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Energia renovável a menor custo

Revenda busca redução na conta de energia e sindicatos do setor se movimentam em busca de parcerias para apresentar possibilidades pouco exploradas, como o mercado livre e a geração distribuída

POR MÔNICA SERRANO

Pixabay

O setor elétrico tem passado por diversas transformações, principalmente com o crescimento das energias renováveis. Além das energias eólica e a solar, que trouxeram novas opções para a geração de eletricidade, há os projetos de leis 1917/2015 e 232/2016, que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado, que preveem expansão do mercado de energia, propiciando aos consumidores a liberdade de escolha do fornecedor e, consequentemente, a redução de custos.

Com a necessidade de conter as despesas para melhorar a gestão do negócio, os empresários da revenda buscam alternativas para minimizar os gastos com energia. Já existem alguns movimentos de sindicatos revendedores nesse sentido. O Minaspetro foi um dos primeiros que encontrou um meio de auxiliar os postos filiados e firmou parceria com a Cemig S!M e a Mori Energia para oferecer ao revendedor a possibilidade de gerar créditos de energia sem ter a necessidade de dispor de grandes investimentos. Ou seja, a geração será oriunda de uma usina fotovoltaica, que já está em funcionamento e distribui luz para os comércios parceiros.

A ideia da parceria partiu de Carlos Eduardo Mendes Guimarães Júnior, presidente do Minaspetro. “A partir de 1 o de janeiro, o revendedor que aderiu à parceria poderá ter uma economia de até 25% na conta de energia”, disse. O pré-requisito necessário para integrar o projeto é ser filiado ao sindicato. Segundo Guimarães, a iniciativa gerou grande interesse da revenda mineira. A primeira usina contou com a adesão de 300 postos, e já está em negociação uma segunda usina geradora de energia, envolvendo 400 revendas filiadas ao Minaspetro.

Guimarães destacou que esta iniciativa em prol da economia na conta de energia atraiu cerca de 100 novos filiados ao sindicato mineiro. “A preocupação do Minaspetro foi oferecer condições para os seus associados trabalharem no menor custo possível, dentro de valores de sustentabilidade. Com isso, o sindicato me contratou para buscar o custo menor de energia, aliado ao conceito da sustentabilidade e respeito ao meio ambiente”, disse Agostinho Faria Cardoso, consultor da RI Consultoria e Treinamento, que foi chamado para alinhar a parceria.

Como funciona

As usinas são construídas em fazendas ou áreas rurais a partir da instalação de painéis fotovoltaicos que captam energia solar. As empresas interessadas contratam um lote dessa energia gerada, que passa pela rede de distribuição da Cemig (concessionária do estado de Minas Gerais) até chegar ao local contratado. Com este processo, a conta de eletricidade vem com desconto mensal.

“É como se a revenda ‘alugasse’ um pedacinho da fazenda que produz energia solar. Neste sistema, quem tem uma propriedade pode construir uma usina fotovoltaica ou participar de uma fazenda produtora, ligada à concessionária de energia, como é o caso do Minaspetro”, esclareceu Cardoso.

Esta produção de energia segue o sistema de geração distribuída, que estabelece que todos os beneficiários estejam na mesma área da concessionária, no caso, a Cemig.

Mercado livre

Há ainda outra novidade até então pouco explorada pela reven

da, que é o ingresso no mercado livre de energia, mas não atende a todos os postos. No caso do Rio de Janeiro, há mercado para isso em função do número elevado de postos de gás natural veicular (GNV), que têm alto consumo de energia, entre outros critérios.

O Sindestado, sindicato revendedor do estado do Rio de Janeiro, promoveu uma palestra da Celer Energia, empresa de comercialização e gestão de energia, aos revendedores filiados, em novembro, para mostrar o funcionamento do mercado livre e a possibilidade de redução no consumo de energia, desde que o estabelecimento esteja no perfil de consumo.

O que é

No mercado livre, os consumidores podem escolher livremente os seus fornecedores de energia e têm o direito à portabilidade da conta de luz. Nesse ambiente, consumidores

Revenda pode ter redução de custos de energia em 2020, a partir de parcerias com usinas fotovoltaicas ou de outras fontes limpas, seja por geração distribuída ou mercado livre

Divulgação Raízen

e fornecedores negociam entre si as condições de contratação de energia. O mercado livre tem dois tipos de consumidores: livres e especiais. Os chamados consumidores livres devem possuir, no mínimo, 2.500 kW de demanda contratada para poder negociar energia proveniente de qualquer fonte de geração. A partir de janeiro deste ano, esse requisito para os consumidores livres irá diminuir para 2.000 kW.

Porém, a revenda poderá se enquadrar nos chamados consumidores especiais, cujo consumo deverá ser igual ou maior que 500 kW e menor que 2.500 kW. Ewerton Vidal, diretor de Gestão de Clientes da Celer, apresentou alguns dados que mostram que, em 2018, a migração para o mercado livre foi de 32% do total do consumo nacional. Conforme os dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a economia gerada para as empresas no mercado livre, de 2003 a 2018, foi de R$ 118 bilhões.

“O governo já começa a baixar os limites para o ingresso no mercado livre. A tendência, para a próxima década, é de reduzir para 400 kW, 300kW, para agregar os clientes de média tensão. E na sequência, deverá começar o movimento para incluir os consumidores de baixa tensão”, destacou Vidal.

Para os postos, a barreira de entrada é atender à contratação de consumo de 500 kW. Esse é considerado um alto volume, embora seja possível juntar dois ou mais postos (ou outros empreendimentos) que tenham o mesmo CNPJ. “O mercado livre tem 50% de desconto no transporte, então, para quem se enquadra nos critérios, vale a pena migrar, principalmente aqueles que usam geradores a diesel nos horários de ponta e poderão retirá-lo”.

Alguns postos ligados à rede subterrânea de baixa tensão também podem ser incluídos, só que esta é uma característica específica do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os postos de GNV também estão em um perfil de elevado consumo de energia, por conta dos compressores. Na média Brasil, o consumo de 500 kW corresponde a uma conta de energia de R$ 100 mil.

“No caso dos postos, a gente faz um somatório de duas ou mais unidades, desde que tenham o mesmo CNPJ ou mesmo sócio. Isso possibilita, inclusive somar negócios distintos, por exemplo, abranger um supermercado e um posto”, esclareceu Vidal.

Desde que respeitados os critérios, ReginaldoMedeiros, presidente-execu

tivo da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel), confirmou que dez postos com consumo menor de energia (média de 50kW), por exemplo, somando podem ser enquadrados no mercado livre (500 kW). A energia contratada pelo mercado livre pode ser oriunda de usinas eólicas, solares, a biomassa, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ou hidráulica, proveniente de empreendimentos com potência inferior ou igual a 50.000 kW, chamadas de fontes especiais.

Contrato

Um contrato no mercado livre gira em torno de R$ 200,00, e a contratação deve ser feita por meio de uma comercializadora de energia. A função da comercializadora é buscar as melhores opções de preços para os seus clientes, fazer os contratos, podendo travar o preço. “Hoje, energia é um mercado financeiro. Vamos olhar o mercado e dar a nossa indicação de compra. Fazemos um trabalho minucioso, de acompanhamento estatístico, análise de risco, análise de crédito”, esclareceu Vidal.

Assim como em qualquer negócio, os contratos de energia exigem garantias e podem ser feitos em pe

Paulo Pereira

ríodos distintos, depende do cliente. Em média, são de três anos.

Há também o custo de gestão para atender o posto, que também varia dependendo do cliente. Em média, são cobrados de 15% a 20% da parcela economizada na conta. Segundo Vidal, a economia na conta de energia para um participante do mercado livre é de 20% a 25%. “Você se protege da bandeira tarifária, cobrada pelo mercado cativo”, destacou.

Antes de migrar, é preciso avaliar se vale passar pela transição, por meio de uma análise pelas comercializadoras. Caso o resultado seja favorável, o posto deve informar à distribuidora que vai passar para o mercado livre. Este processo de migração demora em torno de seis meses.

Para saber se valeu a pena, no caso da Celer, os clientes recebem mensalmente um relatório de economia, comparando os custos que a unidade consumidora teria se estivesse no mercado livre.

Postos de GNV que têm alto consumo de energia poderão se enquadrar como consumidores especiais do mercado livre

Painéis fotovoltaicos

Outra possibilidade de economia de energia é a instalação de painéis fotovoltaicos nos telhados dos postos, o que requer investimentos e há a necessidade de ter um laudo técnico sobre a segurança da estrutura para evitar acidentes. Os painéis solares também demandam manutenção. O retorno do investimento, que é calculado de acordo com a demanda de energia e o potencial de insolação do local onde o posto está instalado, demora cerca de cinco anos. n

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