realidade, Zoroastro (= Za- ratustra) foi reformador religioso iraniano do seculo VIINI a.C., que nada tem a ver com os Oraculos Caldeus.
Esse novo equivoco, portanto, contri- buiu grandemente para a difusio da menta- lidade magica na Renascenqa.
CJ Orfeu venascentista
Orfeu foi poeta mistico da Tracia. Com ele ligou-se o movimento religioso mistCrico chamado "orfico", do qua1 ji falamos no primeiro volume. Ja no sCculo VI a.C. esse poeta-profeta denominava-se "Orfeu de nome famoso".
Em relaqio ao Corpus Hermeticum e aos Oraculos Caldeus, o orfismo repre- senta uma tradiqio muito mais antiga, que influenciou Pitagoras e Platio, sobretu- do no que se refere a doutrina da metempsi- cose.
Todavia, muitos dos documentos que chegaram atC nos como "6rficos" sio falsi- ficaq6es posteriores, nascidas na Cpoca hele- nistico-imperial. A Renascenqa conheceu sobretudo os Hinos orficos. Nas atuais edi- qoes, esses hinos sio oitenta e sete, mais um proemio. Siio dedicados a varias divinda- des, distribuindo-se conforme uma ordem conceitual precisa. Ao lado de doutrinas que remontam ao orfismo original, contem ain- da doutrinas estoicas e doutrinas ~rovenien- tes do meio filosofico-teologico alixandrino, sendo portanto, seguramente, de composi- $50 tardia. Mas os renascentistas os consi- deraram autEnticos. Ficino cantava esses hinos para obter a influencia benCfica das estrelas.
Segundo o proprio Ficino, na genea- logia dos profetas Orfeu foi sucessor de Hermes Trismegisto e muito proximo a ele. Pitagoras ligava-se diretamente a Orfeu. Platio teria haurido sua doutrina de Hermes e de Orfeu. Assim, Hermes, Orfeu e Platio ligaram-se em uma conexio que constitui o alicerce de toda a construqio do platonismo renascentista, que, conseqiientemente, mos- tra-se completamente diferente do platonis- mo medieval.
E claro, portanto, que, se nio se leva- rem em conta todos os fatores que recorda- mos, escapa toda possibilidade de captar o significado da proposiqio metafisico-teolo- gico-magica da doutrina da Academia flo- rentina e de grande parte do pensamento dos sics. XV e XVI.
A tudo isso devemos agregar ainda a enorme autoridade granjeada pel0 Pseudo- Dionisio Areopagita, que ja &a apreciado na Idade Media. mas agora " Dassava a ser lido com outros interesses (Ficino tambim realizou uma traduqio latina dos escritos de Dionisio). Esse autor, como sabemos, nio t o santo convertido por s8o Paulo em Ate- nas, e sim um autor neoplat6nico tardio. E tambtm essa "falsificaqio" contribuiu para criar o clima especial de que falamos. A luz do que foi dito at6 agora, pode- mos passar ao exame do pensamento dos varios humanistas e das diversas tendcncias e correntes filos6ficas humanistas e renas- centistas.
0NegagBo do significado filosofico do Humanismo
Ssgundo o sstudioso omsricano P. 0. Kristsllar, o Rsnascsngo n8o foi umo tpoca de sintsss, mas antss um periodo ds tron- si@io, s o Humonismo, porticulorments, rs- prssentou um movimsnto confinodo oos es- tudos rstoricos e Filologicos a, em suo moior port@, sstronho oos intsr~ssss filosoficos. campo dos estudos filosoficos ou c~entificos, mas no dos estudos grarnat~cais e retoricos [...I. Fl critica humanista d cibncia medieval i: fre- quentemente radical e violanta, mas ndo toca seus problemas e suas questdes especificas [. . .]. Todavia, se os humanistas forarn dlletantas em jurisprudbncia, teologia, rnedicina e at& em f~losofia, eles forarn especialistas em uma quan- tidade de outras rnathrias. Seu carnpo foram a gramhtica, a retorica, a poesia, a historla, e o estudo dos autores gregos e latinos. Eles pe- netrararn tambbrn no campo da filosofia moral, e fizeram alguma tentativa de invadir o da 1691- ca, tentativa que foi pnmeirarnente dirigida a reduzir a logica d rat6r1ca. 0s humanistas, con- tudo, ndo daram contributos aos outros rarnos da fllosofia ou da cibncia. P. 0. Kristeller, Umanesimo e Scolastica nsl R~noscimento itoliano. em "Human~tas". 1950. 5
1. As corrsntss culturais Ja Renascmsa
No literatura filosofica da Ranascen~a a prirneira corrente que nos vern ao encontro & o Rristotelismo [...I. 0 Humanismo, segundo en- tre os rnaiores rnovirnantos intelectuais da Re- nascensa, tombbm tave seus precedentes me- dievais, mas atinge seu pleno desanvolvirnento apenas durante a Ranascensa, do qua1 repre- senta em certo sentido o aspect0 mais caracte- ristico e rnais difuso. Em seus precedentes e am sua origam, o Humanismo foi um movimen- to litar6rio rnais qua filosofico, a sua influbncia sobre a historia da filosofia foi antes indireta, mas forte e penetrante [...I. 0 Platonisrno foi sem dljvida o rnais importante entre os v6rios movirnentos filosoficos que surgiram do Hurna- nismo. Ele rnerece considerqdo 6 parte, tambhm porque teve outras raizes fora do classicismo humanista [...I. Outro grupo de pensadores, o dos assim chamados filosofos da natureza, & constituido por alguns dos mas fomosos pen- sadores do periodo, como Paracelso, Bruno e Campanella. Ainda menos que os aristot&licos, os humanistas e at& os plat6nicos, ales podem ser considerados como escola ou trodisdo unificada [...I. A ljltlma corrente intelectual da Renascenp que devernos lernbrar, e talvez a rnais importante, & a que desembocou no ci&n- cia cl6ssica rnoderna.
P. 0. Kr~steller, Movirnenti Filosohci dd Rhascimento, em "Giornale critic0 della filosofia italiano", 1950. 99
ReivindicagBo da valOncicr "filosofico-pragm6tica" do Humcrnismo
I9 intsrpretog80 ds Kristsllsr sa opds ds- cisivomants o estudioso itoliono Eug&nio Gorin, qus sustsntou qus os vsrdodsiros fi- Iosofos do 400, otivos foro dos "~scolos filo- soficos" oficiais, forom justarnsnts os humo- nistas: elss souberam construir um mQtodo novo para snfr~ntor os divsrsos problsrnos do culturo s do vida prdtico. Contr6rios 6s 'Qrondss cotsdrais ds idbias", os humonistos se d~dicoram o indogar metodicomsnte s concrstomsnts os objstos dos ci&ncios rno- rois e dos ci$ncios naturo/s. E, ssgundo Gorin, o otsnq50 'Klologico" aos problemos porti- culorss constitui justoments o novo 'filoso- fia", thico do Rsnoscsnp.
2. 0s humanistas niio foram filosofos
Creio que os humanistas italianos de fato ndo foram fil6sofos, nem bons nem maus. Com efeito, o movirnento hurnanista ndo surgiu no
1. A filosofia humanista foi extra-sscolastica
Repetir, como se tem feito, que o Huma- nismo foi fen6rneno ndo "filosofico", purarnente liter6rio e retorico; qua os humanlstas foram apenas rnestres de eloqu&ncia e grarn6ticos,
signif~ca em primsiro lugar dar como pacifica uma vis6o do filosofar que est6, ao contrbrio, em dis- cuss6o; s significa, ao mesmo tempo, n60 vsr bem claro os studio humonitot~s, a "retor~ca" e as "cartas". E significa tambhm esquecer que aquele movimento de cultura afirmou-se primel- ramente fora da "escola", entre homens de aq50, polit~cos, senhores, chanceleres de rep- blicas e 0th d~rigentes, mercadores e mesmo artistas a artesdos. E na "escola" entrou por meio das disciplinas logicas e morais; med~ante nova linguagem e o estabelec~mento de novas rela- @es. R filosofia para a qua1 certos historiodores olham, a "teologia" das escolas medievais, qua certamente foi coisa grandissima, naqueles dias via justamente suas aulas tornorem-se desertas, e sempre menor o eco de seus ensinamentos. Depois que por sQulos, e grandes sQulos, o pen- samento humano dedicara-se sobretudo 6 ela- bora(6o de uma filosof~a da experi6ncia reli- giosa, e tudo fora visto sob tal signo, agora a razSlo humana voltavo todo seu esfor~o para o homem "poeta", para sua "cidade", para a na- tureza mundana qus estava conquistando. E. Gar~n. Meclloevo e Rinascimento.
2. 0s humanistas contra as grandes "catedrais de idiias" da Escolastica
Todavia, para dlzer a verdade, a raz6o intima do condena@o do siqmficado filosofico do Humanismo 6 outra; e de resto manifesta- se claramente a partir da continua refer6ncla por contraste com as sinteses metafisico-teolo- gicas da "obtusa mas honesta Escol6stica": tra- ta-se do amor sobrevivente por uma imagem do filosofia qua o pensamento do Quatrocen- tos constantamente sentlu. Com efeito, aquilo de que se lamenta por tantos a perda foi justa- mente aquilo que os humanistas qulseram des- truir, isto 6, a constru@o das grandes "catedrais de idhias", das grandes sistematizaq3es Iogico- teoloqicas: do F dosofia qua subsume' todo pro- blem~, toda pesquisa, ao problema teologico, que organiza e fecha toda possibilidade no tra- ma de uma ordem logica preestabelecida. I?quela Filosofia, que foi ignorada na era do Hu- manlsmo como vSl e inutil, se substituem pes- quisas concretas, definidas, precisas, nos duos dire@ss das ci6ncias morais (htica, polit~ca, econ6m1ca, esthtica, Iogico-retorica) e das ci6n- cias do natureza qua, cultivadas luxto propr~o principio,"ora de todo vinculo e de toda ou- ctoritos, tam em todo Bmbto aquela exube- rBncia que o "honesto", mas "obtuso", escolas- ticismo ignorou.
E. Garin, I'Umonesimo itoliono.
0 individualismo como marco original da Renascen~a
0 orgumanto fundomanto1 do ansolo da Jocob Rurckhordt, La cultura del Rinascimento in ltalia (1860), C o dassnvolvirnanto do in- d~viduo no civilizogio do Ranoscanp: o mito da umo humanitas anfirn libarto do torporme- dtsvol s obarto o todos as axper16ncios do vido (raligiosos, socio~s, ortisticos, politicos). Rurckhordt cont~nuovo ossim o p6r o ocanto, corno os rombnticos, sobra o tema clo 'kuptu- ro" antra Iclode MQdio a Ranoscango.
1. 0 despertar do "individuo"
No ldade M&dia os dois lados da consci6n- cia - o que reflete em si o mundo externo s o qua mostra a imagem da vida interna do homem - estavam como que envolvidos por urn vhu co- mum, sob o qua1 ou languesciam em lento torpor ou se moviam em um mundo de puros sonhos. Ovhu era tecido de fh, de 1gnor6ncia infantil, de vds ilus6es: vistos atravhs dele, o mundo e a historia apareciam revestidos de cores fanMsti- cas, mas o homem n6o tinha valor a n6o ser como membro de uma familia, de um povo, de um partido, de uma corpora(60, das quais quase inteiramente vivia a vida. fl Itblia & a primeira a rasgar este vhu e a consideror o Estado e todas as coisas terrenas de um ponto de vista objati- vo; mas ao mesmo tempo se desperta podero- samente no ital~ano o sentimento de SI e de seu valor pessoal ou subjativo: o homem se transfor- ma no indivicluo, e se ofirma como tal.
2. 0 advento de homens "universais"
Ora, quando este prepotents impulso vi- nha a cair em uma natureza extraordinariamen- te valorosa e verdtil, a ponto de se apropriar
ao mesmo tempo de todos os elementos da culturo daquela era, tinha-se entao o homsm univsrsol, que pertence exclusivamente 6 IM- ha. Homens de saber enciclop&dico houve em todos os lugares no ldade Mhdia em mais pa- ise~, porque o saber era mais restrito e os ra- mos do cognoscivel mais afins entre si; e pela mesma razdo at& o s&culo XI1 encontram-se or- tistas universais, porque os problemas da or- quitetura eram relativamente simples e unifor- mes, e na escultura e na pintura o conceito ou a substdncia do coisa a ser representada preva- lecia sobre a forma. Na lt6lia da Renascenp, ao contrdrio, nos nos defrontomos com artistas singulares, os quais em todos os ramos apre- sentam criaq%s de fato novas e perfsitas em seu g&nero, e ao memo tempo emergem sin- gularmente tambhm como homens. Outros sdo universa~s e abraqm, al&m do circulo da arte, tambhm o campo incomensur6vel da ci&nc~a com sintese maravilhosa.
J. Burckhardt, la culturo dsl Rinascimento in Ital~a.
0 prsconcsito romdntico de umo ruptu- ro sntrs Idods Mddio s Renoscengo foi ds- cididomente combotido sm nosso sQculo pslo sstudioso olsmao Konrod Burdoch, qua mostrou como o Renoscsnp t~vsro suos roi'zss e suo fonts sspirituol no iddio, difun- dido no Itdlio mscl,sval e sxprssso sobrs- tudopor Colo di Risnzo, de renascimento poli- tico e rellgioso do Estado romano. FI humanitas do Ouotrocantos se concrstizou, portonto, nssto perspactivo ds rsconciliog~o sntrs fd s espi'rito nocionol, s Colo di Rienzo foi o poi sspirituol do procssso ds formogio dos Es- todos nociono~s europsus.
R Renascen~a est6 enraizada na ldade MBdia, e [...I fo~ dominada por profundo im- pulse para human~zar a religido [...I: a opinido. h6 muito tempo dominante e ainda ndo intei- ramente morta, que atribui b Renascen~a um car6ter pagdo [...I. & um erro, e esta oplnido err6nea surgiu de uma visdo anti-historica, como de uma tend&ncia racionalista, classicists e liberal. R Renascen~a surgiu no despertar, e por meio do despertar do pensamento de uni- dade do Estado nacional. Na lt6lia o ssnti- mento nacional jamais se apagara, mesmo durante a ldade MBdia. Conservara-se sob as cinzas, mesmo quando Bizdncio, os Godos, os longobardos, a monarquia franco-carolin- gia, os imperadores alemdes das dinastias sax6nlca, s6lica, sueca, aplicaram suas pre- tensaes ao dominio politico sobre a It6lia. enquanto de outro lado a CCltedra de Pedro, em sua r~validade e luta com o impbrio uni- versal olemdo, cr~ara-se, em base de seu pr~ncipotus eclesi6stico mundial, um dominlum terreno sobre a terra itCllica, em Roma, sede origindria da monarquia universal antiga. 0 sentimento nac~onal italiano viveu sampre da lembrancp do antiga grandeza do Estado ro- mano. No s&culo XI1 inflamou-se na revolu- $60 e restaurar;do nacional de Rrnaldo de Br&scia, que p6de ser abatida pelo papa e pelo ~mperador Oarbarroxa. Todavia, desde o shculo XI os municipios it6licos haviam chegado no auge do bem-estar econ8mico e civil [. . .] e quando, depois do morte do Impe- rador Federico II e o apos a queda casa de Soave, chegou ao fim a terrivel luta entre imp&r~o e papado pela hegemonia politico universal, quando a lt6lia se sentiu livre do dominio alemdo, seu sentimento nacional ex- plodiu em um grande inchndio espiritual, po- litico-social e artistico. Esto foi a fonts espiri- tual da Ranascenp. 0 antigo pensamento de Roma, jamais extinto, fez afluir nova e maior for~a. Rienzo, inspirado pela ld&ia politico de Dante, mas ul- trapassando-a, proclamou, profeto de futuro longinquo, a grande exig&ncia nacional do Renascimento de Roma. 6, sobre esta base, a exig&ncia da unidade da It6lia.
K Burdach. Slgnlhcoto e origlne ddle parole "Rinoscimento" s "R~forma "